Camp Hogwarts escrita por Drica O shea


Capítulo 4
The Conversation - Day 3


Notas iniciais do capítulo

Eita demorooooooooou, mas tô de volta! Capítulo escrito mais rápido do que nós podemos comer um pote de sorvete... Hum me deu vontade de comer sorvete agora... haha... Minhas queridas Ginger e Lily ai está! Dedicado à vocês!
Milhões de Beijos.
Nessie



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(Liílian)

Sharks contra Falcons.

Era o primeiro jogo do time de meu irmão naquela edição do acampamento, e todos já sabiam qual seria o resultado: Pontas, Almofadinhas, Aluado e Luke destruindo tudo o que viam pela frente. Eram jogadores muito dedicados, sempre conseguindo converter o esforço em muitos gols. O futebol masculino era a verdadeira estrela do acampamento, a modalidade mais competitiva, e os Sharks eram o melhor time há muitos anos. Eu esperava que, com a entrada de Nate, isso mudasse, mas Pontas também era um jogador muito talentoso e difícil de combater. Desde muito mais novo, ano após ano, ele era o capitão do time dos Sharks, e naquela edição não seria diferente. O vi dando várias instruções aos jogadores de seu time antes do juiz apitar o começo do jogo.

Luke me disse, durante o café da manhã, que eu havia sido um pouco desrespeitosa com James no dia anterior, na enfermaria. Quando disse que ele havia ficado praticamente uma hora esperando do lado de fora por alguma notícia minha, cheguei a achar que ele estivesse mentindo – eu pensava que Pontas era incapaz de qualquer atitude gentil quando se tratava de mim, mas aparentemente ele estava mudando. E sair da zona de conforto onde a maioria das palavras que eu e ele trocávamos eram provocações, era algo definitivamente estranho. De qualquer forma, comecei a me sentir culpada. O garoto havia ido à enfermaria só para me ver, com certeza preocupado por ter sido o responsável por todos os conselhos que eu tentei seguir durante o jogo, e eu havia o tratado como se fosse um estranho qualquer, que havia visitado a garota errada.

Perdi cerca de meia hora em meus devaneios sobre o que deveria fazer a respeito daquela situação, e nesse meio tempo os Sharks marcaram dois gols que eu só havia percebido pois Nate apertava minha mão de um jeito mais forte. Ele não vinha sendo dos mais gentis comigo naquele dia, com certeza estava irritado por eu ter o abandonado e aproveitado o resto da festa sozinha. Mas, bem, a culpa não era minha, quem sumiu em primeiro lugar foi ele.

– Seu irmão joga bem. – Ele comentou comigo, ao que eu assenti, concordando sem prestar muita atenção. – Mas o tal de Pontas é realmente o melhor mesmo. – Ele disse, emburrado. - Detesto admitir, mas aquele primeiro gol foi sensacional, não foi?

– Hum... É, claro, foi demais. – Não sabia do que ele estava falando e decidi me concentrar melhor.
O jogo transcorreu com mais dois gols por parte dos Sharks, e um por parte dos Falcons. Quando o juiz deu o apito final, todos os jogadores, até mesmo os reservas, foram parabenizar Pontas Potter. Eu odiava o quanto ele era bom, e as incontáveis vezes que perdemos a taça do acampamento graças a seu desempenho fenomenal em campo. Não perderam muito tempo comemorando pois, além de estarem acostumados a ganhar dos Falcons, era hora do próximo jogo: Tigers e Bulls. Uma possível revanche depois daquele desastroso jogo do dia anterior? Eu esperava que dessa vez todos saíssem ilesos. De curativos, bastava o que repousava em minha testa.

Acompanhei Nate até a entrada do campo, dando-lhe boa sorte e um longo beijo, nas entrelinhas tentando me desculpar pelo abandono da noite anterior. Acho que consegui, pois ele parecia mais animado. Mas não era para menos: todas as torcidas estavam lá em peso para acompanhar o jogo. Acredito que todos estavam muito curiosos para saber o que o novato tinha a oferecer, e se realmente era tão talentoso quanto os boatos diziam que Nate era. Fiquei feliz em pensar que todos teriam uma “agradável” surpresa, principalmente os Sharks. Voltei à arquibancada, ao lado de minhas amigas, e o juiz não se demorou a apitar o começo do jogo.

