Mikael sentiu-se despertar lentamente, e percebeu que estava em uma cama macia, com um lençol de tecido fino, que por sua experiência deveria ser caro. Sentou-se na cama criando coragem para abrir seus olhos para sua nova vida, mas ainda estava com medo.

– O que houve criança? Não vai abrir seus olhos? – disse Isis suavemente.

– Vou, mas tenho medo deusa. Sempre vivi sem a luz do dia, vivendo sempre com a escuridão ao meu redor e usando meu corpo como meus olhos. Não sei se saberei viver de outro jeito. – disse Mikael numa voz emocionada.

– Oh meu querido, eu sei. Mas vamos lá, abra seus olhos e conheça o mundo da luz. Eu estarei aqui com você. – disse Isis.

Mikael obedecendo à deusa abriu seus olhos. No inicio tudo o que ele pode ver, foi uma intensa luz branca, que ele cobriu os olhos com as mãos para não feri-los. Aos poucos se acostumaram à luz e ele pode ver realmente.

– Eu, eu, eu estou vendo. Isis eu estou vendo. – disse Mikael já não contendo as lágrimas que jorravam pelo seu belo rosto, e caiam em cascata por suas bochechas, enquanto Isis o abraçava forte, acariciando seus cabelos e dando conforto.

– Shh, pode chorar. Finalmente você está livre da prisão do mundo das trevas que você vivia. Agora só precisa aprender a viver na luz, filho. – disse Isis enquanto embalava o garoto em seu colo e cantava uma musica mágica para acalmá-lo.

Depois que se acalmou Isis levou Mikael até seu pai, para que ele pudesse ouvir todas as explicações que ele tinha a dar. Ela o levou por vários corredores da escura mansão, e depois de intermináveis voltas, chegou ate uma enorme porta dourada com uma balança gravada.

– Mikael, preste atenção. Caso você não tenha percebido, quando eu lhe dei a visão também dei todo o conhecimento que você precisará usar sobre tudo. Cores, objetos e etc. Não é? – perguntou Isis.

– É verdade. Eu estava tão feliz que não tinha percebido, mas eu sei tudo que eu não deveria saber ainda. Como quantas cores são sem eu nunca ter visto, isso é incrível. Com certeza você é uma deusa Isis. – disse Mikael rindo.

– Sim criança, sou uma deusa. E aviso-te que o teu pai também é um deus. –disse Isis fazendo Mikael parar de rir.

– Qual deus é o meu pai? – perguntou Mikael.

– Seu pai é aquele que um dia foi o deus egípcio da terra, agricultura, e fertilidade do solo e admirado por todos. Mas depois de um golpe de traição levando-o a morte, ele tornou-se o deus do submundo que guia e julga as almas dos mortos. Seu pai é o juiz do mundo dos mortos, Osíris. – respondeu Isis.

– E agora estou indo me encontrar com esse juiz implacável que abandonou o próprio filho cego no mundo para morrer. – disse Mikael rancoroso.

– Terás que ir sozinho a partir daqui. Estarei aqui fora se precisar de mim, mas acho que precisas conversar com ele sozinho. – disse Isis.

Abrindo as portas douradas, Mikael entrou no salão que era gigantesco se comparado com o resto da mansão. Tudo era feito de ouro e jade, decorado com vários itens egípcios por todos os lados. No fundo do salão perto da parede, havia uma enorme balança onde perto dela, dormia uma criatura enorme com uma boca gigante e pelagem branca que a cada respiração dava pra sentir que a balança se mexia um pouco e voltava ao normal. Perto do animal, tinha um enorme trono de ouro onde ao lado havia um homem bonito de pele escura e cabelo trançado preto em suas costas, vestindo uma toga preta com braceletes em seus braços musculosos que estava ao lado do homem no trono.

O homem ao trono era incrível de se ver. Um homem alto mesmo sentado, musculoso e forte de uma aparência que colocaria medo em qualquer um que fosse desafiá-lo. Estranhamente tinha uma pele azul safira, uma barbicha no queixo e um chapéu que os grandes faraós usavam nos tempos antigos, e um grande cajado listrado estava em sua mão. Apesar de sua pele incomum, seus olhos surpreendentemente eram tão dourados como os seus, e o observavam chegar passo a passo, o encarando. Quando percebeu isso, Mikael que sempre se orgulhava de nunca ter precisado ficar com raiva de alguém na vida, de repente sentiu um enorme rancor e ódio por aquele homem que diziam ser seu pai, e decidiu que se completar a missão era necessário para pagar a sua divida com Isis, ele realizaria. Mas aquele homem nunca o ouviria o chamar de pai alguma vez em sua vida. Com esses pensamentos em sua cabeça, Mikael chegou aos pés do pai. E mesmo contra vontade, ele sabia que estava na presença de um rei mesmo que fosse o seu pai, e ajoelhou-se em sinal de respeito mesmo que ele não merecesse.

– Meu filho Mikael, esperava por você. – disse Osíris com sua voz grossa e imponente como um trovão caindo do céu.

– Olá Osíris. Ao contrário do que você deve pensar, não desejava me encontrar com você. Se venho até você, é somente por Isis. – disse Mikael numa voz fria e implacável que ele geralmente usava quando julgava uma pessoa que ruim.