Aprendendo a Amar escrita por Agridoce


Capítulo 41
O mundo em seus abraços


Notas iniciais do capítulo

Podem brigar comigo, eu mereço. :(
Agridoce



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— Lucas, tens certeza que não queres uma água? Sabes que precisas te acalmar.

— Não Félix, eu estou bem. – O morenos respirou fundo – Preciso apenas que você responda o que estou perguntando.

Lucas estava em mais uma de suas sessões com Félix, e dessa vez ele pedia do médico algo que, no fundo, sabia que não conseguiria. Desejava ter uma resposta afirmativa para a questão que permeava seus pensamentos nos últimos dias. Desde a noite que esteve com Rodrigo e seus amigos no jantar, tinha amadurecido a ideia de pedir o mais novo para que morasse junto com ele. Mas junto com a decisão, veio também uma carga emocional muito forte. Ele não conseguia se decidir o que fazer, o que pensar, como agir. Tinha muito medo da reação do mais novo. Claro que o namorado passava por mais uma confusão dentro de si, mas claro, Lucas não conseguia se expressar e resolveu apenas negar.

— Lucas, a vida é feita de decisões. E a gente precisa estar pronto para o sim ou para o não. Eu não posso te dar certezas... Tens que confiar na relação que tens com o Rodrigo.

O moreno sabia disso, mas não conseguia se acalmar. Droga, Rodrigo merecia uma pessoa melhor, mais equilibrada!

— E não adianta também se recriminar – Com cara de surpresa, Lucas acabou olhando nos olhos do médico, sem conseguir a expressão de surpresa. – O que foi? Eu sei que estas te crucificando por dentro. Mas não é assim. Todo mundo que toma uma decisão dessas de sente nervoso. Acredita em mim. Quando eu fui pedir da minha esposa em casamento, quase passei mal também. Mas não é essa a graça? Eu sabia desde o início que ela seria a mãe dos meus filhos, mas mesmo assim...

— Filhos... ainda tem mais essa... – Lucas deixou escapar sem querer. Acabou se sentando novamente, enquanto deitava sua cabeça no encosto do sofá, mantendo os olhos fechados. Não tinha comentado sobre isso com o médico. Apenas Marcos tinha conhecimentos desse sonho que, para o moreno, parecia insano. Apesar dele querer que ocorresse com todas as suas forças, sabia que nunca aconteceria.

— Por que? Vocês já conversaram sobre isso? Acho que se isso aconteceu, é porque Rodrigo também pensa que vocês tem um futuro juntos, não acha?

— Não Félix, eu não acho – O moreno respondeu, em seguida abrindo os olhos. – A gente nunca conversou sobre isso... é algo que eu já pensei... penso..., mas está além dos sonhos que eu posso sonhar e realizar. Ter encontrado alguém que aceite estar comigo já é algo tão grandioso... querer que essa pessoa assuma um compromisso comigo dessa magnitude já seria pedir demais.

Como seria o futuro ao lado de Rodrigo ainda era uma incógnita para Lucas. Era difícil conseguir imaginar sonhos para construir com o namorado. Porque não queria se enganar e depois se frustrar. Nem decepcioná-lo. Por isso tentava viver um dia de cada vez... mas descobria que nem tudo poderia ser feito assim. Tinham coisas que era preciso planejar. Se conversar. Avaliar...

— E também eu não sei se ele iria querer sendo tão novo. Como vou garantir a ele que conseguiria ser um bom companheiro, um bom pai... Não consigo lidar nem comigo mesmo.

 A verdade é que haviam muitos gays que defendiam a ideia que, desejar uma vida assim, de “comercial de margarina”, era algo errado. Em seus romances de uma noite, já ouviu muitos parceiros comentando sobre isso, dessa suposta liberdade que os homossexuais possuem, de não seguir regras estabelecidas pela sociedade quando o assunto é um casal. Diziam que poderiam se livrar destes rótulos heteronormativos. Mas Lucas, mesmo sem ter percebido, sempre desejou uma realidade assim. Mesmo não admitindo. Mesmo não tendo buscado. Ele queria ter a chance de ter uma família, pessoas com quem compartilhar sua vida. Ter encontrado Rodrigo fez este sonho sair da utopia e passar a ser um desejo, mas claro, ele ainda não conseguia enxergar como sendo uma possibilidade.

