Kaos - A Lenda de Asay escrita por PaulaRodrigues


Capítulo 10
O Ninho de Água


Notas iniciais do capítulo

Kaos derrubou a caverna para fugir do dragão, mas será que seu grande plano de desespero deu certo?



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Escuridão e poeira, era só isso que eu conseguia ver e sentir. Respirei fundo e tossi. Então tudo bem, pelo menos estou viva. Olhei para baixo e vi que o ovo de dragão ainda estava em meus braços. Estava intacto, sem um arranhão, respirei aliviada, afinal consegui proteger o ovo também. Agora eu precisava encontrar uma saída. Comecei a me mover com dificuldade entre as pedras que eram muito pesadas e poeirentas, eu estava praticamente soterrada e para piorar, a minha perna estava machucada por causa das garras do dragão que penetraram a minha pele enquanto ele tentava me pegar.

Continuei me arrastando e tomando cuidado com o ovo, eu não iria morrer ali, nem o meu dragão. Com muita dificuldade eu finalmente enxerguei uma pequena luz, naquele momento pedi aos deuses para que não fosse mais uma alucinação daquela maldita caverna. Chegando até a luz eu senti o oxigênio entrar em meus pulmões e me senti completamente aliviada. Empurrei as pedras para dar espaço para que eu e o ovo pudéssemos passar. A claridade atrapalhou meus olhos a ficarem abertos e saí cambaleando, tropeçando em algumas pedras que não fui capaz de ver, mas sempre fazendo questão de proteger o ovo. Vi alguém se aproximando, mas não consegui distinguir a silhueta ou ver o rosto da pessoa, senti meus cabelos flutuando e muito poder emanando de mim, eu precisava me proteger e proteger o ovo, não arrisquei a minha vida para alguém roubá-lo de mim. Levantei algumas pedras caídas da caverna usando o meu poder e criei uma barreira ao meu redor, ninguém vai roubar meu ovo de dragão!

— Kaos? - escutei a voz vindo lá de fora da minha barreira, era a voz de Jack.

Abri um pedaço da barreira e consegui vê-lo. Eu estava ofegante, estava extremamente cansada.

— Kaos, está tudo bem aí? - ele parecia preocupado, mas se manteve fora da minha barreira. Afastei as pedras de mim com calma para que ele pudesse se aproximar, mas mantive as que estavam em minhas costas, ainda me sentia muito vulnerável e fraca. Ele entrou na minha barreira e se aproximou com cautela de mim, eu estava agarrada ao ovo e o olhava. - Kaos?

— Jack... - tentei juntar todo o meu ar para falar o nome dele.

— Fiquei preocupado, você sumiu há uns dois dias - ele disse se abaixando para ficar de frente para mim, e só então eu percebi que estava agachada.

— Dois dias? - fiquei em choque. Para mim pareceu que se passaram apenas horas lá dentro.

— Kaos? - Jack tocou em meu rosto, olhei nos olhos dele e comecei a chorar. As lágrimas saíam automaticamente e eu não consegui contê-las.

— Por que está aqui?

— Ora querida, que pergunta tola. Claro que vim salvar você. Você escutou o que eu disse? Que sumiu por dois dias?

— Veio sozinho?

— Com muita dificuldade sim, todos queriam vir, mas seu navio não poderia ficar sozinho.

Comecei a chorar ainda mais, que droga, qual a necessidade de tantas lágrimas? Que sentimento era esse? Eu estava feliz por sair de lá? Feliz por estar viva? Triste por quase desaparecer lá dentro? Confusa com todas aquelas conversas estúpidas? Por que essas lágrimas? Me joguei nos braços de Jack ainda segurando o ovo assim que me acalmei as pedras que ainda estavam flutuando atrás de mim caíram no chão.

Jack me envolveu em seus braços e sua respiração acelerou.

— O quê aconteceu lá dentro? A caverna desmoronou. E o que houve com a sua perna? - ele parecia realmente preocupado.

— Me leve para o navio, por favor - eu disse chorando. Eram muitas coisas pra pensar agora, eu não tinha a capacidade de contar sobre tudo agora.

Ele se levantou e me ajudou a ficar de pé. Fomos caminhando em direção à praia. Eu estava mancando por causa da perna ferida. Jack me colocou no bote e começou a remar de volta ao Embaixador. Olhei para a água e fiz carinho no ovo. Eu finalmente consegui o que queria, mas ainda não pensei como guardarei esse ovo de dragão durante as minhas aventuras. Então, ainda olhando para a água, tive uma grande ideia. Me joguei na água com o ovo sem falar nada.

— Kaos! - Jack gritou.

Agitei a água para que ele entendesse que não era para vir atrás de mim. Dentro da água minha perna doía menos e minha mobilidade ainda era boa por acusa dos poderes de Eris. Eu tive um grande plano para meu novo dragão.

Fui nadando até uma parte bem funda do mar e próxima à localização do Embaixador e fiz um ninho de água para meu ovo. O ninho era quase como uma cama, coloquei até um pouco de areia dentro para que ele ficasse confortável dentro da cúpula de água e conectei o ninho ao Embaixador. Deixei ele tão fundo no mar que nenhum ser humano seria capaz de alcançar aquela profundidade, além disso o ninho também tinha uma barreira protetora que os humanos poderiam morrer se tocassem nela, ou qualquer outro ser ameaçador que queira atacar meu ovo debaixo d'água. 

— Você será meu Dragão da Água - eu disse para o ovo e sorri fazendo carinho nele. - Mamãe está ansiosa para conhecê-lo.

Dei um beijo no ovo de dragão e subi de volta para a superfície, no bote que Jack estava e subi nele.

