Heimkehr escrita por Rocker


Capítulo 4
Capítulo 3 – Pernoitando


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouco, mas voltei com mais um capítulo! Não sei se está bom, mas eu fiz o possível. Logo logo elas estarão chegando nas cavernas, preparem o coração ;)



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Capítulo 3 – Pernoitando

ESTACIONEI O CARRO O MAIS silenciosamente possível. Não poderíamos chamar qualquer atenção que fosse para nós. Atenção extra era perigoso, ainda mais que eu não sabia me portar corretamente como uma Alma. Qualquer movimento em falso será o nosso fracasso. O carro não estava muito perto da entrada do hotel na interestadual, mas nem muito longe. De qualquer maneira, não era como se eu fosse precisar daquele carro novamente.

O que quer dizer com isso?!, perguntou Lua em minha mente, parecendo assustada.

Segurei a vontade de revirar os olhos.

Não podemos nos dar ao luxo de sermos pegas, Lua. expliquei-lhe. Precisaremos de ao menos mais um ou dois até chegarmos ao deserto.

Lua parecia quase instantaneamente pronta para retrucar, mas pareceu reconsiderar nossas opções e percebeu que não seria uma boa ideia. Não poderíamos correr o risco de sermos pegas. Desfiz a ligação direta da Hillux e coloquei a tesoura sem ponta discretamente no bolso da calça antes de sair do carro. Não havia como trancá-lo, então só fechei a porta e chequei em meu cabelo se o grampo ainda estava ali, pronto para o próximo roubo. Estava.

Segui silenciosamente até a entrada do pequeno hotel, pensando em o quanto estava bem conservado em comparação se tivesse algum humano ainda como dono. A recepção tinha dois sofás, uma mesinha de centro e uma televisão de um lado e o balcão do outro. Não era muito moderno, mas era acolhedor. Poderia muito bem dizer que o homem baixinho e robusto atrás do balcão era um humano se não fosse pelos aros prateados ao redor das pupilas. Reprimi a vontade de deixá-lo desacordado ou de fugir dali imediatamente, lembrando que eu também tinha aqueles aros. Apesar de gostar de Lua e aceitá-la dentro de mim, a ideia em si ainda era repulsiva.

Sem ofensas, Lua, eu sussurrei mentalmente, receosa.

Tudo bem, acho que posso entender seu lado, ela me respondeu.

Deixei isso de lado, seguindo até o balcão.

– Olá, em que posso ajudá-la, senhorita? – disse o homem com uma voz bondosa que geralmente não condizia com seu porte.

Tentei sorrir o mais simpaticamente possível. – Eu gostaria de um quarto para passar a noite, se ainda houver vaga.

– Oh, temos sim. – respondeu o homem, procurando por algo atrás do balcão e se levantando com um caderno e uma caneta. – Apenas assine aqui.

Peguei a caneta e assinei o nome de Lua em letras perfeitamente redondas. Ao invés de lhe entregar a caneta, deixei-a em cima do caderno.

– Quarto 302. – ele disse, me entregando as chaves e acenando. – Tenha uma boa estadia.

Enquanto ia até o elevador, tentei segurar a língua para não falar nada sobre dinheiro.

É estranho não ter que pagar por nada, comentei com Lua, apertando o botão do elevador e esperando que ele chegasse logo.

Não se precisa de dinheiro quando todo mundo é absolutamente honesto, ela respondeu e, apesar de achar que encontraria certa amargura em sua voz, não havia nenhuma.

Você realmente não se importa de estar ajudando o outro lado da guerra?

Não há lados nessa guerra, Mely. Uma guerra precisa ter os dois lados com possibilidades iguais de ganhar. Não estamos em guerra, somos apenas um pequeno grupo tentando lutar contra a opressão e escravização, ela explicou em termos tão diferentes de como eu havia imaginado que abriu uma nova rede de pensamentos em mim. Passei a admirá-la ainda mais depois que se incluiu no grupo de sobrevivência.

As portas do elevador se abriram e eu respirei fundo antes de entrar. Agarrei-me ao corrimão abaixo do espelho e respirei fundo, ouvindo as portas se fechando atrás de mim após apertar o botão para o terceiro andar.

Claustrofobia?, perguntou Lua, parecendo incrivelmente preocupada.

Não, o problema é realmente o elevador, respondi-lhe, respirando fundo e torcendo internamente para que o elevador chegasse de uma vez ao andar certo. Minha cunhada tinha sido pega pelos Buscadores em um prédio abandonado. Ela tinha se jogado num poço de elevador na esperança de morrer e não conseguirem chegar até Jamie por suas memórias.