— Lucas, pelo que eu percebo, tua insegurança são todas relacionadas ao que o Rodrigo vai achar desse passo que você quer dar. Que apesar de vocês estarem juntos, tu ainda não se sente seguro com o sentimento que vocês compartilham... Porque sabes, é essa a imagem que tu transmite.

— Mas eu acredito nos sentimentos dele por mim. Ele já me deu tantas provas, eu seria um idiota se não acreditasse no que ele diz sentir... – Lucas suspirou, porque entendia onde o médico queria chegar – Mas é que isso é tão... mais! A gente já dorme juntos a maioria dos dias, já compartilhamos tantas coisas. Mas isso seria mais que isso.

— Eu entendo. Mas por que então achas que não consegues fazer com que teu subconsciente acredite nisto também?

Lucas não tinha esta resposta. Ou tinha. Mas por algum motivo ignorava. E Félix sabia disso.

— Quem sabe tu não busca respostas em quem conhece o Rodrigo? Não tem uma amiga dele que poderias conversar pra te ajudar com isso? Ou quem sabe um amigo próximo? Alguém que seja confidente dele e possa te aconselhar em relação a isso.

— Não, ele é muito reservado... tem uns amigos, mas... os pais sempre foram as pessoas que ele mais confia sua vida.

— Pois então, quem sabe tu não vai conversar com eles? Quem sabe já pede a mão dele em casamento, como os príncipes de contos de fadas.

A relação deles, apesar de ser ainda profissional, estava bastante consolidada, ao ponto de até mesmo se encontrarem fora do consultório às vezes para conversar, quando o moreno, por um motivo ou outro, sentia que precisava contar alguma coisa que não poderia esperar. Por isso, Félix se permitiu lançar aquela ideia pra saber qual seria a reação do moreno.

Lucas, ao ouvir a palavra casamento, mais uma vez, lembrou da conversa que teve com Marcos. E também dos sonhos que tinha guardado em seu íntimo, e pensou no quanto o namorado era importante pra si. E no quanto almeja acordar ao seu lado, para o resto da vida. E sentir que ele era seu.

Com isso, seu coração acabou aquecendo, e até mesmo um sorriso surgiu nos lábios dele. Por que não?, pensou.

— Pois é, quem sabe eu faça isso mesmo. Vou aguardar um bom presente de casamento, já vou avisando. – Lucas não sabe como, mas conseguiu se acalmar. Sentia o quanto estava melhorando. No quanto estava mais aberto com as pessoas.

 Félix sorriu junto com o moreno. Pelo jeito eles tinham conseguido avançar mais um etapa. Por mais que Lucas voltasse amanhã, com as mesmas dúvidas, sempre que ele baixava alguma barreira, era muito comemorado pelo médico. Sabia que esse assunto ainda geraria muitas situações dentro do moreno. Mas ainda assim, sentia que estavam no caminho certo. Não via a hora de ligar para o antigo médico de Lucas, para contar as novidade.

***

Lucas estacionou o carro ainda sem saber como encarar quem o esperava. Aquele lugar já era familiar, mas ainda o deixava nervoso. Ainda dentro do veículo deixou seus pensamentos o guiar. Quando teve a ideia as coisas pareceram bem mais fáceis, mas agora... era difícil colocar em palavras o que estava sentindo. Parecia que estava em um limbo onde os medos do passado e a segurança adquirida o jogavam de um lado pro outro, o fazendo vacilar.  Pensava que gostaria de ter a presença de Rodrigo ali ao seu lado, mas não poderia, claro. Era uma justamente a ausência dele ali que fazia aquilo tudo fazer sentindo. E ser importante. Tomando um último folego de coragem abriu a porta do carro, já sendo esperado, como sempre, com um sorriso logo de cara.

— Lucas, querido. Entre! Como estava a estrada? Está tudo bem? – Marisa tentava não parecer muito ansiosa, e agir com cautela, como o filho sempre dizia pra ela agir com o namorado. Mas confessa, estava achando estranho a presença do genro ali sem o filho. De certa forma, estava até mesmo preocupada.

— Oi... sim, eu estou bem. E o Rodrigo também... – O moreno sentia suas mãos suarem, e seu coração palpitar de forma rápida. – Eu só precisava... conversar com o seu Carlos. E com a senhora. Eu posso?

Marisa abriu um sorriso, percebendo o nervosismo do mais novo, já imaginando o que seria o assunto. Afinal, seu coração nunca a enganava.

