O Metamorfo escrita por Gaia


Capítulo 2
Necessário




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Nesse ponto, Jennifer já não estava com medo ou com ansiedade. Estava com raiva. Com raiva da única coisa diferente que já aconteceu com ela ser extremamente mortal. Com raiva do seu sentimento de querer descobrir tudo e com raiva da sua profunda necessidade de ficar perto de Jude.
           
Levantou bruscamente e colocou as roupas com desgosto. Desceu as escadas com passos pesados e foi direto para a cozinha, onde se deparou com uma cena que nunca esqueceria.
           
- JUDE?! – exclamou chocada e piscando os olhos depressa, esperando que a imagem sumisse.
           
 Lá estava ele, olhando com desdém para a face chocada de Jennifer.
           
- Olá Jenny. – disse ele com aquele sorriso torto que no momento era a coisa que mais irritava a garota. Ela não deixou de notar que os dentes afiados haviam desaparecido, talvez fosse mesmo um sonho.
           
Ainda em estado de choque, ela olhou em volta e observou a cena com cuidado. Seu avô estava sentado com as mãos sobre a cabeça baixa.
           
Jude estava em pé com a mão sobre os ombros do velho, com a impressão de estar o consolando.
           
Jennifer nem sabia dizer quantas coisas erradas havia ali. Poderia ficar o dia inteiro imaginando todas as coisas sem sentido que se refletiam na sua frente. Poderia ficar com a boca aberta e os olhos arregalados o dia inteiro.
           
- É… É Jen. – gaguejou sem pensar.

           
De imediato, Jude começou a gargalhar e o velho levantou a cabeça para ver o que se passava.
           
- Você é tão estranha. – falou entre as risadas.
           
- Eu? Estranha? Você que está na minha casa ás oito horas da manhã! Psicopata! – Jennifer berrou procurando uma faca na gaveta mais próxima.
           
O garoto percebeu o movimento e se apressou a dizer:
           
- Não vim aqui te machucar. E já estou de saída. Tchau Sr. Phillipe Regnard (n/a: roubei esse sobrenome, haha), se você pudesse esclarecer as coisas para a Jenny, eu agradeceria muito.
           
Jen acompanhou os passos lentos dele até a porta. Ainda estava absorvendo tudo o que aconteceu. Desde quando seu avô tinha mentalidade para ter uma conversa decente por mais de dois minutos? Sr. Phillipe Regnard? O que estava acontecendo?
           
- Vô, ele te fez mal? – falou analisando-o
           
- Não Jennifer. – ele hesitou. – Sente-se, preciso te contar uma coisa. Umas coisas.
           
Perplexa, a garota sentou e com o olhar fixo, esperou explicações para tudo o que estava acontecendo. Tentou entender de onde a sanidade de seu avô apareceu, este estava falando de dinossauros no dia anterior, o que poderia ter acontecido?
           
- Eu quero que você me escute atentamente e não me interrompa em momento nenhum. – falou com a expressão séria.
           
Ela acenou com a cabeça.
           
- Eu sei que é estranho, e sei que você vai ficar com raiva de mim, mas eu não sou doente mental.
           
- Isso eu já notei e… Desculpe. – falou após lembrar do aviso que ele deu.
           
O senhor suspirou com impaciência e prosseguiu:
           
- Os seus pais não morreram em um acidente de avião, eles foram assassinados. Por seres que querem te matar também, por isso, eu contratei um guardião para te proteger. Mas eu cometi um erro grave e…  - ele parou ao olhar a garota.
           
Esta havia levantado e o olhava com uma expressão de pena. Era óbvio que ele ainda estava louco.
           
- Vamos vô, vamos tomar café, parece que seu sonho essa noite foi cansativo. – ela ofegou tentando segurar os risos nervosos. – Seres que querem me matar, essa foi boa.
           
Uma parte dela, sabia que aquilo tudo era verdade, uma parte bem pequena que ela estava tentando suprimir.
           
- Desculpe se contei tudo muito rápido, Jenny. Sinto-lhe dizer, mas é tudo verdade, infelizmente, estou tendo que te dizer a verdade, devido ao que aconteceu ontem. – ele continuou com a voz fraca e os olhos pesando.
           
