Hinan escrita por Hakiny


Capítulo 34
As Lágrimas de Uma Maga parte 2


Notas iniciais do capítulo

continuação :)



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No jardim do palácio, Jordy estava inquieta, andava de um lado para o outro, deixando clara sua preocupação. Ela estava com medo, não sabia por que, mas estava.

― ele esta bem! É só um passeio até Hinan, o que há de errado nisso? Kotonarus são peixes pequenos e humanos... nem preciso comentar!

A garota dizia a si mesmo enquanto forçava um sorriso ― mas quando ele disse que estava em perigo... o que poderia ser? E a Jack ferida...

Jordy mordia a parte inferior dos lábios enquanto imaginava o que poderia ter acontecido. Novas armas foi o que ele disse, mas do que essas armas eram capazes?

Naquele momento Jordy parou, com uma expressão confusa ela então olhou para o céu. Tentava encontrar nos movimentos suaves das nuvens uma forma de acalmar seu coração aflito, em vão.

Uma pequena movimentação na grama chamou a atenção da shikõ, atrás dela uma luz resplandeceu e virando-se imediatamente ela então avistou a sombra de algumas silhuetas se formando.

Apertando os olhos, a shikõ tentava identificar aquela cena. Foi então que os olhos de Jordy se arregalaram.

―não... não...

Jordy dava alguns passos em direção aos recém-chegados, quase que como em um ato de desespero a shikõ correu em direção a Jon, que carregava Andy ensanguentando em seus braços.

―meu Deus... Andy.

Jordy chorava diante do irmão desacordado. Jon sofria em silêncio, estar diante de sua amada em prantos, parecia uma tortura para aquele shikõ de classe alta.

Logo em seguida Jon e os outros levaram Andy e Jack para o hospital do castelo.

**

― o que diabos aconteceu naquela cidade?

Kannot estava alterado.

―pelo o que a Jack me contou, os humanos estão com novos tipos de armas, muito poderosas por sinal.

Allk explicava.

― eu não acredito que atacaram eles, quase mataram meus filhos!

Kannot bufava de ódio ― amanha terei uma conversa séria com o conselho de Hinan, e se isso não se resolver teremos uma guerra!

O velho batia com força na mesa. Um pouco assustado, Jon o observava. Kannot era sempre um homem tranquilo e pacifico, desde que não mexessem com os “filhos” dele.

― não acho que seja necessário que as coisas cheguem a esse ponto.

Dragon se manifestava naquela sala de reuniões.

― concordo com o Dragon, deveríamos apenas cortar toda e qualquer comunicação com as hinans!

Butcher sugeria.

― isso é loucura!

Allk se pronunciava ― sei que foi uma situação complicada, a minha Jack se machucou e isso realmente é algo que me dói, mas precisamos dos suprimentos vindos de Hinan! Nossa tecnologia e lazer vêm de lá! Fechar as portas para essa comercialização seria o mesmo que acabar com a nossa comodidade.

Allk defendia seu ponto de vista.

― o Allk tem razão, isso pode ser resolvido amigavelmente.

Dragon apoiava Allk. Sentado em seu trono, Kannot ouvia atentamente as propostas dos membros do conselho.

― isso é ridículo!

A porta havia sido aberta com brutalidade, o som de saltos pequenos naquela fina mármore despertou a atenção de todos ali presentes.

― Jordy...

Jon tentava impedi-la, sem sucesso já que aquela altura ela já havia avançado em direção a Kannot.

― velho... os dois foram atacados de forma cruel e impiedosa! E só haviam ido buscar uma maldita revista!

Jordy não escondia sua indignação. Com uma aflição, Jon observava as olheiras em seu rosto, que intensificavam seu aspecto cansado, deixando em evidência a noite que havia passado em claro ao lado da cama do irmão.

―pra inicio de conversa você nem faz parte do conselho.

Dragon a repreendia.

― estou me dirigindo a Kannot o líder dos shikõs, não a você!

Jordy provocava.

― que moral você tem para falar dessa forma comigo? Sou filho de Kannot e um dos membros mais poderosos da sociedade.

Dragon se gabava com certa arrogância.

― e de que vale um titulo e alguns anos a mais, se no fim não passa de um bêbado irresponsável que não se importa com o bem estar de seus companheiros.