— Claro que sim. Aliás, eu disse pra ele que tu estavas vindo aqui e que pediu pra não contarmos ao Rodrigo. Ele está no escritório dele, de onde ele insiste em não sair. Sabes o caminho já, não é? Eu estou terminando o almoço, aguardo vocês aqui.

Ao ouvir aquilo o moreno ficou nervoso, era tão mais fácil quando Marisa estava por perto.

— Não é melhor eu esperar ele voltar? Quer dizer, talvez ele esteja ocupado... – Aquele limbo que Lucas se encontrava pareceu aumentar ao se imaginar sozinho com Carlos. – E não precisa se preocupar com o almoço, eu vou voltar em breve...

— Mas claro que tu não vai sair daqui sem comer alguma coisa. De jeito nenhum! Por favor, nos acompanha no almoço? – Marisa usava seu tom calmo e maternal. Ao ver o moreno concordar, abriu mais ainda seu sorriso. Como sentia vontade de abraçá-lo, mas Rodrigo já tinha dito que ele ainda era muito reservado quanto a isso. E não queria assustá-lo. – Está bem, vai até o Carlos então, aguardo vocês aqui.

Lucas se sentia sem saída enquanto via Marisa voltar pra dentro de casa, não dando a chance dele contestar. Em seu íntimo, claro que ele gostaria de ficar... mas ele não sabia como seria sua conversa com Carlos. E se ele ficasse bravo, ou pior, chateado ou triste? Ele não sabia o que pensar na verdade. E essas dúvidas estavam o matando. Que bela ideia ele teve. Exatamente no momento que precisava mostrar que era alguém de confiança, que merecia estar com o filho dos dois, agia como um moleque.

Após concordar com Marisa, mais por não saber o que dizer, ele seguiu até o escritório do pai do namorado, enquanto girava a aliança em seu dedo, como sempre fazia pra se sentir mais perto do loiro. Desde sua última conversa com Marcos, onde o amigo o falou sobre os dois morarem juntos, ele não conseguia deixar de pensar em outra coisa. Mesmo tendo ficado chateado com o amigo, saindo tempestivamente do apartamento, quando retornou, após conversar com Rodrigo, fez questão de dizer a ele que não estava bravo, apenas nervoso. Lucas não estava acostumado a compartilhar seus sentimentos quando o assunto era Rodrigo, apenas em situações extremas. Então, ter Marcos falando dos dois, como se fosse um assunto corriqueiro, o fez ficar muito nervoso. A consulta com Félix o fez perceber isto também. E por isto estava ali agora.

Andando entre aquele lugar que transmitia tanta paz, ainda mais por estar na metade da manhã ainda, Lucas seguiu pensando sobre as consultas. As coisas estavam saindo melhores do que ele imaginava. Muito porque agora, quando chegava ansioso, sabia que encontraria Rodrigo para acalmá-lo. Tinha conseguindo evoluir muito em suas conversas com Félix. Tinham estabelecidos uma relação de confiança e o médico o fazia relaxar bastante a cada novo encontro. Porém, ainda tomava alguns de seus remédios, já que em uma tentativa, sem avisá-lo, de parar de tomá-los Luke tinha decaído bastante. Isto assustou bastante Rodrigo, que o fez prometer que nunca mais faria isto.

Lucas se perdeu em pensamentos enquanto chegava até a porta da sala onde o sogro estava. Estava muito nervoso, se preocupando com sua postura perante o mais velho, pois, estava cansado de se sentir fraco perante as pessoas. Félix tentou acalmá-lo em relação a atitude que estava querendo tomar, mas de nada adiantou. Foi então que o médico sugeriu que ele falasse com alguém que fosse próximo ao namorado, e que pudesse fornecer as seguranças que Lucas queria ter antes de propor o passo tão grande, que seria de morarem os dois juntos. Não foi fácil entender e aceitar que seria possível apenas se deixasse um de seus maiores medos de lado e fosse conversar com os pais do loiro, mais precisamente com Carlos, que era o seu maior medo. Ele morria de imaginar que, por algum motivo, ainda haveriam reticências por parte do mais velho sobre os dois. Ao mesmo tempo, imaginava que seria ele quem conseguiria dar as repostas que precisava. E foi forjando essa certeza que ele bateu na porta do escritório, entrando em seguida, ao ouvir a voz de Carlos.

