Chance escrita por Eeryn


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

1ª fanfic depois do hiatus mais longo da história das fanfics!

Este é um excerto de uma fanfic (não publicada) que eu não consigo acabar, mas resolvi desenvolver a parte do Kukai e da Utau.
Estes acontecimentos têm lugar sete anos depois de Shugo Chara Encore (a maior bênção que as Peach Pitt nos deram).
Espero que gostem!



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Sete anos após o casamento de Sanjou e Nikaidou, o grupo conseguiu manter-se unido. Apenas Yaya permanecia na cidade juntamente com Kairi, que havia regressado com os seus pais para estar mais perto da sua irmã. Ambos completavam os últimos anos na escola enquanto que os restantes ex-guardiões estavam espalhados por outras cidades, cada um a realizar os seus sonhos na Universidade ou, no caso de Utau, nos estúdios de gravação.

Mas hoje era sexta-feira, um dia diferente. Normalmente, era o dia em que todos regressavam às suas casas e se reencontravam, mas com a falta de tempo e a exigência das aulas ou do trabalho os encontros começavam a ser menos frequentes. Mas, desta vez, Yaya tinha conseguido a atenção de todos com um alerta de uma suposta "urgência" e fez com que o primeiro reencontro em meses fosse possível.

Utau também havia sido convidada. Quando começou a “relacionar-se” com Kukai começou também a ser integrada naquele grupo e, apesar de não gostar de admitir, sentia-se bem com eles. No entanto, não estava muito segura de ir a esta reunião. Ao longo todos estes anos, Utau afastou-se de Kukai e evitava encontros desagradáveis com ele. A distância e os ciúmes não os pouparam a uma série de discussões e reconciliações intermináveis durante sete anos. A relação dos dois nunca fora oficialmente definida, mas agora estava muito pior.

A cantora pediu para sair do ensaio mais cedo e apanhou um táxi até ao planetário, onde todos se encontravam sempre. No seu coração sabia que apenas queria ver Kukai uma vez mais, mas negava-se a admitir esse seu devaneio.

Quando chegou, encontrou quase todos à entrada, mas os seus olhos só se concentravam em Kukai. Tentou ignorá-lo e continuou a andar até ao grupo. Todos se riam de algo até que se aproximou e colocou a sua máscara de arrogância a que todos estavam habituados.

-Alguém me pode explicar o que é tão urgente? Não me apetece perder o meu tempo.

-Utau! – Todos a cumprimentaram, mas a cantora apenas sorriu um pouco.

-Então? Alguém sabe o que se passa?

Todos negaram. Ao que parecia, ainda esperavam por Yaya e Kairi, os organizadores deste evento mistério que, pelos vistos, só iriam chegar mesmo à hora marcada.

O ambiente mudou drasticamente quando Utau chegou. Todos sabiam da sua história com Kukai, mas ninguém se intrometia muito, já que não era nada assumido. Amu, que se havia aproximado muito dos dois, estranhou não só a mudança na expressão do futebolista, como também o discurso da amiga. Com o tempo, a confiança tinha crescido e Utau começou a ser um pouco mais dócil e ganhou confiança com todos, por isso já não era normal ser tão dura com os seus amigos, apesar de a arrogância fazer parte dela naturalmente.

-Utau, passa-se algo de errado? – Amu perguntou, deixando o resto do grupo à parte.

-Não se passa nada, só estava a meio de um ensaio e não posso perder o meu tempo assim. – Utau respondeu olhando para o relógio e cruzando os braços. Amu sorriu um pouco.

-Diz lá, não tinhas mesmo saudades nenhumas? – Fez uma pausa e preparou-se para uma resposta brusca. – Nem mesmo do Kukai?

-A sério Amu? Não tenho saudades nenhumas dele, ele podia nem ter vindo que eu não reparava! – fez uma paus na sua explosão de fúria e continuou - Mas confesso, deste ambiente tinha saudades. – Amu sorriu em resposta e Utau continuou – Há umas semanas ele estava na Itália. Disse que estava bem e que tem estado a estudar música. Ele mandou dizer que tem…

-Não quero saber. – Amu interrompeu.

