Hinan escrita por Hakiny


Capítulo 51
Adeus?


Notas iniciais do capítulo

Finalmente depois de 3 anos e 3 meses chegamos ao nosso último capitulo!
Obrigada a quem esperou até aqui, encarou meus bloqueios criativos e não desistiu do final! Chegou em fim. Sorria e chore com o nosso maravilhoso epílogo (eu estou fazendo exatamente isso) eu amo Hinan e amo vocês também.



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Em silêncio, Raque caminhava pelo deserto em direção ao que havia sobrado do campo de batalha, foi então que ao longe ela avistou uma silhueta conhecida.

— Vovô? — A garota sorriu de forma singela, enquanto sentia seus olhos embaçarem com as lágrimas que havia brotado naquele instante.

No meio de toda a guerra, não havia sobrado tempo para um abraço sequer. Por isso ela correu e o agarrou com toda a força que ainda possuía. O velho por sua vez, a aconchegou em seus braços com todo o amor que tinha.

— Está se alimentando direito? — Kannot dizia enquanto encarava a menina.

— Não como há dois dias. — Raque se mostrava um pouco sem graça.

— Isso é problemático.

No campo de batalha, havia comemoração, todos os shikõs, vivos e mortos, festejavam em conjunto. Diante dos zumbis caídos, se desfazendo em cinzas, era claro, Céverus estava morto.

Um pouco afastado da aglomeração, Jon se acomodou em um canto qualquer. Sentado no chão, ele observou a felicidade no rosto de seus companheiros. Ele estava cansado e essa batalha havia custado muito, mas por algum motivo ele sentia que em nenhum momento, eles estariam mais unidos.

“As vezes precisamos de alguns momentos ruins para reconhecermos a beleza dos bons.” Ele pensou.

— Por que não se junta a eles?

Uma voz familiar pôs fim a reflexão solitária do shikõ.

— Por que você não se junta a eles? — Jon voltou seus olhos para o autor da fala.

— Por que eu prefiro admirar de uma distância em que eu não precise sentir cheiro de suor. — Jordy respondeu de forma nostálgica.

— Algumas coisas não mudam, são apenas o que são e fim. — Jon tornou a observar o grupo, na tentativa de esconder de Jordy as lágrimas que começavam a surgir.

Em silêncio, Jordy apenas se aproximou de Jon, ele por sua vez, deu a ela todo o espaço até que ficasse completamente acomodada.

— É hora de partir… — Raque sussurrou com o rosto enterrado no peito de Kannot.

— Você foi a melhor coisa que poderia ter acontecido a nossa família. — O velho sorriu para a garota.

— Eu te amo, vovô. — Raque limpo o rosto molhado

Uma energia de cor púrpura emergiu da pele da garota e aos poucos fez ficar visível a enorme fenda que ela havia aberto no mundo dos mortos.

Naquele instante, parecia que o mundo inteiro estava ao alcance dos olhos, por esse motivo Raque pôde ver Mia e Mary em um longo abraço de adeus. Também foi capaz de ver Bisco, Nael e Marius se despedindo com alegria.

— Eu estive com você o tempo inteiro. — Jordy dizia de forma melancólica.

— Até no banheiro? — Jon debochou.

— Principalmente no banho. — Jordy sorriu de forma maliciosa.

Jon também sorriu, mesmo que naquele instante, ele pudesse ver o corpo de sua amada perdendo a cor, até se torna quase todo transparente.

Ao longe, Jon pôde ver Raque o observando, seus olhos pareciam implorar por perdão, talvez por ser forçada a arrancá-la de ses braços mais uma vez. Então ele apenas sorriu para ela também, como se agradecesse por poder se despedir com amor e não com ódio. Não haveria vingança depois, ele estava livre e queria libertá-la também.

Sorrisos e lágrimas compunham aquele único cenário de todos os lugares.

— E agora? — Cute havia surgido ao lado de Raque — Eles entram na fenda bizarra e acaba?

— Não. — Raque estava séria — Aquilo os condena ao sofrimento eterno, morrendo dia após dia até que a maldição acabe.

— Mas o Céverus…

— Ele não é o último descendente. — Raque o interrompeu bruscamente.