— Entre, Lucas. Marisa me disse que você viria. Aconteceu alguma coisa com o Rodrigo? Tu estas bem?

O mais velho estava, assim como a esposa, surpreso com a presença do moreno sem o filho. Estava preocupado também, imaginando o que poderia ter acontecido.

Enquanto isso, Lucas não conseguia deixar de fazer seu coração bater descompassado, identificado na voz do mais velho a preocupação dele não apenas com o filho, mas com ele também. E isso dava forças para continuar.

— Oi, está tudo bem sim. Eu apenas precisava conversar com vocês sobre umas coisas. Pode ser?

— Claro que sim. Eu vou apenas terminar de assinar algumas notas aqui. – O mais velho voltou a sentar atrás de sua mesa, mas sem tirar muito os olhos do moreno.

Carlos ainda não sabia lidar muito bem com o genro, confessava. Mas não por não achá-lo merecedor do filho. Mas porque não sabia lidar com alguém tão reservado. Sentia que ele estava nervoso, porém, não sabia o que fazer para acalmá-lo.

Após um tempo analisando os papeis, Carlos fechou os livros de cálculos, pronto para voltar pra casa. Neste meio tempo, o moreno não falou nada. Apenas respondeu sobre poucas coisas que o sogro perguntou.

— Podemos ir pra casa? Marisa vai vir me buscar caso eu demore mais algum tempo. – Carlos decidiu, pois, percebeu que o mais novo estava muito nervoso.

— Claro... ela me convidou para o almoço. Eu falei que não precisava, mas ela insistiu, eu achei melhor não recusar.

— E fez bem... como se ela fosse deixar tu ir embora sem se alimentar. – Carlos respondeu. Mas ao invés de ir em direção à porta, hesitou no meio do caminho e acabou indo sentar no sofá, em frente ao de Lucas. – Antes de irmos, podemos conversar?

Ele sabia que o mais novo tinha ido ali para falar alguma coisa, mas parecia estar com medo. Como conhecia a esposa, imaginava que com ela tenha sido mais fácil este encontro dos dois sem Rodrigo. Mas com ele, Lucas parecia ainda ter receios.

O moreno apenas concordou com a cabeça, tentando ao máximo não desviar o olhar, com medo de não conseguir passar a confiança que precisava ter.

— Lucas, primeiro eu quero que tu saibas que eu não mordo. Apesar de ser um pouco mais calado que Marisa, quer dizer, bem mais, eu sempre tive uma relação de muita confiança com meu filho. E de modo algum eu tomaria alguma atitude que fizesse ele perder essa confiança que tem em mim. – Carlos percebia o moreno mexendo as mãos, como se procurasse uma posição confortável, e não encontrasse. Então apenas decidiu continuar. – Sabe, não foi fácil acostumar com a sua presença na vida do meu filho. Eu admito. E já falei isso pra ele. Claro que talvez ele não tenha dito, por pensar que te deixaria ainda mais inseguro, mas eu acho que é importante você saber. Foi preciso que eu conversasse muito com Marisa, e também resgatasse todos os sentimentos que eu tive em cada etapa da vida do Rodrigo. Estou falando isso porque sei que estás me entendendo, já que és mais velho que ele, tens mais vivências e compreenderás o que digo.

Lucas compreendia o que Carlos falava, mas não conseguia entender onde ele queria chegar. Será ele realmente tinha as ressalvas que imaginava em relação a ele? Talvez ele aproveitasse esse momento entre os dois pra dizer. Mas Lucas tentava se manter firme. Por ele, pelo mais novo, e por tudo que queria ainda passar com ele, ouviria o que o mais velho tem pra dizer.  Sem tentar tirar conclusões precipitadas.

— Sim, eu entendo seu Carlos. Eu sentia muito medo no início... e ainda sinto na verdade. Porque eu sei o quanto vocês sempre foram muito próximos. E eu não queria, de forma alguma, ser um empecilho entre vocês. – Ao dizer isso, Lucas acabou baixando o olhar. Não conseguiria seguir olhando Carlos, se sentiu sufocado e com medo de repente. Talvez seu medo em ficar sozinho com o sogro foi sempre justamente esse, que ele acabasse falando tudo que pensa da relação dos dois. E que não fossem coisas boas.

