Se Charlotte pudesse descrever o que ela estava sentindo, ela poderia colocar tudo numa só palavra.

Cansaço.

Ela estava cansada de procurar os podres do Anthony. Ela estava cansada de ter que proteger os seus amigos...

Ela estava cansada de negar a si mesma o amor.

Não demorou muito para ela se tocar que ela realmente gostava de Seth. Afinal, a situação dela era muito complicada e tão cheia de quebra-cabeças que ela mesma parou de tentar entender tudo o que ela passou com Seth.

Era uma montanha-russa que não parava de fazer loopings. Charlie já estava enjoada do passeio já.

A morena suspirou.

Faziam três meses e meio que Charlotte pediu o divórcio e exatamente duas semanas que toda papelada foi assinada e tudo foi resolvido.

Ela não sabia o que estava sentindo no momento. Feliz por finalmente poder seguir suas próprias escolhas, mas muito triste por ter que separar de Seth e com raiva de tudo ser culpa de Fillings.

Depois de encontrar a própria amiga num estado tão deplorável que evolvia um sofá, uma coberta, o filme Titanic, uma caixa de pizza e uma Charlotte com olhos inchados de choro, Emery decidiu levar a amiga até sua casa na França.

Emery, mais do que qualquer pessoa, entendia o que Charlotte estava passando. Ela era como um passarinho que foi engaiolado sua vida toda e, de repente, foi liberto. Ela não sabia aonde ir, o que fazer e, acima de tudo (para piorar a situação), ela estava gostando do cara que ela acabou de se separar.

Além disso, o jovem também se sentia meio culpado por estar fazendo coisas pelas costas da amiga: ele e Seth tinham bolado um plano, um bom, para acabar com Anthony. Porém um dos tratos era: não falar nada sobre isso com Charlie.

Emery suspirou. Ele só queria que Anthony fosse pra cadeia e que Seth e Charlie parassem de ser tão bestas assim. Apenas isso.

***

Depois de três outras semanas, Charlie já estava bem melhor: ela estava se ocupando demais com Emery para seu ateliê e logo seria a inauguração de sua primeira loja. Ela decidiu adiar – mesmo que estivesse tudo pronto – porque ela não queria que Fillings encontrasse alguma forma de ferrar logo com seu primeiro negócio.

Mas, em breve, ela com certeza abriria o negócio. Ainda mais quando ela estava tão perto de derrotar Anthony.

— Essa vingança vai ser mais saborosa que sorvete de Oreo.

Emery riu.

— Vamos revisar o plano. Não queremos que alguma coisa saia errada, não é?

— Não, é claro que não — ela disse se sentando no sofá.

***

Charlie nunca se sentiu tão bem por se sentir meio nervosa.

Maureen havia ligado para Anthony correndo: algo como “Eu estou tendo o bebê!” (realmente era propício o fato dela quase estar dando luz) e assim que Anthony chegasse na casa dela, Charlotte iria cercar a casa com detetives e policias e iniciariam o mandato de confiscar sua empresa e alguns de seus imóveis.

Charlie tinha que agradecer às duas últimas pessoas que ela tinha conhecido: Fernando e Paul. Aparentemente, eles eram a prova viva do quanto Antonhy era capaz de ferrar com uma pessoa tudo por causa da sua ganância.

Eles tinham provas e dados de que Fillings estava por trás de um monte de sujeira. Isso porque Fernando pagou caro para um hacker entrar no sistema do escritório pessoal de Anthony. O problema era que eles nunca tiveram força nem coragem o suficiente para fazê-lo.

Quando eles levaram as provas, disseram que não era o suficiente e Anthony quase ameaçou de apagar os dois. Até Charlotte aparecer e decidir juntar forças com os dois caras.

Pouco tempo depois, Emery conseguiu, através de um detetive particular, pegar provas de que Anthony estava se envolvendo com organizações criminais. Somando todas essas provas, com o áudio que Maureen conseguiu capturar de Anthony falando que era melhor ela não reclamar da pensão ou o dinheiro que ele pegaria seria da conta de onde o dinheiro de Seth estava sendo desviado. Aparentemente, não havia apenas um traidor na companhia de Seth.

Charlie e Emery chegaram logo depois que Anthony colocou os pés naquela casa.

— Deixa eu entrar primeiro. Vou tentar fazer ele confessar tudo. Logo depois, peça para detetive Carter e o policial Stephen entrarem com você — ela disse. Emery assentiu.

