Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 41
Tudo ou nada




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— Se você quer pagar pelos seus pecados, então fique e ajude a vila. Você quer compensar, né? Então seja útil aqui! Vai mudar como as pessoas te veem.  

O vento forte encobria a voz estridente de Naruto e não a deixava viajar mais do que alguns metros, servindo como abafador a terceiros. Mas o jovem não se aproveitava conscientemente da privacidade disponível. Sequer notava. A quem ele se dirigia estava perto o suficiente, sentado ao seu lado sobre a cabeça recém esculpida do Rokudaime, e conseguia ouvi-lo com clareza, mesmo que fingisse ignorá-lo. Ele encarava o perfil de Sasuke um tanto exasperado, a indignação pelo amigo não entender óbvio maculando a própria capacidade de compreender o companheiro. Contudo, ela ainda estava ali, a empatia. Ganhando terreno enquanto o Sol de fim de inverno se punha pintando o céu de alaranjado. Mas ainda não vencia a vontade de manter o time sete todo por perto. 

— Você vai deixar a Sakura-chan pra trás? - o Uzumaki apelou, sabendo que era golpe baixo e não se importando com isso - Você não pode fazer isso com ela! 

O efeito foi imediato. Sasuke, que queria parecer estar apenas parcialmente ali e se esforçava para ignorar o amigo, reivindicou presença e virou-se para encarar Naruto. A namorada era o ponto fraco do Uchiha, para o bem ou para o mal. Sakura era quem enfraquecia seu escudo social e o tornava aberto ao mundo. Por outro lado, se o mundo quisesse abertura a ele, seria por ela também. Isso incluía tanto um companheiro tentando convencer o jovem de algo, quanto um inimigo tentando atraí-lo para a morte. 

— Você jogou cedo a carta da Sakura – Sasuke respondeu, a voz baixa facilitando o trabalho de abafador do vento. 

— Agora que vocês estão bem, tão juntos, cara... 

— Ela vai entender quando eu... 

— Cara, não vai! Eu não entendo! 

— Mas você é burro. E ela é melhor que a gente. 

Naruto suspirou e mirou o horizonte. Cogitou a possibilidade de Sasuke ser de alguma espécie que só aprende apanhando. Brevemente, pensou em socá-lo até que ele mudasse de ideia. A tática provou-se eficiente no passado. 

— A Sakura não tem nada a ver com meus pecados. 

— Mas ela tem com sua conversão. Olha, nós somos shinobis, a gente nunca sabe o que vai acontecer. Você tem que aproveitar as chances! Vê só o Kakashi-sensei e a Nana. É isso que você quer? Quando eles finalmente se entenderam, acabou. E ele lá, até hoje, daquele jeito. Morto-vivo. 

Pelo menos uma vez por semana, quando a agenda de missões dos dois amigos dava brecha, eles se encontravam no monumento dos Kages para conversar. Os temas eram os mesmos. Sakura e Hinata. Konoha e política. Missões e treino. Kakashi e Aiko. Era de se imaginar que as namoradas, os treinos, as missões ou os pormenores do dia a dia dominassem o papo entre o Naruto e Sasuke. Mas a preocupação comum com o Rokudaime era o que consumia quase todo o tempo que os rapazes compartilhavam. 

A verdade era que a condição do sensei desde a batalha que encerrou a tentativa de golpe de Estado não melhorava ou dava sinais de que o faria. Naruto admirava o esforço sobre-humano de Kakashi em tudo que estava relacionado a Aiko. Refeições, academia, treino, lobos. O Hokage se desdobrava para estar com a filha todo dia, pelo menos um pouco. Mas suas limitações eram grandes e seus compromissos intermináveis. Assim, boa parte dos cuidados da menina recaia sobre seu antigo time. Pai e filha se mudaram para a residência do Kage, mas a menina ainda dormia no apartamento de Sasuke sempre que o Uchiha estava na vila. Sakura, que emendava plantão em plantão, a visitava diariamente, tentando dissipar o trauma com atenção e carinho. A Naruto coube o entretenimento: era ele quem treinava com a menina, a levava para nadar e enchia de comida duvidosa.  

