Premonição Chronicles 2 escrita por PW, VinnieCamargo, MV, Felipe Chemim, Jamie PineTree


Capítulo 25
Capítulo 24: Efeito Lázaro


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo, escrito por PW e 483ViniKaulitz.



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O fogo chegou a consumir todo o corpo franzino da oriental.

Anna Bella abriu os olhos num espasmo involuntário, gritando por conta de uma dor que provou ser psicológica, fruto de sua imaginação. Porém, pareceu tão real, que a garota poderia sentir sua pele ardendo. Havia sido queimada viva...

Arregalou o olhar, sentindo uma sensação agourenta e extremamente desconfortável. Ela estava viva, tudo não passou de sua mente lhe pregando uma peça. A pequena olhou ao redor e então, sentiu as mãos ásperas segurarem seu pulso com força, notando que elas pertenciam a um homem de face agressiva e visivelmente enfurecido.

Ele seguia ao lado de outros homens e mulheres, carregando tochas acesas e ancinhos. Eles gritavam em coro, proclamando palavras que ela não saberia distinguir. Em meio à procissão que ia em direção a uma grande tenda, onde mais pessoas aguardavam (muitas delas com mantos cobrindo o rosto), também em porte de tochas e ancinhos, alguém gritava.

— Soltem minha filha!

Anna Bella reconheceu de imediato de quem se tratava.

— Papai! Papai me ajuda! Eles vão nos matar, nos queimar! — A garota debatia-se. — Eu vi tudo no meu pensamento. Vão nos queimar naquele lugar! — As lágrimas começaram a cair.

— Quê? — Shinji engoliu em seco. — Viu no pensamento?

— Ela teve uma visão, assim como sua esposa, Samurai! — Serena, que ouvia tudo, bradou no meio da multidão.

A jornalista estava sendo levada por um casal de moradores, que apertavam seu braço, evitando que fugisse. — Me soltem, seus monstros!

— Porra, precisamos dar um jeito de nos livrar deles. — Shinji retrucou, de modo que teve que analisar minuciosamente a situação. Dois homens altos, parrudos e com marcas estranhas no corpo seguravam seus braços e pescoço. Ele não teria qualquer chance.

A procissão já se aproximava da grande tenda no centro do vilarejo de madeira e barro. Serena, já impaciente, se debatia nos braços do casal, que pediam que ela parasse e ameaçavam-na com uma arma artesanal. A ruiva perdera Clarisse no meio de tantos nativos, mas era ciente de que a garota sabia se virar.

— Como vamos fazer isso? — Perguntou a repórter, cem por cento desorientada. E como num insight, ela teve uma idéia. — Eu tenho um plano, Samurai! Não se preocupe, você saberá a hora de agir. Pegue sua filha e fuja daqui! Eu alcanço vocês.

O homem fez sinal positivo com a cabeça e sorriu de lado. Suava feito um suíno. Seus olhos brilharam. Serena deveria saber as conseqüências do que estava prestes a fazer. Ela era extremamente experta e com certeza o tiraria daquela situação perigosa.

Serena foi contando em sua mente, a tenda se aproximava.

Um.

Shinji entreolhou-se com a filha, respirando fundo e sentindo as gotas pesadas de suor deslizarem em seu rosto.

Dois.

Serena observou quantos moradores estavam ao seu redor, ela precisava confirmar sua estratégia. Precisava saber se Shinji conseguiria passar com a filha pela multidão. Nada poderia dar errado, e se desse... Eles estariam ferrados.

Três!

A repórter começou a fingir estar passando mal. Seu corpo tremia como mandava o plano, tentava fazer o mais parecido possível com algum ataque epilético. Então começou a babar, e a odiar a si mesma por estar fazendo aquela coisa nojenta. Batia a cabeça contra o braço de quem a segurava, assim, chamando a atenção do mesmo e consequentemente, como em uma reação em cadeia, dos demais.

O morador afastou o corpo por breves segundos, vendo a ruiva debater-se debilmente nos braços do outro morador, enquanto o mesmo pedia que ela parasse, sacudindo ainda mais seu corpo. Foi aí que Serena teve êxito em se desvencilhar da armadilha corpórea de um deles, e caiu no chão, seguindo com o plano e olhando de soslaio para Shinji. O oriental entendeu o recado e aproveitou a distração dos homens parrudos que o seguravam.

Anna Bella olhava-o confusa, enquanto em sua mente, a palavra morte tornava-se mais visível.

Shinji acertou uma cotovelada contra os testículos do primeiro nativo, que o soltou no ato, agarrando as próprias partes e urrando de dor, mas já era tarde demais. Àquela altura, ele não teria mais filhos. O segundo recuou por um momento, e foi esse segundo que Shinji usou para enfiar os dedos indicador e médio nos olhos do morador. O homem prensou as mãos contra os olhos, gritando.

Sem perder mais tempo, o oriental empurrou duas mulheres que estavam próximas, segurando tochas, e agarrou Anna Bella, tirando-a dos braços de outro nativo. Este por sua vez, investiu. Shinji o chutou sem pestanejar, jogando-o contra mais um grupo de homens que vinham em sua direção. Ele colocou a filha nos braços e correu entre a procissão. Olhou para trás, Serena não estava mais em seu campo de visão e uma preocupação tomou de conta de si. Você é mesmo maluquinha... Fique bem, por favor. E não demore.

— Papai, cuidado! — Ouviu Anna Bella gritar. — Atrás de você!

A garota apontou para trás e Shinji virou a tempo de ver três nativos chegando com ancinhos afiados e apontados para ele. Todos avançaram e o oriental teve certeza de que aquele era o momento de proteger sua filha com todas as forças. A pequena Anna Bella comprimiu os olhinhos, não queria ver novamente seu pai morrer, muito menos sentir a dor da morte pela segunda vez. Mas a última parte era impossível. Shinji viu os objetos afiados se aproximarem com velocidade. Ele até achou que finalmente iria de encontro com sua esposa, mas a vontade de ver sua filha viva falou mais alto.

Shinji só teve tempo e olhar para trás e envolver a filha com seus braços, com toda sua força. Então se jogou no barranco que havia atrás de alguns arbustos. A partir daí seu mundo girou e foi ficando escuro, enquanto ele ia perdendo a luz das tochas de vista e sentia galhos arranhando seu corpo e folhas passando pelo seu rosto. Anna Bella deu apenas um gritinho abafado, mas seu pai tinha certeza de que ela não sairia com nenhum arranhão.

Ambos rolaram o barranco e só pararam quando uma árvore entrou em seu caminho. Shinji bateu as costas com força e reclamou da dor. Anna Bella abriu os olhos e encarou a mata escura. Ao lado dos dois era possível ver a estrada que terra que dava acesso à pequena comunidade de onde vieram. Alguns feixes de luz eram visto, porém, estavam relativamente longe. Shinji poderia respirar aliviados por alguns segundos. De repente, eles viram um jipe passar rapidamente pela estrada.

Após a nuvem de fumaça se dissipar, o oriental segurou na mão na filha, verificando se ela estava bem e os dois caminharam calmamente até a estrada. O jipe parou um pouco mais à frente.

— Querida, aquelas não são Lana e Nina? — Ele indagou.

— São sim, pai! São Nina e Lana! — Os olhinhos da oriental brilharam. — Vamos até lá!

A garota fez menção em correr, mas Shinji ligeiramente segurou seu braço. Arrependeu-se no exato momento em que pensou que Lana e Nina poderiam tirá-los dali com a caminhonete azul que acabara de estacionar na estrada de terra. Algum barulho era ouvido atrás deles, enquanto corriam na direção do carro. Chegando um pouco mais perto do veículo, viram uma moça ser jogada contra o chão e a mesma rolou, ficando de bruços. Mais à frente a população se aproximava com ferocidade, pareciam seguir alguém que gritava histericamente entre a multidão. Serena!

Lana avistou Shinji e Anna Bella.

— Entrem! — Ordenou. — Vamos! Rápido!

— Graças a Deus que estão bem. — Disse Nina completamente esbaforida pela adrenalina do momento. — Acelera, Lana!

— Esperem! Serena está vindo! — Shinji bateu na janela e chamou a atenção das mulheres, que viram a repórter correndo na frente dos nativos furiosos.

A ruiva surpreendeu a si mesma quando saltou para a carroceria da caminhonete. O pulo rendeu sua salvação e um alívio. Os nativos começaram a xingá-la de imunda e vadia, enquanto Lana acelerou o veículo na estrada de terra que cortava o vilarejo. Serena abaixo-se no segundo em que um ancinho decolou sobre a carroceiria. O obejto passou raspando em seus cabelos de fogo esvoaçando pelo vento. Ela gritou.

À medida que a caminhonete azul seguia caminho pela estrada, Serena erguia os braços, comemorando o plano que fizera. Pareceu que Lana e Nina perceberam que eles estariam ali naquele momento e foram suas fadas-madrinhas. Alguns moradores arriscaram correr atrás do veículo. Serena riu e mostrou o dedo do meio para eles.

— Vão pra puta que pariu! — Gritou a jornalista, rindo de maneira dissimulada.

A caminhonete levantou poeira, enquanto era engolida pela noite.

O grupo permaneceu calado até chegarem na pista de pouso. Deixaram o carro ali mesmo, na beira da estrada, antes de seguirem em frente. Se os moradores estivessem os procurando, iriam encontrá-los pela caminhonete.