Jordy agora estava de frente para Dragon.

― olhe para si mesma Jordy, você não passa de um lixo recém-nascido!

Dragon a encarava com um olhar de desprezo.

― e você é o orgulho da nação não? Faça me rir!

Jordy provocava.

― SILÊNCIO!

Kannot encerrava a briga.

― como membro da classe máxima do conselho, exijo a saída de Jordy da reunião.

Um pouco apreensivo Kannot se silenciou. Jordy olhava para Jon, buscava por amparo... defesa. O shikõ a olhou por alguns segundos, antes de desviar os olhos para outra direção.

Em seu rosto, Jordy carregava uma expressão de decepção.

Sem dizer mais nada ela apenas se retirou da sala.

― então daremos continuidade à reunião.

Kannot prosseguia.

**

― como o Andy está?

Jack havia chegado até o hospital.

―ainda está inconsciente.

Lóris acabara de sair do quarto do garoto.

― eu não entendo... porque eu me recuperei tão de pressa e ele ainda ta mal.

Jack lamentava enquanto o observava pelo vidro da porta.

― encontramos uma série de micro robôs dentro do Andy.

Lóris explicava enquanto retirava um objeto do bolso do jaleco e entregava para Jack.

― o que é isso?

Jack observava aquela pequena criatura robótica.

― eles estavam dilacerando-o por dentro, por mais que a habilidade de cura de um shikõ seja boa, não da pra competir com essas coisas. A cirurgia de retirada durou algumas horas, eles se moviam por todo o corpo dele. Por pouco não alcançaram o coração.

Ao ouvir essas palavras, Jack levou a mão a boca, demonstrando espanto.

― quer ir vê-lo?

Lóris a observava, Jack acenou positivamente com a cabeça. Após deixa-la a sós com o shikõ, Lóris saiu.

Sentada ao lado da cama do garoto, Jack o observava. Em sua mente havia um mix de culpa e preocupação. O clima na sociedade estava insuportável, Allk havia entrado na sala de reuniões há horas e provavelmente permaneceria lá por mais algumas. Em seus momentos de tédio era a Andy que Jack infernizava. Mas agora ele estava ali, doente, havia escapado a pouco da morte, isso a dava arrepios.

―eu sinto muito...

Jack sussurrava ― você estava tão preocupado, parecia saber a gravidade da situação, eu fui inconsequente... eu sempre fui não é mesmo?

Jack sorria enquanto deixava que uma lágrima rolasse em seu rosto ― eu sinto muito que tenha se machucado Andy. Eu não quero que você morra, quem eu vou zoar?

Jack chorava como uma criança.

― você ainda tem o Cute e o Nael...

A voz de Andy fez Jack se calar.

― o Cute não revida e o Nael nunca entende. O máximo que ele faz é me mandar ficar “menas” estressada.

Jack sorria enquanto enxugava o rosto.

― eu vou ficar bem Jack, relaxa.

Andy sorriu.

― eu não me importo trouxa! Pra todos os efeitos, eu estou com alergia.

Jack rebatia após se livrar da cara de choro ― eu trouxe pra você.

A garota retirava um envelope do bolso e colocava sobre o peito de Andy.

― o que é?

Andy parecia confuso.

― os 175 que o Nael pagou pelo serviço.

― sabia que não eram só 50.

Andy começava a rir, mas logo foi interrompido por uma crise de tosses, após limpar a garganta ele prosseguiu ― mas de qualquer forma, e a sua parte?

― você merece.

Jack dizia enquanto se levantava para sair.

― Jack...

― descanse Andy, sua irmã anda muito preocupada com você.

Com essas palavras a jovem garota fechou a porta e saiu.

Essa cena seria linda se há 2 horas, Jack não tivesse ido até a casa de Tony pegar os 25 mil que haviam lhe pagado pela cabeça dos dois. Mas o Andy nunca saberá disso é claro.

**

Em passos rápidos, Jordy se dirigia até o hospital do castelo.

― amor...

Jon a havia alcançado. Sem dar importância ao chamado, a garota prosseguia ― não quer nem ao menos conversar.

― quando estávamos na reunião do conselho, você não parecia querer muito papo. Pelo menos foi isso que eu pude notar quando você virou o rosto quando eu te olhei.