— Isso quer dizer que você vai… — Cute sentiu as palavras faltarem naquele momento.

— Morrer? — A jovem o olhou firme nos olhos — Chega de ser punida pelos erros dos outros, Cute.

A feição do rapaz, que antes estava abatida, agora estava confiante de novo.

— Cute, me dê a esfera que você roubou do Céverus. — Raque estendia a mão para o rapaz.

— Só um instante. — Cute sumiu e apareceu instantaneamente.

Trouxe junto dele, Andy, que segurava a esfera nas mãos enquanto tremia de pavor.

— VOCÊ ME LARGOU SOZINHO COM ESSA BOMBA RELÓGIO! — Andy demonstrava total revolta na voz.

— Eu a classificaria como um míssil teleguiado, e o Céverus seria a explosão. — Cute justificava.

— Eu vou te guiar para o inferno seu…

Silenciosamente, Raque retirou a esfera das mãos de Andy e seguiu em direção a Vallery.

— O que quer? — Vallery encarou a garota.

— Quebre. — Raque pôs a esfera no chão e se afastou.

— Por que? — A guerreira se mostrava desconfiada.

— O mal já voltou para Miran, no momento em que se separou da alma de Céverus após a sua morte. — A garota parou alguns segundos e continuou — Todo mundo precisa de bondade no coração, certo?

Em movimento rápido, Vallery destruiu a esfera usando a Masayoshi. Um intenso brilho cor-de-rosa preencheu o local e em seguida sumiu em partículas luminosas no céu.

— Agora acabou! — Raque observava o belo céu daquele dia — Mas para Miran é apenas o início.

— E mais do que nunca eles precisam de você. — Uma voz familiar fez com que Raque tivesse suas reflexões interrompidas.

Ao seu lado estava Mizuno e Mizusha de braços dados enquanto a encarava.

— Você é a única descendente viva da coroa de Miran. — Mizuno completou.

— A Raque que morava em Miran morreu há alguns anos. — Raque tinha um sorriso aliviado em seus rostos — Agora eu sou uma shikõ e aquela é a minha família.

A garota apontou para o amontoado de guerreiros feridos.

— Mas como o povo irá continuar sem o governo de um rei? — Mizusha tinha uma expressão incrédula em seu rosto.

— Essa é a questão. Eles não precisam continuar, os habitantes de Miran acabam de ganhar um recomeço e o passado precisa ser deixado para trás. — A maga sorriu novamente — Eu e todos os meus antepassados precisam ser esquecidos, para que o povo se sinta seguro. Chega de filho mais novo e de maldições.

— Voltaremos com as boas novas. — Mizuno se curvava para Raque.

— NÃO SE PREOCUPEM CIVIS! — Uma voz fina tomou a atenção de todos — A MAGA MAIS PODEROSA, LILY CHEGOU PARA SALVÁ-LOS!

No banco passageiro do carro, Erii tinha uma expressão de vergonha em seu rosto.

— O que rolou? — Lily analisava o campo de batalha — Cadê o tiozão do mal?

— Se você não tivesse se perdido três vezes antes de achar esse lugar, talvez tivéssemos chegado a tempo. — Erii tinha uma expressão irritada em seu rosto.

— Se você tivesse dito a direção certa talvez eu não teria me atrasado! — A maga retrucou.

— Eu disse! — O shikõ estava indignado — TRÊS VEZES!

— Acho que isso é um sinal de que tudo está bem, certo? — Vallery comentou com Sayo.

— Melhor impossível! — A guerreira respondeu com um sorriso no rosto.

Dois meses se passaram desde a morte de Céverus e possível fim da maldição.

A reconstrução da sociedade estava em andamento a todo vapor.

— Esse muro precisa ser mais alto! — Jon gritava para o seu subordinado enquanto se refrescava com uma limonada.

— Por que eu tenho que fazer todo o trabalho duro? — Uma expressão de descontentamento estava estampada no rosto de Erii.

— Em primeiro lugar você consegue fazer construções de pedra sem o mínimo esforço e isso me poupa o gasto com pelo menos uns 10 funcionários. — Jon dizia de forma simplória.

— Quem disse que eu não faço esforço? — Erii estava indignado — Eu estou trabalhando a horas nesse maldito sol.