Serena reclamava de dores nos calcanhares, Shinji sentia dores nos ombros e nas costas, sua filha caminhava vagarosamente com o vestido e os sapatinhos sujos de lama, entristecida; Já Lana e Nina estavam de mãos dadas e tiveram a idéia de se refugiarem atrás de alguns arbustos, no meio da mata. Era uma espécie de pequena clareira, onde árvores cercavam o local e impediam que alguém os visse ali abaixados.

A bióloga pediu que eles contassem o que houve. Foi uma tarefa difícil, já que Anna Bella tentava puxar as informações e se esforçava para lembrar cada detalhe gore. Shinji estava sendo cauteloso com as lembranças da filha e ajudaria no que fosse preciso. Nina e Lana ficariam sabendo de tudo. Eles teriam a madrugada toda para conversar. Não demorou muito para Serena adormecer no colo do oriental, visivelmente cansada.

XXXXX

A brisa da manhã soprando contra o rosto, Shinji tentava evitar o pensamento que martelava em seu cérebro.

Pela primeira vez em dias, apesar de agora realmente estar na lista da morte, parecia que existiria uma chance para viver novamente. Ele sabia que aqueles filhos da puta ainda estavam atrás do grupo, sabia que o mínimo deslize poderia acabar com aquele jogo em apenas uma cartada, mas o pensamento; a solução parecia estar diante de seus olhos.

Parcialmente escondido nos arbustos da pista de decolagem, a mão fechada carinhosamente ao redor do pulso de Anna Bella, Shinji decidiu. Aproximou-se de Nina e sussurrou.

– Então, é uma nova lista, certo?

– Acredito que sim. Dessa vez – Nina sorriu - Anna Bella nos salvou.

Nina encarou Anna Bella. A garotinha, por sua vez, não tinha dito muita coisa desde que haviam se escondido ali.

– A nova lista está intacta, certo? – Shinji perguntou.

– Oi? – Lana encarou.

– Intacta. Ninguém foi pulado, ninguém morreu. A morte ainda não começou a atacar.

– Talvez seja porque nós não começamos a mudar o padrão das coisas ainda. – Nina comentou. - Não interagimos com ninguém.

Aquela poderia ser a brecha. Shinji se mataria se um dia soubesse que poderia ter tirado a filha da lista, e não ter feito. E naquele instante, se sentia disposto.

– Bella. – Encarando a possibilidade de falar com sua filha pela última vez, Shinji estava travado. Nunca se acostumou com despedidas...

Mas ao mesmo tempo, estava cansado de todas aquelas despedidas forçadas e desesperadas. Estava cansado de todos os choques.

Ele poderia muito bem dar o seu próprio golpe na morte.

– Bella, eu te amo minha querida.

– Você sabe que eu te amo, pai.

E ele sabia. Beijou-a na testa.

– Lana, você pode cuidar da Bella enquanto eu dou uma volta?

Nina agarrou o pulso de Shinji, confusa.

– O quê?

– Eu... eu preciso mijar. Posso?

– Sutil. – Lana ri. – A gente cuida da Anna, fica tranquilo.

– Claro que cuidam.

Shinji distanciou-se das garotas, agora correndo rumo ao precipício. E o medo que antes sentia vindo apenas em curtas ondas, agora parecia esmagá-lo.

Mas a decisão já tinha sido tomada.

XXXXX

– Lana...

Anna Bella agarrou o pulso de Lana repentinamente.

– O que foi?

– Não! – Nina gritou e Serena e Lana deram um pulo. – NÃO!

Lana olhou para onde Nina apontava. Shinji corria em direção ao abismo.

– PAI NÃO!

Lana, Nina e Anna Bella ergueram-se e puseram-se a correr atrás de Shinji na longa pista de decolagem. Serena travou, apenas observando a cena por trás do arbusto.

Dessa vez, não vieram pensamentos de grandeza, muito menos reflexivos ou complexos na mente de Serena. A jornalista estava cansada, confusa e com medo. Percebeu que só conseguia pensar que os gritos das garotas poderiam trazer aqueles filhos da puta de volta.

Mas enquanto observava o jovem homem correr em direção ao abismo, e finalmente se embrenhando nele, estranhamente, a única coisa que surgiu em sua mente foi uma breve memória de seu pai, e uma frase que o homem havia dito durante uma das infinitas vezes em que haviam assistido um filme juntos. Serena não se lembrava do filme, mas se lembrava do impacto que a frase tinha tido sobre ela mesma.

“Há homens que são como as velas; sacrificam-se, queimando-se para dar luz aos outros. ”

Serena não entendia o motivo daquela frase invadido sua mente da primeira vez que ouviu, e também, ao longo dos anos ter pipocado em diversas ocasiões em seu pensamento, como um flash repentino de memória.

Agora ela entendia. Era apenas um sinal.

XXXXX

Pela primeira vez em meses, Nina se sentia ok. Era como se todo um peso enorme tivesse sido tirado de suas costas. Ela sabia que aquilo poderia ser apenas uma jogada da morte, ou mesmo de Abigail, mas queria acreditar que o suicídio de Shinji não tinha sido em vão.

Nina, Lana e Anna Bella nunca chegaram a tempo. Serena sequer havia saído do lugar. Shinji havia se jogado no vale da morte antes que as garotas se aproximassem o suficiente para dizer alguma coisa.

Agora, ver Anna Bella sofrendo desmanchava seu coração, mas a loira não conseguia dizer nada.

As quatro andavam agora numa estrada abandonada, dezenas de metros abaixo do local que Shinji havia se jogado. Elas andavam em silêncio, Lana e Anna Bella de mãos dadas. A garotinha casualmente soltava a mão da turquesa para enxugar as lágrimas desesperadas que desciam seu rosto sem parar.

Nina fechava os olhos para não deixar as próprias lágrimas caírem.

Ouviram o motor de um carro se aproximando e congelaram.

– Rápido, aqui! – Nina rapidamente esperou as garotas se enfiarem no mato e seguiu atrás.

As garotas dessa vez não se preocuparam com quem estaria vindo. Elas não tinham plano, e já tinham aprendido a lição: não confiar em ninguém. Dessa vez apenas corriam.

Agora embrenhadas, ouviram o som do motor desligando. Será que tinham as visto?

Mas era de Abigail e sua gangue que estavam falando. Abigail não precisava ver porra nenhuma...

A dúvida desapareceu de sua mente no mesmo instante em que todas as árvores do caminho que haviam acabado de cruzar, assustadoramente se curvaram para lados opostos, criando um vão enorme entre o meio do mato que estavam, e a estrada.

E na outra extremidade do vão, no meio da estrada que estava momentos antes, reluzia sob o soluma caminhonete hippie azul clara, Abigail, Crystal e... e Clarisse.

XXXXX

Lana sentiu o próprio corpo paralisando, em seguida fechou os olhos. Abriu.

Ela estava levitando.

Abigail, Crystal e Clarisse, na frente da caminhonete na estrada, gesticulavam com as mãos no ar. Quase como se estivessem as puxando de volta para elas.

Lana também pode ver que Nina, Bella e Serena também levitavam de volta para a estrada, de volta para Abigail. De volta para a morte.

Três bruxas de uma só vez. Não havia escapatória agora. Lana não conseguia imaginar um único cenário em que as três venceriam.

Desespero crescendo, aproximando-se do golpe final, Lana se sentia estúpida outra vez. Pelo jeito, Clarisse também era bruxa. Tirando ela mesma, havia alguém que não era bruxa, peão da morte, vidente ou algo do tipo no meio daquela coisa toda? Ela estava acabada.

Lana sentia como se fosse Carrie White, flutuando no baile de formatura. Porém Carrie teria suas chances. Lana não.

As quatro pousaram no chão, a poucos metros de distância de Abigail, com um baque dolorido.

– Clarisse? – Serena bradou. - Sua imunda!

Clarisse fechou o punho e instantaneamente a boca de Serena travou. Lana olhou, incrédula, e observou que os lábios de Serena estavam colados.

Lana perguntou-se se poderia dizer alguma coisa.

– Você pode falar, querida. – Abigail sussurrou.

No mesmo instante, a boca de Serena descolou e a mulher respirou fundo.

– É jogo sujo. – Lana deu de ombros. – Três bruxas. Nós não temos chances.

– Na terra das bruxas todo jogo é limpo, meu bem.

A frase estapeou Lana na cara. Quem era ela para ditar regras no mundo das bruxas? Xingou a si mesma por não ter dado uma chance ao universo Wicca quando era mais nova. Ela tinha preferido violão.

Agora tudo parecia uma horrível piada de mau gosto.

Nina ergueu-se, mas ao mesmo tempo Lana viu os tornozelos de Nina se juntarem e a garota caiu novamente.

– Todo jogo é justo. – Abigail continuou. – E o jogo de vocês, acaba agora.

Lana sentiu como se uma corda invisível fechasse ao redor de seus tornozelos e puxasse-a para cima de ponta-cabeça. Ela gritou. Ao mesmo tempo viu o mesmo filme se desenrolando com as outras três garotas.

Ela se perguntou se Abigail a ergueria numa altura perigosa o suficiente, e então a soltaria. Pescoço quebrado.

Sentiu as lágrimas descendo seu rosto, agora indo para sua testa e se misturando em seus cabelos. Lembrou-se de Valentina, morrendo na mesma posição.

Aquele era o fim.

Estranhamente, Abigail girou o pulso e as quatro garotas giraram para uma posição confortável no ar. As quatro agora a dois metros do chão, podiam observar o ambiente todo.

Crystal ergueu a mão no ar e desceu rapidamente, e Lana sentiu diversos arranhões descendo por suas pernas. Sua calça jeans rasgou e o sangue começou a descer por seus pés. Gritando, encarou Nina.