Ainda tentando achar mentira naquilo, balançou a cabeça e disse:
           
- É Jen. Olha, ontem, antes de eu sonhar coisas estranhas, eu fui muito grossa com o Will, eu realmente preciso falar com ele, então… É… Foi bom falar com você.
           
Phillipe acenou negativamente com a cabeça demonstrando desgosto de si mesmo e falou com um meio sorriso:
           
- Vai em frente. As amizades são muito importantes, os verdadeiros amigos nunca te julgarão.
           
- Pois é… Eu vi que o Jude preparou o seu café da manhã, então… Er… Te vejo no almoço. – Jennifer falou andando lentamente para trás e colidindo com a porta. Riu nervosa e quando não estava mais a vista, correu.
           
Frequentemente, correr era a ação favorita de Jen, ela sabia que correr não ia fazer as coisas mudarem. Sabia que não ia fazer ela parar de sentir tudo que estava dentro dela. Mas sabia também que fazia ela esquecer, esquecer de tudo, da infância, das mentiras, da escola e agora, de tudo o que aconteceu.

           
Correu até o lugar favorito dela, em uma pequena praia deserta que só se podia chegar escalando as rochas da praia comum. Sentou na areia e colocou a cabeça sobre os joelhos fechados, tentando absorver tudo o que aconteceu.
           
Pensou em como um segundo podia fazê-la feliz ou destruir tudo em que ela acreditava. De repente a segunda opção pareceu a mais plausível.
           
- Heey Jen! – ouviu William berrar do seu lado.
           
- Oi.
           
- Quanta empolgação em me ver, se quiser eu saio. – ele disse, sério.
           
Jennifer levantou a cabeça e pegou no braço do amigo que estava prestes a levantar.
           
- Não… Olha, sobre isso, desculpa por ontem, fui muito chata.
           
- Foi mesmo. Mas tudo bem, acustumei. – Will disse rindo.
           
Jen soltou uma risada reprimida.
           
- Engraçadinho, podia trabalhar no circo.
           
- Já trabalho, eu domo a fera.
           
Os dois riram e ficaram um tempo falando besteiras enquanto a maré subia. Jennifer, por um instante, esqueceu de tudo, esqueceu que seu avô mentiu sua vida toda, que tinha um par de olhos azuis extremamente bonitos que a perseguia nos seus sonhos, que ela estava sendo perseguida por seres deconhecidos. Ela esqueceu e ficou ali, olhando as ondas quebrarem de maneira uniforme.
           
Infelizmente, seu melhor amigo por muito tempo, a interrompeu e disse no meio das risadas:
           
- Já deve estar na hora do almoço, imagino que seu avô esteja te esperando.
           
- Acho que não. – ela sussurrou para si mesma.
           
- O que?
           
- Nada. Vamos. – os dois se levantaram e começaram a escalar as rochas quando ouviram um estrondo vindo de trás. Automaticamente viraram as cabeças e viram uma ave anormalmente grande pousar na areia. Ela era toda amarela, com apenas as asas azul celeste que estavam abertas, como se esperasse um abraço. Era tão impossivelmente linda e elegante que os dois jovens ficaram um bom tempo encarando-a.
           
Jennifer instantaneamente espiou os olhos da ave, piscou várias vezes, e só então se convenceu que realmente eram os olhos azuis cor do céu que conhecia tão bem. Só então percebeu que os sonhos recentes não eram nada comparados com os outros milhares de sonhos que tinha tido com aqueles mesmos olhos. Antes, se convencia que eram os olhos de Will, que são incrivelmente azuis, mas agora, tinha certeza que eram os olhos de Jude.
           
E, contra sua vontade, acreditou completamente em tudo que seu avô tinha lhe dito e se castigou por não ter ouvido tudo o que ele tinha a dizer.
           
- Nossa… Quer dizer, NOSSA! – William falou excitado. – Olha o tamanho desse bixo! Tipo, é maior que eu!
           
O tom de voz de Will fez com que a ave se assustasse e desse um longo pulo, mas sem sair do lugar.
           
- Fica quieto. Você está com o celular ai? Tire uma foto. – cochichou Jennifer no ouvido do amigo. Ela queria ter certeza que não estava sonhando, precisava de todas as provas para poder comparar os olhos da ave com o de Jude.
           
