Primeiras impressões

As vezes me pego pensando se tudo fosse diferente, se minha mãe não houvesse facelido, minha vida teria sido diferente? Eu teria tomado a decisão de ser modelo ou ter seguido carreira como estilista? Não tem uma noite que deixo de pensar em tudo isso. Não posso simplesmente esquecer que minha vida é entediante.

Tenho uma vó que não da a mínima pra mim, ao menos me pergunta como estou, ou se preciso de algo. Ela é tão rígida, tão fria. Acho que é só comigo, porque com o John isso não acontece. Ele é o orgulha da vovó ou seja, eu sou o patinho feio.

Perdida em meus pensamentos, escuto alguém me chamar.

– Isabela já providenciou a sessão de fotos da vogue? – disse me olhando através do óculos.

– Claro vovó. – sorri forçado.

– Não me chame assim, já te falei que para você me chamo Christine. Vá dormir, amanhã tem um longo dia pela frente. – disse ríspida.

– Já estou indo. – disse desanimada.

Não sei o porque dela me tratar assim, nunca fiz nada a ela, nunca a dei motivos de preocupação, nem ao menos desgosto. Sempre fui uma menina exemplar, tiro ótimas notas, apesar de estudar em casa. Pois é, nunca fui a uma escola, nem sei como é ter amigos de verdade.

Trabalho como modelo em uma agência afiliada pela vovó. Adoro trabalhar com moda e beleza. Digamos que a moda é algo que me fascina, sou movida por isso. Na agencia todos me dizem que sou uma menina muito madura para minha idade e que se continuar assim serei uma modelo fantástica.

Todo mundo pensa que a minha vida é perfeita, uma avó famosa que é super rica, é diretora chefe de uma revista, tem um namorado perfeito, um carro do ano, um closet imenso, e etc... Todos pensam que sou aquela menina meiga que sempre esta sorrindo e sendo gentil com todos, mas não conhecem a verdadeira Isabella Wang.

Todas as noites, antes de dormir choro pois me vejo sozinha, não tenho amigos, família, ninguém a quem contar, minha avó não gosta de mim, meu pai eu não o conheço, ninguém nunca me falou dele e meu irmão esta longe, muito longe.

A agência de moda me disse que eu estava gorda demais para fazer um ensaio fotográfico para a Calvin Klein, o sonho de toda modelo é sair na Calvin Klein, e eles me proporão que eu emagrecesse 5 kg em duas semanas, ou não faria a campanha. E foi nesse momento que a anorexia entrou na minha vida.

Toda vez que comia algo, vomitava tudo, isso me emagrecia muito, cerca de uma semana consegui perder os 5 kg para a revista, fiquei super feliz, mas toda vez que fazia isso me sentia mal, mas aliviada de não carregar aquele peso comigo. Uma semana foi passando, logo veio a segunda, terceira e quando notei já não conseguia mais parar de fazer aquilo, era algo automático, eu comia e a vontade de vomitar vinha em seguida. Depois de parar no hospital diversas vezes, descobriram o meu segredo. Eu não contei a ninguém mas, eu colocava a escova na boca para provocar o vomito. Tudo que me fazia mal no dia eu colocava para fora. Diagnostico? Eu estava com bulimia e anorexia.

Tudo complicou mais quando descobri que meu namorado estava me traindo com uma modelo australiana. Todos me falavam que ele me traía e eu como boba acreditava nele. Só depois de pegar eles se agarrando no banheiro feminino que tudo se encaixou. As ligações não atendidas, mensagens estranhas, e ele nunca havia me levado para conhecer a sua família.

Depois de ser internada em uma clinica de reabilitação e ficar meses sem ir para casa, consegui me curar, estava com mais peso, mas não me sentia mais culpada por fazer aquilo.

Logo depois desse episodio, meu irmão me chamou para ir morar com ele em Massachusetts, pensei, e repensei na ideia. Cheguei à conclusão de que novos ares me fariam bem. Morar com “eles” não seria tão mal. Quando digo eles me refiro á meu irmão e seu amigo.

...

Com todas as malas prontas, cerca de 15 no total. Exagero, não é? Sou uma menina muito ligada as tendências, fora que recebo muitas roupas. De começo levei 5 malas só para me garantir. O clima na região é temperado, mas uma mulher prevenida vale por duas, não acham? O resto das malas pediria para o Alfred (meu motorista) trazê-las.

Depois de tomar um banho bem demorado, liguei para o meu irmão.

– Olá maninho mais lindo desse mundo.

– Ué que animação toda é essa?

– Só estou muito feliz. – sorri.

– E o motivo é porque vai me ver.

– Também.