A loira encarava de volta para Lana, os olhos marejados, porém furiosos como o de uma leoa. Sangue também escorria de suas pernas, horrivelmente arranhadas. Agora foia vez de Clarisse socar o ar, e Lana observou uma porção gigante de cabelos na lateral do crânio de Nina serem arrancados violentamente. A loira gritou enquanto observava mechas gigantes de seu cabelo flutuando calmamente em direção ao chão.

Lana sentiu os seus cabelos sendo puxados também, gritou. Sentiu o sangue descendo a lateral de sua cabeça e pulverizando em seu peito.

Com um arrepio, Lana concluiu: a bruxa iria desfiá-la viva, como se faz numacarne para um prato qualquer. A bruxa iria se vingar de todas as vezes que as garotas atrasaram seus planos.

Lana não queria ficar viva para assistir.

– Sem fôlego, mãe. – Crystal disse sorrindo. – Sem fôlego.

Sem fôlego, Lana riu.Aquilo era estúpido demais.

Crystal observou Lana rir e fechou a mão na direção de Lana.

A jovem turquesa sentiu uma mão pesada fechando ao redor de seu pescoço.

– Lentamente, Crystal. – Abigail advertiu. - Lembre-se do que eu disse. Tenha controle.

Crystal não cedeu. Lana sentiu a respiração parando, e a mão pesada trancava seu pescoço. Ela seria sufocada.

– Solte-a! – Nina gritou, então Nina não disse mais nada e Lana presumiu que haviam selado a boca de Nina dessa vez.

Lana recuou no ar, relaxou, e tombou a cabeça para trás. Talvez permitindo que dessa vez, a escuridão a devorasse. Talvez doesse menos até daquele jeito. Ela não queria estar viva para ver Nina morrer também.

– Anda logo com essa merda! – Lana engasgou-se, mas urrou.

A mão fechou com mais intensidade e Lana viu estrelas. Esperou o filme de sua vida renderizar diante de seus olhos, mas não acontecia.

Ela não teria seus flashbacks antes de dar o fora?

Ouviu as batidas iniciais de “Cups”. “When I’m Gone”. A música que Greg cantava pra ela. A mesma música que ela cantava de volta. Era uma coisa brega de casal, mas naquele instante, se tornou o mundo para ela.

Talvez, naquele sentido, esse era o flashback de Lana. Esse era o ticket de entrada para o outro lado. Rumo ao otherside.

Sentiu os pulmões queimando, e isso fez com que ela arregalasse os olhos. Ela tentou fechar os olhos, mas não conseguiu. E através de sua visão desfocada e marejada, viu as três bruxas lá embaixo... Gesticulando... Rindo.

Foi aí que algo esquisito surgiu no canto de seu cérebro. Greg.

Não, não era no seu cérebro. E sim era fruto de sua imaginação, que agora que estava morrendo, estava tentando pregar peças engraçadas na mente dela.

Em sua visão, Greg havia surgido do meio da floresta, na estrada adiante. Ele estava há uns 20 metros de distância, do tamanho de uma formiga, mas Lana não confundiria aquele homem nem em mil quilômetros. O Greg de sua imaginação saltou do meio do mato, olhou para os dois lados e pôs-se a correr na direção das bruxas.

Lana riu com seus pensamentos. Agora que estava quase morta, seu cérebro trazia Greg de volta. A mão fechou com força outra vez em seu pescoço.

Mas Greg corria, cada vez mais próximo. Então ele entrou na caminhonete, ligou o motor. Abigail, Crystal e Clarisse não viram, é claro, pois Greg estava apenas em seus sonhos. E assim continuaria.

Sua visão escureceu e Lana foi forçada a fechar os olhos. E fim.

XXXXX

Foi aí que a caminhonete deu um tranco, arrancou e atropelou as três bruxas, arremessando-as que nem sacos de bosta para o outro lado da estrada.

O feitiço se desfez e as quatro garotas despencaram no chão.

XXXXX

Lana sentiu o ar enchendo seus pulmões novamente e parecia que tinha levado um soco. Continuou de olhos fechados.

E se o otherside fosse uma continuação do mundo anterior? Então Lana estaria ferrada, pois nenhum dos cenários de continuação era favorável.

– Passa por cima delas! – Era a voz de Anna Bella. – Passa logo!

– O motor não tá ligando, porra!

Era a voz de Greg.

Lana abriu os olhos com o coração na mão, e notou que tudo parecia exatamente o mesmo. As quatro garotas estavam de volta no chão, porém Nina e Serena estavam chocadas. Lana virou-se e viu as três bruxas apagadas e desmaiadas do outro lado da estrada.

E então Greg saiu da caminhonete e encarou Lana.

Gente, eu morri? – Lana perguntou em voz alta e encarou Nina. Estava sendo honesta consigo mesma. Não podia ser... Era Greg.

Ela imaginou que a visão de Greg se desmancharia e iria revelar que na verdade, era outro homem que tinha as salvo.

– Lana, sou eu.

O homem caiu em lágrimas e correu em direção a Lana. Ele caiu sobre ela desajeitadamente e abraçou-a, e ela apenas observou-o.

Era o mesmo Greg. Ela podia ver as tatuagens através das roupas rasgadas. Tinha o cheiro do Greg. Mas aquilo era improvável demais.

Ela abraçou de volta, repentinamente não queria deixar a visão ir embora. Ela sentia que era o mesmo Greg dela.

– Mas você morreu. – Lana recuou um pouco do abraço. – Você morreu Greg.

– Eu sei. – ele comentou enxugando as lágrimas. – Eu lembro de me cair do penhasco, lembro daquela biscate do Jeep, tinha até gravado um vlog pra você antes de morrer, não sei se você viu. – Ele riu e tossiu. - Mas então eu acordei numa caverna esquisita, totalmente recuperado, então saí andando e ouvi você gritando. Eu sabia que era você. Meu Deus olha as suas pernas...

Lana apenas encarou aquela visão esquisita, a garota quase tinha se esquecido da maneira com que ele falava. Afobado, os olhos girando caoticamente nas órbitas, mal terminando uma frase antes de começar outra. Era impossível Greg ressuscitar, mas ele estava ali do seu lado.

Lana caiu em lágrimas outra vez.

Nina aproximou-se de Greg e cutucou-o com a mão.

– Você não pode ser o Greg. – Nina levou a mão na boca. – Eu te vi morto, Greg.

– Eu voltei. Se essa velha pode fazer bruxaria, então eu posso muito bem voltar dos mortos, não é? Me diz, cadê o resto da galera? Anna, Ruth, Flango...

O olhar de Greg encontrou o de Anna Bella e ele calou-se, envergonhado. Franziu o cenho e suspirou.

– Não pode ser. – Nina repetiu. - Diga algo que só a gente saiba!

– Mesmo se não fosse ele – Serena apontou - ele poderia saber pois se está com o corpo, está com o cérebro do Greg antigo.

– Eu quero ouvir dele! – Nina gritou. – Vai!

Lana encarou as bruxas. As três poderiam acordar a qualquer instante. Talvez fosse outra peça de Abigail. TalvezLana estivesse num universo alternativo apósa morte?

– Lembra uma vez que eu e Lana estávamos transando, então você abriu a porta do quarto, viu a gente pelado e ficou nos olhando por mais tempo do que o necessário?

Nina corou.

– Ok, eu acredito.

Greg caiu na risada. O homem levantou Lana, e ela o beijou. Quase como se estivesse faminta, como se não tivesse o visto por eternidades. E de fato, era aquilo que acontecia. Ele retribuía.

– Ok galera! – Nina disse. – Vamos dar o fora daqui!

XXXXX

Lana segurou forte a mão de Anna Bella, lembrando das palavras de Shinji antes de morrer, pedindo que ela cuidasse da pequena. E assim ela o faria. A garota tinha lágrimas secas no rosto, seus olhinhos escuros arregalados simplesmente transpareciam o medo que ela sentia, depois de ver o pai agir de tal forma para salvá-la. Salvar a todas elas. Agora elas não estavam em lista alguma, estavam livres dos sacrifícios. Infelizmente Abigail já havia marcado-as com sua ira e elas tinham que pagar por terem atrapalhado tanto seus planos.

A velha agiu rápido, ao mesmo tempo que o grupo corria para longe dali, ela, Crystal e Clarisse se ergueram do chão, e em um único movimento lançaram o quinteto contra a caminhonete. O tronco de Nina bateu de frente contra o capô, ao lado de Lana que bateu o rosto contra o vidro dianteiro. O mesmo aconteceu com Anna Bella e Serena, esta tendo o rosto prensado contra o vidro traseiro. Já Greg, ainda tomado pela dor e pelos ferimentos de outrora, fora prensado na lataria da carroceria.

O grupo de bruxas ria logo atrás do grupo. Aby sentia uma energia fervilhando em si, avisando o quão próximo estava o momento pelo qual tanto aguardou. Finalmente ceifaria cada vida ali, coisa que os nativos não conseguiram fazer por ela. Com ela começou e com ela terminaria. Entreolhou-se com Crystal, a sua direita, e Clarisse a sua esquerda. Ambas assentiram e as três caminharam de mãos dadas. As vestes negras do trio arrastavam na poeira.