Lua ficou um momento em silêncio, e eu percebi que nem mesmo ela tinha palavras depois de uma informação dessas.

Não fique assim, Melody. Você vai voltar a vê-lo.

Sorri com seu pensamento confiante, mas o que ela não sabia era que muitas coisas podem ter mudado. Muitos humanos nas cavernas que já foram meus amigos podem me repudiar quando virem os aros prateados. Os aros eram e sempre seriam o maior choque de realidade para os humanos. Eram uma lembrança de que quem estava ali era uma Alma e não a mente humana de antes. E se ninguém acreditasse que Lua realmente havia me devolvido meu corpo? O que eu faria? Fugiria? Permitiria que tirassem Lua do meu corpo?

Não, isso não. Era definitivo, ninguém tiraria Lua. Por mais que Peg também fosse uma Alma, ela com certeza iria querer mandá-la para outro planeta e eu não quero ficar longe da minha nova amiga.

Obrigada, Mely, disse Lua em minha cabeça e eu conseguiria facilmente imaginar um sorriso em seu tom de voz.

Apesar de tudo, você é uma Alma legal, Lua.

As portas do elevador se abriram e eu corri para fora, dando graças a Deus por me livrar daquela sensação de impotência. Abri a porta do quarto que ficaríamos e entrei, trancando logo em seguida. O quarto era simples. Uma cama de solteiro, um armário embutido, uma televisão na parede, um refrigerador e uma porta que daria para o banheiro.

Não se esqueça de tudo o que usar, precisa anotar no papel, Lua disse e eu franzi o cenho.

– E por quê? – perguntei em voz alta mesmo. Não havia qualquer pessoa por perto que poderia escutar.

Inventário. Eles precisam saber o que foi usado para repor para o próximo hóspede.

– Entendi. – respondi, ainda me sentindo estranha de participar daquele mundo das Almas.

Principalmente eu, que vivia de roubos com meus pais há vários anos e depois que passamos a viver nas cavernas de Jebediah as coisas não eram muito diferentes. Peguei uma garrafa de água no refrigerador e anotei no papel que havia ao lado. Bebi metade da garrafa e a coloquei de volta. Peguei a toalha estendida em cima da cama e fui ao banheiro. Tirei minha roupa e deixei estendida no gancho. Entrei debaixo do chuveiro e relaxei, sentindo a água batendo em minha pele. Há anos que eu não tomava banho em um chuveiro e tudo o que eu queria era aproveitar. Ainda mais sabendo que possivelmente passaria alguns dias sem outro banho.

O que quer dizer com isso?!, perguntou Lua, parecendo um pouco assustada.

– Não sei onde era o seu grupo de resistência, Lua, mas o meu fica um pouco longe. – respondi-lhe. – Além disso, se nos tratarmos como prisioneiras, possivelmente ficaremos alguns dias presas sem banho e com apenas pão e água como alimento.

Podia sentir o nojo que Lua sentia. Tive vontade de rir.

– Mas relaxa, eles possivelmente serão inofensivos, ainda mais com Peg por perto. – eu disse, no intuito de acalmar, enquanto pegava a bucha e o sabonete e esfregava por meu corpo.

Fiquei mais vários minutos ali embaixo da água, até que senti meus dedos se enrugarem. Fechei o registro e me sequei na toalha. Olhei para minhas roupas e constatei que não estavam sujas. Vesti somente minhas roupas íntimas e estendi a toalha no box. Voltei para o quarto e chequei se estava tudo fechado. Por mais que não houvesse riscos de Almas invadindo o local, esse ainda era um hábito humano que eu não deixaria para trás. Ainda não me sentia completamente segura, mesmo com os aros prateados em meus olhos dizendo a todos que eu era uma Alma. Acho que a ideia de ser uma Alma não me deixava completamente confortável.

Entrei debaixo dos cobertores e tentei me esquentar. Dormir de roupas íntimas não era um costume para mim, mas eu não tinha uma blusa de Jamie para roubar. Meu coração se apertou e minha respiração se tornou entrecortada. Pensar nele doía.

Boa noite, Mely, disse Lua, com emoção na voz. Acho que ela sabia que eu pensava nele. Durma bem.

– Você também, Lua. – respondi-lhe baixinho.

Fechei os olhos e tentei relaxar. O sono veio rápido, mas antes de apagar, um nome ainda veio em minha mente.

Jamie.


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