Premonição 9: A Dama no Escuro escrita por Lerd


Capítulo 8
Conexão


Notas iniciais do capítulo

Oitavo capítulo no ar! :D reta final, depois desse faltam só mais dois! Eles não demorarão, eu prometo ;)

Eu revisei o cap. duas vezes, mas se notarem algum erro, não se acanhem em me avisar!

Espero que gostem e, se houve algum leitor fantasma por aí, comente! :D



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Andi pintava como se fosse morrer a qualquer momento.

Diante da tela branca no quintal dos fundos de sua casa, a garota fazia movimentos mágicos com o pincel. A imagem que ela desenhava ali não seria clara para os outros, mas ela sabia exatamente do que se tratava. Misturava os diversos tons de vermelho como se disso dependesse sua vida. Mas não é essa a verdade, é? Quem dera ela estivesse ao meu alcance.

Ao fundo uma música tocava, proveniente do pequeno rádio branco que ela colocara na varanda:

Don't want your hand this time I'll save myself

Maybe I'll wake up for once

Not tormented daily defeated by you

Just when I thought I'd reached the bottom

I'm dying again

Riley ligara para ela logo no começo da manhã para não incomodá-la durante a madrugada, mas Andi não havia conseguido dormir, de qualquer forma. Aparentemente, Nina fora salva do acidente que causaria a sua morte. Asfixiada por gás carbônico. Seria um jeito calmo pra se morrer. Andi não conseguiu evitar o mórbido pensamento de que, se fosse pra ela morrer, preferia que fosse como Nina quase morrera. Dormindo, em paz. Mas no fundo ela sabia que muito provavelmente não teria aquela sorte.

Para piorar as coisas, Lucas estava totalmente incomunicável. Ela passara a madrugada inteira tentando contatá-lo, porém sem obter sucesso. Ele é o próximo. Pelo menos era o que Riley havia dito. Apesar disso, Andi não acreditava que a morte havia desistido de Nina. Ela não morreu, certo? Então porque a lista partiria para o próximo? Riley, porém, preferia não arriscar, se esforçando para que o amigo ficasse sabendo que ele poderia ser o próximo a morrer.

Assustada com a possibilidade dele já ter sofrido algum acidente, Andi tomara a iniciativa de ir até a casa dele logo quando o sol surgiu. Não havia ninguém lá, mas uma vizinha que a viu apertando a campainha de modo insistente, dissera que os Alighieri estavam em uma viagem para Malibu. Malibu! E o Lucas nem se deu ao trabalho de nos avisar!

Frustrada pela situação, ela contou à Riley sobre o que havia descoberto na noite anterior, ao visitar o site de Babe. Intrigada, a ruiva ligara para o número e descobrira que a tal Lola ainda existia, e que ela ainda realizava suas reuniões em uma cidade vizinha à deles, há poucos quilômetros de distância. Decididos a não perder tempo, Andi, Riley e Paris iriam conhecer a tal Lola ainda naquele dia, logo após o almoço. Diante da possibilidade de Nina ainda não ter escapado da lista, Junior ficaria com ela, na cidade, vigiando-a da melhor forma que pudesse. Lucas, por sua vez, continuava sendo uma incógnita. Para Andi, ficar sem saber se ele estava bem era extremamente angustiante.

Blurring and stirring the truth and the lies

So I don't know what's real and what's not

Always confusing the thoughts in my head

So I can't trust myself anymore

I'm dying again

Talvez fosse por isso que ela pintava de maneira tão ansiosa. Não ter controle sobre as coisas era algo que sempre fora um problema para Andi. Naquela situação, em que a vida de seu antigo melhor amigo estava na linha, aquele pensamento se intensificava ainda mais. Andi queria poder arrastá-lo pela gola da camiseta de Malibu até ali, mas ela não podia. A cidade era grande, ela nem ao menos sabia onde ele estava. Era a sensação mais frustrante de todo o mundo.

Paris e Riley viriam buscá-la a qualquer momento, de modo que Andi já estava pronta para sair. Vestia-se com um macacão jeans e um top roxo por baixo, completado por um par de Converse brancos nos pés. Em seu rosto, a maquiagem forte não existia, sendo substituída por um leve batom cor de rosa e nada mais. Ela estava de óculos, e os fios de cabelo violetas estavam presos em um coque baixo. Quem a visse ali provavelmente não se lembraria da garota gótica do ensino médio. Para Andi, aquela mudança fora natural, mas era provável que as outras pessoas não a compreendessem. No fim das contas, a garota estava acostumada a ser mal compreendida.

Quando Andi ouviu a buzina na frente de sua casa, soube que se tratava de Riley e Paris. Ela rapidamente largou o pincel em cima do cavalete e saiu, trancando a porta de trás da casa e pulando a pequena cerca de madeira branca que dava em direção à rua.

Riley saiu do carro e abraçou a amiga com força, ficando assim por vários segundos. A ruiva não sabia exatamente o motivo, mas ao ver Andi ali na sua frente, viva, só teve vontade de abraçá-la e não soltá-la nunca mais. Talvez fosse o mesmo sentimento que a garota de cabelo azul estava sentindo em relação à Lucas: saber que a vida dele estava fora do controle delas, fazia com que elas não quisessem deixar aqueles que estavam próximos escaparem.