Por um estranho motivo, Serena calou-se repentinamente. Então, já que ninguém falaria mais nada, Lana decidiu disparar:

— Por que nos traiu Clarisse? — Seus olhos estavam mareados. — Logo você, que esteve ao nosso lado este tempo todo, que protegeu Anna Bella ao lado do pai... — Estava se segurando para não desabar em lágrimas. — A Crystal é compreensível, afinal, ela é filha dessa demônia, mas você?

— Eu nunca estive do lado de vocês. Sempre estive do lado de cá. — Sorriu de canto, lembrando da fatídica noite do sequestro no apartamento da turquesa. — E foi até fácil trazê-los, com a ajuda dos capangas mascarados.

Lana não aguentou, a esta altura já estava chorando.

— COMO PODE? — Gritou e engasgou-se nas próprias lágrimas.

— A propósito, eu até pedi para a vovó que eu usasse uma das máscaras. Achei bizarras e faziam bem o meu estilo, mas ela disse que eu deveria ter vínculo suficiente com os sacrifícios, e acho que fingir ser a amiga pseudo-cética da Andreia, que tinha grandes talentos bruxos também, não foi o suficiente pra erguer uma faca e sair por ai degolando pescoços. O mordomo viado ficou no meu lugar. Pff! — Analisou falsamente as unhas, aparentando indiferença. — Falando nisso, eu vi o que fizeram com os assassinos, vovó me mostrou.

— Vovó?! — Nina perguntou incrédula.

— Ué, minha avó, Abigail. — Clarisse gargalhou, entreolhando-se com Aby.

O baque em Nina e Lana veio como um soco forte no estômago, a ponto delas quase vomitarem as sanidades. Era muito para a cabeça de ambas. Greg ouvia tudo calmamente, sem esboçar nenhuma reação aparente, muito menos Serena, que deveria estar dando gritos histéricos. A ruiva permanecia calma, como se sua assistente não tivesse se revelado uma tremenda traidora. Ela continuava com os olhos grudados no vidro, observando o interior da caminhonete. Mesmo agindo estranho, disparou:

— Falsiane maldita! — A partir daí, calou-se completamente de novo.

Todos fizeram um silêncio sepulcral. Em seguida, Aby com sua voz pausada, disse:

— Digo que não fiquei tão surpresa com seu retorno, sabia, barbudo? — A sentença chamou a atenção de Greg, que mexia na carroceria sorrateiramente.

— Que pena, achei que o “Surpresa, vadia!” funcionaria com a senhora. — Greg falou em tom de falsa decepção.

— Esse fenômeno é bem conhecido, já li em um dos seus livros de magia, vovó. Lembra das vezes que papai me deixava vir visitá-la? O nome é Efeito Lázaro, não é?

Aby riu de canto de rosto, resignada. Sua neta estava finalmente se familiarizando com a condição de bruxa e com o mundo da magia. A velha estava orgulhosa. Retrucou:

— Isso, querida. O Efeito Lázaro é a ressurreição de uma das vítimas durante o processo de sacrifício para Santa Muerte. — A velha respirou fundo. — O que aconteceu foi que o Mensageiro saiu de sua categoria antes de sua vez na lista chegar. — E como se um estalo dissesse para a bruxa que eles estavam confusos, continuou a explicar: — O Mensageiro cometeu um assassinato e isso alterou sua categoria para uma categoria extra. A partir daquele momento ele virou Predador. Por isso seu sacrifício não se completou, porque ele não fazia mais parte da lista, ele simplesmente deu à Santa Muerte uma vítima em seu lugar.

Ícaro vagou na mente de Nina, Greg e Lana. Então Ícaro foi dado à Santa Muerte no lugar de Greg.

— Então não há mais Mensageiro? — Crystal perguntou.

— Claro que existe! Não foi a toa que trouxemos a garota do cabelo azul. Ela é uma mensageira também, ele transmite seu conhecimento para outras pessoas. Logo, ela está fazendo parte da lista. — Abigail falava com tom de superioridade. — Logo estaremos dando os dois últimos sacrifícios à Santa Muerte. A Donzela e a Mensageira.

Crystal e Clarisse riram.

— Não há mais lista, velha cretina! — Lana gritou.

— Como não há? — Clarisse indagou. — Vocês ainda estão vivas, suas burras.

— Cala a boca, projeto de Hogwarts, que ninguém aqui falou com você! — Quando Lana retrucou, Clarisse cruzou os braços e fez uma careta. — Entramos em uma segunda lista e Shinji se doou em nosso lugar, ele morreu fora de ordem. Isso atrapalha completamente os planos de Santa Muerte, não é? Isso fode completamente sua vida como serva dessa porra toda, não é? — Lana ria ironicamente, quase surtando.

Nina segurou o riso. Estava feliz por elas não estarem diante de Santa Muerte de novo. Não queria topar com outra lista tão cedo.

— Agora vá se ferrar e deixe-nos em paz! — Nina bradou de onde estava. A posição em que se encontrava deixava-a ainda mais desconfortável.

— Ao contrário do que vocês pensam, crianças, agora eu tenho mais motivos para acreditar que preciso matá-los. Vocês trouxeram caos para a ilha, vocês trouxeram desequilíbrio. — Aby dizia com seu olhar leitoso vagando pelo ambiente. — E acima disso, vocês sabem demais sobre mim, sobre meu povo, sobre Santa Muerte, sobre a seita, sobre tudo! DEVEM MORRER DE QUALQUER FORMA!

XXXXX

Abigail parou de falar quando o jato de spray pulverizou sua cara. Crystal gritou.

Ainda nos milissegundos após o susto com o disparo, Nina havia observado uma pequena explosão sangrenta na lateral da cabeça de Clarisse. De primeira achou esquisito, não fazia muito sentido. Então se virou e viu a pistola esfumaçando na mão de Greg, que parecia tão chocado quanto todo mundo. Era por isso que ele vaculhava a carroceria tão discreto. Aby não pode prever. Muito menos, Clarisse.

– Meu Deus. – Greg disse. Então apontou na direção de Abigail e disparou outra vez.

O tiro foi em direção a velha, mas Nina nunca viu onde a bala foi parar. A velha emitiu um grito horripilante e uma onda de deslocamento de ar arremessou Crystal, que estava próxima da velha, estilhaçou os vidros da caminhonete e derrubou todo mundo de seus respectivos lugares. Crystal rodopiou pelo ar acima da caminhonete com o vestido emitindo um zunido e pousou com um baque no lado oposto da estrada.

– Todos no carro! – Nina gritou. – Agora!

Enquanto Anna Bella e Serena subiam na carroceria, a loira observou Abigail abaixando-se em lágrimas, finalmente pondo a mão sobre a cabeça de Clarisse e murmurando alguma coisa.

A cena parecia se desenrolar em câmera lenta. Greg entrou no lado do motorista e deu partida na caminhonete, enquanto Nina, ainda chocada, entrava no lado do passageiro ao lado de Lana. A caminhonete disparou pela estrada de terra, enquanto Nina, olhando Abigail pela janela, rezava para que a velha não fizesse mais um daqueles gestos esquisitos para a caminhonete perder o controle.

Rapidamente, Greg alcançou um local longe o suficiente para que não fosse mais possível enxergar Abigail. Nina respirou fundo, caindo no choro outra vez. Ainda doía as mechas de cabelo que Clarisse havia arrancado, ainda doíam os arranhões profundos em suas pernas, mas ela parecia estar livre. Pelo menos naquele instante.

Ninguém disse nada. Com um braço livre, Greg pegou a mão de Lana e colocou no colo dele. Ela apertou o braço dele com força e beijou-o. Ele secou o suor do rosto. Nina observou a cena, não sabendo como deveria reagir.

A janelinha do vidro traseiro da parte dianteira caminhonete abriu e Serena enfiou a cabeça ali dentro.

– Bom trabalho, grandão. – Ela riu ironicamente. – Você acabou de despertar a fera.

Greg apenas acenou com a cabeça de onde estava.

– Agora precisamos achar uma tal de Caverna das Estátuas. – Completou a jornalista.

– Do que você está falando? – Nina olhou por cima do ombro e perguntou.

– Disso aqui. – Então Serena mostrou-lhe algumas pedras que reluziam em sua mão. Pedras coloridas. Amuletos, assim como a ametista de Vanessa.

– Onde arrumou isso?

– Achei próximas das bruxas, quando estavam caídas. Parecem com uma que achei e virão a calhar. Agora não temos tempo para explicações. Só acreditem em mim, essas coisas irão enfraquecer o poder da velhota, só precisamos colocá-las nas tais estatuetas. Vi tudo nesse livro aí do seu lado.

Só então Nina notou o livro ao seu lado. Era o livro pelo qual os mascarados procuravam na noite do seqüestro. O livro de Hermes Gama, o documentário sobre Santa Muerte...

XXXXX

A caminhonete seguia por um caminho estreito dentro da mata. O relevo não facilitava muito, o sol brilhava forte acima deles, mas parecia ameaçado por algumas nuvens ao seu redor. Todos estavam explicitamente exaustos, os rosto sujos de terra, suor e sangue. Greg guiava o veículo com precisão, desviando de pequenos troncos e pedras no caminho, com Lana ao seu lado, olhando pela janela. Nina folheava o livro, mergulhando nas entrelinhas do mesmo, nas páginas que falavam sobre as estatuetas.

— Aqui fala das estátuas sagradas dos antigos sacrifícios de Santa Muerte, mas não há qualquer mapa ou caminho que indique onde fica a tal caverna. — Pensou por poucos segundos, concluindo: — Talvez Hermes não queria que ninguém descobrisse onde encontrá-las. — A loira olhou para trás e viu Serena concordar com a cabeça.

