“Conte-me seus segredos, faça-me suas perguntas
Oh, vamos voltar para o começo
Correndo em círculos, perseguindo a cauda
Cabeças numa ciência à parte

Ninguém disse que seria fácil
É uma pena nos separarmos
Ninguém disse que seria fácil
Mas também não disseram que seria tão difícil
Oh, me leve de volta ao começo

Eu só estava analisando números e figuras
Montando o quebra-cabeças
Questões da ciência, ciência e progresso
Não falam tão alto quanto meu coração
Diga-me que me ama, volte e me assombre
Oh, e eu corro para o começo
Correndo em círculos, perseguindo a cauda
Voltando a ser como éramos”

The Scientist – Coldplay

WALLY

—Quem é ela? –Ollie se aproximou interessado.

Tudo passou a fazer sentido a partir daquele momento. Mas eu não posso contar a eles, ou posso? Não! Não posso contar, seria mexer demais no futuro e por tudo o que já fiz até agora, tenho medo de não ter mais futuro para onde voltar, havia muita coisa em jogo.

FLASHLOOP ON

2030 – Três meses antes da morte de Íris

—O que aconteceu, Bruce? –Tio Barry perguntava nervoso.

Nós estávamos em crise em Central City. A cidade estava sendo atacada por uma espécie de vampira congelada, sério, não tem definição melhor para aquela coisa. Ela se auto nomeava Nevasca e desde que apareceu, Tio Barry ficou totalmente transtornado. Bruce o chamou e o fez ir a Gotham em pleno ataque, o que justificava o nervosismo do Flash no momento, mas não o dos dias antecedentes.

—Eu mandei uma equipe para Central. –Disse Bruce sem nenhuma expressão.

—Central City é minha jurisdição! –Gritou para o parceiro que permanecia impassível.

—Barry, sabe que não deve fazer isso. –Respondeu se levantando e caminhando tranquilamente em nossa direção. –Quer mesmo enfrentar a Nevasca? Quer expor Wally a ela? –Isso foi o suficiente.

Tio Barry me olhou com pesar, se sentando em uma cadeira parecendo estar derrotado, nunca antes havia visto meu pai dessa forma. –Quem você mandou? –Ele perguntou sem levantar o olhar.

—Superman e Lanterna. –Disse Bruce se aproximando e tocando o braço dele.

—Eles não devem machuca-la. –Tio Barry se levantou. –Ela pode estar lá ainda, eu acredito que esteja.

—Eu sei o que você sentia pelo que ela foi um dia Barry, mas precisa entender que não existe humanidade ali. Não mais. –O olhar de Batman era piedoso.

—Eu. –Barry se aproximou de Bruce o olhando de cima. –Não vou desistir. Se quiser que eu fique aqui, ok eu fico, por ele. –Apontou em minha direção. –Mas o que acontece lá ainda precisa respeitar os meus termos.

—Tudo bem, é sua cidade. –Bruce parecia tão surpreso quanto eu, acredito que ninguém nunca teve coragem de encará-lo daquele jeito.

FLASHLOOP OFF

—Wally, você está bem? –Perguntou Felicity tocando meu braço.

—Sim. Eu estou. –Respondo me levantando. –Você disse que terminou o dispositivo para encontrar meu tio? –Pergunto ainda zonzo.

—Sim, mas quer usá-lo.... Uou! Ela é o Barry? –Felicity franze o rosto confusa.

—Não Fel! –Por maior que fosse minha confusão mental não consegui deixar de sorrir. –Ela foi alguém que agora eu tenho certeza, meu tio amou e muito. -Oliver e Felicity se olham confusos. –Eu quero contar a vocês, acreditem em mim, mas não devo.

—Está tudo bem, Kid. –Ollie disse com um sorriso fraco. –Posso trabalhar às cegas se necessário.

—Eu também! –Disse Felicity.

—Fel posso ir para casa agora? –Olho para minhas mãos. - É muita coisa para um dia apenas. –Pergunto e Felicity se aproxima sorrindo.

—Eu vou com você. –Falou pegando sua bolsa.

—Mas não vai... Você sabe, aproveitar que vai ficar sozinha com o Oliver? –Sussurrei e Ollie tossiu disfarçando uma risada.

—Definitivamente não! –Responde o olhando séria o que em nada diminuiu o sorriso nos lábios dele. Essa sim era a relação Oliver e Felicity com a qual eu estou acostumado!

Chegamos em casa e Felicity pediu comida tailandesa em uma quantidade absurda. Acho que minha estadia em sua casa a levaria a falência em poucos meses. Tia Íris sempre cozinhou, e com o tempo aprendeu a fazer comida em grande quantidade, quem visse acreditaria que nossa casa fornece comida para um restaurante.

Após o jantar fui direto para meu quarto, precisava assimilar as coisas. Tudo bem, então Caitlin Snow é a Nevasca e o motivo de nós nunca a enfrentarmos era por que Tio Barry já teve uma relação com ela, e pelo modo que ele reage a ela, não acredito que essa relação tenha ficado apenas na parceria, o que explica o fato dele nunca ter falado sobre ela, mas por que ela ficou tão má? A Caitlin frágil e delicada que vi no vídeo não me parecia uma má pessoa, e por tudo que Felicity me contou ela tem cuidado do meu tio desde sua transformação.