— Amiga, eu te amo. Você sabe disso, certo? Sabe que eu te amo? — Riley disse de repente, quando elas se soltaram.

— Claro que eu sei, amiga. Eu também te amo muito.

A ruiva sorriu de maneira pragmática com a fala da amiga. Ela sabia que se continuasse ali, olhando para ela, iria chorar. Então rapidamente tentou mudar de assunto, pedindo que Andi se sentasse no banco traseiro do carro e sentando-se ao lado de Paris, que estava na direção. O rapaz cumprimentou a garota de cabelo violeta com um “boa tarde” que foi educadamente respondido.

Paris deu a partida assim que as garotas colocaram os cintos de segurança. Riley percebeu isso, não conseguindo conter um riso baixinho.

— Parece inútil nos protegermos dessa forma. Não é a nossa vez.

Andi murmurou alguma coisa para si mesma, mas não respondeu. Paris também não soube o que dizer, preferindo ficar em silêncio. Alguns segundos depois, ele falou:

— É estranho estar nesse carro com vocês duas. Durante o ensino médio, eu posso contar nos dedos de uma única mão as vezes em que nós nos falamos. Por que isso acontece, será? Eu sempre fui estúpido dessa forma?

Riley sorriu fracamente. Andi respondeu:

— Claro que não, Paris. Não foi culpa sua, e eu acho que também não foi culpa nossa. Nós apenas tínhamos interesses diferentes e fazíamos parte de grupos diferentes. Mas eu sempre te achei uma pessoa bacana. Você e o seu irmão, na verdade. — E então ela parou de falar, refletindo por alguns segundos. — Mas eu acho que a vida é assim. As coisas acontecem quando devem acontecer. Não antes, nem depois.

Apesar de mórbida, Paris concordava com aquela lógica.

x-x-x-x-x

Nina dormia tranquilamente no sofá da sala de leitura dos Nowak.

Junior estava sentado em frente ao piano do cômodo, olhando a namorada dormir. A expressão de Nina era de extrema serenidade e paz. Quem a visse repousando daquela forma, jamais poderia imaginar que ela quase morrera na noite anterior.

Assim que os pais de Junior souberam pelo que Nina havia passado, eles se prontificaram a cuidar dela. Embora Katherina e Jeremiah não tivessem dito com todas as palavras, era claro que eles não consideravam adequado que a namorada do filho recebesse os cuidados de um hospital qualquer, se oferecendo a pagar por uma enfermeira que cuidaria dela em casa. O casal Spradlin, pais de Nina, não se opôs ao gesto de bondade dos pais do namorado da filha. Sabendo que ela ficaria em boas mãos, eles decidiram seguir de volta com os planos de sua viagem. Aparentemente o outro filho deles, Nick, também estava com sérios problemas de saúde, embora no caso dele o óbito fosse certo. Junior nem imaginava como contaria aquilo para a namorada quando ela acordasse.

Em suma, os Spradlin confiaram nos Nowak para que eles cuidassem de Nina até que os dois voltassem de viagem. Uma enfermeira havia sido contratada e já estava mansão. Além disso, o médico da família dos gêmeos estava à disposição da garota vinte e quatro horas por dia, no caso de qualquer emergência.

Logo pela manhã, enquanto ainda estava no hospital, Nina fez uma infinidade de exames, cujos resultados sairiam em pouco tempo. Levando em conta sua lucidez e sua memória intactas, os médicos imaginavam que não haveria sequelas permanentes, mas só um exame apropriado poderia garantir isso com total certeza. O único sinal evidente de sua intoxicação por monóxido de carbono eram seus olhos, que estavam quase que completamente vermelhos pela irritação. Apesar disso, a vermelhidão sumiria em um ou dois dias, com a ajuda de um colírio receitado pelo médico.

O pior de tudo, porém, era que ela ainda podia estar sob a mira da morte.

Riley fora categórica quando dissera que não sabia como a lista funcionava. “Não é como se a minha precognição viesse com um manual de instruções”, foram suas exatas palavras. Junior não a culpava por isso. Na verdade, ele agradecia por ela tê-lo avisado sobre Nina logo quando Claire morreu, mesmo estando extremamente abalada com a situação que presenciara. Se ela tivesse demorado mais tempo, Nina estaria morta. Eu só espero que eles encontrem uma saída pra essa merda toda...

Diante do piano estava uma partitura que Junior havia imprimido logo quando chegou em casa, decidido à retomar o seu gosto pelo piano. “Flashlight”, da cantora Jessie J. Junior ouvira bastante a música quando queria descansar a cabeça das provas do college, e achava que a letra dela combinava bastante com o seu relacionamento com Nina no momento.

I got all I need when I got you and I

I look around me and see a sweet life

I'm stuck in the dark but you're my flashlight

You're getting me, getting me through the night

x-x-x-x-x

Paris ainda procurava um lugar para estacionar o veículo quando Riley e Andi chegaram até a reunião da tal Lola. Já passava das cinco da tarde e o céu se tingia de laranja. O clima estava ameno, diferente da chuva torrencial da noite anterior.