— Sakura disse que o fluxo de chakra no cérebro da Nana mudou, mas ela não sabe se é bom ou ruim. Pode ser que o corpo esteja desistindo – Sasuke comentou, depois de longos minutos em que ambos os rapazes apenas observaram a vila sem nada absorver.  

— Pode ser que esteja reagindo também! - Naruto exclamou, escolhendo a esperança. O jovem sabia que o amigo apenas estava aproveitando uma pequena deixa para mudar o assunto. A preocupação com o sensei, no entanto, falou mais alto e ele embarcou na manobra nada sutil do Uchiha, consciente que o gancho ao tema principal da tarde continuaria ali para quando ele quisesse puxá-lo. 

— O dano foi cerebral, muito mais do que a espada transpassando-a – o Uchiha continuou, o humor não afetado pelo otimismo de Naruto – Sakura tentou explicar isso pro Kakashi algumas vezes. Ele ter atravessado Nana com a katana não a matou. Foi a própria natureza da Kekkei Genkai dela. 

— Isso faria alguma diferença pra você? Se você não conseguisse proteger a Sakura e ainda a atravessasse com uma katana, faria alguma diferença não ser a espada o motivo dela não acordar? Kakashi-sensei não se culpa só pela katana, acho que isso é só a gota d’água. Ele se culpa por tudo, começando pelo passado dos dois. Na verdade, ele tem uma tendência a se culpar por tudo. Desde o lance do Obito.  

O vento soprou mais forte e Naruto sentiu a espinha arrepiar. Escurecia e esfriava rápido, mesmo no fim do inverno. 

— A Aiko sabe que o Kakashi que atravessou a Nana. 

— QUÊ? - Naruto gritou, fazendo o companheiro franzir as sobrancelhas em desaprovação - Como assim? Como ela sabe disso? Como você sabe que ela sabe disso? 

— Ela estava acordada quando aconteceu, ainda não tinha desmaiado. Ela viu – Sasuke respondeu, refletindo em cada palavra o peso de um testemunho que ele mesmo conhecia - São esses os pesadelos dela.  

— Ela te contou? 

— Não, eu vi com o sharingan... Ela não parava de gritar uma noite, não acordava. Então eu a coloquei em um genjutsu, para apagar o pesadelo. 

— Então ela esqueceu? - Naruto perguntou, sem saber se isso era bom ou ruim, mas o amigo negou em um aceno. 

— Ela continua adorando o Kakashi mesmo sabendo, então ela entende o que aconteceu. É melhor deixar a Sakura ajudar ela com o trauma. A Sakura também concorda. 

— O sensei sabe disso? Talvez se ele souber que a Aiko não o culpa, ele reaja um pouco, sei lá. 

Sasuke outra vez acenou negativamente, mas não acrescentou nada além. O Uzumaki o fitou por alguns segundos, esperando algo de informação que não veio. Desistiu e voltou a observar os postes sendo acesos e iluminando a vila. Quando Konoha estava calma e segura, shinobis como Naruto e seus companheiros de time eram obrigados a olharem para si mesmos. O jovem se pôs no lugar de Kakashi, sofrendo por três gerações e culpando-se por todas elas. Enquanto ele conseguiu construir o próprio caminho ninja, o sensei seguiu pelo que existia e esse costumava cobrar caro, com talentosas pinceladas de crueldade, pelos poucos afagos que dava. Conhecedor da solidão de crescer órfão, assim como Kakashi, pôs-se a imaginar todo o resto. A vida deixando os olhos de Sasuke, um Rasengan atravessando Sakura, a má sorte lhe arrancando seu sensei, Hinata perdendo-se para longe dele. E, então, perdendo-se em suas mãos. Uma forte pontada desritmou seu coração e por um momento o ar faltou. Precisou sacodir forte a cabeça, como um cachorro, para se lembrar que não era real. Seu time e sua namorada estavam bem. Mas percebeu que, sob o cenário que imaginara, não sabia se ele próprio aguentaria, se entregar-se-ia, se tocaria no automático, como Kakashi. A conclusão óbvia, entretanto, era que o sensei precisa mais deles do que aparentava. 

