Hinan escrita por Hakiny


Capítulo 45
A Fenda




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“a maldição dos dois filhos do rei...

haviam duas crianças, o demônio e a salvação

Quem poderá salvar os sorrisos daqueles rostos inocentes?

Matem o demônio! Erradique o mal

A espada da justiça reluz como o sol da manhã

Ela anseia pelo fim da maldição

Matem o demônio! Erradique o mal...”

Várias crianças de mãos dadas cantavam ao redor de uma pequena menina mais nova.

― mas que droga é essa?

Com os olhos arregalados Ally se assustava com a cena presenciada.

― saiam daqui agora, antes que eu peça ao meu pai que arranque suas cabeças!

Ally expressava fúria em suas palavras. Após alguns segundos de silêncio, todas as crianças correram gritando pelas ruas de Miran. Menos Raque.

― está tudo bem?

Ally se agachava na altura da garotinha que permaneceu em silêncio agarrada aos joelhos ― vou pedir para que o nosso pai contate os responsáveis por eles e…

― é esse ano não é?

Raque mantinha a cabeça abaixada.

― o que?

Ally se sentou ao lado da garota.

― eu ouvi a Tia Lee dizer que semana que vem é o meu décimo aniversário e você precisa…

― nunca vou te machucar.

Ally interrompeu Raque com um tom de voz sério.

― mas aquela musica…

― aquela musica é uma canção antiga feita por pessoas cruéis.

Raque desviava o olhar.

― e se as coisas ficarem ruins? A culpa vai ser minha Ally.

― não, coisas ruins acontecem todos os dias irmanzinha. E nós devemos fazer sacrifícios diários, nenhum deles envolvendo crianças inocentes.

Ally riu por alguns segundos e prosseguiu ― não vê o tio Céverus ele também não foi sacrificado e nada de ruim aconteceu.

― ele me assusta.

― a mim também quando tinha a sua idade, mas o papai vive dizendo que no fundo ele é uma boa pessoa.

Ally dava de ombros ― o importante é você não ceder a maldição, o pai já te disse isso.

**

― eu sinto muito Ally…

Raque chorava desesperadamente ― eu prometi… prometi não ceder! Eu prometi ser forte.

Um esbarro vindo de um shikõ, fez a garota cair com o rosto na terra e assim permaneceu. Como Céverus havia ordenado, nenhum inimigo a atacava, mas ela estava livre para assistir ao massacre de seus amigos.

“― imagino que alguém que seja considerada tão 'poderosa' não seria facilmente derrotada por um minotauro
― poder... é muito mais complexo do que parece.
― usar sua força pra proteger seus amigos não parece algo complexo.”

― Eri…

Raque se lembrava da conversa que havia tido com o shikõ no dia anterior.

Se pondo novamente de joelhos a garota voltou sua atenção para Lily, o fio prateado cada vez mais frágil permanecia vinculado as duas IOS.

“viva por Miran”

As últimas palavras de Ally ecoavam nos pensamentos da jovem maga que cambaleante se colocava de pé.

― eu sinto muito…

Raque sussurrava ― mas agora não se trata apenas de Miran.

A garota sussurrava enquanto se dirigia vagarosamente até a pequena maga quase morta. Erii fielmente afastava todos os shikõs inimigos que se aproximavam, havia falta de esperança em seus olhos, mas sobrava determinação. Após se por de pé diante da garota, Raque mais uma vez se deixou cair de joelhos. Lágrimas escorriam pelo seu rosto e ela carinhosamente tocou o rosto de Lily, que instantaneamente abriu os olhos.

― o que está fazendo?

Lily dizia em um tom de voz quase inaudível.

― você tem uma Hinan para salvar.

Raque sorriu.

Aos poucos as rachaduras reluzentes que cobriam o corpo da maga desapareciam uma por uma.

― o que está fazendo?

Lily arregalava os olhos enquanto sentia a cor voltar ao seu rosto ― para agora!

Lily retirava as mãos de Raque de seu rosto.