Utau falava de Ikuto que, após o casamento, havia partido novamente na sua viagem, mas desta vez sem se despedir de ninguém. Apenas dava notícias a Utau por ser a sua irmã, mas Amu, apesar de compreender as razões daquela jornada, nunca o perdoou por a abandonar assim depois de tanta promessa.

-Se ele quisesse mesmo que eu soubesse o que anda a fazer dizia-me, ainda tenho o mesmo número.- Amu forçou uma expressão calma para não mostrar a dor que sentia ao pensar nele.

-Amu…

Quando se ia pronunciar, Utau foi interrompida por Kairi e Yaya que finalmente decidiram presenteá-los com a sua comparência. Entraram numa das salas do edifício e Yaya ordenou a todos que se sentassem.

-O que é que se passa de tão urgente? – Questionou Amu, sentando-se num dos sofás juntamente com os outros.

Kairi acenou com a cabeça e desaprovação e desviou o olhar.

-“O que é que se passa?” Ainda perguntam isso? – Yaya parecia ofendida. – A urgência é a estabilidade da nossa amizade!

Ninguém parecia entender e Utau estava a esgotar a sua paciência.

-Estabilidade… Yaya, é mesmo alguma cosa importante ou só viemos perder o nosso tempo? – Perguntou, exasperada.

-Se não queres estar aqui, tens bom remédio. – Protestou Kukai.

Este momento havia sido a gota de água para a loira já incomodada com a presença do moreno. Preparou-se para uma discussão em praça pública e retorquiu:

-Alguém te perguntou alguma coisa?

-Calem-se os dois, já! – Yaya ordenou novamente, interrompendo uma das muitas disputas a que já tinha assistido. – Não percebem? Vocês prometeram, todos nós prometemos! Mas todas as semanas apenas eu e o Kairi aparecemos aqui para uma triste reunião de dois. Só nós é que cumprimos a promessa, vocês são uns mentirosos.

Todos assumiram a sua quota-parte de culpa e retomaram a conversa num ambiente mais leve. Todos contavam como estavam a ser os seus cursos, onde estavam a viver, o que andavam a planear fazer… Mas Utau não era forte o suficiente para não olhar Kukai pelo canto do olho de vez em quando. Os seus olhares eram retribuídos e percebia-se que ambos estavam bastante incomodados com a situação, tão incomodados que Kukai não aguentou mais e saiu para a rua na tentativa de não ter um ataque de raiva à frente de todos.

Depois de estar há algum tempo calada e a bater com o pé no chão repetidamente com nervosismo, Utau levantou-se e saiu também, apressada, deixando atrás de si uma Amu a sorrir com a situação juntamente com Nagihiko.

-Há coisas que nunca mudam! – Disse ele, voltando para a conversa do grupo juntamente com Amu.

Quando saiu da sala, a única preocupação de Utau era encontrar Kukai e confrontá-lo uma vez mais. A personalidade de Utau não era, de todo, a de alguém que se deixa ficar e, depois de muito aguentar, foi atrás da fonte da sua inquietação.

Estava decidida a iniciar o último dos confrontos e a resolver tudo o que ainda estava pendente mas, quando o encontrou concentrado a pontapear fortemente uma bola meia vazia contra a parede, sabia que ele estava irritado. Conhecia-o demasiado bem para saber que não era boa altura para falarem, mas mesmo assim caminhou até ele.

-Que foi agora? – Perguntou antes que Utau se pronunciasse, sem tirar os olhos da bola.

-Não foi nada. – Respondeu ela, tentando parecer indiferente. – Só queria saber qual é o teu problema comigo. Ainda temos alguma coisa a resolver?

Em seguida, apenas se ouviu o barulho brusco provocado pela força do remate de Kukai que fez a bola desaparecer para longe. Com passadas largas e pesadas, aproximou-se de Utau.

