Annabeth continuava a apreciar suas panquecas (pois é, estavam boas!) enquanto esperava Percy. Não estranhou sua demora na porta, pois podia ser alguma entrega ou algum vizinho. De repente, chegou uma mensagem em seu celular, e era de Percy. Annabeth riu se questionando o porquê da mensagem. Era bem simples, com apenas três palavras:

De: Percy Jackson

Annabeth, se esconda!

De primeira Annabeth não entendeu nada, mas ficou bem receosa, então decidiu espiar pela porta da cozinha quem era que estava à porta. Quase saltou da cadeira ao ver Elena, e sua cabeça se encheu de pensamentos desesperados. Ela não pode saber que estou aqui! Pensou Annabeth. Mas o que ela está fazendo aqui?

Enquanto ela e Percy conversavam, a postura de Percy um pouco rígida, mas pouco perceptível, Annabeth resolveu responder.

Ouviu o barulho do celular de Percy apitando e torceu para que Lena não prestasse atenção na tela.

De: Annabeth Chase

Ok. Tire ela daqui que eu saio depois de vocês!

Percy olhou de canto de olho enquanto Elena explicava alguma coisa em seu celular, e viu Annabeth fazendo sinal para que ele saísse. Para que Annabeth pudesse passar para o quarto, Percy colocou-se na frente, inclinado perto de Elena para ver o celular melhor. Aproveitando a deixa, Annabeth correu da forma mais rápida e silenciosa que conseguiu até a escada, e subiu degrau por degrau sem emitir som algum. Antes de chegar ao andar de cima, parou no topo da escada para ouvir quando os dois iriam sair.

– Então – Ela ouviu Percy dizer. – Um café você disse? Eu ia adorar! Vamos? –

A pressa de Percy era notável, mas parecia que era porque ele queria muito sair com Lena. Por um momento, a ideia dos dois como casal passou pela cabeça de Annabeth e ela até conseguiu achar bonito, até que seu coração resolveu contrair-se em meio a uma parede de espinhos, o que a incomodava demais.

– Claro! Mas... Acho melhor você por uma blusa primeiro. Não que não esteja bom assim, é só que... Ah, vai se vestir. – Lena corou e Percy e Annabeth riram, porém a risada de Annabeth foi extremamente baixa. Percy entrou e pegou uma blusa que estava no sofá, e nesse momento todo primeiro piso estava sobre a vista de Elena.

– E, olha! Annabeth tem uma bolsa igual aquela. Eu mesma que dei. – Ela apontava para uma bolsa na cadeira da cozinha. Annabeth prendeu a respiração como se fossem surgir das sombras para levá-la presa e Percy arregalou os olhos por um instante, porém de costas, mas logo se virou com uma resposta pronta.

– É da minha mãe. Parece que as duas tem muito bom gosto. – Elena riu e Annabeth revirou os olhos. Percy botou a blusa e pegou suas coisas, então os dois saíram. A confirmação de que Annabeth podia descer foi quando a porta bateu.

Procurando dar um tempo para não esbarrar na portaria ou algo assim, Annabeth foi explorar a casa. O apartamento era muito grande, então ligou o som, que coincidentemente tocava uma musica que ela adorava, em seu volume quase máximo, e foi descobrir o que perdeu da vida de Percy.

Achou provas de faculdade (ele conseguiu tirar notas na média, o que era ótimo!), achou uma foto dele com seus pais em sua formatura, achou cartas de seu primo, do qual Annabeth participou do casamento, e muitas outras lembranças e relíquias.

Saindo do quarto de hóspedes, Annabeth decidiu olhar um pouco mais no quarto de Percy. Numa cômoda perto de sua TV, achou um grande mural de fotos. Uma foto bem grande na parte de cima fez Annabeth ter vontade de correr para casa. Foi tirada no dia da festa de Piper, no dia em que ela teve certeza que queria ser feliz com Percy, tê-lo mais do que como um amigo. Ver aquela foto a deixou cansada de brigar tanto contra sua cabeça a respeito de Percy, mas aquela briga era o início de uma guerra que Annie lutaria consigo mesma, sabe-se lá por quanto tempo.

