Jacob continuava a dançar. Isabella e Odete surgiram ao seu lado e olharam-me com espanto. Contudo, entraram na brincadeira e, também, começaram a dançar. Como Odete balançava.

O mundo começou a girar. Balançar. Dançar. Odete sorria e dava gargalhadas. Senti-me traído. Minha fiel escudeira estava dançando contente. Não aguentei ver aquela cena, todos rindo de mim e… Dançando. Meus joelhos tremeram e desabei no chão. Fechei meus olhos. Contei até três e apaguei.

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— Senhor Cullen – escutei uma voz ao longe chamar por meu nome – Acorde, senhor Cullen! Oh céus! Vou chamar um médico.

— Odete? – Sussurrei, abri o olho direito e vi a rechonchuda toda suada. Dançou bastante, pensei e fechei o olho novamente.

— Oh, senhor Cullen. Que susto! – Os seus braços apertaram minha cabeça contra a sua barriga.

Tentei soltar minha cabeça daquelas grades fofas que minha empregada tinha feito. O cheiro adocicado que vinha de Odete lembrava-me a história de João e Maria. A velha bruxa, com suas guloseimas e doces, ludibriando as pobres crianças para comê-las depois. Obviamente, Odete não estava querendo me engordar, não com aqueles pãezinhos de ervas-finas que fazia. Mas veio-me a ideia de que a mesma poderia querer, em um futuro próximo, comer minhas vísceras, órgãos e tudo que pertencia ao meu corpo... Como em um filme de terror.

Apaguei esse pensamento horrível e finalmente, consegui afrouxar os braços de Odete e esquivar-me. Nessa altura, meus olhos já estavam bem abertos por causa da falta de ar. Vi meu reflexo no espelho e analisei o quanto estava roxo e notei marcas de dedos no meu pescoço. Até parecia que Odete queria me matar de verdade.

— Algum problema? – Perguntou com tristeza. Puxou uma bandeja e  ofereceu um pãozinho. – Fome?

— Obrigado – falei, peguei um e mordo-o. – Onde está Jacob e Isabella?

Odete hesitou em responder. Sua origem polonesa sobressaltou-se quando fez uma expressão de medo, dava para ver os olhos azuis, a bochecha (molenga) rosa e até mesmo, as sobrancelhas invisíveis. Desde quando Odete tinha sobrancelhas?

— Estão lá em baixo – murmurou. – O seu amigo não quis ajudar a trazê-lo para o quarto quando o senhor desmaiou. Ficou lá... Conversando com aquela garota estranha.

Foi então, que inferi a fonte do suor. Odete, com toda a sua força de mulher polonesa, havia me levado para o meu quarto e me colocado na cama sozinha. Como subiu as escadas, era um mistério. Contudo, não dava para se discutir a “forteza” dela.

— Eles já pararam de dançar? – Interroguei, pois, não queria ver Jake dançando e rebolando aquela bunda enorme.

— Dan… Dançar?

— Sim, dançar – suspirei de cansaço, pois, Odete era bem lenta. – Tirou a fantasia de lobo?

Foi a vez de Odete suspirar.

— Dançando com uma fantasia de lobo? – Sorriu para mim. – O senhor é muito engraçado. Acho melhor ficar deitado mais um pouco. Quer que eu chame um médico?

— Não, obrigado – pronunciei as palavras com um pouco de amargura.

Odete se afastou e deixaou-me sozinho. Inspirei um pouco de ar puro e olhei para o teto do meu quarto. Fiquei refletindo sobre o que havia acontecido. Estava muito bem refletindo, tirando conclusões sobre Jacob e sua falta de senso para brincadeiras. Bella e sua falta de coerência com a sociedade, pois, ninguém perde uma calcinha na casa de um estranho. Foi então, que tudo começou novamente.

Jake se materializou na minha frente com Berrá ao seu lado. O quarto se transformou em um pista de dança e o meu lustre de cristal começou a refletir uma luz néon. Chamei por Odete. Na verdade, gritei por Odete. Mas ninguém apareceu, Jacob continuou dançando e do nada rodou a calcinha fio-dental no dedo como se estivesse rodando uma bolsa. Bella bateu palmas de excitação, fez um moonwalk, colocou a mão no meio das pernas e imitou o gritinho do Michael Jackson.

Será que eu estava morto e não sabia?