– Dorcas. – Vi Lene cutucá-la. - Aconteceu algo demais ontem que eu e Lily não podemos saber?
Desviei minha atenção do jogo.

– Uma hora eu estava com Almofadinhas e vi você numa discussão inflamada com Remo Lupin... O que era aquilo? – Lene ergueu a sobrancelha de uma forma cúmplice.

– Eu... Estava discutindo com ele porque ele pulou pelado na piscina. Isso não é coisa que se faça. Eu esperaria algo assim de Severus Snape, mas não de Aluado. – Ela respondeu, mordendo o lábio meio desconfortável. – Além do mais, não sou obrigada a ficar vendo as partes baixas de todo mundo em público.

– O quê? – Eu dei uma risada. – Não estou entendendo, Dorcs. Qual é o problema do garoto se divertir? Ficou com ciúmes porque as meninas dos Falcons o viram sem roupa nenhuma? – Perguntei, provocando-a. – Eu esperava uma reação dessas de Lene, porque ela pelo menos admite que gosta de Almofadinhas. Mas parece que você vai ser a próxima traidora dos Tigers... E com Remo Lupin, ainda por cima. – Eu e Lene começamos a rir.

Dorcas abriu e fechou a boca várias vezes, procurando algum argumento concreto para se defender em meio as nossas risadas. Não conseguiu, no entanto, pois Nate em dez minutos de jogo fizera o primeiro gol da partida. Apesar dos Bulls terem a fama de não se importarem com as competições, o jogo estava bastante puxado.
O placar marcava 1x1 e Severus Snape havia roubado a bola do volante dos Bulls, armando assim um contra-ataque ao nosso favor. Ele ia correndo com tudo em direção ao gol e estávamos certos de que ele conseguiria, afinal, Snape era um ótimo jogador. Foi tão rápido que eu nem fui capaz de notar, mas quando ele entrou na área do gol, um zagueiro dos Bulls o colocou no chão com um carrinho muito feio.

– Pênalti! – Gritou um Tiger ao meu lado. – Se o juiz não marcar esse, é roubado! – Ele estava furioso.

Pênalti. Porém, a preocupação maior era com Snape e seu tornozelo. Ele levantou mancando um pouco, porém já recomposto do choque. O juiz marcou a falta, que ficou por conta do Snape. Ele fechou os olhos, respirou fundo e deu alguns passos para trás enquanto a tensão enchia as arquibancadas e as torcidas urravam. Chutou - bola para fora. Snape havia perdido um pênalti. Confesso que não sei qual reação foi a mais intensa, a dos Tigers, que xingavam, gritavam e levavam as mãos à cabeça, ou se foi a dos Bulls, que pulavam, se abraçavam, tomavam banho de líquidos como cerveja e refrigerante, tiravam a camisa e ficavam fazendo gestos obscenos para Snape. Os Sharks comemoraram como se fosse um gol deles, mas eu sabia que toda aquela alegria não duraria muito. Nate, em apoio ao colega de time, deu um tapinha nas costas de Snape, que estava ajoelhado no chão se martirizando, não acreditando no que acabara de acontecer. Não demorou para que Nate fizesse outro gol e Snape se redimisse daquele pênalti perdido, marcando também um gol em nosso favor.
É, os Tigers ganharam de seis a zero. Seis, com direito a quatro gols de Nate, um de Snape e outro de um garoto chamado Lucas Dott. Eu e as meninas tentamos nos lembrar, mas era praticamente certeza que nunca houve um placar tão alto no futebol masculino. Nada melhor do que olhar para o rosto de cada um dos membros da torcida dos Sharks enquanto assistiam Nate humilhar cada um dos jogadores dos Bulls. James simplesmente permanecia em silêncio o jogo todo, com a mão cobrindo a boca, pensativo. Almofadinhas e Luke com certeza falavam sobre o garoto, as mãos se agitando rapidamente e apontando para ele de vez em quando, provavelmente questionando como ele fazia tudo aquilo. Já Aluado estava quase chorando em seu assento. Era hilário.

O juiz apitou o fim da partida e toda a torcida laranja e preto invadiu a quadra, pulando nos jogadores e, é claro, dando toda a atenção – merecida – a Nathaniel. Esperei pacientemente todos os cumprimentos, abraços e aplausos a ele, e depois me joguei em seus braços, dando-lhe um beijo caloroso, repleto de gratidão.