O grupo se reunia no segundo andar de uma igreja, emprestada pra todo tipo de grupo de apoio, de alcoólicos anônimos à... Bom, à sobreviventes da lista da morte, aparentemente, Riley pensou. Mesmo antes de subirem às escadas, Riley percebeu que uma música tocava bem baixinho. “Flashlight”, ela reconheceu quase que no mesmo instante. É uma vida doce...

Quando ela e Andi entraram na grande sala de tijolos aparentes onde diversas cadeiras de madeira formavam um círculo, havia apenas duas pessoas ali. O primeiro deles era um homenzarrão loiro com o cabelo cortado em estilo militar e um tapa-olho. Ele vestia-se com uma farda composta por um blazer preto e uma calça azul; finalizada com um quepe preto com um brasão dourado, sinal claro de que ele fazia parte das forças armadas dos Estados Unidos. Andi era um pouco avessa às armas e militares em geral, de modo que o homem não lhe atraiu imediata simpatia.

A segunda pessoa era uma mulher belíssima. Ela vestia-se com um enorme vestido florido verde e amarelo, feito de um pano fino que flutuava com seus movimentos. Em seus pés estava uma sandália de miçangas sem salto, sendo que o visual era completado por algumas pulseiras de madeira em seu braço e dois enormes brincos de argola do mesmo material. O seu cabelo era uma selva ruiva, volumoso e opulento. Riley subitamente sentiu-se envergonhada por seu cabelo vermelho liso e tingido.

Andi olhou para todos os lados, curiosa por aquele ambiente. Ao lado do círculo de cadeiras havia uma pequena mesinha de madeira coberta com um pano branco, onde estavam alguns aperitivos e algumas garrafas em que se lia “chá”, “suco” ou “achocolatado”.

Kickstart my heart when you shine it in my eyes

Can't lie, it's a sweet life

Stuck in the dark but you're my flashlight

You're getting me, getting me through the night

— Bem-vindas! — A mulher ruiva disse com um sorriso no rosto, se levantando de onde estava. — Qual de vocês é a Riley?

— Sou eu. — A garota respondeu.

A mulher pareceu satisfeita com aquela resposta, sorrindo ainda mais.

— Bem-vinda, Riley. E você, qual o seu nome? — Ela disse, virando-se na direção de Andi.

Andi esticou o braço e forçou um aperto de mão sem graça, respondendo:

— Meu nome é Andi. Você é a Lola?

— Sim, essa sou eu. — Ela respondeu. — Eu me chamo Charlotte, mas todos aqui me conhecem por Lola, então fiquem à vontade em me chamar assim também. Tudo o que eu quero é que vocês se sintam confortáveis.

Riley achou a maneira com que Lola falava um pouco desconfortável. Ela compreendia, porém, que o intuito da mulher era ser amigável e receptiva. Em geral esse era o objetivo de todos que organizavam grupos de apoio. As pessoas que se reuniam nesses lugares estavam, no geral, extremamente fragilizadas. Tudo o que elas menos precisavam era de pessoas rudes e impacientes.

— Venham, sentem-se. — Lola disse, apontando para as cadeiras. Riley fez menção de segui-la, mas Andi continuou parada onde estava.

A garota de cabelo violeta falou:

— Nós estamos esperando um amigo nosso. Ele foi estacionar o carro.

Lola pareceu compreender aquela fala, meneando a cabeça positivamente.

— Oh, eu compreendo. Ainda é cedo. Vocês foram as primeiras a chegar depois do Cassiel. Mas ele sempre chega cedo. Sabem como é, disciplina militar...

O rapaz ouviu quando Lola falou seu nome, virando-se na direção das garotas. A ruiva então lhe chamou com um aceno de cabeça, pedindo que ele se aproximasse das três. O tal Cassiel assim o fez, caminhando a passos tímidos na direção delas. Riley percebeu que ele era bastante atraente.

— Cassiel Hendrix, prazer. — Ele disse, estendendo a mão para as duas. Quando Riley tocou seus dedos e sentiu o calor do contato, porém, algo diferente aconteceu.

Ela não soube explicar, mas flashes começaram a percorrer sua mente. Parecia... Um acidente. Neles, animais corriam por todos os lados, matando pessoas dentro do que parecia ser um zoológico. Riley conseguia sentir a dor de todas as pessoas ao seu redor, e então as palavras se formaram em sua cabeça e ela as repetiu de maneira involuntária:

— Vai acontecer um acidente no zoológico. Os bichos vão ser soltos, vai ser um caos. Os elefantes vão pisotear todo mundo, os leões vão me comer! Eles vão comer a todos nós... — Quando ela terminou de falar aquilo, tapou a boca. Seus olhos estavam marejados e uma lágrima caiu, escorrendo por sua face.

Cassiel arregalou os olhos e soltou a mão de Riley de maneira ríspida.

— Isso é algum tipo de brincadeira? — Ele falou, exasperado.

Riley continuava estática, os olhos lacrimejantes focados no rosto de Cassiel. Como... Como...?

— Isso acontece algumas vezes. — Lola disse de maneira calma, tocando o ombro do rapaz. Ela então se virou para Riley e fez o mesmo gesto, dizendo: — É comum que isso ocorra entre Indigos. De alguma forma, vocês são capazes de sentir a energia um do outro, de se conectarem.