— Kakashi-sensei é ainda mais azarado que nós dois... - riu-se tristemente 

— Hum... 

— Ele precisa da gente. 

— Hum... 

— Mais um motivo pra você ficar! 

Sasuke apenas o xingou. 

—-- 

Sakura precisava da autorização de Kakashi para pôr em prática o que passara os últimos dois meses desenvolvendo. Enquanto seguia pelos corredores da sede do governo, a médica-nin falhava miseravelmente em conter o conflito interno que travava desde que a alteração do fluxo de chakra no cérebro de Nana foi confirmada. Quase torcia para o sensei negar a permissão e ela ter justificativa jurídica para não agir. Mas apenas quase. 

O fato era que, mesmo não verbalizando, Sakura tinha certeza de que o corpo de Nana estava desistindo. Havia uma discussão no corpo médico de que a alteração no fluxo era justamente o oposto; o corpo reagindo e buscando o equilíbrio natural no sistema de circulação de chakra. Mas nem a Haruno nem sua mestra concordavam com aquela avaliação otimista, por mais que quisessem. A mudança se concentrada no volume e não no comportamento do fluxo. Estava faltando chakra. E, na visão das duas melhores médicas do mundo ninja, esse poderia cessar a qualquer momento. 

Muito mais rápido do que gostaria, Sakura se viu batendo a porta do sensei e entrando em seu escritório. Kakashi levantou os olhos do documento que examinava, e que era apenas uma gota no oceano de papeis que ainda aguardavam análise, e pousou na aluna. As olheiras no Hokage contrastavam fortemente com o ar descolado pelo qual ele era conhecido, mas não chegavam a maculá-lo. As médicas e enfermeiras ainda se derretiam pelo charme do Hatake e, agora mais velha, Sakura mais ou menos entendia o porquê. 

— Ia, ia, achei que meus alunos só vinham me ver sob ordem expressa – Kakashi brincou, jogando-se contra o encosto da cadeira, os olhos se estreitando e denunciando o sorriso por baixo da máscara - Não sei se fico feliz ou se permito que meu estômago já comece a queimar de agora. Com certeza você está me trazendo problemas, acertei? 

A intuição do Rokudaime era conhecida e até temida. Se ele dizia ter um palpite sobre algo, geralmente um frio corria pela espinha de quem estivesse a cargo de lidar com a situação. Aquele era, entretanto, um cenário levemente atípico, já que a responsável por resolver o problema era quem o apresentava integralmente ao Hokage. 

— Prometo vir te visitar com boas notícias de vez em quando, Kakashi-sensei – Sakura tentou brincar, mas sem conseguir acrescentar um sorriso tranquilizador. Pelo contrário. Mordeu a bochecha e evidenciou ainda mais o nervosismo.  

— Hum... Vamos lá, então. Nana ou Sasuke? 

A jovem piscou. Namorando Sasuke, estava acostumada a abordagens diretas. Contudo, o tiro foi tão certeiro que a assustou. 

— Nana... Kakashi-sensei, eu gostaria de autorização para seguir com um procedimento experimental - ela respondeu, e respirou fundo antes de prosseguir – O senhor sabe das injeções do clã Hikari? A ideia seria aplicar uma delas e, em seguida drenar o chakra do sistema circulatório da Nana. O chakra, então, seria estabilizado externamente ao corpo e reintroduzido, mas de forma controlada, alterando o comportamento atual e trazendo para algo próximo ao que vemos na Aiko. 

Como Sakura esperava, houve silêncio. Mesmo com a metade do rosto oculta, Kakashi, fugindo ao personagem, não conseguiu disfarçar o impacto do que fora jogado contra ele e acusou o golpe. A jovem médica sabia que o sensei entendera o que ela dissera e, principalmente, o que não foi dito. Era uma jogada única, aquela. Se o corpo de Nana reagisse em rejeição em qualquer etapa, era fatal. 