— E você não foi, Lucas. De forma alguma. – Estas duas frases fizeram ele voltar seus olhos novamente para o mais velho. – Quando Rodrigo saiu aqui de casa, ele sempre nos prometeu que voltaria. Eu e Marisa sabíamos a criação que demos a ele, e que nunca viraria as costas para nós. Mas o mundo é tão vasto, tão cheio de possiblidades... e alguém como ele não ficaria e nem merecia ficar apenas aqui. Então, o que nunca deixamos de pedir, era que, pra onde ele fosse, seja quem ele encontrasse, que não fosse algo ou alguém que o fizesse esquecer de tudo que nós ensinamos, almejamos e esperamos pra ele. Que ele, de forma alguma, deixasse de lembrar do amor que demos a ele. E do quanto ele merece as melhores coisas do mundo.

Neste momento Lucas sentiu os olhos lacrimejarem. Fazia tempo que ele já tinha desistido de tentar conter as lágrimas quando o assunto era Rodrigo. Ele o emocionava tanto... preenchia seu coração de forma tão grandiosa... era impossível não se emocionar.

— E quando ele encontrou você, soubemos que tínhamos feito um bom trabalho. Talvez eu fique sempre muito calado, mas eu observo muito vocês dois. E o carinho com qual ele te trata deixa eu e a mãe dele muito orgulhosos. Ficaríamos muito triste de saber que ele está numa relação onde não haja um sentimento verdadeiro. Ou que ele fosse apenas mais um na vida dessa outra pessoa. Apenas mais um caso, ou algo passageiro. Mas eu sinto, ele não é apenas isso pra ti, não é mesmo?

Lucas neste momento não sabia se conseguiria responder alguma coisa. Sua voz provavelmente não sairia. Então apenas assentiu com a cabeça, pensando em quais palavras usar. Ele não fazia ideia de como era ter um pai, e como seria uma conversa assim com o seu próprio pai. Ele estava admirado com a forma que Carlos estava conduzindo aquela conversa. O fazia ficar sem palavras.

— O que eu quero deixar claro é que, seja o que for que tu tenhas vindo conversar com a gente, não se preocupe. Porque sabemos que estás tentando fazer o teu melhor ao nosso filho. E isto é o que também queremos. E estaremos contigo, para o que for.

Se Lucas já estava sem palavras, agora então ele não sabia nem como respirar. Se sentia tão grato pelas palavras que Carlos falava... ele era o seu maior receio até então. Pois, como Rodrigo já sabia, se o pai do namorado tivesse alguma insegurança quanto a ele, Lucas não hesitaria em se afastar. Nunca ficaria entre os três. Ainda sofria ao lembrar de quando o mais novo ficou doente por ter que lidar com seu medo em relação aos pais, ao mesmo tempo que era pressionado pelos dois, para apresenta-lo.

— Obrigado... – Lucas tentava engolir o choro pra conseguir ao menos explicar algumas coisas. Ele queria se mostrar merecedor dessa confiança. – Eu fui tão renegado na infância... eu formei a minha personalidade com base nessa falta de amor que eu tive, da indiferença das pessoas que deveriam me amar, que eu não me sinto merecedor ainda de tudo isso. Nem mesmo de Rodrigo. Mas como eu quero merecer... Quero tanto, com todas minhas forças. E saber que um homem como você, que sempre cuidou tão bem da sua família, junto com a dona Marisa, tem esse sentimento por mim... ainda é algo que me deixa assustado.

Carlos sorriu, ao perceber que apesar de ser mais velho que Rodrigo, Lucas também era um guri, que precisava de atenção, conselhos, abraços, como os que Marisa adorava dar.

— E tu merece. Se encontrou alguém que te completa, assim como Rodrigo parece te completar, é porque mereces. O amor é para todos, Lucas. Mas nem todos tem coragem de vive-lo. E esse medo os faz perder oportunidades que poderiam mudar suas vidas. Não seja uma dessas pessoas. Acredite no que Rodrigo te diz. Acredite no que eu e Marisa estamos te transmitindo, esse voto de confiança. Enquanto fores pro Rodrigo esse caminho de luz e alegria que és, estaremos sempre ao lado de vocês. Seja onde vocês estiverem.

Lucas sorriu, secando os olhos. Como queria que os avós conhecessem Rodrigo, e os pais dele. Queria conseguir uni-los em sua casa, que eles compartilhassem a alegrias que os dois teriam. Com esse pensamento saudoso e piegas acabou, mais uma vez, desviando o olhar de Carlos, que percebeu e sorriu junto com o genro.