― tente entender Jordy, eu não podia tomar uma posição e...

― NÃO PODIA TOMAR UMA POSIÇÃO?

Jordy havia se virado para Jon com uma expressão de ódio ― aquele babaca me humilhou diante de todos e você ficou em silêncio! Mesmo estando na mesma posição que ele, você optou por me deixar sozinha...

― aquele babaca é meu irmão...

Jon mantinha um tom sereno.

― FODA-SE! Eu sou sua namorada! E todas as vezes que disse que me amava? Amar é cuidar! É proteger!

Jordy gesticulava e gritava como uma louca.

― aquilo era diferente...

Jon falava quase com um sussurro.

― NO QUE ERA DIFERENTE?

― pra inicio de conversa, você nem deveria estar lá.

Jon a encarava.

― ah claro! Agora a culpa é minha?

A shikõ debochava.

― SIM JORDY A CULPA É SUA!

Jon havia aumentado o tem de voz, um pouco assustada Jordy deu alguns passos para trás.

― ah ótimo! Agora você vai gritar comigo também? Ta tudo perfeito Jon! Porque não aproveita e me insulta também?

A garota agora tentava assumir uma posição de vitima. Jon a observou por alguns segundos antes de se virar e sair.

― vai me ignorar agora?

Jordy o provocava. Jon prosseguiu sem hesitar, ele sabia que se permanecesse ali por mais alguns segundos, seria capaz de dizer palavras duras, palavras que mais tarde lhe causariam arrependimento.

― Jon...

Jordy choramingava. Mas tudo o que ela ouviu como retorno foi o barulho da porta batendo.

― eu não acredito...

Jordy sussurrava. Após todo esse tempo se mantendo forte, a shikõ deixou que algumas lágrimas lhe escapulissem.

Em passos rápidos ela se dirigiu até o hospital, conforme avançava a garota enxugava o rosto.

Ela ignorou todos os enfermeiros e médicos e abriu a porta do quarto do irmão sem ao menos ser pronunciada.

― Jordy?

Andy se assustou. Diante do irmão consciente, a garota deu um leve sorriso e mais lágrimas brotaram.

― que bom que você esta bem!

Jordy avançava para cima de Andy e o abraçava com força. Um pouco assustado Andy sorriu:

― fica tranquila mana, volto a andar em alguns dias... pelo menos foi o que a Lóris falou.

― malditos...

Jordy sussurrava.

― foi só um mal entendido Jordy, vamos esquecer isso. Quando o Jon apareceu e conversou com eles, tudo se resolveu. Prometemos não voltar lá, e eles nos deixaram ir...

― eles ficaram com medo do Jon! Por isso concordaram, se eles não tivessem chegado, quem sabe o que teria acontecido?

Jordy não escondia sua indignação ― nós lutamos por eles, nos arriscamos para afastar os kotonarus dos muros... e é assim que eles agradecem? Os humanos são desprezíveis!

― como eu disse, tudo já foi resolvido....

― o Jon é um covarde! Preferiu bater papo com eles ao invés de fazer justiça de verdade!

A shikõ parecia não ouvir as palavras ditas pelo irmão.

― Jordy, acabou.

Andy tocava o braço da irmã.

― justiça...

A garota sussurrava.

― Jordy?

Com uma expressão um tanto área a garota saiu da sala.

― JORDY!

Andy gritava, sem resposta.

**

O sol mal havia aparecido e Jordy já se preparava para sair, não havia conversado com ninguém na noite anterior, nem mesmo com Jon.

―Jordy, você está junto comigo na equipe de varredura. Partiremos em alguns minutos e...

― estou fora! Procure um substituto, tenho coisas mais importantes a fazer.

Com uma voz dura, a shikõ interrompeu Jack, e a deixou sozinha enquanto se dirigia em passos rápidos em direção à saída do castelo.

Do alto da torre de observação, Jon e Kannot observavam a movimentação no castelo, foi quando o shikõ avistou a imagem de Jordy se distanciando.

― aonde ela está indo?

Jon parecia preocupado.

― a Jordy está no pelotão de varredura dessa manhã.

Kannot respondia de forma calma.

― porque ela está sozinha?

Jon ainda estava intrigado.

― ela está meio emburrada desde a reunião de ontem, é provável que sé esteja fazendo birra.