Ao lado da jornalista, Anna Bella cobria o rosto com as mãos. A caminhonete chacoalhava um pouco. De repente a oriental olhou fixamente para o nada e disparou:

— Eu sei onde fica a caverna, eu sinto a energia, eu vejo ela. Tem desenhos estranhos na sua entrada...

Serena olhou-a confusa. Será que seus poderes estavam aumentando? Depois da visão que a garota teve deles morrendo, segundo ela, a repórter não iria mais duvidar da capacidade da menina.

— Então nos leve até lá, mocinha. — Disse Serena.

Alguns minutos passaram, até que eles chegaram na frente da caverna, segundo Anna Bella. Era uma entrada um pouco escondida por vegetações e um rochedo numa inclinação de terra. Porém, aqueles recursos usados para esconder a entrada da caverna pareciam terem sido colocados ali propositalmente, não fora uma ação do tempo e da natureza. Nenhum deles havia passado por aquela caverna antes, talvez a oriental estivesse conectada às lembranças da mãe ainda, já que esta já esteve ali antes.

Greg estacionou a caminhonete e logo todos desceram. Nina segurava o livro rente ao peito e Serena dava as mãos para Anna Bella.

— Será que é seguro entrar? As cavernas dessa ilha só fodem com a gente. — Lana resmungou.

— Se é pra foder, que foda com força. — Greg comentou e entrou mancando. Empunhou a arma contra a caverna e andou cautelosamente até ela.

Lana o seguia e logo atrás dela, Nina, Serena e Anna Bella de mãos dadas. Os cinco entraram em silêncio, com Lana e Nina retirando os galhos colocados na entrada. As inscrições estavam lá, assim como a oriental havia descrito.

Logo, sem caminhar tanto, eles estavam no centro da caverna. O teto era um buraco, de onde o sol entrava e iluminava o centro da redoma de pedra, altares em suas extremidade. Quatorze altares, cada um sustentando uma estátua, e estas seguravam velas apagadas.

— Cada uma representa um sacrifício. — Concluiu Nina, se aproximando da décima terceira estátua, onde uma donzela de vestido longo e longos cabelos, onde no topo uma coroa de flores jazia. — A Donzela... — Tocou a estátua levemente.

— As velas apagadas querem dizer que a lista não existe mais? — Dessa foi Serena quem perguntou.

— Acho que sim. — Lana respondeu.

Greg vasculhava cada centímetro do lugar com a arma empunhada.

— Seja rápida, Serena Gomez, não quero ficar aqui por muito tempo. — Greg retrucou, indo até a entrada da caverna.

— É Rabelo, senhor lumbersexual! Quando vai aprender? — Retrucou a jornalista, retirando as pedras de dentro de seu bolso. — Bom, não quero demorar mais o que necessário aqui, então melhor se apressarmos.

— Veja, os encaixes nos pescoços de cada estátua, assim como diz o livro! — Nina apontou. — Acho que as escrituras em latim remetem à categoria e à cor correspondente.

— Você é a tradutora, Nina, depressa! — Lana disse, afobada.

A bióloga apressou-se em colocar os amuletos nas estátuas certas, junto com Serena. A Prostituta, o Oráculo, a Guardiã, a Donzela e o Mensageiro já estavam posicionados. Mas ainda faltavam nove amuletos.

— Droga! Se não tivermos os quatorze amuletos aqui, a velha não fica fraca! — Serena reclamou.

— Ela está aqui... — Sussurrou Anna Bella, próxima da mesa de pedra no centro da redoma.

Nina aproximou-se da pequena, perguntando:

— O que disse, querida?

— Ela está aqui! — Anna Bella pareceu em transe.

Antes que as mulheres olhassem para a entrada da caverna, Greg foi lançado no ar, contra o fundo da caverna. O homem rolou sobre a mesa de pedra e caiu logo depois, se contorcendo de dor. A arma caiu detrás de uma das estátuas.

Aby entrou ao lado de Crystal.

— Estão procurando isso? — A bruxa balançou o saco feito de retalhos em mãos. Lá estavam o restante das pedras.

— Como sabia que estávamos aqui? — Nina perguntou, colocando Anna Bella para trás de si. Suas pernas tremiam.

— Eu sei de tudo, donzela. Sou como o diabo.

Crystal riu baixinho, encarando Lana. A turquesa ficou em posição de ataque.

— Tolinhas, acham mesmo que vão conseguir me derrotar só porque sabem sobre este santuário? Meu ex-marido, Hermes, é um lunático. Ele acha que consegue acabar comigo, sabe? Admito que o filho da puta escreve bem, mas mente muito bem também.

— Seu ex-marido? Hermes era seu ex-marido? — Nina arregalou os olhos. — Meu Deus!

— Chega de perder tempo! — Aby bradou.

Com um estalar de dedos, a bruxa ergueu Nina no ar. A loira sentiu o corpo ficando pesado, como se uma imensa pressão prensasse-o de todos os lados.

— O que pretende fazer? — Com a respiração difícil, Nina tava sôfregos suspiros.

— Dar uma morte sofrida a você!

— Solta ela, velha desgraçada! — Lana correu e empurrou Abigail. A velha não pode fazer nada naquele segundo, ela não notara o movimento. Mas como, se ela poderia sentir se Lana fosse atacá-la?

O saco com os amuletos caiu e Serena aproveitou para pegá-los. Começou a juntá-los em suas mãos.

Enquanto isso, Crystal saltou sobre Lana, puxando fortemente seus cabelos para trás. Lana gritou e acertou uma cotovelada contra o queixo da cigana. As duas rolaram para o lado, sobre algumas folhas. Serena juntava as últimas pedras. Nina, já no chão, tentava respirar novamente, mas só tossia, enquanto seus olhos lacrimejavam. Anna Bella aproximou-se da bióloga e tocou seu ombro. Neste momento, Aby lançou a menina contra o altar de pedra.

A menina já caiu desorientada e desmaiou em seguida.

— ANNA BELLA! — O grito de Nina ecoou por toda a caverna. Neste momento o rosto da bióloga banhou-se em lágrimas. Ela tentou alcançar a garota, mas Aby estava observando-a e rindo com seus dentes tortos e podres.

Ao fundo, Greg erguia-se com dificuldade.

Lana e Crystal se esbofeteavam e por mais que a bruxa tivesse poderes suficientes para tirar a outra de cima de si, ela não estava conseguindo. Ela não estava cedendo aos seus poderes, a verdade é que a filha de Aby não queria ferir Lana. Mas a turquesa, por sua vez, desejava isso mais do que qualquer coisa.

— Eu deveria ter te matado quando pude, vadia! — Disse e cuspiu no rosto de Crystal.

A cigana encarou-a e socou seu estômago. Lana saiu de cima dela com um baque surdo, apertando a barriga, em sinal de dor. Crystal levantou e caminhou lentamente ao seu redor, vendo-a se recompor. Lana já havia percebido que ela estava se negando a matá-la. Era quase como se Crystal ainda tivesse compaixão dentro de si, como se sua mente não dependesse totalmente da manipulação de Abigail.

— Vamos, acabe comigo! — Lana gritou, segurando uma pedra que encontrou próxima de seu corpo. — O que está esperando?

— Levante-se! — Ordenou Crystal, agarrando Lana pelos cabelos e erguendo a mesma do chão. Sem esperar, e ainda desajeitada, Lana acertou a pedra no rosto de Crystal, que fez menção de gritar, mas caiu logo depois.

Aby atacaria Nina, mas percebeu o movimento de Lana contra sua filha. A velha fixou enfurecida e gritou fortemente. Os ouvidos de Nina começaram a sangrar sem parar, e o mesmo aconteceru com Greg e Lana, que tapou os ouvidos no mesmo instante, arqueando os joelhos.

— MORRA! — A bruxa ergueu os braços na direção de Lana e uma aura negra surgiu em torno de suas mãos.

Greg avistou a arma e arrastava-se para alcançar. Talvez estourar os miolos de Aby desta vez surtiria efeito. Sua perna estava extremamente ferida, enquanto seus braços cheios de rasgos e hematomas sangravam. Os curativos improvisados já estavam desgastados. Só restava alcançar a pistola a tempo.

Com os ouvidos sangrando e desorientada, Nina não pode avisar à Lana sobre o ataque de Abigail. A velha disse algumas palavras em espanhol e lançou o feitiço contra Lana.

— Não! — Uma voz ecoou no recinto.

Nina caiu de joelhos, Greg parou de rastejar pela arma e observou a cena. Lana arregalou os olhos, paralisada e seu corpo despencou para trás. Sobre ela, Crystal tombou inerte. Os olhos estavam tomados por uma escuridão. As órbitas negras e vazias encararam o teto, enquanto Lana gritava horrorizada. A barriga de Crystal havia sido perfurada pela aura lançada por Aby. O buraco que ia de um lado até o outro do estômago mostrava o vazio, lá também estava escuro. Era como se Abigail tivesse expulsado a própria alma de Crystal de seu corpo.

Lana tapou a boca, enquanto gritava abafado. De seus olhos, as lágrimas saltavam incansáveis, enquanto ela arriscou aproximar-se no corpo e abraçá-lo. Crystal havia se enfiado em sua frente, no momento do ataque e isso poupou sua vida. Em troca dela. Então as memórias retorcidas em sua mente mostravam os melhores momentos ao lado de Crystal: as consultas onde elas riam, Greg implicando com sua maneira de se expressar, as duas passeando e até mesmo quando Crystal acordou do desmaio no apartamento.