— Qual a alternativa? - ele perguntou, a voz saindo rouca como se não fosse usada há muito tempo. 

— O fluxo de chakra dela mudando, como eu já tinha dito pro senhor. Se não fizermos nada, ela pode morrer a qualquer momento. 

— E a única coisa que há para ser feita é esse procedimento que você falou? 

Sakura suspirou, abatida. 

— Sim... Pensamos em adormecer o sistema de chakra dela, como acontece com civis, por exemplo. Ela não conseguiria mais usar nada do chakra, mas talvez o fluxo que a impede de acordar perdesse força e ela voltasse. 

— E por que não fazemos isso? 

— Por causa da Kekkei Genkai... O sistema nervoso dela é misturado com o de chakra de um jeito diferente. Se desligarmos um, desligamos o outro.  

— Então, ou tentamos algo que pode matar ela, ou a deixamos morrer? - Kakashi resumiu, a exaustão dando o tom de cada sílaba. Sakura não respondeu e aquela era sua resposta. As chances de Nana eram mínimas desde o início. Mas a verdade se tornava a mais definitiva possível quando verbalizada. Assim, ela se recusava a expressar o que seu conhecimento já concluíra há tempos, porque quando o fizesse seria obrigada a encarar o fato de que seu sensei não usufruiria da felicidade que merecia. 

Kakashi se levantou e, virando as costas à aluna, colocou-se à frente da janela, olhando a vista. Abriu os vidros e permitiu a entrada do vento frio da noite de inverno, que agitava os cabelos já pouco comportados do Hokage. Sakura entendeu: provavelmente ele estava sufocando sob o peso do que poderiam ser as consequências de sua decisão. Mesmo assim, ela o fitava esperando a resposta. Se fosse afirmativa, ainda seriam necessários dois dias para concluir os preparativos e iniciar o procedimento. O tempo não jogava no time deles. 

— Você disse que precisaria da Aiko? - o Hatake perguntou, ainda olhando além da janela. 

— Sim..., mas é indolor e nada perigoso. Preciso apenas registrar como é o fluxo de chakra no sistema nervoso dela. É como um exame. Ela vai reclamar de tédio e só. Dura algumas horas. 

— Hm... Quais as chances de sucesso? 

Sakura engoliu em seco. Eram ridículas. Ela tentara aumentá-las, mas a mudança no quadro de Nana não lhe deu tempo suficiente para conseguir. 

— Cerca de quinze porcento. 

— Só isso? - Kakashi virou-se, os olhos arregalados encarando a aluna, que abaixou o rosto envergonhada. O Hokage, entretanto, pareceu perceber o impacto do próprio susto na jovem e recompôs-se. Colocando as mãos nos bolsos, ele suspirou. Derrotado. A razão agia para impedir que nutrisse esperança de que Nana acordaria. Apenas imaginava-se dando a notícia à Aiko – Traga a papelada, eu concedo a autorização. Os exames em Aiko e todo o procedimento devem ser liderados por você, Shizune e Tsunade-sama. E não se preocupe, eu entendo todo o seu esforço e sei que estamos indo atrás de um milagre. Mas, Sakura, só para você saber, eu não sou do tipo para quem milagres acontecem. 

Sakura acenou. Triste. 

—- 

— Sakura? 

Sasuke olhou por cima do ombro e viu uma jovem de cabelos cor de rosa saltar sobre as cabeças dos Hokages, indo ao encontro deles. Naruto, ao ouvir o nome da companheira, mirou a mesma direção que o amigo e sorriu acolhedor. Eram raros momentos em que os três estavam juntos. 

— Sakura-chan! Você fugindo do plantão? - o Uzumaki perguntou, afastando-se um pouco para permitir que a amiga se sentasse entre os dois. 

— Mais ou menos. Vim falar com Kakashi-sensei e vi vocês dois aqui em cima... Daqui a pouco eu volto pro hospital. 