Kannot explicava. Relaxando um pouco mais sua expressão preocupada, Jon parecia ver sentido nas palavras do velho.

**

―papai! Papai!

Uma pequena garotinha de cabelos loiros e ondulados corria em direção a um homem de estatura alta e cabelos castanhos claros.

― o que foi Vallery?

O homem se inclinava na direção da garota.

― olha essa boneca papai, é tão linda!

Os olhos da menina pareciam brilhar.

― coloca no carrinho.

O homem cochichava ― mas não deixe que a sua mãe...

―Zaikki! Você esta mimando demais essa menina!

A voz autoritária de uma bela mulher, fez com que os dois se assustassem.

― ah querida, é só uma boneca e...

― viemos ao mercado comprar legumes e olha pra esse carrinho, está cheio de brinquedos!

A mulher interrompia a tentativa de justificativa de Zaikki.

―a pequena Val é minha única filha, e menina ainda, dê a esse pai o privilégio de mima-la um pouco.

O homem coçava a cabeça um pouco sem graça.

― dessa vez eu deixo passar, mas se mais um brinquedo entrar naquele carrinho de compras... vocês dois vão ficar sem almoço hoje!

A mulher encarava os dois cúmplices.

― sim senhora tenente Layse!

Zaikki fazia posição de sentido. A mulher gargalhou por alguns segundos e voltou para dentro da barraca de frutas.

**

Do alto do muro da Hinan do Norte, Jordy observava a movimentação dos habitantes. Era domingo e o grande mercado de variedades estava lotado. Cerrando os punhos a shikõ os observava com desprezo, em um movimento rápido ela saltou para dentro da cidade. A aquela altura, ela não se importava que a notassem, pois diferente de Jack e Andy, seu nível de luta era mais elevado e ela estava pronta para aquilo.

Ela não havia caminhado nem por cinco minutos, e já havia notado a presença de um homem de uniforme, com uma arma apontada para ela.

― você é uma shikõ não é mesmo?

Jordy o observou por alguns segundos, e em seguida o lançou longe com apenas um sinal de mãos.

― SHIKÕS! ESTAMOS SENDO ATACADOS! TRAGAM OS CANHÕES CHAMEM OS SOLDADOS!

O alarme havia sido ativado, em poucos segundos uma legião de soldados havia cercado a garota, os civis da área corriam desesperados em busca de abrigo.

― ATACAR!

O que parecia ser o comandante passava as ordens, logo em seguida, os canhões dispararam sem parar em direção a Jordy. Uma enorme nuvem de poeira impediu a visão de todos ali. Um grito foi ouvido.

― silêncio soldados.

O coronel ordenava. Um outro grito em seguida.

― coronel Carter, o que está acontece...

As palavras do soldados se findaram em um grito de horror.

― então você é o comandante Carter?

Jordy estava tão perto do soldado, que ele pode sentir seu corpo inteiro tremer. Com sua força sob humana, Jordy ergueu o comandante pelo pescoço com apenas uma mão ― onde está sua pose agora? Coronel...

Jordy falava de forma arrastada.

Pouco a pouco a poeira se dissipava e no fim, tanto Jordy quanto Carter haviam desaparecido.

**

― bom, acho que já foi o suficiente!

Layse sorria satisfeita.

― comprou chocolates mamãe?

Vallery se agarrava no vestido de Layse.

― eu comprei minha princesa!

Zaikki exclamava com um sorriso bobo o rosto.

―EBAAA!

A menina vibrava.

― claro que comprou...

Layse revirava os olhos, demonstrando certo tédio.

Uma enorme gritaria no mercado, fez com que Vallery agarrasse ainda mais as pernas de sua mãe.

― o que está acontecendo?

Vallery abraçava a filha assustada.

― não sei, deve ter ocorrido alguma invasão de kotonarus.

Zaikki estava sério ―sigam a multidão, vão para um lugar seguro, assim que eu puder me junto a vocês!

― papai...

Vallery chorava.

― obedeça a sua mãe Vallery.

Com essas palavras, o homem sumiu no meio da multidão.

― mamãe, se ta todo mundo correndo, porque o papai está indo para o lado do perigo?

A menina chorava desesperadamente.

― filha, seu pai é da policia, quando algo ruim acontece, é ele quem vai resolver.