-Alguma vez se resolveu alguma coisa? Fartei-me de incertezas, fartei-me da tua falta de tempo e fartei-me do desprezo!

-Falta de tempo? Desprezo? – Utau mostrou-se ofendida, mas logo ripostou. - Tu é que desapareceste daqui e nem voltavas para me ver! Fui eu quem ficou à tua espera!

-E voltava para quê? Para ser trocado por alguma “festa VIP” ou algum dos teus preciosos ensaios? Para além disso, tenho tanto direito a lutar pelos meus sonhos quanto tu!

-Argh! Porque é que tens que ser assim?

-A culpa agora é toda minha? Claro que a santa Utau nunca é culpada de nada! – Respondeu com ironia.

-Já vi que é isto que ganho por me ter envolvido com uma criança!

Instintivamente, Kukai avançou sobre Utau e beijou-a. Nem deu por isso acontecer, já era um reflexo habitual. Durante todo o tempo que estiveram juntos, cada vez que a cantora dizia a palavra “criança” contra Kukai, era esta a sua reação.

-Para de me chamar criança! – Gritou antes de virar as costas a uma Utau atónita.

Depois de uns momentos a entender o que tinha acontecido, Utau percebeu o que tinha desencadeado aquela reação. Tentou recompor-se, deu um passo em frente e puxou Kukai pelo braço. Encararam-se no meio de uma irritação palpável e logo Utau respondeu bruscamente:

-Tu não passas de uma criança, nunca vais mudar.

Desta vez encararam-se por mais tempo. Cada vez se via mais raiva em torno dos dois. A fúria crescia nos olhos de ambos, juntamente com o rancor e o ódio. Mas toda a saudade e a paixão de anteriormente intensificavam-se, trazendo à memória os sentimentos do início daquela relação disfuncional de tantos anos.

Quando deram por si já estavam colados no ósculo com a mais louca amálgama de sentimentos. Não pensavam, apenas agiam em conformidade com as suas vontades numa irracional busca por poder naquela chamada “relação”. Ambos se debatiam por domínio com empurrões e movimentos bruscos, mas nenhum se atrevia a quebrar o beijo. Não se atreviam a mostrar fraqueza.

-Odeio-te. – Soltou Utau entre beijos.

-És detestável.

-Desaparece da minha vida!

-Com todo o gosto… mimada.

-Cala-te!

Em meio de beijos e insultos já nem percebiam o que realmente sentiam. Ambos queriam continuar, mas nenhum dos dois queria admitir. Aquele pequeno espaço nas traseiras do edifício tornara-se no campo de batalha de uma guerra interminável que combatiam há quase sete anos.

-Utau?

Separaram-se severamente quando uma voz os surpreendeu. Utau agarrou a mão de Kukai por impulso, enquanto este tentava procurar uma silhueta na escuridão.

-Já não me conheces?

Desta vez ambos olharam incrédulos para aquela visita tão inesperada.

-Não pode… - Os olhos de Utau já formavam lágrimas de emoção que devastavam a sua face. Correu até ao dono da voz ainda na dúvida se estaria mesmo a ver bem. – Não acredito nisto!

Kukai afastou-se sem ninguém dar por nada. Não queria ficar ali, mas não queria ir embora sem pedir desculpa a Yaya depois de todo aquele esforço para os juntar. No entanto, sentia-se na obrigação de contar o que aconteceu mas, ao mesmo tempo, não queria falar sobre o que não lhe dizia respeito e muito menos queria roubar os sorrisos dos seus amigos.

-Kukai, diz à Utau que a reunião é aqui! Vocês são sempre a mesma coisa! – Reclamou Yaya quando o viu a entrar na sala.

-Eu… Não sei onde ela está. – Mentiu com os olhos fixados no chão enquanto pegava no casaco. – Tive um problema em casa, tenho que ir. Depois falamos.

-Kukai espera… - Amu levantou-se e tentou perceber o que se passava, mas não foi a tempo.