Sasuke observou cada movimento da namorada com a devoção adequada. Quando ela os alcançou, o Uchiha discretamente segurou sua mão, ajudando-a a se sentar. Os olhos verdes dela sorriram aos seus em agradecimento e o coração do rapaz, como de costume, pulou um compasso. Acostumar-se-ia à arritmia, mas não ao olhar de Sakura. 

— Estou atrapalhando o encontro de vocês? - a kunoichi perguntou, rindo das caretas dos dois companheiros. Mas a risada dela morreu rápido. Sasuke franziu o cenho enquanto recebia um dos bombons distribuídos pela jovem, que os conjurara de algum bolso da capa. 

— O que houve? - ele perguntou, direto. Naruto também a fitava, querendo saber. Ela definitivamente não era boa em ocultar as emoções. 

— Vamos pro tudo ou nada com a Nana... Acabei de conseguir a autorização com o Kakashi-sensei. 

Sasuke e Naruto encararam-na por um momento. Tudo ou nada é o que ele considerava tudo ou nada?, o Uchiha pensou, um tanto aflito. Ele era do time de baixo ou nenhum otimismo. O que ele conseguiu reunir, depositou no sonho impossível de Naruto de um mundo shinobi unido e pacífico. Não sobrou muito para investir no tudo ou nada que Sakura propunha. Pensou em Aiko e Kakashi. 

— Como assim, Sakura-chan? A Nana não melhorando? 

— Não, não acho que está e não acho que vá sem interferência externa. O problema é que a única coisa que podemos fazer tem mais chances de matá-la do que a curar. Mas fazer nada também vai matar a Nana, então Kakashi-sensei autorizou tentarmos. 

— E o que vocês vão fazer? - Sasuke perguntou. 

— De forma simples, drenar todo o chakra dela, organizar o fluxo e reinserir no corpo. Vamos usar o fluxo da Aiko como referência por causa da Kekkei Genkai. 

— Mas se vocês vão tirar tudo, vai ter uma hora que ela vai ficar sem chakra, né? - Naruto concluiu, expondo exatamente o que o Uchiha pensara. 

— Se não formos rápidos o suficiente sim... Esse é um dos riscos. Podemos também ordenar de uma forma que o corpo não absorva, inserir de um jeito errado, alterar a taxa do fluxo, contaminar, etc., etc... Só tem um jeito que dá certo. Se não conseguirmos, ela morre. 

Sakura abraçou os joelhos e, apoiando a cabeça sobre eles, olhou fixo para qualquer ponto no horizonte. Ela se tornava extremamente séria quando estava trabalhando, como se estivesse em alguma zona. Era uma das coisas que Sasuke mais gostava nela. Mas os três compartilhavam o Time Sete como ponto fraco e ele sabia que a namorada sentiria se não conseguisse salvar Nana. Seria como vacilar com Kakashi. Quis abraçá-la, mas a presença de Naruto o constrangeu. Encarou o amigo com vibes de vaza!, mas esse não entendeu e continuou exatamente onde estava. 

— Você e a Tsunade-Obaa-chan são as melhores médicas do mundo, Sakura-chan! Vocês vão conseguir, dattebayo!  

Sakura sorriu com o encorajamento, mas, assim como antes, o sorriso morreu rápido. Naruto bagunçou o cabelo dela em algum tipo de afago e Sasuke se aproximou da jovem um pouco mais, seus ombros e pernas se encostando. Se ela precisasse de apoio, ele estaria ali. 

O trio permaneceu daquele jeito por um tempo. O vento ficou mais frio e o silêncio mais profundo. Nenhum dos três queria ir embora, entretanto. Sakura mudou de posição e apoiou a cabeça no ombro do namorado. Sasuke dividiu a própria capa com ela, quando sentiu sua bochecha gelada. Naruto olhava o nada, estranhamente sério, provavelmente pensando como resolver tudo outra vez. Se estivessem juntos, havia a ilusão coletiva de que nada os derrotaria. Eram invencíveis, como todos os jovens o são. E eram invencíveis, como os ninjas mais fortes do mundo podem ser.  

