Another day in paradise escrita por Vanessa Hoffmann


Capítulo 4
Capítulo 3 - Tears in heaven




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/565067/chapter/4

Beyond the door

Além da porta

there's peace I'm sure

Existe paz, tenho certeza

And I know

E eu sei

there'll be no more

Que não haverá mais

tears in Heaven

lágrimas no paraíso

Se existia um inferno, Naruto estava experimentando um pouco dele naquele momento. Com o rosto pressionado contra a mesa, tentava espiava por baixo dos braços. Seus olhos percorriam a linha entre Sasuke, Kiba e a garota estranha, que parecia estar alheia ao falatório constante daquele imbecil sentado ao seu lado, embora algumas vezes pudesse jurar que a tinha visto responder algo sem quase mexer os lábios ou balançar a cabeça em gestos de negação e afirmação.

Divertiu-se ao pensar que nem aquela estranha parecia querer dar atenção a ele. Com aquele rosto quase inexpressivo, que só se alterava ao revelar sentimentos de medo e angustia, limitava-se a encarava suas mãos sobre a mesa e mantinha os olhos baixos.

Ajeitou o ângulo entre o braço e a mesa para poder ver melhor a dupla desproporcional no fundo da sala. Viu quando aproximou os lábios de seu rosto e falou algo que não conseguiu decifrar, sentiu uma ânsia de vômito.

Deus¸como ela consegue?

Porém, a sensação de ânsia sumiu quando, pela primeira vez, ela ergueu o rosto e seus olhos entraram no mesmo eixo.

Embora fosse clichê, seus olhos eram realmente como janelas da alma, mas não da que pertencia a ela, mas a ele próprio. Diante daquele misto de sentimentos, podia jurar que vira uma cópia daquilo tudo refletida em seu próprio olhar ao ver-se no espelho pela manhã, antes de ir ao psicólogo.

Reconhecia a angústia, a aflição, o medo e, mais ainda, o pesar.

Aquilo era tão familiar que se perguntou por um momento se eles não eram espelhos que só refletiam os sentimentos dele, embora soubesse que não era possível. Será que sabia que a estava olhando ou acreditava que usava os braços para esconder o sono e não para espiá-la? Será que o reconhecia? Será que ela o conhecia? Será, pelo menos, que olhava para ele ou focava algo que estava em sua direção?

Perguntas e mais perguntas pipocavam em sua mente pelo que pareceu ser uma eternidade dentro daquele olhar que o assustava por ser tão semelhante ao seu nos dias ruins, mas era tão morgamente reconfortante saber que alguém poderia sentir as mesmas coisas que ele...

Porém, tinha o bônus de ser o tipo de pessoa que preferia sofrer calado, ou revelar seu sofrimento a apenas uma pessoa, enquanto ela parecia se retrair e expor seu medo a quem quisesse observar, como um maneira inversa de impedir que ele se aproximasse dela. Ou talvez, em uma hipótese que ele imaginava ser difícil, mas plenamente possível, o mundo da estranha poderia ser ainda mais quebrado que o seu...

Quebrando o contato que os unia, Naruto ergueu a cabeça querendo afastar de si os milhares de hipóteses que se formavam em sua mente. Era mórbido demais ficar pensando em todos os tipos de sofrimentos humanamente possíveis e morbidez era tudo o que evitava.

Então, como se todo o ar fosse sugado da sala de uma vez, sentiu que não conseguia mais respirar. Era como se mãos tivessem lhe agarrado pelo pescoço em um aperto fatal. Tentou forçar o ar pelos pulmões, mas a queimação que lhe descia era pior que não conseguir respirar.

No fim, foi questão de segundos até o mundo escurecer e ele perder os sentidos.

#

Acordou com uma luz branca industrial piscando discretamente sobre sua cabeça. Ventiladores de teto giravam em uma velocidade insuficiente para gerar vento. Cabeças multicoloridas o olhavam assustadas.

Seria estranho rir naquele momento? O pânico em seus rostos era hilário e queria rir dele. Achou que não seria estranho, mas tampouco não conseguiu, seu corpo formigava e a boca estava dormente demais para obedecer comandos.