Layse havia se agachado na altura da menina.

― ele é tipo um super-herói?

A menina enxugava as lagrimas. Naquele momento de aflição, Layse sorriu.

― é, isso mesmo, um super-herói! Você entendeu direitinho! Agora vamos sair daqui!

**

Jordy juntamente com seu refém, que havia sido arrastado, haviam chegado à estação de trem.

― então esses são os trens que estão levando de volta os malditos sulistas não é mesmo?

Jordy lançava o homem com brutalidade no chão ― não é mesmo?

A shikõ havia perdido a paciência, virando-se novamente para Carter, pôde vê-lo engatinhando para longe. Em um movimento rápido a garota saltou e aterrissou em cima do braço do comandante, tudo o que podia se ouvir era o som de ossos se quebrando, seguidos por um grito de agonia.

― eu não gosto que me deixem falando sozinha.

A mulher carregava uma expressão de tédio no rosto.

― maldita vadia desgraçada.

Sem hesitar, Jordy pisou em cima do outro braço do homem mais uma vez o quebrando.

― eu não gosto de ser insultada.

― ei você!

Uma voz masculina chamou a atenção da shikõ.

― mais um...

Jordy demonstrava tédio.

― eu me chamo Zaikki. Sou comandante do pelotão de elite da I.O.S.

Zaikki se aproximava.

― e eu não ligo.

Jordy dava de ombros.

― eu não tenho nada contra os shikõs... pra falar a verdade tenho até um amigo que também é shikõ, Dragon... você deve conhecer.

― uau! Que belo amigo você tem!

A shikõ ironizava.

― soube por outros o que havia acontecido, e sinto muito pelo o que houve com seus amigos... amanha faremos uma reunião com os representantes das hinans para fazermos um acordo de paz novamente com o Kannot e...

― ai ai...

Jordy ria ― é tão engraçado o que o medo faz com as pessoas, você virou até representante da paz.

― eu não tenho medo de você.

Zaikki a encarava.

― deveria...

Jordy fazia o mesmo.

― o que eu quero dizer...

Zaikki desviava os olhos ― ... é que você deve ir embora. Já foi o suficiente, pessoas se machucaram, e eu acho que isso já foi uma boa vingança.

― não.

Jordy se virava para um dos trens lotados de passageiros ― não até acabar com seus preciosos cientistas.

― se você machucar algum civil eu...

― que medinho...

Jordy erguia sua mão direita em direção ao trem.

― Trem rumo a Hinan do Oeste partirá em 60 segundos.

Uma voz robótica vinda de um alto falante começava a contagem.

― não são apenas cientistas, são pais de família e nem todos são da Hinan do Sul!

Zaikki começava a se desesperar.

― olha a minha cara de preocupada.

Jordy esboçava um sorriso demoníaco no rosto. Um clarão surgiu seguido de uma enorme explosão, tudo havia acontecido tão rápido que só depois Zaikki pode se dar conta da destruição completa do trem.

― não...

O comandante sussurrava de olhos arregalados ao presenciar aquela cena.

― um já foi, faltam três!

Jordy sorria com mais animação ― espero que eles não tenham compromisso marca...

As palavras de Jordy forma interrompidas por uma dor indescritível no peito esquerdo. Diante dela um homem empunhava a espada que estava cravada em seu coração. Ele estava tão perto, que ela era capaz de ouvir sua respiração ofegante e encarar seus olhos azuis a penetrando como se quisessem roubar sua alma. Havia sido tão rápido que ela nem sabia como tinha acontecido. Sem delongas Zaikki arrancou sua espada do corpo da shikõ e se afastou. Ainda um pouco zonza Jordy pôde ver a imagem embaçada de seu livro de magia caído diante dela, mas aquilo não importava, não agora. A garota disse algumas palavras em um idioma desconhecido e desapareceu dos olhos de quem estava ali.

**

No palácio dos shikõs, o pelotão de varredura estava prestes a partir.

― estamos atrasados!

Marius resmungava.

― eu estava com fome!

Jack se defendia.

― você sempre está com fome!

Nael gargalhava.

― você ta me chamando de gorda?

Jack se irritava.

― não eu...

― claro, quem atrasaria o pelotão inteiro só pra comer? A gorda é claro!

Jack ironizava.