Cassiel meneou a cabeça positivamente, como se compreendesse o que Lola dizia. Riley, porém, estava confusa com aquilo. As imagens das pessoas morrendo dentro do zoológico ainda perturbavam sua cabeça.

— O que são “Indigos”? — Ela perguntou.

Lola sorriu fracamente.

— Oh, eu me esqueço que essa é a sua primeira visita. Perdoe-me, querida. — Bom, a teoria das “crianças Indigo” afirma que existem alguns indivíduos que ao nascer possuem certos dons especiais. Elas teriam uma alta capacidade de socialização e uma sensibilidade maior que boa parte da humanidade. Elas seriam as crianças do futuro, os cientistas que fariam inovações, os governantes que fariam o mundo melhor. Mas também existe outro lado. Uma vertente dos que acreditam nessa teoria, diz que essas crianças teriam certos dons paranormais. Dons como dizer ou lembrar-se de coisas que não viveram. Coisas que não aconteceram com elas, como vocês puderem presenciar agora, ou coisas que acontecerão no futuro. Como, imagino, foi também o seu caso, Riley.

A ruiva ficou em silêncio por alguns instantes, olhando para um ponto fixo na parede. Tudo aquilo era demais para ela. Crianças Indigo? Paranormalidade? Eu sou a porra de uma mutante então? Era difícil processar todas aquelas informações. Naquele momento, tudo o que Riley queria era saber de uma maneira para escapar de sua morte iminente. Quando ela tivesse o controle de sua vida de volta, aí sim poderia tentar entender como tivera aquela visão.

Riley não percebeu quando Paris chegou, entrando e cumprimentando Lola e Cassiel. Ela também não percebeu quando a outra ruiva começou a chamá-la, sendo necessário que Andi a chacoalhasse para que ela ouvisse.

— Oh, me perdoem. — Ela falou. — Eu estava... Refletindo. Sobre toda essa coisa dos Indigos. Eu tenho milhares de perguntas na cabeça e...

— O Paris já me contou sobre tudo, querida. — Lola falou de maneira calma. — Sobre as suas dúvidas, medos e anseios. Eu sinto muito pelos seus colegas, Riley. Eu sei que é meio óbvio isso, mas todos nós aqui compreendemos a sua dor.

Quando Lola falou a palavra “nós”, Riley percebeu que havia mais pessoas ali, as quais tinham chegado enquanto ela estava perdida refletindo sobre o que a mulher lhe dissera. Não passavam de meia dúzia, porém, mas era o suficiente para que a garota se sentisse extremamente envergonhada e, paradoxalmente, compreendida.

— Oh. — Ela repetiu.

Lola então se virou na direção do grupo e disse:

— A Riley é nova aqui, então antes dela poder contar sobre sua história, ela está cheia de dúvidas. Como todos nós estivemos um dia, correto? — Ela falou. A maneira firme e ao mesmo tempo doce com que Lola se dirigia ao grupo fez os pelos do braço de Riley se arrepiarem. — Então eu peço que vocês nos deem alguns minutos. A Riley, a Andi, o Paris e eu vamos conversar a sós um pouquinho. — E diante dos acenos de concordância, Lola sorriu. Por fim, ela acrescentou: — Lily, querida, você pode liderar a reunião de hoje por enquanto?

Uma garota loira bastante gentil levantou-se de sua cadeira e meneou a cabeça positivamente. Ela então caminhou alguns passos e trocou de lugar, sentando-se na cadeira que, aparentemente, era de Lola. Riley percebeu instantaneamente que ela mancava. O Cassiel usa um tapa-olho. Essa Lily manca... Será que a lista deixou alguma sequela na Anna também?

x-x-x-x-x

Lucas não visitava Malibu desde que era um garotinho.

A sua última lembrança daquele local datava de mais de uma década, quando ele tinha cinco ou seis anos de idade. Lembrava-se de correr pela areia branca, afundando seus pés e sentindo o calor do solo. Naquela época ele era bastante amigo de uma garotinha de cabelos claros e sorriso encantador chamada Michelle. Ela era alguns anos mais velha do que ele, mas os dois brincavam durante horas sem se cansarem. O que houve com ela, aliás?

Talvez Michelle se fizesse a mesma pergunta a respeito dele. Uma década era tempo demais. Era mais da metade de sua vida, Lucas refletiu. Talvez mais da metade de todo o tempo de vida que eu terei, ele morbidamente concluiu.

Seu telefone celular havia sido confiscado por seu pai logo quando eles saírem de casa. Lucas pensou em pegá-lo de volta escondido para enviar uma mensagem para Andi e Riley, mas desistiu. Se algo acontecesse com ele, elas ficariam sabendo. E Riley só morreria por último, de modo que as chances dele morrer antes de todos os outros eram bastante grandes. Eu não poderia fazer nada pra ajudá-los se estivesse lá, não é mesmo? Lucas sabia que aquela sua lógica não era de todo correta, mas ele tentava ao máximo se convencer daquilo. Se eu olhar pra trás estou perdido.

Já passava das quatro horas da tarde quando a família terminou de comer. Ao redor da enorme mesa de madeira colocada nos fundos da mansão praiana dos avós de Lucas, estava toda a sua família. Alguns estavam espalhados por outros cantos da casa, mas todos estavam por ali, ao redor. A casa ficava diante do mar, com poucos metros de areia branca os separando.