— Agora vamos lá, Marisa deve estar vindo atrás de nós, realmente!

Após se recompor, Lucas seguiu com o genro para a casa. A suposição de Carlos sendo confirmada, já que Marisa realmente estava no meio do caminho e censurou o marido pela demora. Mas sempre sorrindo para Lucas, claro.

***

— Estava muito bom, como sempre. Obrigado, Dona Marisa.

Após chegarem na cozinha da casa, foram direto almoçar, já que a mais velha disse que o moreno deveria estar com fome após a demora do marido em retornar.

— Tem certeza que não quer mais nada? Eu posso pegar mais na panela, que ainda está quentinho. – Marisa percebia que o moreno ainda não comia a quantidade necessária. Mas apenas em ver o pouco que ele serviu, já estava feliz.

— Não, eu estou bem. Estava tudo muito bom. E também, eu preciso voltar daqui a pouco. Eu vim sem avisar o Rodrigo, e tenho que passar no campus ainda. Apesar de estar no final do semestre, ainda tenho algumas provas pra realizar.

O moreno já estava mais recomposto após a conversa com o sogro. Ele ainda se sentia nervoso, e não via a hora de estar com Rodrigo pra poder se sentir seguro de forma plena, como apenas ele conseguia fazer com ele. Mas se sentia muito bem com os dois ali também.

— Tudo bem, não queremos te atrapalhar. Mas eu vou embalar um pedaço de bolo pra ti levar pro Rodrigo, pode ser? Ou ele não pode saber que estas aqui? Ai que cabeça a minha, tu falou que era surpresa.

Lucas abriu mais um sorriso naquela manhã. Marisa era tão carinhosa que conseguia arrancar deles estes momentos de alegria.

— Não, tudo bem... na verdade eu não sei ainda o que eu faço. E eu nem falei pra vocês ainda o motivo de ter vindo aqui... e vocês não me atrapalham, de forma alguma.

Carlos segurava a mão de Marisa por baixo da mesa, pois sentia que Lucas tinha algo importante pra falar. E que mudaria muito a vida do filho. Como pode confirmar com a fala do moreno a seguir.

— Então... eu sei que eu e Rodrigo não estamos juntos tanto tempo assim. Na verdade eu fico assustado em pensar no quanto ele está presente no meu cotidiano apesar de termos nos conhecido nesse semestre e... – Lucas mexia com os talheres, pois, seria demais ficar olhando os sogros o tempo todo. Mas se sentia observado. – E eu não sei se isto é correto, se há um tempo necessário para que a gente decida sobre essas coisas na vida... – e dessa vez ele levantou olhos, encontrando a expressão de confiança no olhar de Carlos e o carinho, nos olhos de Marisa. E isto fez ele se sentir um pouco mais seguro. – Faz um tempo que eu quero pedir uma coisa pro Rodrigo, e não sei se ele vai aceitar, então eu resolvi vir me aconselhar com vocês. Eu já por cima com a Solange, e com Marcos... mas eles não conhecem ele tanto quanto vocês. E como eu não tenho mais ninguém que eu confie, eu pensei que seria uma boa ideia falar com vocês... Desculpa, eu estou parecendo um garoto de 18 anos eu acho.

— Lucas, não se preocupa com isso. Somos bem mais velhos do que você. Então, de certa forma, és quase um garoto de 18 anos se comparado a nós. – Marisa tentava acalentá-lo.

Ela olhava o moreno com um sorriso nos lábios. Imaginava o que ele diria, e seu coração transbordava no peito. Sua mão, ainda entre as mãos do marido, faziam carinho em Carlos, constatando que ele estava calmo. Imaginava que os dois tinham conversado sobre algo mais cedo, e estava apenas esperando o mais novo ir embora pra descobrir o que aconteceu.  

— Eu quero que vocês sejam o mais sincero comigo. Sério, se por um acaso forem contra eu vou entender e respeitar a opinião de vocês. Acho que mais do que ninguém, eu preciso levar a opinião dos dois em consideração. Junto com a do Rodrigo é claro. – E mais uma vez mexendo na aliança, tomando coragem, agora sim sem desviar os olhos dos mais velhos, Lucas resolveu falar o que tinha ido até ali pra dizer. – O que vocês acham de eu convidar o Rodrigo pra morar comigo?