— Como Kakashi reagiu? - quis saber o Uchiha, num raro momento em que ele quebrava o silêncio. 

— Hm... como ele sempre reage. 

Sasuke se lembrou do choro do sensei quando encontrou Aiko depois da batalha e o sempre pareceu definitivo demais. Kakashi nem sempre reagia dissimulando as emoções. Mas entendeu o que Sakura quis dizer. Se saltasse do monumento dos Kages e entrasse no escritório do sensei, o encontraria atrás da escrivaninha, trabalhando, afogado atrás de uma montanha de documentos e relatórios. Suspirou pesadamente. Até ele sabia que aquilo não era saudável. 

— Bem, agora eu já estou fugindo do plantão. Tem uma hora que tô aqui!  - exclamou a jovem, sentando-se ereta. Sasuke pôs-se de pé e, estendendo a mão, ajudou-a a se levantar. Tão próximos, quis beijá-la, mas se conteve em afastar uma mecha do cabelo dos olhos da namorada, que sorriu encantadora. 

— Eu vou virar de costas, aí vocês fazem o lance de vocês... - Naruto brincou, virando-se de fato e recebendo um cascudo de Sakura. Ela o xingou de idiota e, enquanto ele choramingava de dor, a kunoichi voltou-se a Sasuke, o olhar gentil fazendo o Uchiha rir internamente dos saltos de humor da jovem. 

— Você vai buscar a Aiko ainda? - ela perguntou, ao que Sasuke confirmou em um aceno - Não deixe de perguntar se ela pediu desculpas ao Kento-kun hoje. 

— Ele a provocou, não vejo por que ela deveria pedir desculpas... 

— Sasuke-kun, ele a chamou de pirralha e ela bateu nele e ameaçou com uma katana. É desproporcional. Kakashi-sensei teve que pedir desculpas aos pais dele. 

— Mas o moleque nunca mais vai provocar ela— Sasuke ponderou, sabendo que estava errado. Sakura girou os olhos, desistindo. 

— Só pergunta, tá? Eu vou indo. 

Sakura acenou a Naruto e, mais uma vez, sorriu com ternura a Sasuke. Quando ela se preparava para saltar pelo monumento dos Kages, o rapaz a segurou pelo braço, fazendo-a encará-lo surpresa. Usando de toda presença que tinha para ignorar um Naruto abertamente curioso, Sasuke murmurou torcendo para que apenas Sakura o ouvisse: 

— Amanhã eu te busco no hospital, tá? Me espera... 

Sakura corou, concordou e partiu. Sasuke a observou se distanciando até que sua silhueta se perdesse atrás dos edifícios. 

— E ainda assim você vai embora, idiota. 

O rapaz ignorou a ofensa do amigo. Desistira de explicar seus motivos antes de tentar. Eles não entenderiam de qualquer forma. A jornada ainda demoraria alguns meses para ser iniciada, entretanto, e o rapaz tinha assuntos mais urgentes. Ele olhou para o prédio circular abaixo de seus pés e pensou em começar por ali. Precisaria de ajuda, entretanto. 

— Hey, Naruto – chamou, fazendo o amigo se voltar a ele curioso – Vamos lá? 

Sasuke indicou a sede do governo com um aceno e Naruto, concordou, sorrindo, pronto para agir. 


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Notas finais do capítulo

Mina-san, acho que desculpas nem rola né?

Depois de 5 anos, uma pandemia e outro hexa que não veio (4 f* minutos!), eu voltei a escrever e aqui está mais um capítulo.

Espero que vocês todos estejam bem, porque os últimos anos foram muito difíceis, né? E tomara que vocês gostem do capítulo. Agora que minha vida deu uma acalmada, tentarei escrever mais, escrever outras histórias, e vou postando aqui.

Muito obrigada pessoal, e comentem, plis! Não em xinguem, sou frágil e não aguento, aviso logo ♥


Beijoooos!



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