Carmine e Gemma Alighieri, seus avós, haviam tido ao todo treze filhos. O pai de Lucas era o segundo mais novo, sendo o 12º a nascer. Com exceção de um de seus tios, morto em um acidente de lancha quando tinha seis anos de idade, todos os outros estavam ali. Junto com eles, todos os seus maridos, esposas, filhos, genros, netos e até um bisneto. Lucas tinha perdido a conta de quantos primos tinha, mas se contasse só os que estavam ao redor daquela mesa, o número facilmente chegava a duas dúzias. Era quase como se ele fosse um estranho ali no meio de tanta gente.

Ao contrário de todos eles, porém, Lucas tinha uma ligação especial com aquele lugar. Fora ali que ele nascera, naquela mesma casa. Recebera o nome do seu falecido tio, Lucas “Arthur” Alighieri. Suas ligações com aquele momento eram tantas que parecia poético que ele morresse ali. Morto, como meu tio de quem herdei o nome. Morto onde nasci. Eu acho que poucos têm esse privilégio.

Mas Lucas não queria morrer ali. Ele não queria morrer nunca.

— Hey! — Um de seus primos o chamou, de frente pra ele do outro lado da mesa. Lucas sabia que o garoto se chamava Earl, já que seus longos cabelos pretos o tornavam bastante marcante. O rapaz tinha quatorze ou quinze anos de idade, mas era mais alto que Lucas.

Quando Lucas virou o rosto na direção dele, o rapaz cochichou, quase que sem emitir qualquer som:

— Nós estamos indo dar uma volta com a lancha do vovô, você vem?

Ah! Lancha. Quando eu pensei que poderia ficar mais poético... Mais um Arthur morto em Malibu vítima de um acidente de lancha. A morte realmente tem um senso de humor peculiar.

— Não, obrigado. Mas divirtam-se! — Lucas respondeu, também cochichando.

Earl meneou com um aceno de cabeça e então se levantou. Junto com ele, vários dos primos de Lucas começaram a se levantar discretamente, sendo que o mais velho deles não devia ter mais que dezesseis anos. Um bando de crianças dirigindo uma lancha. Isso não pode dar mais errado.

Mas aquilo não era problema seu, no fim das contas. Que o avô e os pais deles os castigassem quando eles pedissem por socorro em alto mar porque a lancha havia parado de funcionar.

— Eu gostaria de fazer um brinde! — O avô disse, erguendo uma taça de vinho. Subitamente todos ergueram suas taças e copos, em respeito ao patriarca. — Um brinde à minha família, que não mede esforços para ver esse velho feliz. Vocês estão todos adultos, alguns até velhos como eu, mas mesmo assim estão todos os doze aqui. Um brinde ao clã Alighieri!

Todos brindaram e aplaudiram o discurso do avô, inclusive Lucas. Ao seu lado, sua mãe encostou a cabeça em seu ombro.

— Obrigada por ter vindo, meu filho. — Ela disse de repente. Por algum motivo, o seu tom de voz parecia embargado e levemente emotivo, como se ela tivesse se comovido com o discurso do sogro. — Eu não sei o porquê, mas subitamente me veio uma necessidade de te dizer que eu te amo. Você sabe disso, não sabe, meu amor?

— Claro que eu sei, mãe. — Lucas respondeu. — Eu também te amo.

A mulher então abraçou os ombros do filho com toda a força do mundo, não querendo largá-lo nunca mais. Lágrimas se formaram em seus olhos, e então ela lhe deu dois beijos na bochecha e se levantou, finalizando o gesto com um beijo em sua testa.

Naquele momento quase todos já haviam se levantado e faziam alguma coisa, espalhados pela mansão. Alguns tios discutiam política na sala de estar; outros jogavam sinuca na velha mesa do avô; algumas tias conversavam nas escadas, mostrando fotos de seus animais de estimação nas telas de seus celulares; os primos menores corriam por toda a casa, brincando de esconde-esconde; e os mais velhos jogavam em um Playstation 4 que um deles havia trazido.

O rapaz se afastou de todos eles e sentou-se na varanda, onde não havia quase ninguém. A única pessoa que estava ali sozinha, Lucas viu, era a avó, sentada na outra extremidade da varanda. Gemma tricotava de maneira calma em sua cadeira de balanço, alheia a toda a bagunça que ocorria ao seu redor. Por algum motivo, Lucas a invejou. Ela é tão calma, sempre. É como se tivesse todo o controle do mundo em suas mãos. O rapaz invejava a sua calma, mas sobretudo ele invejava os seus cabelos brancos. Invejava suas rugas, a prova viva do tempo e da benção da vida.

Subitamente, Lucas lembrou-se do memorial dedicado aos colegas falecidos no Atlântida. Em seu discurso, a professora Emma dissera que todos os estudantes mortos eram agora “estrelas cadentes”. Naquele mesmo dia o rapaz soube que não concordava com aquela afirmação, mas não soubera racionalizar o exato motivo. Ali naquele momento, vendo a avó, ele finalmente conseguia compreender porque não concordava com aquilo. Ela falou aquilo como se ser uma estrela cadente fosse uma coisa boa, uma dádiva. Não é. Eu não quero ser uma estrela cadente. Tudo o que eu quero é ser um velhinho em uma cadeira de balanço.