– Vou fingir que acredito nesta tua resposta.

– Chatoo.

– Já arrumei até teu quarto, viu como sou um irmão legal?

– Obrigado maninho. Tu sabe que te amo bobinho.

– To com saudades. Quando tu chegar vamos sair para jantar.

– Ta bem. Mano como ta a temperatura por ai?

– 22°c graus.

– Ótimo, vou poder ir de vestido.

– Como queira maninha. Só não exagera, aqui não é desfile de moda.

– Não vou nem comentar. Vou me arrumar, beijo até depois.

– Até maninha.

Coloquei um vestido coral, uma sandália e um cinto, fiz uma maquiagem leve, coloquei um batom com a tonalidade vermelha e peguei minha bolsa. Me olhei no espelho pela ultima vez.

– Chegou a sua fez de ser feliz, agora desce daquele avião e arrasa em Massachusetts. Você não é feia, você não é gorda, você é maravilhosa.

Tranquei a porta do quarto e me despedi do pessoal da casa, sim eu não patricinha que só desdenha dos empregados. Tenho muito a agradecer a eles, porque são meus verdadeiros amigos. Como de costume minha avó nem apareceu, sou uma burra em ter esperanças de que ao menos ela fosse me dizer um até logo, que seja.

Depois que embarquei no avião nem vi o tempo passar, quando escutei a aeromoça dizer que estávamos pousando no destino final. Peguei minhas malas e fui esperar meu irmão. Olhei para os lados em busca de um loiro alto lindo (John), mas não encontrei. Senti alguém me cutucar e me virei.

– Oi, você dever ser a Isabella Wang certo? – um garoto alto, dono de um belo sorriso me perguntou.

– Sim, sou eu. Mas, não posso dar autógrafos, estou procurando o meu irmão. – ele começou a rir sem parar e depois revirou os olhos.

– Você é muito convencida garota. Seu irmão me mandou te buscar.

– Ah sério? Você acha que eu vou cair em uma armadilha dessas? Não sou ingênua garoto. Vê se me deixa em paz, se não eu chamo a policia. – ele abriu um sorriso sínico.

– Se não acha que estou falando a verdade, liga para ele.

– Não vou perder meu tempo com você. – sai disparada de perto dele, mas o garoto correu atrás de mim.

– Oh Loira, é serio. Pega meu telefone e liga pra ele. – ele me estendeu seu telefone e eu disquei o numero.

– Alo, Josh eu to no meio de uma palestra da faculdade, não posso falar.

– Sou eu a Isa.

– Maninha, o que você ta fazend? Desculpa, mil desculpas, esqueci de te avisar que o John iria ir te buscar. Ele é meu colega de apartamento. Vou desligar, beijo depois te explico tudo.

Desliguei o telefone e o olhei, ele continuava com o seu sorriso sínico estampado nos lábios.

– Satisfeita?

– Nem um pouco.

– Vamos. – ele pegou o meu carrinho com as malas.

Chegamos no carro, uma land rover preta. Durante o caminho não trocamos muitas palavras,a não ser o fato dele estar usando um estetoscópio no pescoço.

– Posso te perguntar uma coisa? – ele me olhou desconfiado e assentiu com a cabeça.

– Porque você esta usando um estetoscópio no pescoço?- ele olhou pelo retrovisor e sorriu.

– Pode ter certeza que não foi de propósito. E nem pense na hipótese de dizer piadas baratas.

– Só iria dizer se pretendesse chamara minha atenção, não precisava disso. – sorri.

– Não sou pedófilo. – ele arqueou a sobrancelha e deu um sorriso sínico.

– Para um futuro médico, você é bem mal educado.

– E você é bem convencida.

– Grosso. – falei mais baixo.

– O que disse?

– Não te interessa. – falei ríspida.

– Não acredito que vou ter que aturar esse garoto, é castigo demais. Depois de finalmente me livrar da minha avó agora vem ele? Desse jeito não aguento!

Depois de alguns minutos de silencio ele estacionou o carro e descemos. Ele pegou as minha malas e me conduziu ao apartamento. O lugar era grande, não tanto como a casa da vovó, mas era aconchegante. Larguei as minhas malas na sala e fui ver os outros cômodos. A sala era “pequena” considerando os outros “apertamentos” da região, era bem grande. A cozinha era pequena, mas muito tecnológica. Josh me levou até o meu quarto, quando abri a porta tomei um susto. Tudo estava tão perfeito, não sei quem fez mas estava realmente muito bonito.

– Nossa. – suspirei.

– Que foi? Não gostou? – deu um sorriso debochado.

– Ta tudo perfeito, meu irmão é um fofo.