― fica quieta!

Raque a tocava novamente ― estou te dando energia!

― eu sei

Lily a empurrava mais uma vez ― mas se fizer isso você vai acabar ficando sem.

― confia em mim.

Raque a tocou mais uma vez.

Após alguns momentos de troca de energia, Lily estava recuperada.

― e você… está bem?

Lily parecia apreensiva enquanto ajudava a garota a se levantar.

― sim.

Raque respirava fundo.

― uau…

Lily admirava ― que inferno.

As duas garotas permaneciam em silêncio enquanto observavam a batalha.

― vou ajudar!

Lily se dirigia para o campo de batalha, sentiu Raque puxar o seu braço.

― não.

― mas então por que…

― Vallery.

Lily desviou o olhar

― entendo...é o único motivo.

― não.

A pequena maga voltou sua atenção para Raque.

― como eu disse antes…

Raque também a encarou ― você tem uma Hinan para salvar, e ela fica no Sul.

Algumas lágrimas surgiram no rosto da pequena garota, ela rapidamente abraçou a amiga.

― você é a única que nunca duvidou da minha capacidade.

― queria eu ter um pouco da sua força.

Raque também a abraçou.

― Lily!

Erii se aproximou das duas ― você está de pé...e bem!

— estou ótima!

Lily dava um sorriso largo.

— graças a Deus!

Erii a abraçava forte.

— ta tudo bem Erii sério…

Lily sorria.

**

— Val!

Sayo observava a guerreira retomar a consciência.

— oi…

Vallery parecia confusa.

— segura.

Sayo lançava uma adaga na direção da garota. Habilmente a guerreira agarrou a arma — eles não vão te dar tempo de se recuperar.

Vallery acenou positivamente com a cabeça e se pôs de pé para a batalha.

— bom dia!

Jon se aproximava da garota. Vallery permaneceu em silêncio.

— não querendo desmerecer seu desempenho em batalha, mas você vai ser mais útil com a espada alienígena em mãos. Seu alvo é o Céverus!

Deixando a rivalidade de lado, Vallery finalmente se deu conta da situação.

— onde está a espada?

A guerreira perguntava com um tom de voz firme.

— no pior lugar possível.

Imediatamente Vallery se virou na direção de Céverus e notou a espada fincada no chão ao lado dele.

— como deixaram isso acontecer?

A guerreira se irritava.

— como deixamos? Quem perdeu a consciência com ela em mãos no meio de uma batalha foi você. Te arrastar viva de lá já deu muito trabalho.

Jon estava indignado. Vallery ficou em silêncio.

— isso já deu certo algumas vezes…

A guerreira se concentrava. Jon observava o que estava por vir.

— venha espada da justiça… venha…

Vallery sussurrava.

— isso é engraçado.

Jon tentava conter o riso. Ao lado de Céverus, a Masayoshi se movia lentamente.

— ta de brincadeira…

Jon estava perplexo.

A Masayoshi levitava e se direcionava ao chamado da guerreira, mas foi parada por Céverus que a agarrou firme.

— opa!

Céverus sorria — você fica aqui comigo.

Calmamente o miraniano guardou a espada em uma bainha que carregava presa nas costas.

— droga…

Vallery se agachava na tentativa de se esconder do inimigo, sem a Masayoshi ela estava indefesa e provavelmente seria o alvo de Céverus.

— você bem que poderia tentar conseguir ela de volta né?

Vallery desviava o olhar enquanto sugeria a Jon.

— eu to cansado de apanhar daquele demônio.

Jon franzia as sobrancelhas.

— você é o único aqui que, pelo menos, consegue uma luta descendente.

Vallery rebatia.

Jon se manteve em silêncio.

— não estou te pedindo um favor Jon, seus povo também está morrendo!

— não fale como se isso te importasse…

O shikõ cerrou os punhos.

— de fato eu não me importo. É só uma troca de favores. Me consiga a espada, eu mato Céverus, você salva sua sociedade e eu as Hinans.