Crystal nunca esteve contra Lana, ela esteve contra seus instintos de bruxa, contra a linhagem da bruxa-mãe que sempre a controlava. Greg não sabia como reagir, muito menos Nina, que apenas via tudo de onde estava, impotente.

As lágrimas de Lana ousaram no corpo morto de Crystal.

— Minha filha! Oh, minha bebê! POR QUE VOCÊ FEZ ISSO, POR QUE SE METEU NA FRENTE DESSA IMBECIL? — Aby desabou em lágrimas secas, mas poderiam sentir sua dor de mãe. Ela era cruel, mas seu lado materno também existia, em contrapartida.

Lana afastou-se e viu Abigail envolver seus braços ao redor de Crystal em um abraço apertado. De repente, a bruxa sentiu-se mais fraca. Não somente por ter perdido a neta e agora a filha, mas ela poderia sentir sua energia desaparecendo aos poucos. Olhou para o lado e viu Serena colocar o último amuleto na última estátua, a estátua da Harpista.

— Está surpresa, velha maldita? — Serena cruzou os braços e olhou para Greg de pé, surgindo detrás de uma estátua.

— Ei, mãe do satanás, olha pra cá! — Greg gritou e disparou um tiro certeiro contra a senhora.

XXXXX

— Por que não atirou pra matar? — Perguntou Lana.

— Ela não merece ter uma morte tão rápida assim. — Greg rebateu. — Vamos queimá-la e depois jogar o corpo de um abismo.

— Estou com o grandão. — Serena disse.

A caminhonete seguia veloz na estrada de terra, com Lana na direção, Greg no banco do carona e Serena no banco do passageiro com Abigail amarrada e amordaçada ao seu lado. A todo momento a ruiva se arrepiava. A cabeça de Anna Bella estava repousada no colo de Nina, na carroceria. Greg pediu que Lana os levassem até o abismo mais próximo. Lá ele daria um jeito de queimar a bruxa, como nas inquisições, para em seguida despejá-la do penhasco.

Lana não protestou, muito menos Nina e Serena estava disposta a ir adiante. A bruxa precisava morrer, para que eles pudessem viver. Já passava do meio-dia ou pelo menos era isso que o grupo achava, já que eles estavam desorientados no quesito tempo.

— Eu ainda não acredito que o Flango se matou... — Greg proferiu baixinho, mas deu para todas ouvirem.

— Foi uma grande perca, mas ele fez isso pra salvar-

Lana foi interrompida por um solavanco. Nina gritou na carroceria.

Num rompante o veículo se inclinou. Nina foi rápida em segurar Anna Bella e saltar, e então, a caminhonete capotou duas vezes.

XXXXX

Era noite. Cheiro de combustível pairando no ar.

Nina só conseguia tossir, vinha o gosto do combustível na boca. Seus cabelos e todo seu corpo estavam embebedados em gasolina. Olhou para o lado desesperada ao notar as amarras nos punhos e nos tornozelos, que estavam posicionados um sobre o outro.

Viu três grandes estruturas de madeira enterradas no chão, e notou a boca do vulcão bem a sua frente. Eles estavam amarrados a cruzes, literalmente crucificados. Aquilo trouxe uma sensação horrível para que corpo, onde o suor se misturava à gasolina, que por sinal, estava banhando os outros também. Greg acordou e depois Serena. Alguns segundos depois foi Lana, e Anna Bella permaneceu desacordada.

As feridas no corpo da bióloga ardiam muito ao entrarem em contato com a gasolina. Elas ardiam insuportavelmente e a todo momento, os crucificados faziam caretas de desconforto com o ardor.

— Que bom que acordaram. Gostaram a recepção para o último ato? — Abigail surgiu detrás deles, segurando uma tocha. Os olhos leitosos e cegos encarando cada um.

Estranhamente Greg sentiu suas amarras frouxas. Talvez, como Aby estava sozinha e enfraquecida, não conseguiu dar conta de todos os nós. Sem que ela percebesse, ele foi desafrouxando primeiro as amarras dos tornozelos.

— Por que não acaba com isso logo de uma vez ao invés de ficar nos torturando? — Serena disparou à queima-roupa.

— Não é óbvio para você? Porque torturar é mais prazeroso. — Aby moveu a tocha vertiginosamente. — Agora cala a boca e me deixa concluir os sacrifícios, pois para mim, isso ainda não acabou.

Logo, Abigail aproximou-se da cruz onde Greg estava crucificado e fez menção de acender o pavio de gasolina. Até que o barbudo saltou em cima da velha, que gritou, sentindo os oitenta quilos de puro músculo do homem sobre seu corpo franzino.

Kaulfuss caiu com os joelhos sobre as costas de Abigail, que se debatia debilmente e gritava para que ele saísse de cima dela. Se ele bobeasse, ela o lançaria no ar como sempre fazia, mas dessa vez ela não o faria, porque estava fraca. Ao lado dos dois o vulcão ativo borbulhava sua lava e vez ou outra jogava bolas de fogo para cima.

— Sai de cima de mim!

— Tá se sentindo poderosa, velha safada?

— Eu SOU poderosa! — Abigail gritou e Greg girou no ar, caindo em seguida com as costas na terra.

— Greg cuidado! — Lana gritou ao ver que a bruxa se aproximava dele.

— Lana, acha que consegue se soltar? — Nina perguntou à turquesa.

— Posso tentar.

O youtuber lá embaixo conseguia se levantar aos poucos, quando levou um soco no meio do nariz. A bruza ficou admirada com seu punho, ela deveria praticar isso mais vezes. Greg tonteou um pouco e logo se recompôs, ficando frente à frente com ela.

— Eu imaginei que seríamos eu e você em algum momento nesse inferno. E eu quebraria sua cara em uns mil pedaços, que tal? — O barbudo falou, cerrando os punhos. — Não bato em mulheres, principalmente idosas indefesas, mas pra mim, você é o próprio satanás encarnado, então já pode imaginar como é tamanha minha vontade de te matar.

— Todos querem me matar. Já me acostumei com esta condição, querido. — A bruxa falava tranquilamente, resignada.

Greg sentia o sangue fervilhar, ele não agüentaria esperar mais. Enquanto isso, Lana conseguia soltar uma das amarras.

— Vai lá, grandão, esmaga a cara dessa velha! — O homem ouviu o grito da jornalista. — E depois me tira daqui, porque não estou me sentindo bem encenando a Paixão de Cristo!

Greg deu um meio riso, partindo para cima da bruxa sem precedentes. A velha já esperava seu movimento, mas sentia-se tão fraca e com poderes escassos, que não deu tempo de desviar do corpo rápido de Greg. O homem parrudo acertou uma voadora entre seus seios, deixando-a sem ar, enquanto o baque surdo fazia a poeira subir.

Lana conseguiu desfazer a amarra dos tornozelos.

O vulcão surgia e seu magma fervia. Aby cuspiu sangue, enquanto falava:

— Mesmo que me derrotem, o que eu acho difícil, esse vulcão vai engoli-los, coisa que ele não fez naquela noite e-

Greg interrompeu o discurso com um chute na boca da senhora. Dois dentes podres de Aby saltaram e ela cuspiu mais sangue. Irada, ela ergueu-se e cravou as unhas afiadas no pescoço do youtuber, que tossiu ao sentir o ar faltar em seus pulmões. A garganta estava fechando aos poucos. As unhas iam penetrando na pele vulnerável. A velha gritava, sentindo o prazer de ver suas unhas entrando na pele de Greg e os filetes de sangue escorregarem pelo peitoral do homem, que era visto pelos rasgos na blusa suja de terra.

— Rápido, Lana! —Nina apressava-a.

— Pronto. — Lana livrou-se de todas as amarras e pulou da cruz. Imediatamente correu até Greg.

Greg começava a ver cenas de seu passado com Lana, as brigas e as reconciliações com direito a sexo. Cenas com Nina e até com Vanessa. A noite no shopping, a noite em que Ícaro surtou, a noite da morte de Gabriel na casa de brinquedos, a noite jogando boliche com Kris no Texas Redneck Bar...

Seus olhos foram ficando irritados, vermelhos, com as artérias em evidência. O rosto ia mudando de vermelho para roxo.

Quando Lana chegou e agarrou o cabelo de Abigail para trás. Lana esbofeteou várias vezes o rosto da velha, até que ela soltasse o pescoço de Greg. O barbudo recuperou o ar, puxando-o fortemente, sentindo um ardor terrível no interior da garganta e vendo o sangue escorrer na blusa. O seu sangue estava entrando em erupção, a ira só crescia e as veias saltavam em suas têmporas, prestes a fazer sua cabeça explodir.

Nina também havia conseguido se livrar das amarras e ocupava-se em libertar Serena e Anna Bella de suas respectivas cruzes.

Agora, Lana chutava a costela de Abigail, que se contorceu no chão, gritando de dor. A velha pareceu rendida, quando parou de se contorcer e apenas começou chorar.

Lana abraçou Greg e começou a chorar em seu ombro, molhando o mesmo. Aby mexia-se de maneira estranha logo atrás do casal. Nina não percebia nada, tentava desamarrar Serena e as duas conversavam algo sobre Anna Bella.

Abigail ia se aproximando sorrateiramente, segurando algo.

Lana beijou Greg por breves segundos. Então aconteceu.

Aby lançou Lana no ar, a mulher rolou até perto da beira da boca do vulcão. Greg assustou-se e se preparou para se defender, quando arregalou os olhos. A bruxa fincou um galho afiado na barriga de Greg. A ponta do galho saiu pelas costas do youtuber, que despejou bastante sangue pela boca.

