Avalanche escrita por Aarvyk


Capítulo 5
Caos


Notas iniciais do capítulo

Tentando estabelecer dias de postagem, resolvi que seria melhor postar uma ou duas vezes na semana!



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Quando fechei as portas de meus aposentos, senti meu corpo inteiro pulsar ofegante. Minhas costas ardiam, as pernas tremiam fortemente em busca de um lugar macio para descansarem. À medida que eu soltava o ar pela boca, fui me deixando cair esgotada pelo chão, minhas mãos seguravam o tronco, mas meus joelhos e pernas já haviam se rendido a madeira escura do piso.

A poucos momentos atrás, eu estava diante de Alexander Schreave, meu noivo. Nossos olhares se encontraram por um instante, projetando em ambos uma surpresa profundamente ruim. Depois disso, só consigo lembrar de minhas pernas movendo-se para longe daquela figura loira e jovial, que mais parecia destinada a uma tragédia de sentimentos do que a uma vida de luxúria como príncipe.

Algumas lágrimas escaparam, mesmo que eu não conseguisse decifrar o pandemônio dentro de mim, sabia que pela primeira vez em muito tempo me sentia assustada e com medo. Mesmo quando Desmond II tornava-se no monstro que era, eu não me sentia tão perdida e confusa como naquele momento. Algumas lembranças de minha infância vieram a mente no meio de minha crise: a guerra, a morte, aquele maldito sequestro...

Choro e sangue quente.

Anos se passavam, mas eu continuava sendo a mesma garotinha que viu a própria mãe morrer. Fadada a estar em outro país em guerra. Como Cameron ou Edwin podiam achar que me protegiam mandando-me para Illéa daquela forma?

Limpei as lágrimas, meu rosto ainda encarava o chão. Meu quarto possuía elementos rústicos por toda parte, a pequena lareira estava acesa do modo como eu sempre gostava e um ar frio rodeando os aposentos, tornando tudo em um clima aconchegante. Mal sabia quanto tempo ainda teria naquele lugar que era meu santuário, mal sabia quanto tempo teria com as pessoas que amava.

 Já que eu estava condenada ao inferno, então faria o impensável. Eu só conseguia ansiar por um refúgio longe daquilo tudo.

— Eli – gritei.

Em poucos segundos, a criada já havia adentrado meu quarto, encontrando-me em uma situação tão inusitada para ela que arregalou os olhos. Mesmo assim, não se atreveu a dizer uma palavra sequer, apenas fez uma leve reverência e me encarou.

— Chame Jasper – falei, o que restava das minhas forças estavam se esvaindo. Comecei a ofegar mais, deixando a criada tão confusa que Eli nem chegou a se mexer. – Agora! Por favor...

Com o som de minha voz, ela finalmente acordou para os seus deveres, saindo tão rápido de meu quarto que mal notei o ranger das portas. Logo que me vi sozinha mais uma vez, pensei em pelo menos chegar até a cama, não queria que Jasper me visse daquela forma, eu já estava fazendo o impensável por chamá-lo àquela hora. Em um único movimento, forcei meus pés a se mexerem, ficando de pé mais uma vez. Sabia que não iria me manter por muito tempo, então apenas dei passos rápido na mesma direção e me joguei no cobertor de pele de urso com o qual eu dormia. Havia um bom tempo em que eu não me sentia daquela forma, apenas eu em meu próprio aconchego, mal conseguia prever quando iria para Illéa de uma vez por todas, mal conseguia reunir aliados o suficiente para evitar aquele maldito casamento.

Quando minha mente estava quase se apagando, ouvi passos apressados ao meu lado. A sensação de conforto havia apenas aumentado quando me deparei com a figura preocupada de Jasper Schmidt.

— Me ajuda – pedi, a voz saía como um sussurro cansado.

O homem abriu os lábios avermelhados para dizer alguma coisa, mas os seus olhos só me diziam o quão perdido e desconfortável ele parecia. Havia uns meses em que não nos víamos tão próximos assim, ambos éramos ocupados demais, mesmo que morássemos praticamente no mesmo teto. Seus cabelos castanho-escuros estavam molhados e rebeldes como sempre, e seu rosto anguloso continuava com o mesmo charme possuía desde mais novo.

— Avery, eu... – disse, sua voz rouca mostrava que Jasper ainda não fazia a mínima ideia de como proceder.

— Desabotoe meu vestido. Rápido.

Minha dor tornou-se tão grande por todo o esforço mental e físico feito que nem me importei com meu orgulho ou tom malicioso que se formava. Eu estava quebrada demais para ter o mínimo de ego, quebrada demais para tudo.

Quando os dedos quentes de Jasper tocaram minha nuca, me senti aliviada ao ver que o vestido estava solto. Logo, movi os tecidos e deixei minhas costas à mostra, cheias de curativos e um pouco de sangue seco.

— Sinto muito por isso – disse, abaixando-se para olhar meu rosto.