Jon sorriu.

— sabe Vallery…

O shikõ observava a espada ensanguentada em suas mãos — nunca tive nada diretamente contra você, mas a sua obsessão em me matar me fez criar uma certa antipatia.

— isso não faz a menor diferença pra mim.

Vallery demonstrava desinteresse.

— eu sei. Mas de fato a sua sinceridade é algo que eu admiro.

Sem mais diálogo adicional, Jon se dirigiu ate o inimigo, dando início a batalha.

**

— Lily…

Raque mantinha os olhos fixos no cenário de guerra.

— oi

Lily a encarava.

— você sabe como funciona esse fio que mantém a Vallery?

Lily parou por alguns segundos.

— pra falar a verdade eu não tenho a menor ideia.

Lily estava com um olhar perdido e um sorriso sem graça no rosto.

— qual o seu problema?

Erii estava revoltado.

— olha, o livro da Jordy era grande e chato, pulei a introdução e foquei nas instruções necessárias.

Lily explicava.

— ISSO NÃO FAZ SENTID…

— o fio não está diretamente conectado.

Raque interrompia a discussão que provavelmente renderia muito — não é uma linha direta… o fio de ligação atravessa o outro mundo antes de chegar na Vallery.

Lily e Erii pareciam incrédulos.

— ele passa por uma espécie de fenda que a Lily criou para completar a magia e contatar a Vallery.

— eu abri uma fenda no mundo dos mortos?

Lily dizia sem acreditar no que ouvia.

— sim.

— cara... EU SOU MUITO INCRÍVEL!

Lily erguia as mãos para o alto eufórica.

Erii bateu a palma da mão esquerda no rosto, explodindo indignação.

— eu não acredito nisso.

— o plano é abrir mais essa fenda.

Raque estava séria.

— hum…

Lily estava pensativa.

— e eu vou fazer isso.

Raque completava.

— não, pera. O quanto você pretende abrir?

A pequena maga a encarava.

—  muito.

— Raque, eu não faço ideia do que você está tentando fazer, mas abrir aquilo me consumiu muito e eu quase morri por conta disso. Você não resistiria, ainda mais depois de compartilhar energia, é tolice.

Lily argumentava.

— qual é o plano?

Erii perguntava receoso.

— precisamos de um exército, e não temos guerreiros suficientes. Eu quero evocar aliados, e por fim provisoriamente a divisão entre vivos e mortos.

— quem te garante que isso nos dará a vitória? Quem no mundo dos mortos poderia nos ajudar?

Erii questionava.

— quando invadimos a Hinan do norte, dezenas de soldados shikõs foram mortos, quando a Sociedade foi atacada o mesmo aconteceu, só que dessa vez eram milhares

Erii e Lily observavam a garota — com essa quantidade seremos capazes de vencer.

— ok.

Lily se manifestava — o plano é bom devo admitir. Mas não temos energia o suficiente para executá-lo! Raque se tentar você morreria e mesmo assim não conseguiria alcançar resultados.

Raque respirou fundo.

— eu tenho um trunfo.

Houve silêncio.

— não tem não.

Lily rebatia.

— eu preciso disso Lily.

— não, você não precisa!

A maga se alterava — vai se render a maldição depois de resistir por tanto tempo? É ridículo!

— eu não vou me render a nada!

Raque falava em um tom de voz baixo — eu vou ser forte! Vou vencer a maldição!

— Raque… olha para o Céverus. Aquilo é o resultado da maldição, não tem como você vencer aquilo.

Lily recitava quase uma súplica.

— Lily…

Raque sussurrava — tenha um pouco de fé em mim.

— mas…

Lily buscava palavras — eu só quero você fique bem.

— nós vamos ficar.

Raque estendia a mão — agora me ajude com o feitiço, eu não sei como se faz, vou apenas doar energia.

A maga hesitou um pouco, mas acabou cedendo. No fim ambas estavam de joelhos uma de frente para a outra.

— repita tudo o que eu disser.