— Kaos, o que foi fazer? Cadê o ovo de dragão? - Jack perguntou preocupado.

— Fui cuidar do meu dragão - eu disse com um sorriso ganancioso.

Jack pareceu levemente assustado com o meu sorriso e preferiu continuar a remar.

— Nunca te vi com esse olhar antes. Parece que seus poderes deram uma evoluída não é mesmo? 

— Provavelmente. Precisei ser mais forte lá dentro... - arrepiei de lembrar, mas não deixei que Jack percebesse.

— O que tinha lá?

— Meus piores pesadelos e meus grandes sonhos. Se aquela Cigana não tivesse dito nada, provavelmente eu morreria lá dentro. Aquela caverna é um lugar perfeito para se perder e nunca mais querer voltar. Além do outro dragão, que queria me devorar. Aliás, ele quase conseguiu - mostrei a minha perna ferida a ele - e não foi só uma vez.

— Uau... Que aventura incrível terá pra contar, não é mesmo?

— Sim... Uma aventura e tanto - sorri pra ele e ele sorriu de volta começando a rir. Eu ri com ele.

Eu sabia que ele havia acreditado em mim, afinal, ele presenciou o aumento dos meus poderes, quando criei a barreira.

— Jack, não conte a ninguém sobre os meus poderes na porta da caverna, ok?

— Não vou contar. Mas em troca quero detalhes da caverna.

— Não posso, são momentos que não gostaria de reviver. Um deles é de ver a minha mãe sendo torturada e o dragão estourar a cabeça dela.

— Tudo bem - ele ficou em choque. - Sem detalhes então.

— Obrigada - sorri.

Chegamos ao Embaixador e eles me ajudaram a subir a bordo. Kyle ficou muito preocupado com a minha perna.

— Não, tudo bem. Foi só uma ferida que levarei na lembrança de uma boa aventura - eu disse sorrindo e parecendo forte, mas a verdade era que eu mal conseguia encostar meu pé no chão.

— Capitana, como es bueno ver que estás bien! - disse Rato com os olhos começando a lacrimejar e me abraçando pela cintura.

— Tão sentimental - sorri e dei um abraço forte em Rato. Eles se surpreenderam com a minha reação, mas Rato gostou. Eu estava sentimental por causa do ocorrido na caverna e muito grata por estar viva.

— Um viva para a grande Capitã do Embaixador! - gritou Jack e todos gritaram vivas. Eu sorri de emoção, era tão bom estar ali com a minha tripulação, em meu próprio navio. - Para onde iremos, querida?

— Tárcia - respondi e Jack parou de sorrir.

— Para a Tárcia? Mas não iríamos atrás do Pérola?

— Preciso mostrar ao meu avô que está tudo bem e principalmente devolver aquilo - apontei para Mário que parecia levemente assustado com toda a situação. Mas também parecia encantado com a minha determinação.

— Não me chame de "aquilo" eu fui um dos que mais ficou preocupado com você - disse Mário com certa raiva.

— Não pedi que ficasse e muito menos que viesse...

— Será bom voltarmos para a Tárcia, ou Siracusa, você precisa tratar seu ferimento com urgência - disse Mário.

— Eu estou bem, pare de drama - disse nervosa.

— Não é drama, você precisa de cuidados antes de voltar ao alto mar e...

— Realmente, vamos para Tárcia! O mais rápido que conseguir, Kyle! - gritou Jack cortando o pensamento de Mario. Jack afastou Mário de mim e me pegou no colo. - Levarei a Capitã para repouso até chegarmos ao nosso destino, garoto - ele disse a última palavra com desdém.

Jack me levou para a cabine do capitão e me colocou na cama. Achei aquele teatro ridículo, mas deixei que fizesse aquilo, era romântico de certa forma.

— Quer ver como a ferida está? - Jack perguntou se sentando perto da minha perna ferida.

— Acha que é uma boa ideia? - perguntei sem muita coragem de vê-la.

— Assim poderemos saber como cuidar dela. Se realmente precisaremos ficar na Tárcia ou não.

— Então tudo bem... - respirei fundo, com medo do quão terrível poderia estar e o pior, se eu teria que ficar presa lá para curar isso. 

Jack rasgou a barra da minha calça e então eu vi o quão fundo estava. Só de ver, parece que doeu ainda mais. Meu sangue brilhava de tão vivo. Haviam três buracos grandes e profundos. Me arrepiei de ver.

— Como você ainda não desmaiou? - Jack perguntou.

— Deve ser culpa dos poderes de Eris. Mas eu ainda sinto dor e muita.

— Vou tentar estancar até chegarmos na Tárcia, ok?

Jack saiu para procurar os medicamentos. Assim que ele saiu comecei a refletir sobre as coisas que ouvi na caverna, como Jack não seria o ideal pra mim? Será mesmo que estamos juntos por falta de opção? Ou será que ele que está comigo por falta de opção e ele realmente ama Elizabeth? Droga, essa caverna acabou colocando minhocas na minha cabeça. Não pensarei mais nisso. Jack é atencioso comigo e a caverna só queria me prender lá por mais dias até que o dragão me devorasse. Era tudo bobagem.

Olhei para o lado e vi o caderno de minha mãe. Puxei ele até mim com meus poderes e fui até a última folha. Fiz uma caneta de pena aparecer em minha mão através de uma leve fumaça e comecei a escrever sobre a aventura que vivi na caverna. Não coloquei detalhes do que ouvi, mas deixei claro que a caverna mostra seus piores pesadelos, seus maiores sonhos e gosta de brincar com a sua mente.

Mas o mais interessante eu deixaria para depois, bem depois, eu escreverei aqui, mamãe, sobre o meu Dragão da Água. 


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