– Você estava completamente errado. – Disse, e ele me olhou sem entender. – Não é Pontas. Você é o melhor, e vai ganhar os jogos de Camp Hogwarts para nós. Eu tenho certeza. – O abracei apertado, sentindo-me absurdamente feliz.

Saímos do campo em um só bloco, cantando hinos animadamente, quando avistei Pontas, saindo de cabeça baixa das arquibancadas, com meu irmão e seus amigos em seu encalço, todos visivelmente decepcionados. Pensei nas coisas que Luke havia me dito no café da manhã sobre ter sido grossa com ele, e decidi que era melhor conversar e pedir desculpas. Ele me ajudou e eu não queria ser mal agradecida. Me desvencilhei rapidamente dos braços de Nate e corri até eles.

– Pontas! – O chamei, sendo recepcionada por um meio sorriso de meu irmão, que já tinha alguma ideia que mais cedo ou mais tarde eu faria isso.

O garoto me olhou um tanto carrancudo, com uma expressão irritada.

– O que foi agora, Lily? Veio aqui jogar na nossa cara a performance do seu namorado? – Ele perguntou. – Pelo menos os boatos nunca mentem.

– Ele não é meu namorado. – Respondi de imediato, balançando a cabeça em negação logo depois. Não era com James Potter e muito menos na frente de meu irmão e seus amigos que eu iria discutir essa questão. – De qualquer forma, não foi pra isso que eu vim aqui. E muito menos pra deixar você ser estúpido comigo. Vim pedir desculpas por ontem. Porque ao contrário do que você pensa, eu não sou idiota a esse ponto de vir aqui me gabar por qualquer coisa. Só queria ser legal e dizer que estou arrependida por como te tratei na enfermaria. Mas deixa pra lá.

Percebi que era perda de tempo tentar uma aproximação com Pontas. Não nascemos para sermos amigos, para treinar juntos ou pedir desculpas um para o outro, mas aparentemente só eu não entendia isso. Dei as costas a ele sem esperar uma resposta, mas senti sua mão em meu ombro.

– Espera, Lily! – Ele pediu. Dava para ver que estava envergonhado pelo que tinha dito. – Agora não é um bom momento pra conversar, como você deve imaginar. E hoje durante a tarde as garotas tem jogo de handebol. A gente pode se ver à noite? – Ele perguntou, esperançoso.

– Claro... Quer dizer, acho que sim. – Respondi.

– As dez, no deque. Tudo bem pra você? – Ele questionou, um pouco envergonhado. Parecia que estávamos combinando um encontro, e ele fazia isso na frente de meu irmão. Assenti com a cabeça e me despedi de todos eles, voltando à minha torcida.

Procurei por Nate e as garotas, mas só consegui encontrar Lene. Contei a ela que tentara pedir desculpas a Pontas, mas em troca acabei conseguindo um convite para uma conversa que seria, no mínimo, bastante estranha. Ela me respondeu que eu não devia satisfações sobre o que fiz ou deixei de fazer a James Potter, mas que se eu fosse me sentir melhor fazendo isso, não seria ela que me julgaria. Prometeu que tentaria sondar Almofadinhas e descobrir se Pontas estava mesmo puto comigo como Luke havia dito. É claro que eu sabia que essa história toda era só um pretexto para Lene passar mais tempo com ele, mas deixei a garota em seu mundo de ilusões, achando que podia me enganar assim tão facilmente.

No caminho para meu quarto passei pela enfermaria, e vi Snape saindo de lá. Pensei que ainda estivesse sentindo o tornozelo que fora machucado durante a partida, mas ele aparentava estar feliz. O espírito de vitória havia contagiado a todos e estávamos mais felizes do que de costume: ele acenou de longe com a cabeça e eu retribuí, sorridente.

Encontrei Nate e Dorcas na hora do almoço: o primeiro havia ido tomar banho, já a segunda hesitou em me contar o que estava fazendo quando a procurei, mas acabou admitindo que também havia ido pedir desculpas a alguém. Aluado apenas achou graça na garota e mal lembrava que haviam discutido durante a festa. O que ele não imaginava é que isso iria render uma nova discussão sobre o mesmo assunto: agora que estava sóbrio, Dorcs o repreendeu mais uma vez pela grande ideia de nadar pelado. Ele a perguntou por que isso a incomodava tanto, o que a deixou completamente sem resposta. Nem ela, nem ele, nem ninguém sabiam qual era o problema tão grande.