Lily erguia as mãos esperando que Raque as segurasse, para que começassem a conexão.

**

— você de novo?

Céverus bloqueava o ataque de Jon sem nenhum esforço — se eu arrancar sua cabeça talvez você pare de me incomodar.

Com a destreza de um mestre Céverus rasgava o ar com sua lâmina, habilmente Jon inclinou seu corpo para trás, evitando assim o golpe fatal que acabou cortando-lhe alguns fios de cabelo. Sem permitir que o inimigo desferisse mais um golpe, o shikõ usou sua energia para fazer uma onda de vento que os afastou, dando espaço para se livrar do próximo ataque.

Jon sabia como deveria seguir com aquela batalha, precisava se manter o mais longe possível para não ser atingido. Céverus era rápido e forte, mas ainda era mais fácil esquivar do que bloquear, além disso precisava de ataques rápidos e poderosos.

Atacar e afastar, esquivar e depois atacar. Jon organizava sua estratégia. Ele sabia que não poderia vencer, mas precisava mantê-lo ocupado para conseguir a espada na primeira oportunidade, e principalmente sobreviver o suficiente para fazer isso.

— foco Jon.

O shikõ sussurrava enquanto juntava energia para o próximo ataque.

**

Rochas se moviam pelo ar, e sem pausa, Erii destruía qualquer shikõ que se aproximava.

Sob a proteção do guerreiro, as duas magas executavam o feitiço.

— achei!

Lily dizia com ânimo.

— o que?

Raque parecia confusa.

— a fenda, está aqui… consegue ver?

Com os olhos fechados Raque se concentrava.

— não.

A garota dizia com desânimo.

— se concentre mais!

O tom de voz de Lily agora era autoritário. Após alguns segundos de tentativas Raque parou.

— não ta funcionando.

— você é muito mimada!

Raque se assustou com o ataque da companheira.

—  eu estou me esforçando Lily.

— não o suficiente. É natural que seja mimada, não leve para o pessoal. Você é uma maga de nascença, a magia fluí de você mesmo sem treinamento. Eu precisei de muito esforço pra me tornar uma.

Raque permaneceu em silêncio.

— mas a sua zona de conforto te fez se limitar a defesa, é hora de saltar essa fase Raque. Aprenda a fazer feitiços de verdade.

Naquele momento as duas garotas abriram os olhos.

— então se concentre mais.

Raque acenou positivamente com a cabeça  e voltou para a magia.

— Raque acalme seus batimentos…

Lily sussurrava — está vendo uma barreira cinza?

— sim.

Raque também sussurrou.

— procure por uma rachadura prateada…

— achei!

Raque gritava eufórica. Foi então que sentiu Lily soltar suas mãos.

— Lily…

A maga buscava pela companheira na escuridão de seus olhos ainda fechados.

— o feitiço acabou Raque.

Raque sentiu seu coração acelerar.

— tudo o que você precisa fazer é concentrar um fluxo de magia gigantesca nessa fenda até que ela ceda.

Raque juntou suas duas mãos ao peito, se sentiu sozinha.

— tem certeza do que está fazendo?

Lily dizia com pesar.

Mas Raque não tinha certeza, nem por um minuto sequer sentiu isso em seu coração, na verdade tudo o que queria fazer era fugir dali o mais depressa possível.

— tenho.

— boa sorte.

A pequena maga sorriu.

— vamos lá....

Raque sussurrava num tom de voz que só ela era capaz de ouvir, as vozes ao seu redor se calavam conforme seu foco aumentava — focar o fluxo de energia… focar o fluxo de energia…

Um círculo de luz se acendia ao redor da jovem maga, apreensiva, Lily observava.

Conforme o tempo passava, a luz ficava mais forte e o nariz de Raque começava a sangrar.

— não ta dando certo!

Erii se mostrava preocupado.

— ela vai conseguir.

Lily cerrava os punhos.

— precisamos fazer ela parar!

— Erii… não tem mais volta.

Lily sussurrava — é tudo ou nada.


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