Mesmo com certa idade, ele parecia jovial, poucas marcas de expressão o condenavam. Olhá-lo daquela forma me lembrou dos velhos tempos, quando tivemos uma relação um pouco mais íntima do que apenas a lealdade que detínhamos como bons amigos, algo tão fugaz que se desfez no minuto em que crescemos mais um pouco e deixamos aquilo de lado, ambos concordando que manteríamos o amor em um patamar abaixo.

— Posso pegar mais da pomada, se quiser – disse, acariciando cuidadosamente meu cabelo.

Neguei com um leve balançar do queixo. Com suas mãos passando por minhas mechas negras, eu quase tive a sensação de que poderia eternizar aquele momento, viver com Jasper ao invés de alguém que eu mal conhecia e queria odiar. Dos poucos homens de boa índole e grande status, ele era o único que me respeitaria ou que não me faria querer matá-lo.

— Não – respondi, apoiando minha cabeça em sua perna, a esse ponto Jasper já estava sentado na cama ao meu lado. – Quero que fique comigo.

Apesar de sentir que havia um leve desconforto entre nós, não conseguia me importar com o fato de que ele parecia tão travado com nossa proximidade, talvez pela atitude inesperada em anos ou pelo meu estado melancólico.

— Eu não quero ir embora. – Meus olhos marejaram, o olhei implorando por ajuda, o coração palpitava como se eu fosse morrer. Havia tempos em que eu não me encontrava tão frágil na frente de alguém. – O que acha que devo fazer, Jasper?

Abracei sua cintura, molhando sua calça militar com minhas lágrimas. Tantas sensações em pouco tempo. Nossa diferença de idade era quase dez anos, e isso o tornava ainda mais um refúgio no meio de uma guerra violenta que estava sendo travada dentro de minha mente.

Por fim, depois de mais alguns minutos acariciando meu cabelo, ele suspirou profundamente, parecia ter chegado nas palavras certas.

— Escute o que vou dizer com atenção – pediu, desvencilhando-se de meus braços e posicionando nossos rostos um pouco próximos, mas não tanto. – Illéa precisa de alguém com o seu potencial militar para lidar com as situações do Sul. Vá para lá, tente adiar o casamento para ajudar nos assuntos estratégicos. Infiltre-se e consiga vantagens sobre eles. – Uma de suas mãos ajeitou alguns fios de cabelo que estavam no meu campo de visão, ele ainda detinha o mesmo carinho por mim, mas parecia bem menos intenso.

— E Cam? – perguntei. – Ele mentiu para mim sobre tudo.

Mantive o contato de Igor Pyetov em segredo, sentindo que não devia falar sobre aquilo. Eu não tinha certeza sobre até onde Jasper sabia.

— E Thomas? – voltei a indagar. – Seu irmão está aconselhando Cam e Edwin pelas sombras.

O semblante dele continuou sério. Talvez Jasper soubesse mais do que eu imaginava, já que não havia tido reação.

— Por favor, confie em mim – pediu. Ele me conhecia muito bem. – Faça o que estou pedindo, Avery. Eu cuido do resto, esqueça isso tudo. Você sabe que seus irmãos nunca serão um problema, ambos te amam mais do que tudo. – Suspirou. – Olha o seu estado... Não suportamos mais te ver assim. Você vai poder forjar sua própria segurança em Illéa.

Abaixei meu olhar por um momento, reparando no pingente de sua família que ele carregava no peito, um leão prateado rugindo, o símbolo dos Schmidt. Será que eu devia ser forte e rugir ao mundo também? Eu estava cansada demais para suportar qualquer coisa, queria algo além de aparências e política. Em um movimento quase instintivo, coloquei minha mão nos músculos de seu peito, sem me importar com o leve afastamento que senti da parte de Jasper. Eu não estava mais em posição de raciocinar, meu cérebro derretia como se eu sofresse um trauma.

— Jasper – sussurrei.

Minhas costas doíam e eu arfava, a respiração era ofegante, porém gélida. Aproximei meus lábios de seu rosto, mais precisamente de sua boca. Ele fechou os olhos, respirava nervoso com o meu contato. Será que ainda existia uma chama entre nós? Jasper Schmidt veio em minha direção por um curto segundo, aquilo só podia significar que eu estava mais do que no caminho certo. Selei nossas bocas macias uma última vez antes de ter minha vida mudada por completo. Ansiava por algo familiar, por um pouco de amor verdadeiro. Talvez ansiasse por Jasper, de certa forma.

Embora estivéssemos ambos quentes e em sintonia perfeita, Jasper se afastou bruscamente de mim e sentou-se no chão, parecia estar resistindo a um ferimento fatal no meio de um confronto. Sua respiração desregulada e seu suor me deixavam ainda mais sem entender o que estava acontecendo.

Quando me dei conta do que ele havia feito, uma forte tristeza caiu sobre mim, e as lágrimas que já haviam secado voltaram a me atormentar.

— Nós não podemos fazer isso... – foi tudo o que disse antes de sair pela porta, atormentado por algum motivo desconhecido e com as mãos na cabeça.

Não conseguia sequer analisar a situação.

Por que todos estavam tão estranhos? O que estava acontecendo?

Em meio a tantas dúvidas, eu mergulhei em um sono profundo, absorta em sonhos que jamais se tornariam reais.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?