O resto do dia passou sem maiores emoções. Quando a noite chegou, decidi por contar a Nate que teria uma conversa com Pontas – tudo para evitar situações complicadas depois. Ele não gostou muito, é claro, mas entendeu e me agradeceu pela honestidade, dizendo que provavelmente iria dormir mais cedo. Estava cansado pelo jogo de hoje e queria armazenar energias para o próximo, que seria logo no outro dia. Dei-lhe um beijo de boa noite depois do jantar e segui meu rumo até o lago. Era uma linda noite, como todas em Camp Hogwarts. O tempo sempre estava a nosso favor, todos os anos reservando um céu limpo e a lua prateada refletindo no enorme lago. Pontas ainda não estava lá, então decidi me sentar à beira do deque de madeira e esperá-lo. Pensei nos próximos jogos que viriam: até aquele momento, só perdemos o fatídico jogo de futebol feminino – do qual com certeza eu não participaria mais uma vez. Os outros cinco jogos foram facilmente ganhos: o problema é que os Sharks ainda estavam invictos. Mas conseguíamos manter uma boa média e eu realmente acreditava qu...

Dei um grito ao sentir duas mãos me empurrando em direção ao lago, porém, na hora em que eu estava prestes a cair, fui segurada e colocada de volta no lugar.

– Filho da puta! – Xinguei, sentindo meu coração parado por alguns segundos. É claro que era Pontas, eu não precisava nem olhar para trás. Suas risadas começaram a encher o ambiente enquanto ele se sentou do meu lado. – É sério, nunca mais faça isso comigo! – Falei, ofegante do susto e começando a sentir a área de minha testa escondida pelo curativo latejar pela tensão momentânea. - Se eu caísse você ia se arrepender...

Ele continuou a rir, deitando na madeira do deque com as mãos segurando o peito.

– Idiota. – Respondi, cruzando os braços. Pontas respirou fundo, entre risadas, e se sentou novamente.

– Não pude perder a oportunidade, Lily. – Ele respondeu, simplesmente.

Ficamos alguns segundos em silêncio, cerca de um minuto olhando para o nada. Lembrei que estávamos ali por minha causa, já que eu havia o procurado após o jogo dos Tigers.

– Sinto muito. – Decidi falar de uma vez. – Luke me disse que eu te tratei mal ontem na enfermaria, e realmente não era minha intenção. Você foi tão legal comigo com aquela ideia idiota de ser goleira, e tudo que eu queria era poder retribuir. Mas acabei estragando tudo. Só queria deixar claro que eu fiquei feliz que você me visitou ontem. De verdade. Obrigada.

Fiquei o observando, aguardando sua reação. Era minimamente estranho ser uma pessoa legal com James Potter, mas eu me sentia bem depois de pedir desculpas a ele. Ele apenas encarou o lago com um sorriso por um longo momento e, quando eu menos esperava, respondeu:

– Você se lembra daquele acampamento de quando tínhamos doze anos?

Achei uma pergunta um tanto esquisita da parte dele, mas assenti com a cabeça, sem dizer nada.

– Lembra daquele Verdade ou Desafio em cima de uma das mesas de madeira? – Percebi onde ele queria chegar, imediatamente sentindo minhas bochechas começarem a ruborizar. Aquele realmente não era o momento apropriado para falar sobre aquilo. Nenhum momento seria apropriado o suficiente, na verdade. – Você lembra que Luke desafiou a gente a... Hum, se beijar? Sei que você ficou morrendo de vergonha, e logo depois Luke me disse que havia sido seu primeiro beijo. Me senti meio mal aquele dia por ter feito isso com você. Então peço desculpas.

O quê? Como diabos Luke sabia que aquele era meu primeiro beijo? E como Pontas ainda se lembrava até mesmo de quem havia nos desafiado? Agora minhas bochechas estavam roxas.

– Eu, é... Eu... Eu só... – Comecei a gaguejar como uma idiota e decidi mudar de assunto. – Fui eu quem colocou aquele absorvente aberto no seu colchão. Mas não era sangue, era só esmalte vermelho. – Disparei.

Ele franziu as sobrancelhas e depois curvou o corpo, aliviado.

– Sério? Me sinto muito melhor agora. Acho que aquela foi a cena mais nojenta da minha vida. – Ele começou a rir. – Eu roubei a ultima panqueca do seu prato dois anos atrás.