“Ser guardião-sei-lá-o-que é uma coisa, mas ter os mesmos olhos de uma ave é outra.” – pensou a garota, angustiada. Ao ver que o amigo tinha tirado a foto, ela deu um olhar significativo para ele, querendo dizer que era hora de ir.
           
Ela queria chegar logo em casa e esclarecer de uma vez por todas as coisas com seu avô. E assim fez, após ter certeza que a foto de Will iria chegar em seu email aquela tarde, apressou o passo, dando a desculpa de estar atrasada para o almoço, o que não era completa mentira.
           
Assim que chegou, escancarou a porta e gritou:
           
- Phillipe Regnard, se esse é o seu nome, compareça a sala de estar, por favor. – sabia que esse não era a maneira certa de tratar seu avô, mas no momento, ele era um completo estranho para ela. Nem tinha certeza se era mesmo da sua família.
           
Andou até a sala de estar e sentou no sofá, esperando o senhor que esclareceria as coisas estranhas que aconteceram. Ela estava muito confusa, não sabia se estava ansiosa ou brava, feliz ou com medo, mas era bom, então não hesitou em chamar pelo avô de novo.
           
Ouviu um ruído vindo da escada e esperou pacientemente o velho chegar.
           
- Olá Jennifer. – ouviu a voz vindo de suas costas.
           
Phillipe estava encostado na porta, a analisando com os olhos cansados. Finalmente, andou até a poltrona e sentou-se calmamente, demorou uns minutos para se ajeitar e assim, suspirou e perguntou com a voz fraca:
           
- Está pronta para a verdade?

           
- Sim. – Jennifer respondeu convicta.
           
O velho a olhou, e ainda na incerteza, perguntou novamente:
           
- Está pronta para deixar tudo o que acredita de lado e aceitar uma nova realidade? Para aceitar coisas inaceitáveis e acreditar no impossível?
           
- Sim! – a garota afirmou, mais certa do que nunca.

           
Ela virou-se e sentou no sofá, olhando o avô querendo que este a acompanhasse. Assim o fez, sentou na frente dela e suspirou, como havia feito muito ultimamente.

           
- Sabe Jennifer, o meu maior sonho é que nós não tivéssemos que ter essa conversa, é que eu fosse apenas um avö normal, contando histórias antigas para minha neta. Bom… De qualquer forma, eu quero que você saiba que tudo que eu fiz foi pra te proteger e eu nunca faria mal algum a minha neta. – começou Phillipe com os olhos pregados no chão. 

           
Jennifer murmurou algo inaudível como sinal para que o avô continuasse.

           
- Enfim, vamos começar do ínício.  O mundo não é habitado apenas por humanos, animais e plantas. Também existem seres inimagináveis cuja existência é real apenas em lendas, como espectros, mediadores, vampiros, sereianos, pensantes, feiticeiros e muito mais.
           
“Séculos atrás, esses seres fizeram um clã, para ficarem mais fortes e não serem eliminados pelos humanos que, na época, suspeitavam deles e queimavam qualquer ser que não parecesse humano. Esse clã se chamava “Lendários”.
           
“Assim foi, por anos e anos o clã se fortaleceu, sempre aceitando todos os não-humanos que eram rejeitados pela sociedade. Para eles, era uma época feliz, onde os humanos tinham outras preocupações e não se importavam em caçá-los.
           
“Mas, nem tudo ficou bem para sempre. Depois de um tempo, os humanos tornaram a temer esses seres, e acreditar que estes podiam tomar o poder da terra e extingui-los. E assim, criaram um clã com o objetivo de caçá-los. O clã dos Cavaleiros. Onde só entravam homens realmente corajosos e, julgo eu, ingenuos. Mas, por incrivel que pareça, eram muitos, e logo alcançaram um número dez vezes maior do que os Lendários.

           
“Assim, os seres não-humanos acabaram se extinguindo aos poucos, apenas sobrando as raças mais raras e mais poderosas, que existem até hoje, lutando por sua sobrevivência. Alguns se escondem nos sonhos das pessoas e alguns apenas vivem, esperando não serem descobertos.”
           
A garota estava com os olhos arregalados, tentando processar e acreditar em toda aquela informação. Mais de tudo aquilo, o que mais a assustava, era o que tudo aquilo teria a ver com ela.



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Notas finais do capítulo

É issooo, espero que tenham gostado, sintam-se a vontade para comentar, sejam criticas ou elogios,