Nina olhou para trás e gritou, Serena fez o mesmo, quando as amarras foram soltas e ela caiu aos lado da loira. A bióloga correu na direção da Bruza, mas caiu de joelhos, sentindo seu corpo pesando toneladas.

Greg encarou Abigail e viu a velha mostrar um sorriso vitorioso e ao mesmo tempo, macabro. Lana soltou um berro, gritando pelo nome do barbudo. Dos olhos de Greg, uma lágrimas desceu e molhou sua barba. Os olhos fixos nos da bruxa, os lábios babados em sangue, trêmulos. Ele queria dizer algo, mas Aby apertava o galho e revirava-o nas paredes do ferimento profundo.

Lana ergueu-se, mas logo caiu em terra novamente, sentindo uma pressão descomunal contra seu corpo, como se vários quilos estivessem sobre ela. Era Abigail concentrando sua magia nela.

— Por Deus, Greg! — Lana gritava, já rouca, clamava por seu amor. — Oh, Greg!

O barbudo virou a cabeça lentamente para ela e ergueu um dos braços na direção dela, dando a entender que precisava que ela viesse até ele. Aby estava adorando aquela cena.

Greg cuspiu mais sangue e olhou para Lana com o rosto banhado em lágrimas. Suas últimas palavras estavam sendo proferidas:

— Você vai sentir minha falta quando eu for embora? — A barba já tingida com o sangue, a cabeça tombando para frente, a vista turva, o coração parando...

Desesperada e já debulhada em lágrimas pesadas, ela acenou positivamente com a cabeça, engolindo em seco, completamente impotente. Os cabelos azuis com feixes laranjas por causa das lavas do vulcão.

Então, Lana bateu as palmas das mãos contra a terra, fazendo uma batida familiar, que na mente de Greg trazia sensações boas. Que essa seja sua última lembrança minha, Greg, a nossa música. A música tema da nossa vida.

— When I’m Gone.

Greg deu um sorriso demorado. O último sorriso que foi fruto de suas últimas forças. Então a velha soltou o galho e Greg tombou para frente. O galho batendo no chão, entrando mais em sua carne. Logo, o corpo despencou para o lado e o sangue espalhou-se. A velha sorriu e foi empurrada por Serena. A jornalista segurou a cabeça da bruxa com força e começou a esfregá-la na areia. Aby grasnava e ria ao mesmo tempo, era assustador!

— Come bem muita terra, vadia cadavérica! — A ruiva dizia. — Pela mãe da Anna Bella, pelo pai da Anna Bella, pelo sofrimento daquela garota, por Greg, por todos os outros sacrifícios! — A velha sentia a pele ser dilacerada pelos pedregulhos. — E não menos importante, por mim!

Os cabelos sujos de terra, o rosto arranhado, a jornalista sem cessar. A partir daí, Serena começou a arrastar a bruxa até a boca do vulcão, entre seus protestos em vão. Nina ajudava Lana a levantar. As três ficaram ao redor da velha, enquanto Serena segurava seus braços para trás. Lana pegou um pedaço de madeira qualquer que havia ali e a sangue frio estapeou a velha uma, duas, três vezes. A cabeça de Abigail tombava, o sangue descia de sua boca sem cessar, os vários arranhões sangravam, um dos olhos estava prestes a vazar. Lana queria evitar olhar para o corpo de Greg.

O nariz da velha parecia estar fora do lugar, os lábios inchados. Nina segurou sua cabeça e a puxou para baixo, acertando uma joelhada segura contra seu rosto. A velha mandava elas irem para o inferno repetidamente, enquanto engasgava-se no próprios sangue. Já tonta, Aby cambaleou e conseguiu soltar-se da jornalista.

Sem prever o movimento, Nina afastou-se com o impulso. Os pés da bióloga escorregaram na borda da boca do vulcão.

Repentinamente Anna Bella surgiu correndo e empurrou a velha dos olhos leitosos contra a cratera do vulcão. No último instante, a bruxa arrastou Nina junto. Lana gritou.

XXXXX

Nina esticou os braços desesperada e agarrou no barranco do vulcão. Ao mesmo tempo ela sentiu o peso de Abigail abaixo dela.

A loira gritou, tombando a cabeça para trás e sentindo o mundo girar. Estava agora presa por um fio, e Abigail estava pendurada nela.

Lana tropeçou e deitou-se no chão diante de Nina, agarrando os braços da loira. Ela tinha lágrimas nos olhos.

– Eu nunca vou te deixar cair.

Nina não respondeu. Ela arriscou um olhar para baixo e tentou golpear para que Abigail a soltasse, mas o movimento quase a fez cair.

– Não ouse me derrubar, sua idiota!Você sabe que não tem escolha.

– Eu tô te segurando! – Lana sussurrou, se afogando nas lágrimas. –Não vou te deixar cair.

Nina escorregou ainda mais. Lana se assustou e agarrou firme nos pulsos de Nina. Anna Bella agarrou as pernas de Lana logo atrás.

– Eu vou te puxar. – Lana sussurrou. – Quando ela subir, você chuta a cabeça dela.

– Eu estou ouvindo, sua ridícula. – Abigail bradou. – Isso não vai acontecer!

Nina sentiu como se as mãos de Abigail estivessem esquentando ao redor de seus tornozelos. A loira gritou e chutou novamente.

Lana perdeu o aperto com o movimento de Nina e a loira escorregou ainda mais. Lana trouxe-a de volta outra vez. Nina ouviu Abigail falando num idioma estranho.

– Pare com isso!

– O que foi?

– Ela tá fazendo um feitiço!

– Está feito. – Abigail sorriu. –A união de almas. Estou enraizada em você, Nina. Mesmo se você me derrubar nesse buraco e escapar, continuarei viva, pois minha alma estará ligada à sua. Quer arriscar?

Nina sentiu como um elo invisível se fechasse entre si mesma e a velha.

– Já te tiro daí! – Lana gritou. – E a gente acaba com essa velha!

– Você está surda? – Abigail berrou. – Se a loira viver, eu também vivo!

Os olhos de Lana e Nina se encontraram. Lágrimas voltaram a descer o rosto de Nina.

A jovem sabia que aquela poderia ser a única maneira de deter Abigail. A velha já estava fraca com a morte das duas parentes. E o laço com ela mesma, apesar de parecer traiçoeiro, também reforçava a vulnerabilidade de Abigail. Um só poderia morrer se o outro também morresse.

Lana emitiu uma expressão de horror como se tivesse acabado de ler os pensamentos de Nina.

– Não! – Lana disse. – NÃO!

Nina agarrou-se no braço de Lana, já determinada.

– Ela nunca vai nos deixar em paz, Lana!

– Você não vai fazer isso! – Lana gritou. – Eu não posso perder você!

– Você não vai deixar a sua namoradinha cair, não é Lana?– Abigail riu. - Ela confia tanto em você!

– Você precisa me deixar, Lana! – Nina tentou desvencilhar-se do aperto de Lana. - É o único jeito!

– Vou te tirar daí! A gente pode encontrar outro jeito! Derrube ela e a gente ganha tempo!

– Eu posso ler a mente da Nina, Lana e ela não quer que você a solte! Sua alma será minha, Nina!

– Eu não quero que ela me solte, sua velha porca! – Nina berrou. –Mas eu também não quero que você viva!

Abigail tinha uma mão em cada uma das pernas de Nina. E a velha também escorregava agora.

Já está feito!Vou tomar sua alma, Nina!

Nina rapidamente puxou para cima uma das pernas, desvencilhando-se rapidamente do aperto do punho de Abigail. A velha gemeu parecendo preocupada agora, segurando uma só perna com uma só mão.

A loira mirou o golpe e acertou a sola do coturno na cara da velha com uma força anormal.

Toma isso, filha da puta!

A velha emitiu um grunhido e sua cabeça virou-se 180 graus com um estalo barulhento. A velha perdeu o aperto e soltou-se da perna de Nina.

Nina soltou-se do aperto de Lana e caiu logo em seguida.

What doesn't kill you makes you stronger

Stand a little taller

Doesn't mean I'm lonely when I'm alone

What doesn't kill you makes you a fighter

Footsteps even lighter

Doesn't mean I'm over cause you're gone

XXXXX

Enquanto acompanhava a imagem horrorizada de Lana, subindo diante de si, a mente de Nina tratava de amarrar os nós soltos.

Um ser solitário é que nem um vulcão. Quando o amor chega, aí é que ele entra em erupção.

Foi preciso um desastre como a erupção de um vulcão para Nina conhecer as pessoas certas e sentir o que era amar e ser amada novamente. E no fim das contas, o vulcão extinto, o ser solitário era ela mesma.

Nina podia ver as pequenas chamas no fundo do vulcão subindo em direção a ela. Não havia tempo de se arrepender pelas oportunidades não tomadas, não havia tempo para pedir perdão ou perdoar alguém. Era rápido e sombrio. Era uma queda longa e desconfortável.

Nina virou-se no ar, então não precisaria ver o fim chegando. Pareciam horas, mas uma parte de seu cérebro sabia que era apenas alguns milésimos de segundos.

Depois que esfriam, as terras mais férteis do planeta são as que foram tocadas pelas lavas de um vulcão. E por Deus, Nina esperava que pelo menos Sidney e Lana se adaptassem para sobreviver a aquela erupção.

Ela gostaria que a jovem turquesa e sua chinchila favorita pudessem aproveitar de toda a fertilidade que pudesse surgir.