– Eu dei uma moeda que tinha os dois lados de coroa ao juiz na final do futebol masculino do ano passado. – Eu confessei.

– Eu que convenci Almofadinhas que ficar com Lene era uma boa ideia. – Ele admitiu.

– Eu gostei de quando você me beijou.

Tapei a boca imediatamente depois daquela revelação inesperada, odiando a mim mesma. James virou-se para mim com uma cara estranha, com um quê de confusão.

– Gostou? – Eu não respondi, apenas olhava para meus pés, que roçavam a água do lago. – Lily, por favor. Só me responde. Não é nada demais. Não somos mais crianças. Não sou mais o garotinho que fez piada porque você se inscreveu nos Tigers.

Resolvi assentir com a cabeça, extremamente envergonhada. Ele estendeu sua mão em minha direção, tirando-a de minha boca e segurando-a amigavelmente.

– Tá tudo bem. Só fiquei surpreso. Sempre achei que eu havia estragado seu primeiro beijo. Que graças a mim você perdeu sua chance para uma pessoa que nem gostava. – Ele deu de ombros, enquanto eu tentava me acostumar com o toque quente de sua mão na minha.

– Nunca pensei nisso, Pontas. – Eu resolvi admitir de uma vez por todas. Já que havia me metido naquela confusão, era melhor tentar sair com dignidade. – Nós somos colegas de infância. Com certeza foi melhor que beijar pela primeira vez com um desconhecido. Além do mais, é algo bobo. Não tenho por que me preocupar com um simples beijo idiota.

– É, você tá certa. – Ele concordou com a cabeça. – Mas hein, que história é essa de moeda viciada na final do futebol? – Pontas perguntou, soltando sua mão da minha e erguendo sua sobrancelha, e eu comecei a rir.

Passamos pelo menos uma hora com confissões de histórias bobas da infância, lembranças em comum do acampamento e inúmeras perguntas e curiosidades sobre a vida fora de Camp Hogwarts. Nada num grau de intimidade muito profundo, apenas assuntos leves que nos distraíram por um bom tempo. Pontas tinha ótimos assuntos e as mais diversas opiniões sobre tudo, e eu me arrependi de não ter explorado esse lado do garoto antes. O tempo passou rápido e nós nem percebemos.

– Quer dizer então que Lene e Almofadinhas vão se casar um dia por sua causa? Eu não acredito nisso... – Eu ri. – Eu penso que os dois são feitos um para o outro. – Disse, pensativa.

– É... – Ele respondeu, olhando para mim com um sorriso. – Eu nunca imaginei que fosse dar certo, só insisti para poder dar boas risadas no outro dia. Mas olha só no que deu. Aí estão eles, até hoje. Às vezes algumas ideias são apenas algo que parece idiota. Mas, no fim, valem a pena. Que nem conversar com você hoje. Valeu a pena. – Ele disse, de repente.

Devolvi um sorriso e, sem esperar nem um pouco por isso, Pontas inclinou-se e beijou meus lábios num leve toque, macio e quente. Arregalei os olhos, assustada. Ele se afastou, analisando minha reação. Quase que involuntariamente, repousei uma de minhas mãos em seu pescoço, como um convite. Ele se inclinou de novo e, dessa vez, meus olhos se fecharam para sentir seu beijo. Era bom, calmo e doce. Minha cabeça automaticamente tombou para o lado, dando mais espaço a Pontas. Ele acariciava meu cabelo, e eu sentia arrepios nos braços, o que me fazia apenas querer ficar mais tempo ali, apenas provando dele. Até que caí de cara com a realidade.

– Não, Pontas. – Me afastei, e ele olhou para baixo, sabendo que era uma má ideia. – Você sabe que não. – Disse, me levantando. – E dessa vez não sou eu que preciso pedir desculpas. – Dei um sorriso amargo, dando as costas a ele e seguindo o caminho de meu quarto, completamente perplexa e confusa. Ele não me seguiu.

