O Reino de Carleon escrita por Meh_Kiryuu


Capítulo 1
Capítulo 1




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Mesmo no verão o vento continuava gelado, de uma certa forma eu adorava morar na corte do Rei Willian, mas por outra parte eu odiava. Seu castelo ficava entre as montanhas, no meio do nada. O inverno era gelado e faltava comida; e o verão era um pouco mais quente e tínhamos o direito de uma refeição melhor. Aquele vento não ajudava na nossa caminhada de meio de tarde, mesmo com o sol sobre nossas cabeças, sempre havia um vento chato e gelado para nos deixar com frio.


            Todas nós, juntas com a Rainha Andrea, caminhávamos pelos jardins do castelo. Por onde andávamos a grama estava coberta de orvalho, mesmo estando pelo meio da tarde, a grama ainda continha o delicioso orvalho da manhã, uma das coisas que eu adorava daquele lugar era o cheiro da grama molhada o tempo inteiro.


            - Senhoras, já devemos entrar – disse a rainha – Parece-me que hoje o vento está mais frio e não devemos ficar aqui fora.


            Mesmo com o vento frio batendo em nossos rostos e nos congelando, eu preferia permanecer ali do que sentada em um cadeira teando e bordando.


            - Elaine... O que está fazendo aí ainda, no jardim? – perguntou minha senhora para mim.


- Desculpe-me... Estava distraída. - Ela sabia o que eu tinha dito era uma mentira. De certa forma, ela sabia que eu ficava incomodada teando.


- Vamos entrar um pouco e tear, minha querida.


Acompanhei Andrea, minha rainha, até os aposentos das damas e preparei sua lã e seu tear e chamei o harpista da corte para tocar e cantar para nós, enquanto conversávamos e trabalhávamos.


- Elaine, diga-me... – disse a rainha chamando minha atenção – Você veio apenas com doze anos para minha corte, a senhora é a minha dama de maior confiança, mas ainda não me disse se interessa por algum homem de meu marido.


- Senhora... – disse eu levantando meus olhos, e desviando minha atenção do vestido que estava preparando para o inverno – Não creio que uma mulher precisa de um homem para ser feliz. Sou feliz por honrar em te servir.


Meagan, uma das damas de minha senhora, a mais nova delas com apenas quinze anos, levantou-se de seu tear e andou até o meio do aposento, rodou o seu gracioso vestido que ela mesma tinha feito fazia algumas semanas e disse:


- Eu era feliz solteira, mas quando me casei com Louis fiquei ainda mais feliz. Elaine, - disse ela agora parando e olhando em meus olhos – você deveria experimentar a companhia de um homem, aliás, você já tem vinte e dois anos e daqui a pouco vai ser tarde para ter um primeiro filho.


As outras damas riram da brincadeira da menor que voltou a rodar o gracioso vestido pelo aposento.


- Por favor, Meagan, sente-se e continue a tear. Imagino que Elaine queira se casar, mas não agora. Fico feliz por ver que está contente ao lado de Louis, e espero que sejam felizes juntos quando esta criança que hoje você carrega em seu ventre nasça.


Novamente a sala ficou em silêncio, era isso que eu odiava quando teávamos o silêncio infernal da sala, ouvindo apenas o som triste da harpa e ruídos dos teares.


O reino de Carleon era cercado por um enorme muro, já não bastava uma cadeia de montanhas em volta, ainda tínhamos um muro nada agradável que nos rodeava. Quando cheguei ali isso não me incomodava, até me sentia mais segura e protegida dentro do castelo e cercada por tudo aquilo, mas hoje vejo que isso me sufocava, não havia nada ali perto, tínhamos que caminhar dias para chegar em outro reino ou um mercado para comprarmos lã e tecidos para trabalharmos.


Um som foi ouvido por todas nós, um som diferente, mas não era o som que saia da harpa tocada pelo rapaz. Era o som de armas, um som vindo do pátio do castelo. Sabíamos quem eram. Os homens voltando de uma batalha que estava ocorrendo ao sudeste, pelo barulho eu sabia que eles tinham ganho.


- Pelo que ouço... – disse a rainha – Vejo que os homens voltaram de sua batalha, continuaremos o trabalho amanhã... Vamos recebê-los.


Meagan foi a primeira a abandonar o seu trabalho e sair pela porta do quarto  correndo para o pátio. Todas se levantaram em seguida e seguiram para o pátio. Eu e Camille, as únicas solteiras, ajudamos a rainha a levantar de seu tear.


