Chamas vermelhas de seus cabelos voando atrás de si, se misturando levemente com sua gravata vermelha e o brasão escarlate cravado em seu peito.

A garota chamada Lily Evans – que por coincidência odiava rosas e amava lírios – corria apressada pelos corredores, ora estreitos, ora largos de Hogwarts. Aflita, corria tão desesperadamente pelo castelo, que temia acabar batendo contra algum colega, uma pilastra, ou coisa do tipo.

Mas não era só por estar correndo como uma louca, ou por ser extremamente desastrada por natureza, que temia acabar se espatifando e ficando com seus miolos no chão, esperando para serem catados por Filch – o zelador – , que com certeza limparia cantarolando com sua gata miserável, a Madame Nor-r-r-a. Também temia por que os corredores de Hogwarts eram sempre, sempre, uma surpresa. Não importa há quanto tempo você já viva lá, ou quantas vezes você já passou pelo mesmo corredor, sempre vai haver alguma coisa nova, surpreendente, ou no mínimo inesperada. Escadas mudando sempre de lugar, um quadro que resolveu visitar um amigo do outro lado do castelo, uma parede nova, TUDO mudava o tempo todo. Talvez, pensou Lily, todas essas mudanças repentinas de Hogwarts sejam um pouco propositais. Para mostrar e nos preparar para o mundo mágico lá fora.

Por que assim era o mundo da magia. Incrivelmente inesperado, cheio de descobertas maravilhosas e todo esse tipo de coisa que se pode ter de bom. Era muita sorte para uma pessoa só. Poder estudar ali, morar ali, fazer amigos ali, e poder viver o resto da vida nesse mundo que muitas pessoas não teriam nunca o prazer de conhecer. Lily se sentia mal por elas.

Todos a diziam que ela era uma menina de ouro, era verdade. Muito bonita, sempre fora muito madura para a pouca idade, e inteligente como ninguém. Era o tipo de pessoa com quem se poderia falar de tudo, que ela estaria bem informada, e saberia conversar com você. Melhor aluna da turma, sempre. Notas muito altas, e muito querida pelos professores. Todos admiravam a maneira com que ela era espontânea, risonha, feliz, compreensiva. Quando ela ria, os olhos verde-esmeralda riam junto, o que mostrava como todos os sorrisos que ela dava com bonitos lábios avermelhados em contraste com a pele alva eram verdadeiros. Tudo o que ela fazia para ela era sempre pensando mais nos outros, e tudo o que ela fazia para os outros era de bom grado. Sua capacidade de ser altruísta era impressionante. Amava sua família mais do que tudo. Até mesmo sua irmã que parecia a odiar, ela amava muito. E com certeza faria de tudo por ela. Tinha muitos amigos. Sempre teve. Sabia como iniciar uma conversa, e era simpática e carismática. Todos a amavam. Todos eram apaixonados por ela.

Todos, e principalmente James Potter. O menino era muito insistente, e nunca parava de atormentar Lily Evans. Inevitavelmente, a dupla virou a fofoca preferida de Hogwarts na época em que estudaram lá. Todos, sem exceção, todos, comentavam ou haviam comentado alguma vez sobre o Potter e a Evans. Era hilário vê-los brigando, é claro. James, que nunca fora nem um pouco tímido, adorava a atenção, e sempre tentava deixar os pequenos showzinhos Potter X Evans cada vez mais interessantes para os telespectadores. Já Lily, também nunca pode ser considerada uma menina envergonhada. Embora ás vezes tivesse seus momentos em que queria estar sozinha, sempre foi muito sociável. Entretanto, não poderia dizer que ficava exatamente confortável com a situação. Prongs – que era como os amigos mais íntimos do garoto, os Marotos, o chamavam – não ajudava muito a tornar tudo isso suportável, muito pelo contrário, já que era o próprio o causador do desconforto. A menina sempre fora muito doce, educada e carinhosa, e podia dizer com orgulho que evitava até mesmo os típicos palavrões que garotos e garotas da sua idade eram habituados a usar. Claro, ás vezes se tornava uma coisa muito difícil, não falar palavrões, mesmo quando estava com muita raiva. Também haviam as constantes provocações dos colegas de Hogwarts, a chamando de careta, entre outros apelidos que ela adquiria por agir de forma correta com a maioria das coisas e tirar notas exemplares. Nunca duravam muito as zoações. Ninguém queria arranjar encrenca com Lily Evans. Sabiam como ela podia ficar extremamente perigosa quando irritada, e também não queriam perder a doçura do “bom dia” que a moça dizia toda manhã a eles.