***

— Amor, onde tu estavas! Eu fiquei preocupado. Não faz mas isso. – Sem resistir, Rodrigo se jogou nos braços de Lucas assim que viu ele atravessar a porta.

Quando saiu pela manhã, o moreno não disse nada sobre ir em algum lugar. Por isso, quando voltou, depois de ter almoçado com Clarissa, por imaginar que a causa do namorado não ter atendido o telefone era por estar trabalhando, ficou preocupado ao saber que ele tinha saído um pouco depois dele mesmo. Nem Solange sabia onde ele estava, o que era raro de acontecer hoje em dia.

— Ei, desculpa. Desculpa. Eu... – Lucas ficou surpreso com a recepção. Tinha ficado mais tempo do que esperava na casa dos pais do namorado. E também, por incrível que pareça, conseguiu se perder no caminho de volta. Isso o fez demorar mais tempo que o esperado.

— Está tudo bem? – Rodrigo agora olhava os olhos do moreno, percebendo nitidamente que ele havia chorado. Nos últimos dias ele parecia estar ansioso por alguma coisa, mas não queria contar. Imaginava se era algo relacionado a eles e isto o deixava nervoso também.

— Sim, eu estou bem... – Agora foi Lucas quem abraçou o namorado. Tinha sentido tanta saudade de ter ele ao seu lado. – Eu posso contar depois onde eu fui? Mas eu juro, estou muito bem. Está tudo bem.

Rodrigo concordou, pois, já estava acostumado com isso. Lucas demorava a contar algumas coisas. Mas ele sempre contava, bastava que tivesse um tempo pra pensar sobre o assunto. Tinha vezes que ele começava a contar do nada, ou de madrugada, ou apenas ligava pro mais novo pra falar sobre algo que poderia dizer pessoalmente, dali algumas horas. Mas ele já sabia que era seu jeito de demostrar que poderia demorar, mas tão logo conseguisse resolver dentro de si o embate, dividiria com o namorado.

— Claro que pode! Eu estou bem... apenas queria tirar umas dúvidas da prova de Semiótica. O exame já é daqui a dois dias. Porque tu marcou bem no dia do meu aniversário? Que baita presente... – Rodrigo, falou desviando de assunto. Desde que soube a data do exame, não conseguia deixar de implicar, de brincadeira, com o namorado. E se divertia no quanto ele parecia sofrer por ter precisado fazer isso.

— Você sabe que eu não tive escolha... –Os dois se olhavam, dentro dos olhos, enquanto Lucas tinha suas mãos no rosto do mais novo, enquanto Rodrigo tinha as suas em volta de sua cintura. – Mas você vai se sair bem. E depois poderemos comemorar o seu aniversário. Junto com seus pais e com o Marcos, que também decidiu vir.

— Sério, ele vem em pleno dia de semana? Sabia que ele ia com a minha cara, mas não sabia que era tanto...

— Ei...! Como assim? – É, Lucas ainda era um bobo ciumento.

— Shiuuu, para! Aposto que ele está vindo pra ver a Clarissa. Aliás, ela vai pra casa nessas férias. E não fica muito longe de onde o Marcus mora. A volta para o próximo semestre promete.

Lucas adorava ver Rodrigo falando sobre qualquer coisa. E em como seus olhos brilhavam quando estava feliz por alguém. A verdade era que o amigo vinha porque sabia que Lucas pretendia sugerir para Rodrigo que morassem juntos no dia de seu aniversário... e o amigo agia como se fosse rolar um pedido de casamento oficial, com bolos, alianças e flores. Lucas se espantava com a alegria exacerbada do outro. Mas no fundo sabia que era o jeito do amigo demonstrar o quanto estava alegre por ele ter conquistado um de seus maiores sonhos.

— Sabe que eu também acho? – Lucas sorriu, em seguida ouvindo um barulho na porta, já imaginando quem era.

— Entra, Solange. – Falou o moreno, ainda abraçado ao namorado. Com a recepção, não tinha trancado a porta. Portanto, em seguida a mais velha estrava. E não parecia muito feliz.