Observando todos do chão da sala, sentia uma leve dor na nuca e os ouvidos latejavam quando vozes confusas e distantes começaram a se fazer ouvir.

Piscou.

– Naruto, você está bem? – uma voz destacou-se no meio de tantas outras quando viu uma cabeleira branca e desgrenhada tapar a lâmpada. – Alguém pode ir chamar a enfermeira? – sua voz era urgente.

Tentou falar, mas não conseguiu. Tentou gesticular com a cabeça, mas o pescoço parecia duro demais. Piscou novamente, mas de maneira longa.

– A enfermeira não está na sala – pode ouvir a voz de Sakura cheia de desespero.

– Ele vai morrer?

– Não, ele apenas desmaiou – ouviu o professor responder.

– Na... Naruto, pode me ouvir?

– Isso no chão é sangue?

– Acho que ele bateu com a cabeça.

– Ele não vai morrer, não é? Está sangrando.

– Na... Naruto, está me ouvindo?

– Ele bateu com a cabeça, idiota.

Sabe quando você está dormindo e o despertador de acorda? Aquele susto que você toma com o barulho que surge no meio de um sonho que você não sabia tratar-se apenas de um sonho? Quando este sonho é tranqüilo e agradável, até mais que a realidade em que se vive? Naruto estava com medo que aquilo acontecesse quando a viu ajoelhada ao seu lado.

Com os lábios um tanto trêmulos, mas o rosto cheio de preocupação, apareceu ao seu lado e colocou uma das mãos sobre seus punhos e a outra sobre a testa.

– Ele está gelado. Deve ter tido uma crise de pressão – sua voz saia como um sussurro, mas claro o suficiente como notas de piano.

Naruto tentou sorrir mais uma vez e dizer que estava bem, mas a expressão do rosto dela continuou preocupada.Viu Sakura se abaixar ao seu lado e lançar um olhar irritado para a estranha.

– O que você sabe sobre isso? Ele pode estar morrendo aqui e você dizendo que é só uma crise de pressão. É médica, por acaso?

Os ombros delicados como asas de passarinho se encolheram diante da rosada que parecia irritada com sua aproximação, mas o tom de voz era firme quando disse:

– Eu sei um pouco sobre enfermagem...

Sakura a fuzilou com o olhar.

– Mas não é médica – e, voltando-se para os outros, rugiu: - Parem de ficar só olhando e vão atrás da enfermeira.

Com um pouco das forças recuperadas, fez força para se sentar, movimento que foi notado pela amiga. Rapidamente, ela o empurrou de volta ao chão.

– Continue deitado, Naruto. Ai, alguém tem algo que eu possa usar para estancar o sangue?

Com gestos temerosos, a estranha puxou o lenço amarelo que prendiam seus cabelos e o entregou a Sakura, que pegou a contragosto. Dobrou em quatro pedaços e colocou sob sua cabeça. Sentiu uma pontada informar-lhe que ali seria a fonte de muitos dos seus problemas.

– Eu estou bem – conseguiu falar quando parte de suas forças pareceram voltar, mas foi completamente ignorado e novamente pressionado contra o chão.

– Não... Não se mexa – pediu a morena enquanto a rosada ignorava sua existência ali.

Não fez oposição e, antes de desmaiar novamente, deu-se conta de que sua mão pequena e quente havia deslizado pelo seu punho até se posicionar em um aperto firme em seus dedos.

Se existia um inferno, Naruto estava experimentando um pouco dele naquele momento, mas, se existisse um céu, poderia estar olhando diretamente para as portas do paraíso.

Permitiu-se então ser levado pelas sombras.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Desculpem o capítulo curto e um tanto confuso, mas tive provas e precisei estudar, além do fato de não ter dormido nada de sexta para sábado e precisar estar as 8 da manhã na faculdade para a fazer a segunda chamada de um prova que perdi :/
O Naruto teve um sincope que próximo capítulo vai ser explicada. Além do mais, lembram do lencinho de cabelo que a Hinata entregou pra fazer o curativo? Tenho planos pra ele hahaha. Quarto capítulo o Naruto finalmente vai abrir a boca e falar com a Hinata. Desculpem enrolar vocês tanto.