O vento quente da noite de Malibu batia em seu rosto de maneira doce, como se estivesse beijando-o. Lucas sentiu-se em paz como não se sentia desde o acidente, fechando os olhos e tentando tranquilizar-se o suficiente para aproveitar aquele momento.

Ele ouviu o barulho ao fundo aos poucos. Parecia o som de uma motosserra. Começou baixo e fraco, mas então se intensificou. Lucas sentiu o coração batendo mais forte, e então se forçou a abrir os olhos. Gemma gritou:

— Oh meu Deus!

A lancha avançou a curta distância de areia entre as águas do mar e a mansão dos Alighieri em segundos. Lucas levantou-se, pondo-se de pé, mas teve tempo somente de virar-se de costas. O veículo atravessou a cerca de madeira branca da varanda, quebrando-a, e em seguida quebrando parte da parede da casa, entrando dentro dela à força. O rapaz foi forçado entre o veículo e a parede, servindo como escudo para o impacto. Seu ouvido zuniu muito, e ele sentiu a pressão feita em suas costas e depois em seu rosto, caindo de costas no chão da sala com o impacto. Ele sentiu uma dor enorme em seu rosto, e sentiu os dentes moles dentro da boca. Lucas olhou para todo o seu corpo e percebeu que ele estava inteiro, apenas coberto de marcas de sangue e poeira. Tudo isso durou menos de um segundo.

E então a lancha terminou de avançar, passando por cima dele sem piedade. Quando o veículo esmagou seu dorso, Lucas não sentiu dor alguma, cuspindo sangue e dentes. A pressão então partiu para sua cabeça, pressionando-a entre o casco e o chão e esmagando-a com brutalidade. Um barulho parecido com o de um balão estourando foi ouvido, e pedaços rubros voaram para todos os cantos.

x-x-x-x-x

— Nós estamos completamente perdidos, Lola. — Paris falou, quando os quatro se ajeitaram na sacada do segundo andar da igreja. Ao longe, o sol começava a se por.

— Eu compreendo esse sentimento. — A mulher disse. — Eu não quis falar na frente dos outros, mas... Eu suponho que vocês ainda estejam na lista da morte. Correto?

Riley e Andi menearam a cabeça positivamente, mas Paris percebeu uma brecha naquela fala da mulher.

— “Vocês”? Então você e os outros... Vocês não estão na lista? Vocês detiveram essa... Coisa?

Lola meneou a cabeça positivamente.

— Sim, nós detivemos. — E então ela olhou diretamente dentro dos olhos de Paris. — Alguns à custa de um olho. Outros à custa da vida de todos aqueles que amavam... É assim que funciona. Mas sim, meus queridos, existe uma saída.

Aquela fala da mulher foi suficiente para Riley sentir o seu corpo todo se enchendo de esperança. A empolgação dentro de si foi tão forte que a garota estava pronta para sair dali e lutar com todas as forças que tinha. Subitamente, a sua vontade de viver falava mais alto do que qualquer outra coisa. É isso! Nós podemos conseguir.

— Então nos fale! — Andi pediu, um pouco impaciente. — Como nós escapamos?

Lola suspirou, tocando o balcão de pedra que tinha à sua frente. O vento soprava fraco, beijando seus cabelos da cor de fogo.

— Tudo depende da situação em que vocês estão. Quem é o próximo? Existem outros sobreviventes além de vocês?

Riley rapidamente meneou a cabeça positivamente.

— Mais três. Mas nós não sabemos quem é o próximo.

— Como assim vocês não sabem? A sua visão...

— Sim, eu sei a ordem da minha visão. — Riley interrompeu a mulher. — Mas uma das garotas foi salva quando ela estava prestes a morrer, então...

Lola meneou a cabeça positivamente, compreendendo a situação.

— Bom, então isso significa que ela foi para o fim da lista. — E diante dos olhares confusos do grupo, ela explicou: — Quando alguém interfere na morte de outra pessoa, essa pessoa é pulada e vai para o final da lista. Ou seja...

— Depois que ela tiver levado todos os outros, virá para buscar essa pessoa. — Paris completou de maneira pragmática. Lola concordou com um aceno de cabeça.

Então agora é a vez do Lucas, Riley refletiu. Quando ela olhou para Andi, a amiga já estava com o celular em mãos, provavelmente digitando o número do rapaz. Por favor, Lucas, atende... Por favor...

— Existem muitas formas de deter a lista. Todas elas, porém, exigem algum sacrifício. — A mulher começou, falando de maneira solene. Enquanto Andi tentava ligar para Lucas pela enésima vez, Paris e Riley olhavam atentamente para a ruiva. — O que vocês precisam compreender é que a lista da morte é organizada, ela segue um padrão. Ela é quebrada quando esse padrão também é quebrado.

Paris entendia aquela linha de raciocínio.

— Como, por exemplo, alguém morrendo quando a morte esperava levar outra pessoa?