― eu não disse isso!

Nael parecia não entender.

― Kouhai!

A voz de Jon pôs fim à conversa.

― senpai!

Jack acenava. Jon se aproximou.

― kouhai, a Jordy anda um pouco estressada e... eu queria te pedir que tentasse conversar com ela durante a missão, sei lá. Ela não tem falado comigo e...

― a Jordy não vem com a gente!

Jack o encarava. Jon arregalou os olhos ― eu passei no quarto dela mais cedo, e ela parecia bem nervosa, foi mal educada na verdade! Eu conversei com ela e...

Pouco a pouco as palavras de Jack pareciam mais distantes, Jon estava pálido. Havia se lembrado de como Jordy carregava ódio em suas palavras. Ela havia saído mais cedo, em direção as hinans. Mas não era varredura.

― meu Deus...

Jon sussurrava.

― senpai?

Jack o estranhava. Sem explicação alguma Jon correu desesperadamente em direção à saída do castelo.

― SENPAI!

Jack tentou por uma ultima vez, mas ele já havia sumido.

Jon corria a toda velocidade em direção a Hinan do Norte, seu coração estava acelerado. Imaginava a confusão na qual Jordy se meteria, e com todos aqueles equipamentos, não seria estranho que ela se ferisse ou quem sabe até...

Os pensamentos de Jon foram interrompidos pela a imagem de sua amada ao longe. O tom alaranjado daquele deserto facilitava a localização de Jordy.

A mão direita de Jordy servia para estancar o sangramento e pouco a pouco ela sentia suas forças se esvaindo. A expressão de desespero que ela carregava no rosto foi substituída por alivio, quando ela avistou Jon.

Conforme se aproximava Jon podia ver a shikõ com mais nitidez, e a aquela distancia ele já notava as manchas vermelhas cobrindo a parte superior do macacão da garota.

― não...

Jon sentia a aflição tomar conta de seu corpo. Talvez o alívio levasse Jordy a se entregar ao cansaço e foi o que ela fez, mas antes que pudesse atingir o solo sentiu as mãos de Jon a amparando.

― ainda bem que você me achou...

A garota sussurrava.

― o que aconteceu?

Jon perguntava com uma voz falha.

― eu acho que mereci isso.

Jordy mantinha a voz baixa, enquanto sentia algumas lágrimas brotando em seus olhos.

― vou te levar de volta, a gente trata isso e depois eu te dou uma bronca.

Jon forçava um sorriso.

― foi no coração... bem no coração... aquele maldito Zaikki era bom.

Jordy sorria. Os olhos de Jon se arregalaram, até então ele não sabia a gravidade da situação, a quantidade sangue era tanta que era impossível descrever a origem do ferimento. Naquele momento Jon não foi capaz de segurar suas lagrimas.

― o que diabos você foi caçar lá?

Jon perguntava em meio a gemidos e soluços.

― vai me dar lição de moral no meu leito de morte? Isso é no mínimo cruel...

Jordy ironizava.

― VOCÊ NÃO VAI MORRER!

Jon se alterava.

― eu já estou morta Jon... talvez eu tenha apenas esperado um pouco pra te ver, porque eu não poderia partir sem sentir o calor do seu corpo por uma ultima vez.

Jordy se aconchegava nos braços de Jon. O silencio daquele momento só era quebrado pelo choro de desespero de Jon. Uma pequena partícula de luz emergiu da pele da garota.

― não... não... não...

Jon se desesperava.

― eu já vi isso acontecer uma vez.

Jordy tocava o rosto de Jon ― não dói mais.

Ela sorria. Uma lágrima escorria do rosto da garota.

― EU NÃO QUERO TE PERDER! EU NÃO SEI O QUE FAZER DEPOIS... JORDY!

Jon se desesperava cada vez mais.

― ei, ei... olhe para o céu.

Jordy apontava. Jon a obedeceu ― as nuvens sempre me acalmam...

A garota dizia com um sorriso. Jon continuava a observar o céu, sua visão estava embaçada e ele não dava a mínima para nada daquilo, ma não teria coragem de negar aquele pedido singelo.

― eu te amo Jon.

― eu também te amo Jordy.

Quando Jon voltou seus olhos novamente para baixo, Jordy não estava mais em seus braços e nunca mais estaria.