Kukai sempre sentiu que o coração de Utau não lhe pertencia por completo. Ikuto tinha sempre uma parte garantida para si. Apesar de saber que o violinista nunca concordaria com o incesto, custava muito ver Utau sorrir mais que nunca ao receber notícias dele. Kukai também a queria fazer sentir assim, queria dar-lhe aquela alegria e apagar todos os sentimentos impróprios que ela tinha pelo irmão, mas sentia-se derrotado, agora mais do que nunca.

Continuou a andar com o objetivo de chegar a casa, enterrar-se em cobertores e jogar no computador o resto da noite, mas parou num velho parque abandonado e sentou-se no baloiço ferrugento. Sempre que tinha algum problema com Utau era para lá que ia, por isso já era uma ação involuntária depois de tanta discussão.

Permaneceu no mesmo sítio a pensar numa maneira de conseguir esquecer Utau, o seu primeiro e único amor. Mas nada lhe ocorria, já tinha esgotado todas as suas hipóteses. Amava-a como nunca conseguiu amar ninguém e era por isso que cada desentendimento doía tanto, como se um punhal o perfurasse lentamente no peito.

Desistiu. Rendeu-se aos sentimentos e deixou de tentar mudá-los. Podia nunca mais a ver, mas nunca a esqueceria. Deixou-se balançar levemente enquanto o som do ferro a ranger o acompanhava naquela noite encoberta.

-És mesmo idiota. – Aquela voz suave irrompeu do negrume à sua volta e o seu baloiço parou. – Depois deste tempo todo ainda achas que quero alguma coisa com o meu irmão?

Kukai ergueu a cabeça e encontrou Utau atrás de si, com um sorriso carinhoso lindo que lhe trazia memórias tão agradáveis. Nestes últimos tempos era um sorriso raro de se ver, então decidiu dar-lhe uma oportunidade.

-Eu não te odeio e não quero mesmo que desapareças da minha vida. – Utau continuou até ser interrompida por um beijo.

-Repete! – Pediu Kukai, acariciando a face da loira, que logo adotou a sua postura habitual.

-Nunca!

-Por favor.

-Não!

Kukai sorriu e abraçou-a. Sabia que fazê-la admitir algo uma vez era um feito incrível, mas uma segunda vez já seria um milagre. Ficaram ali por algum tempo, abraçados, envolvidos por um silêncio que nunca se tornava incómodo. Queriam aproveitar antes que alguma bomba voltasse a explodir levando consigo aquele clima calmo e agradável.

-Acho que precisamos os dois de crescer. – Declarou a loira.

-Pela quantidade de birras, a única criança nesta relação és tu. – Mal terminou a frase e sentiu um beijo ser-lhe roubado impiedosamente. Sorriu com a ação da loira mas não se atreveu a pará-la.

-Agora sou eu que te castigo!

Kukai estendeu a mão a Utau e ambos começaram a andar pelas ruas daquela cidade. Já não tinham uma conversa que não envolvesse gritos e insultos há muito tempo, por isso queriam aproveitar o máximo que podiam. Utau falou dos seus projetos e Kukai falou das suas aventuras na universidade. Apesar da distância, ambos estavam felizes a concretizar os seus sonhos, por isso decidiram dar mais uma oportunidade àquela relação. Seriam mais compreensivos, mais calmos menos competitivos e…

-Utau, aquela não é a loja de ramen onde íamos há uns anos?

Ao ouvir estas palavras, a loira voltou a sua atenção para o estabelecimento e sentiu alguma movimentação no seu estômago. Sorriu e cruzou os braços numa pose vitoriosa.

-Não estejas com ideias, ainda como mais ramen do que tu em menos tempo. – Declarou.

-Isso é algum desafio? – Perguntou Kukai com os olhos a brilhar, recebendo em troca um olhar igualmente desafiador.

-Podes crer!


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Notas finais do capítulo

Fim!!
Li vrias vezes, mas os meus olhos podem enganar-me. Por isso se encontrarem algum erro ou assim avisem por favor :D



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