Mesmo James Potter não era muito de falar palavrões. Na verdade, poderia até mesmo contar nos dedos as vezes que já deixara algum escapar. A Sra. Potter nunca gostou daquele tipo de coisa, e seu pai, o Sr. Potter, concordava plenamente, embora já tenha soltado alguns durante os jogos de Quadribol em que seu time perdeu. James era um politicamente correto, comparado com seu amigo Sirius Black, que se conseguisse manter uma conversa de uma hora sem soltar ao menos três palavrões seria um recorde.

Esse e outros hábitos que James Potter tinha, tornavam para Lily cada vez mais e mais difícil a tarefa que ela tentava concluir de não gostar dele. Marlene McKinnon, companheira de quarto de Lily, costumava dizer que Lily tentava odiá-lo só por birra e teimosia – “Odiar é uma palavra muito forte, Lene. Nunca odiaria James. Prefiro dizer que não gosto!”* - e Lily tinha que concordar com ela. Mas é que ela sabia que James provavelmente não aceitaria ser apenas seu amigo, e sempre continuaria a importunando. Além do seu passado, sendo muito pouco maduro e muito irresponsável. No quinto ano deles, até houve uma briga muito grande entre eles por causa da implicância que os Marotos tinham com o antigo amigo de Lily, Severo Snape. Chegara a culpar James e seus amigos por um tempo pelo fato de Snape tê-la chamado de Sangue-Ruim, mas depois percebeu que estava sendo injusta. Apesar da amizade dos dois, Lily fora para a Grifinória e Severo para a Sonserina, casas rivais por natureza. E já fazia algum tempo que Snape estava diferente por causa das más amizades que fizera na sua casa. Estava começando a se aliar a Voldemort. Finalmente, a garota reconheceu que afinal não havia sido culpa dos meninos. Severo apenas se mostrava no que realmente era. Quando percebeu que estava errada a respeito dos Marotos, foi até eles e se desculpou, o que fez um grande sorriso se abrir no rosto de Prongs.

E por isso ela continuava tentando não dar idéia para o garoto, até quando isso se tornava quase impossível. Primeiramente, James e seus amigos eram extremamente bons em Transfiguração, matéria m que Lily tinha especial dificuldade. Como eles eram os melhores alunos dessa matéria, ás vezes era especialmente difícil não perguntar alguma coisa e tirar alguma dúvida. Outro fator que tornava incômodo não gostar de James Potter era que ele era extremamente inteligente. Talvez, junto com Sirius e Remus, os melhores alunos depois dela. E as amigas de Lily não eram tão boas alunas, então ela não podia conversar com elas sobre as matérias que ela já havia entendido, por que provavelmente essas seriam as matérias em que elas ainda estariam com dificuldades. Ás vezes Lily já se pegou querendo conversar com os Marotos sobre as lições da escola. Mas, apesar de tudo, talvez a maior dificuldade que ela tinha em não gostar de James era relacionada a quatro garotos. E não, não eram os Marotos.

Beatles. Eis aí talvez a maior semelhança entre Lily Evans e James Potter. Ambos eram grandes, fanáticos e incuráveis fãs dos Beatles. E o pior: eram os únicos que Lily conhecia. Ok, Sirius Black também era um grande fã, - não tanto quanto eles, porém - , o que só mostrava mais semelhanças entre Lily e os meninos. A vontade de ir falar com James sobre eles só aumentava quando passava pelo garoto e o via cantarolando Revolution. Mas ela só se controlava e cantava junto na cabeça.

E era em tudo isso que Lily pensava enquanto corria pra tentar chegar na aula. Nisso, e em: “Merlin, eu não posso chegar atrasada hoje!”. Na sala de DCAT, James Potter pensava nas mesmas coisas. Pensava em Lily Evans e seus cabelos ruivos e pensava em como ela era linda. E quando ela entrou naquela sala, ele sorriu. E ela, vendo o sorriso dele, pensou que ele era lindo. E que talvez, a Evans finalmente tivesse perdido o clássico Evans X Potter. E que talvez, James Potter tenha virado o placar e mostrado pra Lily, mesmo que de maneira tão simples, que Evans Potter não é uma combinação ruim. É perfeita.