— E em segundo lugar! — Jon assumiu uma expressão desolada. Seu semblante era tão falso que até mesmo uma criança desconfiaria de sua atuação — Você tirou de mim meu pai e muitos dos meus amigos! Você realmente acha que pedir que erga algumas paredes, das que você mesmo destruiu, para abrigar o que sobrou de nós, é muito?

Não se sabe ao certo de onde, mas Jack surgiu ao lado de Jon, com uma expressão tão dissimulada quanto a dele, oferecendo seu ombro para que ele chorasse.

— Olha só o que você fez com o senpai! — Jack franzia as sobrancelhas como quem estava dando uma bronca

Jon escondeu o seu rosto no ombro de sua kouhai e chorou o mais cínico dos prantos.

— Víboras! — Erii murmurou enquanto voltava ao trabalho.

— Você consegue fazer uma estátua minha ali no topo do muro? — Jack encarou o shikõ.

— Não. — Erii respondeu de forma ríspida.

— Mas que merda de funcionário você foi arrumar em senpai? — A garota sussurrou para o superior.

— Era isso ou a gente ia ter que vender a TV e o videogame para pagar só o mestre de obras! — Jon explicava de forma deprimida.

— Podem pelo menos me trazer um copo de limonada também? — Erii se virou para os dois shikõs que o observavam.

— Me desculpe. — Jon sorriu de forma debochada — Não somos do tipo que lida com esse lance de leis trabalhistas e tudo mais.

Com uma expressão vazia em seu rosto, Erii fez ir a baixo parte do muro que havia acabado de construir.

— Com gelo ou sem gelo, senhor? — Jon sorriu de forma desesperada.

Na Hinan do Norte, Lily se preparava para um evento importante.

Anunciada a aposentadoria do coronel Blade, Sayo foi escolhida para assumir o seu lugar no comando da I.O.S de elite do norte.

— Está tudo pronto? — Vallery a esperava na porta.

Depois de sua última missão com o filho mais novo, Vallery havia saído de licença e voltado a trabalhar na floricultura.

Os acontecimentos envolvendo a maldição a fizeram refletir sobre os seus verdadeiros objetivos como policial. Entender que a vingança contra Jon a havia feito caminhar por estradas sombrias fez com que a guerreira escolhesse se afastar da agitação das batalhas da I.O.S e focar em sua vida pessoal. Por isso ela e Dragon compraram uma pequena casa com jardim e estão experimentando pela primeira vez em muitos anos a tranquilidade de uma vida de casal.

— Usando uniforme? — Raque encarou a pequena maga.

— A Sayo merece. — Lily sorriu um pouco sem jeito, enquanto ajeitava a roupa.

Distante dali, em um pequeno bar longe do centro, Dragon visitava um antigo companheiro.

— Depois de sumir por tantos meses, achei que você estivesse morto! — O velho taverneiro observava o shikõ caminhar até o balcão.

— Estou casado! — Dragon deu de ombros.

— Isso explica muita coisa.

— Eu também tive que ajudar a minha garota a salvar o mundo.

— Minha esposa me diz isso toda vez que me pede para pôr o lixo para fora. — O velho soltou a piada.

Os dois riram como bons bêbados.

— É Charles! — Dragon se sentava próximo ao balcão — O mundo não é mais o mesmo.

— Um brinde as mudanças que estão por vir! — O velho encheu um copo e o deslizou na mesa para Dragon.

— Um brinde.

**

— Eu quero agradecer a todos que confiaram em mim para assumir esse cargo e prometo dar o melhor de mim para manter Hinan mais segura do que nunca!

Ao fim das palavras da nova coronel da elite, uma salva de palmas foi soada.

— E me sinto honrada de poder, pessoalmente, entregar a Lucy a sua medalha de honra logo no meu primeiro dia nesse cargo. — Sayo se aproximou da companheira com o objeto em mãos e o prendeu no uniforme dela.

Lucy havia sido condecorada como heroína após, junto com os habitantes da Hinan do leste, dar total apoio ao oeste durante a invasão dos kotonarus enviados por Céverus.

Diante da indiscutível boa forma dos soldados do leste em ação contra as bestas, um novo olhar pairou sobre aquela cidade esquecida.

