Her Puppet escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 3
Apesar de tudo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/566303/chapter/3

Ainda namorava as nuvens quando me deu de olhar a mão esquerda, sem razão aparente. Eu era a única, dentre nós quatro, que ainda usava a respectiva pulseira de linho, presente de Alison. Uma pulseira roxa com nossos nomes tricotados por cima em linho prateado.

Era inútil, se você fosse parar para pensar. Nós sabíamos nossos nomes, não precisávamos sair por aí desfilando com uma etiqueta de identificação no pulso. Mas quando começa-se a conviver com Alison, começa-se também a pensar como ela e, obviamente, com o tempo, passamos a não nos importar com o significado real daquelas pulseiras: com elas, todos ao nosso redor sabiam que éramos os cordeirinhos de Alison, que éramos propriedade dela. Que éramos suas marionetes.

– Seremos amigas para sempre! – Afirmara ela, ao dar-nos os presentinhos inesperados.

Eu literalmente não sabia porque ainda andava com aquela pulseira. Colocava-a pela manhã, antes de ir para a escola, e a guardava no porta-jóias assim que chegava em casa. Fazia esse ritual todos os dias, inconscientemente. Estava tão acostumada que nem sentia mais o peso extra no pulso, por menor que fosse.

– Estenda o braço – ela me pedira gentilmente naquele dia.

Prendeu a pulseira em meu pulso e manteve minha mão esquerda entre as suas por algum tempo. Parecia um tanto encabulada

– Não sei dizer porque... mas pensei em você muito mais do que nas outras quando vi esta na vitrine. – me olhou nos olhos e sorriu.

Agradeci aos deuses pelo meu tom de pele mais escuro, pois a vergonha alheia iria dominar Alison se ela visse o quanto eu havia corado depois de ouvir aquelas palavras.

Olhei para a pulseira novamente. O nome escrito ali era o meu, mas tudo o que me vinha à mente era os sons que Ali fazia ao pronunciá-lo.

Deus, eu a amava tanto!

Ela não tinha o direito de alimentar minhas esperanças daquele jeito e depois simplesmente... ir embora. Não tinha!

Estava farta de sentir falta dela! E também de sentir pena de mim mesma por conta disso.

Me dei permissão para deixar algumas lágrimas escorrerem depois de desprender a pulseira do pulso e atirá-la na grama, nem tão perto e nem tão longe da onde eu estava sentada. O fizera com a intenção de deixá-la lá e de nunca mais me martirizar com aqueles flashbacks. É claro que não seria fácil, porém tudo indicava que os resultados seriam progressivos.

Ainda no gramado, lembrei de meu antigo parceiro de laboratório no oitavo ano. Jake... alguma coisa. Um garoto de cabelos escuros encaracolados, ainda dono de uma voz fina. Doce e otimista, ele enchia meus ouvidos com elogios rasgados e suspiros que se dirigiam a Alison. Eu não conseguia achar um meio gentil de dizer que, provavelmente, ele estaria se iludindo. Mas não precisei. Ao começo do primeiro ano em Rosewood High, ele me disse, cheio de convicção (a voz engrossara, o que dava certa maturidade às suas palavras): “Alison não é capaz de amar ninguém. Ela apenas coleciona amores de outras pessoas”.

A decepção nos olhos de Jake naquele dia era evidente, como se ele houvesse presenciado algo que jamais lhe sairia da memória. Tive pena dele. Tanta que nem focara em me sentir ofendida com a colocação que ele acabara por fazer, já que eu era uma das melhores amigas de Alison e, bem, amizade é uma ramificação do amor.

Eu sentia que praticamente metade da população masculina jovem de Rosewood já quisera, em algum ponto da vida, ver Alison morta. E por quê? Porque eram amantes ou admiradores frustrados. E a frustração pode, por vezes, se transformar em ódio puro ou em uma obsessiva sede de vingança.

O que me diferenciava de todos eles? Talvez fosse porque eu amasse Alison tão incondicionalmente... que era impossível guardar rancor. Eu nunca seria capaz de odiá-la. Eu a amava além de esperanças, além de qualquer desencorajamento, como dizia Charles Dickens no poema que ela me recitara na biblioteca.

Apenas amava-a, sem esperar realmente que ela algum dia me amasse da mesma maneira. E sentir algo tão intenso e tão "proibido" fazia eu me sentir viva.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Her Puppet" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.