– Muito fofo. – imitou a minha voz. – Bom já que conheceu tudo, sinta-se a vontade, mas nem tanto.

– Obrigado pela gentileza, agora pode me sair.

– Ok. – ele saiu e fechou a porta.

Andei pelo quarto e olhei tudo, meu irmão estava de parabéns, o quarto estava muito bonito, só o closet que era pequeno, mas o quarto compensou. Arrumei todas as minhas malas, apesar de estar super cansada. Coloquei uma roupa confortável, depois de tomar um banho longo. Deitei na cama e fiquei olhando as minhas redes sociais. Estava com 35 mil seguidores no instagram, é um bom número, digamos que a minha beleza encanta á todos. Convencida? Um pouco. Aprendi a me amar.

Sai do quarto antes que criasse raiz, sentei na sala e fiquei olhando televisão, vi uma matéria sobre comida, há alguns meses atrás não podia ver comida, agora estou contente comigo, aprendi a a gostar de mim, foi difícil, mas consegui vencer. Tenho orgulho de ter conquistado isso.

Escuto a porta abrir, vejo meu irmão, estava com tantas saudades que corri e o abracei forte. Ele estava mais alto, 1,85 é super alto, sendo que tenho 1,69 não sou baixinha, gosto da minha altura.

– Maninha que saudades. Que bom que chegou. Esta bem?

– Estou sim, muito bem. – ele pegou as chaves colocou no chaveiro atrás da porta, depois largou as coisas no sofá. Em seguida o Josh saiu da caverna (quarto).

– E ai cara, beleza? – eles se cumprimentaram, um aperto de mão estranho

– Tudo beleza. – ele me olhou e virou os olhos.

O que ele tem contra mim? Será que fui muito rude com o pobre garoto? Ele me chamou de criança!

– E ai o que vamos comer, to louco de fome.

– Quero pizza. – disse Josh.

– Tem gordura demais. – falei no impulso. – John me olhou sério.

– Só disse a verdade, prefiro comer comida chinesa.

– Ok eu quero pizza também. Vamos fazer assim, eu peço duas pizzas e um yakisoba pra você maninha.

– Por mim tudo bem. – sorri. – continuei olhando televisão e escutando as conversas dos meninos na cozinha.

– E ai cara, o que achou da Isa? – disse abrindo a geladeira.

– Melhor não responder, mano.

– O que ela fez? – disse preocupado.

– Só é muito mimada demais.

– Cara, ela não é nem um pouco mimada. A vovó nunca a mimou.

– Não parece.

– É que você não a conhece, depois de um tempo você vai ver que ela é uma garota legal.

– Veremos.

Revirei os olhos, estava começando a acreditar que isso não vai dar certo. Poxa meu irmão podia escolher um amigo mais legal para dividir o apartamento.

– Ei maninha, se junta aqui com a gente.

– Não obrigado, prefiro ficar aqui.

Depois de 15 minutos a encomenda chegou, comemos tudo na sala olhando “irmãos a obra”. Tudo estava calmo, muito calmo. O silencio permanecia, até que o John resolveu falar sério.

– Isa, precisamos conversar.

– Sobre?

– Regras. – revirei os olhos.

– Sério que você vai me dizer isso?

– Regras de convivência. – bufei e revirei os olhos.

– Primeira

1 - Sem palavrões.

2 – Sem brigas.

3 – Não andar com roupas curtas demais.

4 – Não é permitido acompanhantes.

5 – Deixar a casa arrumada, ou seja, tudo que você sujar você lava.

6 – Não escutar música alta.

7 – Nada de namoros entre membros da casa.. – eu o olhei como quem diz -fala sério, até parece que vou querer esse traste. Não me aguentei e tive que falar.

– Até parece que vou querer algo com essa muralha. Mais fácil me enterrar do que passar por isso. – John me olhou. E Josh revirou os olhos.

– Prosseguindo.

8 – Não trazer pessoas, quero dizer meninas para casa sem nos informar.

9 – Nunca de maneira alguma, mexa nas nossas coisas.

10 – Dia de semana não tem festas para você.

– Que injusto isso.

– Injusto é ter que te aturar. – disse Josh baixinho. – joguei uma almofada na cara dele.

– Ei vocês dois? Olha a regra 2. – John disse sério.

– Diz isso pra ele. - olhei.

– Já vi que terei muito trabalho pela frente. - John abaixou a cabeça e passou a mão nos cabelos.

– Relaxa cara, daqui a pouco ela se adapta com as nossas regras e para de fazer birra. – ele continuou com o olhar fixo na televisão.

– Idiota.

– Birrenta. – Josh continuava olhando para a tela.