Desceu apressada, como se ao sair da casa o ar que desaparecera ao ver a foto voltaria. Por anos Annabeth escondeu de si mesma as fotos de Percy, os presentes, as lembranças. Ele estava sendo bem mais maduro, encarara aquilo muito melhor que ela, o que a fez repensar todo esse tempo que ela passou fugindo de uma parte importante em sua vida. Mas ela sabia que ser amiga de Percy era um tiro no escuro, com 50% de chances de dar tudo errado e alguém, ou os dois, saírem magoados. Era difícil saber se ela estava mesmo disposta a correr o risco. Ao chegar à porta, Annabeth perdurou sua bolsa e foi até a maçaneta. De primeira, achou que a maçaneta precisava de jeito. Tentou mais algumas vezes, quando o desespero começou a bater. A porta não abria de jeito nenhum, e Annabeth tentava de todos os jeitos. Rodou a casa toda em busca de uma chave, e nada. Lógico, Percy havia levado. Annabeth riu da situação, e não sabia dizer qual dos dois era mais idiota perante o caso.

Ela largou-se no sofá e encarou os fatos: Estava trancada na casa de Percy.

– - - - - - - - - - - - - - - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Havia passado 1h desde que Percy deixara Annabeth. Imaginando que ela já estava em casa há muito tempo, Percy resolveu relaxar e aproveitar a inesperada companhia de Elena. Eles conversaram muito, e parecia que já se conheciam há bastante tempo. O celular de Percy toca, e ao ver que o numero era de Annabeth, ele pede licença e vai atender perto do banheiro.

Percy: Annabeth Chase.

Annabeth: Onde você está?

Percy: Que ferocidade! Estou num café com sua amiga Elena. Já chegou em casa?

Annabeth: Sabe, acontece que ainda nem saí da sua.

Percy ri.

Percy: Olha, eu não tenho nada contra com você morando aí, mas a nossa amizade conturbada e com segundas intenções iria dificultar muito o relacionamento de colegas de apartamento.

Annabeth: Segundas... O que? Ah, a gente resolve isso depois. Seguinte gênio, você deve ter esquecido que a própria porta é trancada quando você bate e não sei você sabe, mas ou as chaves estão com você ou sumiram.

Outro acesso de riso se deu, dessa vez compartilhado entre Percy e Annabeth.

Percy: Você tem alguma coisa para fazer hoje?

Annabeth: Não... Lucy e Matt vão dormir na casa de um amigo, Lena tem uma festa a noite... Nada.

Percy: Ótimo. Me espere aí então. Pode assistir TV, gastar a comida e a bebida daí, pode ler algum livro, pode deitar na minha cama e lamentar da saudade... A casa é sua.

Annabeth: Você é um idiota.

Percy: Vai ficar?

Annabeth: E eu lá tenho escolha?

Percy: Perfeito.

Annabeth: Vai demorar muito?

Percy: Até ia, antes de saber que você está ai. Acha que vou perder essa chance de ficar mais com você?

Annabeth: E o que te faz pensar que quando você chegar eu não vou embora?

Percy: O fato de você querer ficar tanto quanto eu quero que fique.

Um silêncio estabeleceu-se na linha. A respiração de ambos ficou tensa.

Annabeth: Estou atrapalhando seu encontro.

Percy: Algo me diz que você ainda vai fazer muito isso e tem pelo menos uma pontinha de prazer em tal ato.

Annabeth riu.

Annabeth: Tchau, Jackson.

E assim ela desligou, deixando Percy envolto em suas possibilidades.

Ele voltou à mesa para ficar mais um pouco com Elena. Ele estava adorando, e na verdade, não queria ir embora. Mas só de pensar que Annabeth estava o esperando, um sentimento de pressa o invadia por inteiro, como você está apertado para ir a um banheiro que está a km de distância, ou quando está com forme e seu corpo reclama e grita por socorro. Ele precisava disso, ele amava vê-la.

Depois de mais conversa, Percy disse que tinha que ir. Despediu-se de Elena, que comentou da tal festa que Annabeth tinha dito. Ele deu uma carona para Lena até em casa, e no caminho conversaram mais ainda, haviam se tornado amigos já. No caminho de volta para casa, a ansiedade o apertava demais. Ter Annabeth tão perto, mas tão distante estava o matando por dentro.

– - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Annabeth via um filme no quarto de Percy, que avisara que já estava chegando, quando ouviu um barulho vindo do andar debaixo. Achando que fosse Percy, desceu correndo para irritar muito o rapaz para compensar o tempo que teve de esperar presa lá. Ao chegar ao pé da escada, teve uma surpresa. Nem sabia o que fazer, sua cabeça virara um balão cheio que acabara de ser solto no ar, sendo arremessado para longe pelo vento que saia de tal e ficando cada vez menor.

– Sally! – Annabeth quase gritou, na surpresa de ver uma quase mãe. Sentiu-se fraquejando na mesma hora.

– Não acredito no que estou vendo! – Ela sorriu, largando as sacolas de lojas no chão. – Você voltou! –