A jovem respirou fundo e entrou na casa. Aparentemente os dois estavam na cozinha.

Ela conseguia escutar a frustração de Anthony em sua voz quando percebeu que Maureen mentiu.

— É porque só assim você iria vir até aqui.

— Vir até aqui por quê? Você me quer aqui por qual motivo?

Charlotte apertou o play no celular pra gravar.

— Ela queria você aqui porque eu pedi, Fillings.

Dizer que Anthony ficou chocado foi um entendimento ao ver Charlotte parada ao lado do batente da porta. Porém, logo ele disfarçou seu espanto e deu um sorriso.

— Charlotte, que surpresa agradável...

— Me poupe as palavras envenenadas, Fillings. Eu quero saber o que você faz desviando dinheiro de Seth mesmo quando você me disse que deixaria todo mundo em paz quando eu pedisse o divórcio.

— Você realmente achou que eu deixaria que Seth se sair sem sentir mais alguma desgraça? Eu realmente achei que o divórcio seria suficiente, mas parece que não foi. Parece que a única idiota entre os dois que se deixou levar por sentimentos foi você — ele deu um sorriso malicioso.

— Então é verdade que é você desviando o dinheiro?

— Mas é claro que...

— E foi você que causou todas as desgraças na empresa W&W e na vida de Maureen só para derrotar Seth?

— Mas mesmo assim parece que não foi o suficiente, não é?

Uma terceira voz falou.

E parado bem na entrada da varanda com a cozinha, estava Seth com uma posição de quem estava relaxado.

Mas Charlie sabia melhor. Seus punhos estavam cerrados e os olhos de Seth soltavam uma chama de quem entraria numa briga logo logo.

Aparentemente ela não foi a única que ficou chocada. Maureen estava com os olhos arregalados e a boca de Anthony estava aberta.

— Sabe, Fillings, eu sempre pensei que você fosse uma víbora — Seth disse se aproximando como a pessoa mais confiante no mundo —, mas nunca pensei que você teria sido capaz de acabar com a vida de tanta gente só porque você tem inveja do que eu tenho.

Anthony abriu a boca, mas um olhar de Seth fez com que ele se calasse.

— Quatro meses. Me levou quatro meses, mas eu finalmente consegui acabar com sua raça.

Seth sorriu diabolicamente.

— Sabe, quando eu soube dos planos de Charlotte, eu não poderia me sentir mais orgulhoso e até pensei: “se ela está cuidando de tudo, o que me resta a fazer?”. E sabe o que eu descobri Anthony? Que mesmo que um mandato tire sua empresa, você ainda pode, um dia, tentar se recolocar. Então, eu tomei a liberdade fazer alguns movimentos.

Ele jogou um envelope em cima da mesa.

— Espero que você saiba que jogo acabou. Você está totalmente perdido. Eu e Emery compramos cada.uma.das.empresas que te trariam qualquer benefício. Não há mais mercado pra você, não há mais cliente, nem comprador pra você. Você está isolado e falido.

A cara de Anthony expressa completa fúria. Em um segundo ele estava na frente de Seth pronto para lhe dar um soco, mas ele foi detido. Nessa hora entraram Emery e o detetive.

Stephen, o policial, tinha Anthony preso em seus braços.

— Você está detido por fraude, abandono de menor por se recusar a pagar a pensão e... bem, por mais um monte de coisas. Tenho certeza que você sabe mais do que eu, não é jovem?

Anthony estava quieto.

— Bem, vamos lá.

E assim os policiais levaram Anthony, o detetive pegou todas as evidências, inclusive o celular para a gravação e foram embora.

Charlotte percebeu que Seth tinha se preparado para sair quando gritou.

— Seth! — eu não sabia porque tinha gritado nem porque eu estava ali, eu só sabia que precisava falar com ele, ver ele... ela pensou.

Quando ele se virou e olhou nos olhos dela, ela sentiu que estava completamente perdida.

Ele ia falar alguma coisa quando ouviu Maureen gritar.

— Estou tendo um bebê!

— Maureen, não precisa mais fingir, Anthony já foi preso — Emery falou.

— Não seu idiota! A bolsa estorou. Eu. Estou. Tendo. Um. Filho.

— Ah — Emery balbuciou.

Charlie olhou para Seth espantada. Percebeu que sua expressão de choque era tão maior quanto a dela.

Oh merda.