— Isso mesmo! — Lola confirmou. — É exatamente essa a lógica. Alguém morrer fora de sua ordem faz com que a lista toda seja jogada fora e os que sobreviveram ganhem uma nova chance. O problema disso, é que a morte dificulta ao máximo que isso aconteça. Eu imagino que agora mesmo se a Riley tentasse pular desse andar, ela não sofreria nada mais que uns ossos quebrados.

Aquele pensamento fez Riley tremer. Isso quer dizer que se eu for bem-sucedida no meu suicídio... Todos ganham uma nova chance?

— Então foi por isso que a Claire conseguiu se suicidar. — Andi comentou. — Era a vez dela.

Lola voltou a concordar, completando:

— Se fosse a vez de outra pessoa, ela provavelmente teria alguns contratempos em sua tarefa. A arma cairia de sua mão, a trava seria acionada, alguém a encontraria antes dela apertar o gatilho... As possibilidades são muitas. A morte se esforçará ao máximo para que o seu design seja mantido, isso vocês precisam saber.

Riley ouvia a tudo aquilo de maneira absorta.

— Existe mais alguma forma?

— Como eu disse, existem muitas. — Lola respondeu. — A gravidez é uma delas. Na hipótese de vocês conseguirem que alguma das garotas dentro da lista da morte engravide e sobrevivam até que o bebê nasça, então a lista é quebrada. Só nova vida pode deter a morte, lembrem-se disso. Uma criança que nunca deveria ter nascido se vocês tivessem morrido no acidente é capaz de destruir qualquer plano que a morte tenha para vocês.

Mais um método, mais uma alternativa inútil.

— Existe alguma forma mais palatável de nós determos a lista? — Andi voltou a perguntar, parecendo impaciente.

Lola, porém, mantinha-se calma:

— Se você está me perguntando se existe alguma maneira fácil de deter a lista: não, não existe. Como eu disse, todas as maneiras requerem algum sacrifício. Quando a morte ficou afastada de vocês durante um ano, foi porque um sacrifício aconteceu. O rapaz que estava em coma foi o catalisador disso. No estado em que ele estava, a morte o considerava em um plano intermediário, onde ela não tinha poder. Foi por isso que vocês foram poupados. Pra essa dádiva ser concedida de maneira definitiva, vocês precisam que algo semelhante ocorra. Alguém morrendo fora da sua ordem natural, uma gravidez, uma nova vida... Não existe maneira fácil de dizer isso, mas vocês vão precisar lutar. Vocês vão sofrer mais do que já sofreram. E então, no fim, quando tudo tiver sido feito e dito, só então eu vou poder lhes ajudar. Eu não posso deter essa lista. Mas eu posso ajudá-los a recolher os cacos que ela deixar...

Riley ouvia a tudo aquilo de maneira complacente, como se estivesse fora de seu corpo. Ela conseguia perceber como Andi parecia frustrada, e como Paris prestava o máximo de atenção possível, tentando encontrar alguma brecha na lógica de Lola que pudesse ajudá-los. Para ela, porém, as coisas pareciam muito, muito simples.

Pra essa lista ser detida, eu preciso morrer.

x-x-x-x-x

Riley foi a última a sair da reunião, se despedindo do grupo de maneira acanhada. Paris e Andi já estavam no carro a esperando. Quando a ruiva colocou a mão na porta do veículo, ela ouviu uma voz feminina dizer:

— Hey, Riley! Hey!

A ruiva se virou no mesmo instante, percebendo que quem a chamava era a garota que mancava, Lily.

— Oh, oi. Lily, certo?

A loira meneou a cabeça positivamente.

— Isso mesmo. Eu sei que isso vai soar estranho, mas eu gostaria de te deixar o meu número. — Ela falou, estendendo um papel para Riley. A ruiva o pegou com educação, ainda incerta. — Eu não sou uma Indigo, mas por algum motivo eu tenho um pressentimento de que isso pode lhe ser útil.

Diante de todas as coisas que Riley havia descoberto naquele dia, aquela era uma das menos estranhas. Ela não sabia exatamente contra o que eles estavam lutando, mas estava disposta a aceitar ajuda de todos os lados possíveis.

— Obrigada, Lily. — Ela falou. — Mesmo.

A loira sorriu de maneira fraca, e então virou as costas e seguiu de volta em direção às escadas que davam ao segundo andar da igreja. Quando ela pisou no primeiro degrau, sentiu um vento passar por sua nuca. Por algum estranho motivo, aquela garota ruiva lembrara-lhe de seu antigo namorado, Bobby, morto há seis anos. Ela não fora capaz de salvá-lo na ocasião, mas torcia tremendamente para que ainda houvesse salvação para Riley.

x-x-x-x-x

Nina levantou-se no meio da noite, inquieta. Ela sentia toda a sua cabeça girando, como se estivesse de ressaca. Seu estômago embrulhava, e ela sentiu uma vontade incontrolável de vomitar. A garota sabia que aquela reação era normal por conta da grande quantidade de monóxido de carbono que ela havia inalado.

Nina correu para fora do quarto de visitas, abrindo a porta de maneira abrupta. Ela então seguiu com urgência até o banheiro, abrindo a tampa do vaso sanitário como se disso dependesse sua vida. Menos de um segundo depois, ela vomitou uma enorme quantidade de um líquido cor de rosa que ela imaginava ser a sopa que havia tomado antes de dormir. Quase que instantaneamente o seu estômago parou de embrulhar. A cabeça ainda doía, mas ela sabia que se tomasse mais uma aspirina e se deitasse, ficaria melhor. Apesar disso, outro sentimento, muito mais sombrio, tomava conta dela naquele momento.