— Como assim, entra Solange? Eu fiquei preocupada com o teu sumiço. Imagina como foi chegar aqui hoje cedo e não te encontrar, mas pensando que tinhas ido levar Rodrigo e depois ido em algum lugar, fiquei tranquila. Quando o Rô chegou aqui, me dizendo que tinha te deixado dormindo, e não sabia onde estavas, minha preocupação chegou ao limite.  Por que não falou nada pra ninguém? Tens noção nas coisas que eu imaginei que poderiam ter acontecido contigo? Não é normal saíres sem teu namorado e...

Ouvir a mais velha falando fez o coração do moreno gelar. Ele não sabia que tinha feito tão errado assim em sair sem avisar. Deveria ter falado alguma coisa pra ela mesmo... Não queria deixá-la preocupada. Isso lembrou das vezes em que queria ficar sozinho e saia sem dizer nada para os avós, sempre os encontrando na volta com o semblante preocupado. Como era um idiota! E ainda queria fazer parte da família de Rodrigo, montar uma família com ele. Como faria isso se não sabia como se comportar com aqueles que gostavam dele?

Rodrigo deve ter sentido a tensão do namorado, pois, apertou sua mão e foi até Solange, dando um tempo para o moreno se recompor.

— Ele está cheio de segredos, Sol. Mas está tudo bem. Uma hora a gente consegue arrancar os segredinhos dele. Nem que seja chantageando. Tu com teu bolo de chocolate e eu deixando de fazer o leite dele pela manhã.

Lucas se sentia agradecido pelo namorado sempre agir de forma a defende-lo, sem perder a tranquilidade. Mas ele tinha feito errado, precisava ter falado com Solange. Ainda mais porque sabia que ela tinha se apegado a ele, assim como ele não se imaginava mais sem sua presença. Ela não tinha família por perto, e tinha nele e em Rodrigo um jeito de colocar todo o amor que possuía.

— Desculpa Solange, eu não achei que demoraria tanto. Desculpa mesmo. Eu só precisei fazer uma coisa... decidi hoje mesmo e acabou que... – Ele não sabia muito o que falar enquanto sentia o olhar do namorado em si, passando força. Parecia bobagem, mas ele realmente achava não saber se comportar perante situações assim. Portanto, resolveu fazer algo que era inesperado pra ele, mas sabia que seria, por enquanto, o suficiente para acalmá-la. Andando até a mais velha, a abraçou. De um jeito forte, como um filho abraçaria a mãe, para se desculpar. Da forma que deveria ter feito com a avó, das vezes em que a deixou preocupada. E do jeito que gostaria de ter tido a oportunidade de fazer com a própria mãe.

— Desculpa, eu não vou fazer mais isso.

Ao receber esse gesto tão raro do moreno, Solange ficou mais calma, e a irritação e preocupação se transformou em uma sensação de tranquilidade por ver que ele estava bem. Apenas conseguiu retornar o abraço, com carinho.

— Viu, Sol? O que um copo de leite e um pedaço de bolo de chocolate não são capazes de fazer. Na próxima a gente já sabe. – Rodrigo estava sem palavras com a cena que via. Era raro Lucas tomar a atitude de ter algum contato mais próximo com alguém, que não fosse ele. Mesmo sabendo o quanto Solange tinha virado alguém tão presente pra ele, era uma conquista assistir a cena.

Após um tempo, Lucas acabou se afastando da mais velha, dando-lhe um beijo em sua bochecha, e um sorriso. Em seguida, como se tivesse um ima, voltou para os braço de Rodrigo. O dia tinha estava sendo tão bom, mas tão pesado. Precisava sentir a presença dele consigo mais um pouco.

— Ai dele se fizer isso uma próxima vez! Eu juro, nem um abraço desse vai fazer eu ficar calma na próxima, ouviu bem senhor Lucas? – Solange limpava uma lágrima que tinha escorrido de seus olhos ao presenciar o quanto aquele homem, tão fechado e distante que chegou ali, estava mudado. Sentir fazer parte dessa mudança a fazia muito feliz. E útil.

— Sim, eu entendi... mas será que agora eu posso ter um pedaço de bolo de chocolate antes de ir trabalhar? Sabe, acho que eu mereço depois desse ataque todo, quando eu nem fiz nada demais.

Rodrigo apenas abriu um sorriso, enquanto via Solange negar com a cabeça, mas sabendo que ela faria o que ele quisesse após o abraço que recebeu. O peito do loiro transbordava, o fazendo abraça-lo ainda mais, querendo transmitir mais uma vez toda a confiança que sentia que ele buscava em seus braços. E que encontraria, sempre.


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