- Não preciso de ajuda, não sou velha. Posso me levantar sozinha. – disse ela rindo.


Nós três seguimos para o pátio juntas. Quando chegamos por lá, Andrea correu para os braços do rei e ele a beijou, num beijo caloroso. Olhei em volta e vi Meagan mostrar seu barrigão de seis meses para o marido que tinha ficado fora durante três meses. Camille, como era solteira, ficou encostada num canto junto com o harpista que conversavam.


 


Gordon, meu primo, correu até mim e me envolveu em seus braços num aperto muito forte. Ele, como eu, não tinha alguém para ficar ao seu lado, ambos somos solteiros. Depois que me abraçou, ele beijou minha testa e disse:


- Prima, nós vencemos e depois viemos direto para cá. O rei vai dar uma festa hoje à noite pela vitória.


Vi seus olhos brilharem e ele me abraçou novamente. Gordon era um tanto mais alto que eu. Nunca fora alta. Era a mais baixa das damas. Seus olhos eram escuros e seu cabelo também, como eu também o tinha. Ele não possuía barba como os outros homens da corte, devia ser por isso que, para mim, ele era o mais bonito deles.


- Primo... – disse eu me afastando de seus braços – que bom que ganharam, estou muito feliz mesmo!


Nunca tinha visto o pátio tão lotado e animado, todos estavam felizes e com certeza teríamos uma festa melhor ainda.


Rei Willian e sua mulher, para quem eu e meu primo servíamos, chegaram perto de nós. Gordon como sempre fazia uma profunda reverência e eu apenas baixava a cabeça.


- Vamos parar com essas formalidades... – riu meu senhor – Aliás, Elaine é a dama de maior confiança de minha mulher e Gordon, você é o meu cavaleiro de maior confiança... Não precisamos de muitas formalidades por aqui.


A noite chegou mais rápido que o normal, elas sempre passavam tão devagar quando só estávamos teando, bordando ou nos divertindo com a música.


Aquela noite teríamos uma boa refeição, um vinho melhor, apenas servidos em festas e cerveja; teríamos carne de ótima qualidade. Com certeza ia ser um belo carneiro, um gamo e dois coelhos; as carnes preferidas do Rei Willian.


Quando estávamos nos arrumando para a grande festa que teríamos, eu podia sentir o cheiro das carnes assadas e da maçã caramelada com nozes, podia sentir também o cheiro do bolo preparado com mel; essa sobremesa geralmente era preparada para as crianças, mas ainda era a minha preferida, pois não era tão enjoativa como a maça.


- Elaine, você podia trançar o meu cabelo? – perguntou minha senhora, já vestida com a sua melhor roupa com de açafrão.


- Claro! – respondi.


Ela estava sentada em um banco perto do armário. Rainha Andrea era a mais bonita da corte, seus cabelos eram loiros, um pouco avermelhados, e os olhos eram azuis. Todos os homens da corte a cobiçavam. Mas ela era algo intocável, a esposa do Rei. Não que meu primo se importasse com isso, pois em festas ele a olha sem disfarçar. Houve boatos que Rainha Andrea e Gordon, meu primo, já tinham ido para cama juntos, eu sabia que isso era pura mentira; pois quando isso foi espalhado para a corte, Gordon veio chorar em meus ombros como uma criança faz com a mãe.


Após eu trançar o cabelo de Andrea, vesti o meu melhor vestido que foi dado pelo meu pai quando entrei na corte de Rei Willian, era a melhor lã que e já tinha visto e a cor vermelha e tingida de perfeita ordem.


- Elaine... – disse a Rainha – se você sair com o vestido vermelho, vai tirar o meu brilho da festa. – E depois de dizer tais palavras ela riu.


- Minha senhora, você não precisa se preocupar com isso. Você é a rainha e eu sou apenas uma dama de companhia.


- Você não é apenas uma dama de companhia. Você é a minha grande e leal amiga.


Quando nós duas entramos no salão juntas, todos se levantaram de suas cadeiras e fizeram uma grande reverência, eu também a fiz. Meus olhos percorreram todo o salão, Gordon me chamou atenção, ele foi o primeiro a levantar a cabeça e a olhar para a rainha, seus olhos brilhavam sempre que ele olhava para ela.


- Amigos, amigos... Vamos deixar de formalidades por hoje, estamos em festa. – disse o Rei, fazendo um gesto para que todos se acomodassem em suas cadeiras novamente.


Percorri o salão até achar um lugar ao lado de meu primo. Sentei-me ao seu lado como sempre fazia nessas festas.