E foi aí que Nina atingiu as chamas do fundo como uma bala, um piscar de olhos após Abigail.

O fogo instantaneamente se dissipou e então Nina pode sentir apenas cócegas em seus pés. Agora era como se ela estivesse embaixo da água, numa piscina aquecida. Ela podia ver os próprios cabelos flutuando ao redor de seu campo de visão.

Sentiu como se uma mão estivesse tocando seus ombros. Virou-se e ficou chocada por alguns instantes. Seus pais sorriam para ela, também mergulhando, os cabelos também flutuando na água. Os dois sorriram, fizeram com a mão para que ela os seguisse e subiram nadando.

A visão seguinte aqueceu ainda mais o coração de Nina.

As mãos na cintura, um sorriso safado e o cabelo mais ruivo do que o normal, Vanessa balançava a cabeça de um lado para o outro quase como se estivesse surpresa de que Nina estivesse ali tão cedo. Então a ruiva pegou a mão da loira e guiou-a em direção a luz.

De volta a superfície.

E enquanto subiam, Nina sorria e tinha uma única certeza: o calor humano era muito mais quente do que as lavas de um vulcão.

Ela poderia contar aquilo para Lana numa outra eternidade.

What doesn't kill you makes you stronger, stronger.

Just me, myself and I

What doesn't kill you makes you stronger

Stand a little taller

Doesn't mean I'm lonely when I'm alone

XXXXX

O resgate foi contatado assim que amanheceu. O trio desceu até a praia, exausto, cansado, mas felizes do inferno ter acabado. Logo, foram resgatadas: Lana, Anna Bella e Serena. As sobreviventes da Ilha Vermelha, sobreviventes de Santa Muerte. A guarda costeira e alguns helicópteros checaram todos os perímetros, mas assustadoramente tanto o vilarejo quando a civilização nativa que vivia no alto do Dedo do Diabo, desapareceram sem deixar rastros ou vestígios de que um dia tentaram acabar com a vida de turistas. Assim como a antiga Santa Muerte havia entrado em estado de extinção, os moradores também o fizeram. Agora, todo o vilarejo havia desaparecido.

Os corpos espalhados e encontrados pelas equipes de resgate foram escondidos da mídia. Em diferentes estados de crueldades, eles foram levados para suas respectivas famílias, depois das identificações. Pelo menos os que estavam decentes para sepultamento.

Porém, nem todos os mais de dez corpos estavam realmente mortos.

Uma das vítimas encontradas ainda apresentava sinais vitais.

XXXXX

Nos meses seguintes, Lana nunca estava tão certa sobre onde iria, onde estava e onde teria ido.

Durante suas últimas horas na Ilha Vermelha, Lana tinha acreditado que poderia ter a presença de Greg ou Nina novamente, mas aquilo não aconteceu.

Lana havia passado noites em claro, algumas vezes se perdendo do mundo em algum lugar lotado, bebendo ou ficando doida. Ela não se sentia nervosa, não se sentia estranha, não tinha medo.

Ela já tinha passado por tudo, afinal.

Greg tinha ido embora, Nina também, e Lana precisava ficar chapada. Precisava limpar a mente, ou pelo menos esvaziá-la, apenas por alguns segundos. Tirá-los da cabeça. E mesmo chapada, sempre vinha algum filho da puta perguntar o que diabos tinha acontecido.

As pessoas diziam que a vida de Lana estava acabada.

Ela nunca procurou outro Greg ou outra Nina pois sabia que não iria encontrar.

Era apenas Lana e o mundo. E também Pussy, Dick e Sidney. Lana sentia bastante saudades dos três e doía. Doía muito.

E então, Anna Bella.

Recuperando-se de uma longa queda, Lana voltou a falar com Anna Bella. Se Lana tinha apanhado tanto, ela não podia imaginar o que a garota tinha passado. E todas as vezes que Lana se sentia fraca, Bella ajudou-a a se curar. E todas as vezes que Bella sentia-se sozinha, Lana passou a estar lá, para mostrar que talvez a vida das duas ainda não tinha acabado.

Lana já tinha dado início com a documentação da adoção. A avó da garota, Dona Silvia era a única familiar viva de Bella viva e não conseguiria dar conta, pois a neta a lembrava de sua filha.

Era questão de tempo até Silvia se recuperar também.

Lana desceu do jipe sorrindo, o sol de verão queimando seu rosto. Lana pôs-se a abrir a porta para Bella, mas a garota rapidamente o fez, saltando do veículo com um sorriso. Era um dia que Lana poderia passear com Anna Bella.

– Instituto Pyramid para pessoas especiais. - Bella comentou surpresa, observando o edifício antigo, branco, de concreto, gigante, algumas das paredes cobertas por flores e grama. Crianças e adolescentes brincavam no fundo da construção. – Você não tá pensando em me recrutar, não é? X-Men e essas coisas do tipo? – Lana lembrou de como Anna Bella já estava grandinha e de como ela estava voltando a ser aquela garotinha tagarela que conheceu. Aquela bela garotinha, a garotinha que agora ela tanto ama.

– Claro que não. – Lana riu, levando a mão a boca. – Se não quiser, tudo bem.

– Você tá brincando? – Bella riu. – Eu amo X-Men!

Bella saiu saltitando em direção ao edifício. Dessa vez foi Lana que pareceu receosa.

– Vamos! – Anna Bella voltou e pegou a mão de Lana. – Já te protegi uma vez e posso fazer de novo.

Lana riu e seguiu a garota.

Como dizia Greg, leve as memórias boas e você ficará bem.

Enquanto seguia Anna, Lana compreendia: algumas eternidades levam um tempo para finalmente acontecerem.

XXXXX

Se ela soubesse que as coisas teriam tomado todos os rumos inesperados, teria interrompido tudo a tempo. Assim ela teria apenas as lembranças boas dos momentos que tinha vivido.

Era novembro e o clima no Brasil parecia promissor. Ela observava as nuvens se desmanchando, já devoradas pelo bico da aeronave. Através da janelinha do avião, podia ver e lembrar-se de muitas coisas.

Estava parcialmente preocupada, pois sua amiga havia dito que um suposto surto de virose na cidade estava acontecendo. Não tinha tomado nenhuma das vacinas.... Assim que desembarcasse iria direto para um posto de saúde. Ela tinha vivido o suficiente para saber que simplesmente jamais poderia baixar a guarda, fosse o que viesse.

Pela janelinha, avistou a silhueta imponente de um vulcão. A fumaça parecia densa naquela região. Perguntou-se se aquilo era normal. A turbina do avião pareceu pesar.

Ah claro. Ilha Vermelha. Por alguns segundos tinha esquecido que um dos maiores vulcões do Brasil tinha entrado em erupção, alguns meses antes. Onde ela estava com a cabeça afinal?

Suspirando e evitando os pensamentos negativos, a jovem forçou um sorriso no rosto.

Uma bandeja parou diante de si. Ela encarou.

– Seu suco, senhorita...?

– Alisson. – A jovem sorriu. – E obrigada.

XXXXX

Dezembro de 2015

Serena estava posicionada de frente para a câmera. Não estava nervosa, muito menos disposta a fraquejar diante da mídia. Ela estava bem, meses depois de tudo o que houve na ilha, agora, fechada para turismo. Depois de ser resgatada da ilha, sua fama como jornalista cresceu, de modo que ela teve tempo de escrever o livro que tanto desejava a respeito dos sacrifícios, das pessoas queridas que passaram pela sua vida jornalística e pessoal de maneira tão abrupta.

A jornalista foi até o fim para abafar os casos que aconteceram no local, de modo que a imprensa não caiu em cima dos casos de desaparecimento turísticos. Serena estava segura de que tudo daria certo para ela, assim como deu para Lana e Anna Bella. E como únicas sobreviventes do massacre da Ilha Vermelha.

O câmera acenou para ela, dando sinal de que ela pudesse prosseguir. Um, dois, três.

— Aqui é Serena Rabelo, falando direto da Prefeitura Municipal, onde o prefeito pretende fazer o primeiro pronunciamento público sobre o estranho surto de virose que está levando inúmeras famílias em estados preocupantes aos postos de saúde e hospitais da região. Muitos acreditam que a doença está sendo transmitida pela água e se espalhando rapidamente. As vacinas estão se esgotando. Então, você que ainda não foi até o posto de saúde mais próximo de sua residência, vá até lá e tome a vacina.

Embora a ruiva também acreditasse que as vacinas iriam evitar que mais famílias fossem contaminadas, seu instinto de jornalista dizia que aquilo não era um simples surto de virose, mesmo com os sintomas parecidos, e que dias escuros viriam de carona com a propagação do vírus.

XXXXX

“Em memória de meus queridos soldados...

Elisa, a harpista do espírito de estrela,

Wendel, o guerreiro apaixonado,

Eduardo, o intenso atleta,

Isabella, a inocente de coração puro,

Maurício, o flaustista dos olhos brilhantes,

Andreia, a destemida guardiã,

Vanessa, a deslumbrante vontade de viver,

Nina, a donzela mais forte que já vi,

Valentina, a brava erudita,

Gabriel, o bobo do rosto angelical

Ruth, a virgem dos sonhos corrompidos,

Kris, o sensível curandeiro,

Gregório, o predador mais amável,

Anna, o oráculo superprotetor,

Lana, a resistente mensageira.”

(Dedicatória de seu primeiro Best-seller biográfico, “Dezesseis Soldados – Morte e Vida de Serena Rabelo”)


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado da fanfiction. Os comentários são bem-vindos e necessários para a continuidade do projeto.



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