– Estúpido. – eu o encarava.

– Patricinha.

– Mal humorado.

– Mimada.

– Grosso. – sai batendo os pés da sala.

O que esse garoto pensa? Fica me chamando de um monte de coisa se nem me conhece. Conheço o jogo sujo dele, ele só quer que eu desocupe o seu palácio, mas esta muito mal enganado, se ele pensa que vou desistir esta errado. Se ele quer guerra ele terá guerra.

Entrei no meu quarto com muita raiva, bati a porta e me tranquei. Depois de alguns minutos, ouvi uma batida na porta.

– O que é?- falei ainda com raiva.

– Maninha abre aqui, preciso falar com você. – andei até a porta quase me arrastando.

– Se você veio aqui para me falar sobre regras, saia.

– Não é sobre isso, quero conversar com você. – ele se sentiu na beira da cama.

– Fala.

– Não fica chateada, o John não esta acostumado com regras. Por isso ele age assim. A vida dele também não foi fácil, dá uma chance para o meu garoto.

– Isso não é desculpa para me tratar assim,ele não me conhece!

– Deixa ele, vem cá, tava com saudades de conversar com você.- ele me puxou e me abraçou.

Conversamos muito, meu irmão era tão atencioso, carinhoso, me lembrava alguém, talvez seja a mamãe. Não me lembro dela, nada nem ao menos o seu rosto. Isso deve ser porque era muito pequena quando ela morreu.

Olhamos algumas fotos da campanha que fiz de vestidos de noiva e alguns ensaios adicionais para algumas revistas. John me entende tão bem, ele é o melhor irmão do mundo.

– Maninha, posso te perguntar algo? – disse receoso.

– Pode.

– Você parou com aquilo né?

– Se você diz baixa autoestima, sim eu parei.

– Que bom, fico muito feliz. - ele me abraçou de lado.

– Agora é vida nova, novo começo. Chega de pessoas falsas, chega de fotos, chega de tristeza.

– É isso ae, to gostando de ver loira, assim que se fala. – me deu um beijo na testa.

– É melhor que seja assim. – sorri.

Ouvi algumas batidas na porta, e pedi que entrasse.

– Oi. – disse Josh. – Eu queria me desculpar pela minha atitude infantil. – John me olhou esperando a minha resposta, enquanto Josh estava com a cabeça baixa.

– Ok, te desculpo e também peço desculpas, vou tentar ser “menos infantil” – fiz sinal de aspas com as mãos.

– Agora quero um aperto de mão e um abraço de vocês. – disse Jonh - o fuzilei com os olhos.

Me aproximei de Josh e esperei que ele apertasse minha mão, assim o fez, depois me puxou para o seus braços. Por incríveis 5 segundos senti algo diferente, seu abraço era algo acolhedor, aconchegante. Senti um leve perfume emanar de seu corpo. Depois que nos separamos, John riu da minha cara, que parecia estar engraçada.

– Então permaneceu a paz entre as nações.

– Por enquanto. – brinquei e Josh sorriu, um belo sorriso em minha opinião.

Josh era um cara alto, mas nem tanto, seu porte físico era de corredor, seus olhos azuis cor do céu, davam um charme a mais no garoto. John me tirou dos meus devaneios.

– Isa, ei Isaaa?

– Oi.- disse ainda fora do ar.

– Você ouviu alguma coisa? – disse rindo.

– Não, desculpa, estava pensando em algo. – balancei a cabeça.

– Disse que já te matriculei na escola, é aqui perto da faculdade.

– É pública?

– Sim. – fiz cara de decepção.

– Porque essa cara?

– Porque ouvi falar horrores desses lugares.

– Calma loira, a escola é boa, não tem o que se preocupar.

– Mano, tu me leva amanhã? – fiz a carinha mais fofa do mundo.

– Ta bem, o que eu não faço por ti, minha loira. – ele me pegou no colo e me jogou na cama me enchendo de cosquinhas. Ri tanto que chegou a doer a minha barriga.

– Agora diz que sou o irmão mais lindo do mundo.

– Nãooo. – gritei em meio a risada.

– Ah é? – ele pegou pesado, no meu ponto fraco, o pescoço.

– Taaaa... Você... é... o irmão.... mais... lindooooo... Paraaaaa... por favor....- ele parou e eu consegui respirar.

Josh olhava tudo de longe, não expressava nenhuma reação, ficou pensativo. Ele era muito misterioso. Será que ele é um assassino em série? Pode ser até bobagem minha, mas que ele é misterioso, cauteloso, e muitas vezes observador, sua personalidade era muito difícil de se decifrar. Com esses pensamentos acabei adormecendo...