Passando pelas árvores, arbustos, mesas e bancos de madeira, apenas conseguia pensar em Nate. Que fora até a cidade de Leventon somente por um pedido meu. Não havia palavras para descrever como eu havia sido idiota, egoísta, e absolutamente filha da puta. Se tudo tivesse parado no primeiro beijo, se eu não tivesse fechado meus malditos olhos... Como eu conseguia ser tão idiota? Nate, que fora dormir mais cedo confiando em mim. Logo ele, que me carregou no colo porque minha cabeça doía... Doía ainda mais agora. Eu sentia o inchaço pulsar em minha testa, como se ele tivesse vida própria e me culpasse por ser uma cretina, uma completa traidora. Nate não merecia isso. O pobre Nate, que estava logo ali, deitado na grama, dormindo como um anjo e...

Espera. Deitado na grama? Voltei meus olhos a grande árvore e sim, lá estava ele. Deitado, com os braços esticados no chão. Franzi a sobrancelha por um segundo, pensando que ele provavelmente estava bêbado. Mas não havia tido nenhuma festa naquele dia. Não havia um motivo para aquilo. Mais um segundo de observação e fiz a constatação horrível de que o pesado banco de madeira maciça estava virado no chão. Em cima de sua perna.

Corri até ele o mais rápido que consegui, preocupada. Sua perna direita estava dobrada em um ângulo totalmente estranho, que em situações normais com certeza ele não conseguiria repetir. Tentei empurrar o banco, fazendo todo o meu esforço, mas era algo totalmente além do que minha força conseguiria. Era grande o suficiente para umas seis pessoas sentarem-se com comodidade. Eu nunca conseguiria removê-lo. Ajoelhei-me ao lado de Nate, chacoalhando-o rapidamente, mas ele também não acordava. Era como se estivesse completamente nocauteado. Comecei a me desesperar e gritei pela única pessoa que estaria próxima e poderia ajudar.

– Pontas! – Gritei, o mais alto que consegui. – Pontas, por favor! – Lágrimas começaram a cair por meu rosto, eu ficava mais desesperada a cada segundo. – Por favor... Pontas!

Ele apareceu, correndo, em cerca de dez segundos. Ficou por um momento paralisado, analisando aquela situação bizarra em que estávamos metidos. O banco, Nate totalmente desacordado e eu me debulhando em lágrimas, perdida no meio do pânico. Correu até onde eu estava e, sozinho, porém com muito esforço, conseguiu afastar o banco da perna de Nate. Dizem que as pessoas conseguem triplicar sua força em situações que exigem muita adrenalina, e parecia ser o caso. Só me perguntava por que esse aumento de força repentino nunca parecia acontecer comigo.

– O que aconteceu aqui? Como a perna dele... Por que ele não acorda? Tinha um banco imenso em cima dele! Por que...? – Pontas também começou a se desesperar, fazendo perguntas incompletas.

– Eu não sei... Quebrou, não quebrou? – Perguntei, me referindo à perna de Nate e fungando, sentindo que meu nariz começaria a escorrer em questão de segundos. – Leva ele pra enfermaria, me ajuda... – Eu chorava, inconsolável.

Pontas puxou Nate, dando tapas fortes em seu rosto, mas nem sinal do garoto voltar à consciência. Quando decidiu que ele não acordaria tão cedo, passou o braço de Nate por seu ombro, arrastando-o a caminho da enfermaria. Foi o minuto mais longo da minha vida, eu me sentia completamente inútil. Chegamos gritando por ajuda, e a enfermeira, também confusa, rapidamente ajudou Pontas a colocá-lo numa maca, e entrou na sala onde o médico do acampamento fazia seu plantão, fechando a porta. Desabei no sofá da sala de espera, ainda chorando sem parar. Minha sensação de culpa era horrível. Pontas sentou do meu lado e, assim como fez com Nate, passou o braço por mim, apoiando minha cabeça em seu ombro. Dessa vez, não ofereci resistência. Precisava daquilo.

Acredito que pelo menos vinte minutos se passaram até que eu voltasse a respirar normalmente e parasse de chorar como uma louca. Quando eu apenas ofegava, com os olhos vermelhos, Pontas se levantou e buscou um grande copo d’água para mim. Enquanto eu fazia esforço para beber, entre um gole e outro, o disse:

– Vai embora, Pontas. Não precisa ficar. Eu vou ficar aqui esperando por ele, nem que seja a madrugada toda.

Ele se limitou a se sentar do meu lado, olhando para mim decidido.

– E te deixar sozinha nesse estado? – Perguntou, e antes que eu pudesse abrir a boca para responder, ele me cortou. – Não vou a lugar algum, Lily. Não se preocupe comigo.


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Notas finais do capítulo

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