- Prima, como está bonita nesse vestido. – ele me elogiou sorrindo – Sua pele branca parece se realçar mais quando o veste.


- Obrigada. – agradeci ficando rubra como uma menininha de quinze anos.


Meus olhos percorreram a mesa onde estava sentada, eu sabia que em minha mesa estava sentado o Rei de Talisien, o Rei Liam, ele era um homem que não se continha com apenas sua rainha em sua cama. Eu sabia que ele já havia lançado olhares para mim uma vez e jurei que tinha lançado hoje de novo.


As bebidas começaram a ser servidas, os homens não paravam de encher os seus copos, como sempre naquelas festas, a maioria das pessoas saia bêbadas. Os pratos fumegantes e cheirosos começaram a passar por nossas mesas, o cheiro do gamo assado era o mais delicioso. Quando os pratos começaram a entrar no salão, Gordon fez um gesto para que a carne fosse servida ali.


Imediatamente ele puxou o meu prato e colocou uma excelente carne em meu prato.


- Eu sei que você aprecia uma bela carne de gamo. – sorriu ele.


A música logo começou a tocar, reconheci uma música ouvida por mim quando ainda era pequena, conta a história de um homem que vivia mais ao leste e que tentava matar um dragão. E de uma mulher, que havia o mesmo nome que eu que se casou com seu filho.


- Gordon, Elaine... – chamou o nosso senhor para nos aproximarmos de sua mesa – O que estão fazendo tão longe? Já lhes disse que queriam vocês ao meu lado.


Imediatamente Willian e Andrea se acomodaram mais ao meio do banco para que nós sentássemos ao lado deles. Conversamos e riamos; e também provamos as deliciosas sobremesas. Até que um a um foram saindo do salão.


- Chamarei o camareiro para levar Willian até os seus aposentos – disse Gordon se retirando de onde estávamos sentados.


Alguns minutos depois Gordon voltou e disse que não tinha achado-o.


- Vamos ter que levá-lo – disse ele com um sorriso malicioso olhando para a rainha.


- Primo, ele é pesado e está bêbado que nem consegue colocar um pé na frente do outro para andar.


- Isso não será problema... – riu Andrea se levantando e colocando o braço do marido em volta dos ombros – Elaine venha me ajudar desse lado, Gordon carrega sozinho do outro.


Então fomos nós três carregando o rei até seus aposentos, eu não diria que aquilo era carregar, mas sim arrastar. Gordon e Andrea riam o tempo inteiro de coisas que nem eles mesmos sabiam o que era.


- O que está acontecendo com você, prima? Não está rindo!


E novamente ele havia me deixado rubra como uma menininha. Eu já sou uma mulher não devia ficar rubra com brincadeiras de um homem bêbado.


- Vamos, Elaine, mostre-me um sorriso! – exclamou ele.


Sorri meio envergonhada e nós três nos atamos a rir. Quando finalmente chegamos ao aposento, colocamos o rei deitado em sua cama ainda com as roupas de festa. Em forma de agradecimento Andrea me abraçou e beijou o meu rosto e em meu primo fez o mesmo, abraçou-o; mas o beijo não foi dado em seu rosto ou em sua testa como ela o fazia de costume, mas em sua boca. Fiquei espantada com o gesto de minha senhora, mas por que estava tão espantada? Ela estava bêbada e com certeza não se lembraria disso no dia seguinte.


- Vamos, prima! – exclamou Gordon, me dando a mão; como ele fazia comigo quando éramos pequenos; e saímos do quarto deixando-os a sós.


Ao sairmos do quarto, ele me abraçou e eu pude sentir o cheiro de cevada em suas vestes, beijou a minha testa e me desejou boa noite.


Caminhei até o quarto das damas da rainha e tirei o meu vestido vermelho e colocando minha roupa de dormir. Parei ao lado da janela e fiquei observando o céu e principalmente a lua cheia.


- Elaine, você não vem se deitar? – perguntou Camille, levantando a cabeça de olhando para mim.


- A lua está tão bonita hoje... – então, houve uma pausa e continuei – Não é estranho, Camille, apenas nós estarmos sozinha nessa noite. Olhei para o quarto, todas estão com alguma companhia em suas camas.


- Não é verdade, Elaine, seu primo e o harpista também não tem mulheres e sei que eles não sairiam à procura de nenhuma hoje... Venha se deitar.


Aconcheguei-me ao lado de Camille e dormi.


Fim do Capítulo 1


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Notas finais do capítulo

N/a: Aqui está a fic que eu sempre quis escrever, sobre Idade Média.
Espero que gostem!