Diante do espelho, Nina conseguiu ver seu reflexo. Ela estava em frangalhos. Os cabelos loiros estavam desgrenhados e pálidos, assim como a sua pele. Debaixo dos olhos ela tinha enormes olheiras, mas nada se comparava com seus globos oculares. Eles estavam assustadoramente vermelhos, com as microscópicas veias de seu interior bastante aparentes. Eles não coçavam, porém, e isso já era um alívio.

Nina estava descansando na sala de estar quando Paris chegou, horas antes. Junior estava ansioso por respostas, mas o que o irmão lhe dissera fora desanimador. Após a experiência que sofrera, Nina não esperava nenhum milagre, mas imaginara que já estivesse poupada da lista da morte. Ela falhou, não é? Ela tentou me levar e falhou. Está acabado pra mim. Mas aparentemente não estava.

Quando Paris contou a eles que alguém que escapava de um acidente apenas era pulado e ia pro final da lista, Junior apertou com força a mão da namorada. Então ela morre depois de todos nós agora. Eu não vou estar aqui para protegê-la quando for a sua vez. Isso não... Não...

Mas a cabeça de Nina planejava um final diferente para aquela história. Uma frase, uma pequena frase proferida por Paris, fora suficiente para que a garota tivesse a ideia. Após sofrer uma experiência de quase morte, Nina estava em pânico. Ela já havia admitido para si mesma que faria o possível e o impossível para sobreviver, e que não havia nada de errado com isso. Eu vou viver, sim, e eu vou salvar o Junior também, assim como ele me salvou. Agora é a minha vez.

Além de tudo isso, Andi estava decidida a descobrir onde Lucas estava. O quarteto formado por ela, Riley, Paris e Junior pretendia ir atrás do rapaz em Malibu no dia seguinte, já que ele aparentemente era o próximo. Eles não gostariam que Nina fosse junto, já que ela ainda estava se recuperando, mas alguém dificilmente conseguia impedir Nina Spradlin de fazer o que bem entendesse. O pensamento de Lucas morrendo a enojava. Ela aprendera a amá-lo como um amigo de maneira genuína. Perdê-lo era um pensamento insuportável para a garota. Eu vou salvar você também, Lucas. Você e o Junior. Vocês merecem viver.

Nina caminhou para fora do banheiro de maneira cambaleante. Em um relógio pendurado no corredor escuro, ela conseguiu perceber que já passava das três da manhã. Ela precisaria se levar dali algumas horas, já que imaginava que Junior e Paris fossem tentar seguir viagem sem ela, o que Nina não permitiria. Sabia que ainda estava fraca e doente, mas sabia também, melhor do que ninguém, que não morreria por conta disso. Não agora, pelo menos. Não é a minha vez. Não é a minha maldita vez... Mesmo assim, Nina poderia não ter muito tempo. Depois de Lucas, poderia ser Junior. E então, se eles morressem, não havia nada que ela pudesse fazer.

A porta do escritório do juiz Jeremiah Nowak estava destrancada. Nina suspirou de alívio ao perceber aquilo, já que afinal de contas, aquele era o seu único empecilho. Ela sabia qual era a combinação do cofre da mansão dos Nowak porque Junior o abrira algumas vezes na sua frente, para lhe mostrar alguma coisa da qual ela não se lembrava. Maldito acidente! Eu fico esquecendo as coisas... Nina sabia que aquela era uma sequela da exposição ao monóxido de carbono, e ficava feliz que estivesse se esquecendo de poucas coisas. Poderia ser bem pior.

Quando Nina abriu o cofre, seu coração batia mais forte do que nunca. Nenhum alarme tocou, mas aquilo era de se imaginar. Não havia nenhuma coisa realmente valiosa ali. Nenhuma joia, nada de valor. Apenas uma infinidade de papeis colocados dentro de um saco plástico, duas caixinhas de madeira trancadas e aquilo que ela estava buscando.

Nina abriu um sorriso melancólico quando seus dedos finos e pálidos tocaram o metal frio da arma.


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Notas finais do capítulo

Como de praxe, as músicas que tocam no capítulo...

Going Under - Evanescence: https://www.youtube.com/watch?v=CdhqVtpR2ts

Flashlight - Jessie J: https://www.youtube.com/watch?v=DzwkcbTQ7ZE

E AH! Uma explicação pros leitores que não leram nenhuma das minhas outras fanfictions: o Cassiel e a Lily são personagens de duas fanfictions anteriores minhas (ela é uma das protagonistas da primeira fanfiction, e ele é o visionário da sétima). O acidente que Riley vê ao tocá-lo é o acidente principal da sétima história. Além disso, um garoto que Lily menciona, o Bobby, também é um personagem da primeira fanfic.

Agradecimentos especiais ao meu amigo PeehWill, por me emprestar a Charlotte (Lola), que é uma personagem da segunda fanfiction dele, "Premonição: Alta Tensão", que eu recomendo MUITO!

Até a próxima ;D