— De hoje em diante! — Sayo dizia com brilho em seus olhos — O Leste será nosso mais novo centro de treinamento intensivo para os novos I.O.S. Quem sabe assim possamos aprender um pouco com esse povo tão forte!

Enquanto a multidão comemorava as mais novas ações da recém chegada, Sayo e Lucy se entreolharam.

Um sonho antigo havia sido consumado.

— Como estão os pombinhos? — Lily se aproximou de Dylan e Mari.

O rosto de Mari ficou vermelho, mas ela permaneceu em silêncio.

— Estamos indo bem… eu acho — Dylan também estava tímido — Na medida do possível!

Afastada da multidão, Raque contemplava a vista do alto do muro de Hinan.

O portão estava se abrindo e uma caravana de shikõs entrava na cidade para assistir o evento.

Alguns olhares curiosos os fitaram, mas logo foram se dissipando.

Humanos e shikõs juntos como iguais? Há um ano isso seria impossível. Mas hoje eles estavam ali, vivendo em comunhão, comemorando a mesma vitória e comprando os mesmos hentais. Esse foi específico para o Nael.

No fim Raque entendeu o quanto a amizade a fez vencer todos os demônios que a assombravam desde o seu nascimento. Sejam os que viviam dentro da sua cabeça ou os que destruíram a sua casa.

No fim ela sentiu em seu coração, que Hinan não era apenas aqueles muros que impediam a passagem das bestas para a cidade. Hinan era a espada do Jon, as piadas da Jack, os conselhos do Kannot, o abraço da Lily. Hinan era aquilo que a fazia se sentir segura e em casa.

De olhos fechados, Raque sentiu a brisa do vento passar pelo seu rosto e brincar com seus cabelos. Com um sorriso no rosto a garota sussurrou para si mesmo:

— Eu estou em casa.

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— Ei! — Lily se aproximou da miraniana — Sem querer interromper o seu momento clássico de reflexão e encerramento de aventura… Queria perguntar uma coisa…

— O que é? — Raque ergueu uma das sobrancelhas.

— Tem uma espaço-nave guardada na sociedade né? — Lily juntava os indicadores na frente do corpo e os batia um contra o outro vezes seguidas — Quer dizer, eu sei que só as gêmeas voltaram para Miran e sobrou alguma coisa lá.

— Não… — Raque tinha uma expressão assustada em seu rosto.

— Ah qual é! — Lily se mostrava injustiçada — Qual o sentido de ter uma amiga alienígena se eu não posso fazer viagens espaciais?

— Não. — Raque caminhava para longe da pequena maga.

— Você não pode me negar realização de um sonho! — Lily a seguiu.

Raque parou e encarou a garota.

No rosto de Lily uma expressão de cão abandonado reinou.

— Por favooooor! — Lily erguia as mãos a frente do corpo em sinal de clemência.

— Aaaarg — Raque estapeou o próprio rosto — Tá legal...

 


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Notas finais do capítulo

Bom, chegamos ao fim dessa aventura. Mas não fique triste, haverá muitas outras. Enquanto nossos corações baterem novas aventuras serão escritas.
Mesmo que não haja mais linhas para serem lidas, essas memórias viveram para sempre em nossa existência e o limite para as novas histórias será o de nossa imaginação.
Não se esqueça de todos os aprendizados que nossos personagens passaram para vocês.
Seja valente como a Sayo e prudente como a Lucy.
Mesmo com tantas desavenças, Jon e Vallery compartilham a mais bela de todas as virtudes: A lealdade. Seja leal também.
Lembre-se que a Lily nunca desistiu mesmo quando ninguém acreditou nela, você também pode alcançar seus objetivos.
Aprenda com a Raque, que ninguém pode definir o que você é. O seu futuro só pode ser escrito por você mesmo. Você é aquilo que você luta para ser, nunca se esqueça disso.
A sociedade nos ensinou que mesmo não sendo os mocinhos, você ainda pode salvar o mundo, desde que esteja afim de fazer isso.
Mas acima de tudo, o Kannot nos ensinou que a família é você quem escolhe.
Eu espero que assim como eu, você também possa encontrar a sua Hinan.
O seu refúgio.
Muito obrigada por tudo e até a próxima.



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