Mais um dia da rotina "toque do despertador-desligar-levantar". Mais um dia que Rodrigo acordava às 7h da manhã. Era segunda-feira e isto, por si só, já torna tudo mais difícil. Ainda mais para alguém tão novo, prestes a iniciar  o terceiro semestre em jornalismo, que estuda à noite e vai pro estágio pela manhã. A rotina do loiro, de 22 anos, que veio do interior,  era regrada e sempre sem muitas novidades desde que se mudou. Acordava cedo para ir trabalhar, em uma empresa de comunicação. Almoçava sempre pelo Restaurante Universitário (R.U)e depois ia para casa, ou estudar na biblioteca do campus até a hora da aula. Morava sozinho, os pais estavam do interior, onde ele também morou até passar no vestibular de uma Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Isto havia sido uma grande conquista para os pais, que se sentiam muito orgulhosos em relação ao filho. Por conta disto, Rodrigo fazia o possível para se sair bem nas provas e trabalhos, já que era o mínimo que poderia fazer pelos mais velhos, que sempre o apoiaram.

Levantando da cama, o guri foi até a janela ver como estava o tempo. O apartamento não era muito grande, mas o suficiente para que ele conseguisse viver confortavelmente. Era o mês de julho, um dos mais frios no estado gaúcho. Neste dia havia um pouquinho de sol, o que ajudava a sobreviver ao frio, que à noite alcançava temperaturas extremamente congelantes. Indo em direção ao banheiro, Rodrigo, como sempre, lembrou da casa dos pais, de onde havia voltado faz pouco. Passou as férias na cidade natal, sendo sempre paparicado, já que era filho único. O tempo passado com os pais sempre era muito bom, eles sempre se deram muito bem e tinham apenas uns ao outro. Porém, apesar de todos este apor, este tempo passado com os pais foi diferente das outras vezes. De toda sua vida, aliás.

Durante os dias que ficou, até voltar para o início do semestre, o loiro se sentiu desconfortável, o que esperava não ter demonstrado para os pais. Mas é que não conseguia esquecer algo que aconteceu um pouco antes de entrar em férias. A história é a seguinte. Estando há um ano na faculdade, Rodrigo havia frequentado algumas festas, apesar de não gostar muito, e em uma dessas, acabou ficando com um homem que conheceu na última festa, semestre passado. Rodrigo nunca foi muito sociável, havia decido ir por pressão dos colegas. E até hoje ele não lembrava muito bem o que havia acontecido, tudo acontecia muito rápido na cidade, ainda mais para ele que não estava acostumado com a vida agitada de uma cidade grande. Sabia apenas que o beijará e ele chamava Lucas. Como lembrava do nome? Não fazia ideia. Quando acordou na manhã do dia seguinte demorou a lembrar do que havia acontecido. O que o deixou muito nervoso na hora, pois não era de agir por impulso, ainda mais em uma festa.

 Desde então, apenas torcia para que nenhum dos colegas houvesse visto. Não que tivesse muitos problemas quanto a isto, apesar de nunca ter beijado outro homem antes na vida. Apenas não entendia como tinha se deixado levar. Não estava bêbado, talvez um pouco carente, pois não havia feito ainda amizades ali no curso, apesar de falar frequentemente com alguns colegas. Já no banho, Rodrigo não queria, mas relembrava a sensação de ter sido agarrado por aquele homem. O beijo foi diferente de tudo que ele já havia experimentado.

Então, este era seu dilema. No mês que teve de férias conseguiu passar um tempo com os pais, mas não teve coragem de tocar no assunto. Não que tivesse preconceito, porém, não havia pensando sobre isto até então. Além do mais, não tinha ideia de como os pais iriam reagir.

Desligando o chuveiro, começou a se vestir, antes que ficasse atrasado. Tomou um café, sem ele não sobrevive ao dia, e saiu. O lugar onde trabalhava não era muito longe de sua casa, conseguia ir a pé mesmo. Chegando, de cara já foi recepcionado por Clarissa, sua colega de setor que também era estagiária.

— E aí loiro, como foi as férias na casa dos pais?- ela era uma guria de cabelos compridos e pretos. Cursava design na mesma universidade que Rodrigo, o que permitiu que a amizade se fortalecesse.

— Foi tranquilo e você, como passou os últimos dias de descanso?- ela havia ficado pela cidade mesmo, morava fora do Rio Grande do Sul, preferiu viajar apenas no fim de ano.

— Péssimo! Você sabe que a cidade fica as moscas nas férias. Acabei vindo aqui para a agência, mesmo o Daniel tendo dado estes dias de férias para nós estagiários.

— Ah, tadinha dela- gozou Rodrigo, recebendo um tapa da morena.

A manhã foi tranquila. Rodrigo era responsável pela comunicação interna da empresa, então os informes do site interno era sua responsabilidade, assim como, cuidar das mídias sociais. Daniel havia dito que assim que ele tivesse mais contato com a fotografia, daria a ele uma vaga nos serviços que a agência gerenciava para empresas locais da cidade, já que o loiro amava fotografar. Isto havia deixado Rodrigo em êxtase, ainda mais que neste semestre que iniciaria, teria a aula de fotojornalismo, justamente neste primeiro dia de aula. Estava ansioso para saber como iria se sair e quem seria o professor, já que, pelo que ouviu dizer, ele chegaria de outra universidade do estado, e isto sempre gerava muita curiosidade.

Ao fazer a matrícula, lembra apenas que o nome do professor era Lucas, o que o remeteu mais uma vez aquela noite... A principio, achou engraçada a coincidência dos nomes,  porém, não acreditava em destinos ou coisa assim, então apenas deixou pra lá e torcia que fosse um bom semestre.