**

O sol estava se pondo, e na Hinan do leste a pequena Sayo aguardava ansiosa pela chegada de seu pai. Há mais ou menos duas horas, sua mãe havia se trancado no quarto após receber um telefonema.

― saia da janela Sayo! Vai acabar pegando um resfriado nesse vento!

Uma velha senhora gritava da cozinha, Sayo não entendia bem o que estava acontecendo, mas percebera que sua avó também estava estranha.

― vovó o papai vai demorar?

Sayo se entrelaçava entre as pernas da velha. A mulher suspirou e se silenciou por alguns segundos.

― seu pai não volta hoje minha fia, ele teve uns problemas no trem de volta...

A expressão da garotinha decaiu.

― leva essa sopinha para a sua mãe vai, não faça perguntas, só entregue e a deixe descansar.

A mulher dizia enquanto entregava uma bandeja para a menina. Sayo acenou positivamente e se dirigiu até o quarto de seus pais.

― mainha, trouxe a sopa da vovó.

A menina encostava-se à porta.

― está aberta.

Ao ouvir a resposta Sayo entrou. De frente pra janela de vidro, sua mãe estava sentada em uma cadeira de balanço. O quarto estava escuro, pois a noite se aproximava, tudo o que a menina podia ver era a sombra de sua mãe agarrada a seus joelhos.

― a sopa...

― deixe em cima do criado mudo, a mamãe já vai comer. Obrigado querida.

Sayo fez como mandado e se virou para sair, pensou em perguntar o que estava acontecendo, mas se lembrou das ordens de sua vó e apenas saiu em silencio.

**

A noite havia caído e Jon finalmente voltou para a sociedade, com as roupas cobertas de sangue ele havia conseguido a atenção de todos os shikõs presentes ali, não havia expressão em seu rosto e ele não parecia se importar com o que estava acontecendo ao seu redor.

― Jon!

Dragon gritava pelo nome de seu irmão. Jon o ignorou enquanto seguiu o caminho até o seu quarto.

― Jon!

Dragon o seguiu. Jon entrou no cômodo e fechou a porta em seguida. As noticias ruins corriam depressa, principalmente com as visões de Lóris a disposição dos shikõs.

Mesmo abalado, Jon ainda era capaz de ouvir a respiração de Dragon do outro lado daquela velha porta de madeira refinada.

― Jon eu sei que a Jordy...

― por favor Dragon, não fale como se isso lhe importasse.

Jon interrompia Dragon com um tom de voz baixo.

― mesmo que não nos déssemos bem, não queria que algo desse nível acontecesse com ela.

Dragon se defendia.

― me deixe sofrer em silêncio. Eu não quero ver ninguém, e nem falar com ninguém. Eu só quero ficar aqui, sozinho.

Jon sussurrava. Os passos vindos lá de fora, denunciavam o afastamento do shikõ.

Sentado na cama, Jon tremia. Lágrimas escorriam pelo seu rosto, a cada segundo ele revivia aquela cena. Em um movimento rápido ele se levantou de sua cama e arrancou desesperadamente as roupas de seu corpo, não se importava se elas estavam rasgando, ele só queria se livrar de todo aquele sangue... de toda aquela dor.

Em passos vagarosos ele se dirigiu até o banheiro e ligou o chuveiro. As gotas geladas percorriam seu corpo, o livrando daquelas impurezas, mas era apenas superficial, ele ainda estava sujo por dentro. Apoiando se na parede, o shikõ sentiu suas lagrimas de fundirem com a água, de forma que ele nem ao menos era capaz de diferenciá-las.

― Zaikki...

Jon sussurrava. Pouco a pouco ele sentia um novo sentimento emanando de seu âmago, não era mais tristeza, nem dor... era ódio.

Na ala de lazer do castelo, alguns shikõs estavam reunidos. Uma grande explosão chamou a atenção de todos ali presentes.

― o que foi isso?

Jack parecia assustada.

― veio dos quartos!

Marius informava.

― o Jon está irritado... teremos sérios problemas.

Dragon sussurrava. As visões de Lóris também tinham identificado o assassino, e Dragon sentia uma onda de preocupação se estabelecer em sua mente. Zaikki estava em grave perigo e ele precisava proteger seu amigo a qualquer custo.


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