Sinto falta disso, sei que aqui tenho muitas pessoas que se preocupam comigo, mas mesmo estando com as mesmas pessoas que amo, sinto falta dessas pessoas que deixei para trás. Então me lembrei de algo, corri até o meu traje de Flash e peguei a carta que Felicity me entregou, a última. Ela disse que eu deveria abri-la no momento em que descobrisse algo sobre o passado que até então me era desconhecido.

FLASHLOOP ON

2 dias depois da morte de Íris

Estávamos na sede da Justiça Jovem, fui levado para lá pela Felicity e Ollie que vieram para Central City imediatamente após descobrirem a morte da minha mãe. Eu estava em choque, não via meu pai desde o momento que ela morreu, a primeira coisa que senti foram os braços de Felicity em volta do meu corpo, mas não tinha forças para retribuir o abraço. Não era os braços dela que queria naquele momento, os braços que queria eu nunca mais iria ter. Eles me colocaram dentro de um carro e me trouxeram para esse lugar. Bruce estava em pé ao lado de Tim e Dick que me olhavam cheios de piedade e compaixão, e eu não queria nenhum desses sentimentos, queria encontrar o Tio Barry e queria minha vida, minha família de volta. Então Sara chegou ao lado de Roy e Diggle, que apesar de me odiar pelo simples fato de eu ser o namorado da filha dele, não pareceu se importar quando ela correu até mim, se jogando em meus braços e eu a abracei por puro habito, pois meu corpo respondia a ela dessa forma, ela agia e eu reagia.

—Oh Wally, eu sinto muito! –Disse baixinho em meu ouvido e eu balancei a cabeça sem encontrar minha voz.

—Meus sentimentos Kid. –Disse Diggle quando Sara me soltou.

Roy se aproximou me abraçando de lado e murmurando um sinto muito. Sara encaixou sua mão na minha, segurando em meu braço.

Ela é linda. Tem olhos de um chocolate liquido, um rosto em forma de coração emoldurado por seus cabelos negros e cacheados que caiam rebeldes por suas costas, era alta para seus dezesseis anos sendo apenas uma cabeça mais baixa do que eu, mas o que eu mais amo em Sara Diggle vulgo Artêmis, é a forma que ela é segura, o mundo pode cair em nossa volta, mas nunca chega a nos abalar, a abalar nosso relacionamento e essa certeza é o que mais irrita seu pai, ele não acredita que a filha encontrou o amor de sua vida no amigo de infância que ela conheceu aos sete anos, mas sim, ela havia encontrado.

—Eu tenho uma ideia. –Asa falou dando um passo em minha direção. –Mas precisa estar pronto se quiser mesmo fazer isso. Precisa voltar a falar e agir como antes, e precisa estudar todo esse material.

Ele me entregou uma pasta cheia de documentos e fotos do Team Arrow e do meu Tio Barry quando mais jovens. Artêmis se esticou para conseguir ver melhor o que eu tinha em mãos, todos na sala pareciam tensos.

—Superman poderia fazer isso, não me sinto confortável em mandar o garoto em uma missão dessas sozinho. –Diz Ollie que tem seu braço em volta do corpo de Felicity que me olha preocupada.

—Eu cogitei isso. –Dick se virou para ele, seu semblante era torturado. –Não queria manda-lo, tanto quanto você, mas se alguém pode encontrar Barry e fazer com que ele retorne é Wally.

Oliver andou em minha direção apoiando suas mãos em meus ombros. –Kid, sabe que pode dizer não se quiser, não sabe? –Perguntou com seu jeito paternal.

—Eu quero fazer. –Respondo, e essa é a primeira coisa que digo desde a morte dela.

—Ok. –Asa diz passando a mão na cabeça e olhando para Batman que assente o encorajando. –Precisa estudar esses documentos Wally, precisa tomar cuidado com o que diz, o menor deslize pode acabar com o futuro ou as Ligas que conhecemos hoje. Tome cuidado. –Balancei a cabeça concordando.

—Eu vou te ajudar com isso. –Oraculo deu um passo em minha direção. –Oliver pegue papeis e caneta. –Imediatamente ele foi fazer o que ela pediu. –Pelo que me lembro do Oliver naquela época, você vai precisar mais do que sua carinha de bom moço para o convencer a confiar em você. –Sussurra para mim. Ollie voltou com os papeis e canetas a olhando intrigado. –Eu e Oliver, vamos escrever coisas que nossos “Eu” do passado não tenham contado para ninguém.

—Use apenas em último caso. –Diz Dick.

—Eu queria muito ver a minha cara ou ler isso! –Fala Ollie com um sorriso debochado olhando para a Felicity que sorriu em resposta.

—E use isso. –Fel tirou o primeiro traje do meu tio de uma bolsa. –Peguei em seu covil antes de virmos.

—A familiaridade da roupa vai te dar o tempo necessário para se explicar. –Asa falou. –Se não for o suficiente, você tem sorte por ser impossível atingi-lo com uma flecha.

—Nessa época eu estava trabalhando em flechas que acertassem seu tio. –Diz Oliver e Felicity olha para ele espantada. –Baby, ele precisa ficar avisado. –Falou e ela respirou fundo revirando os olhos.

—Eu vou acreditar em você Wally. –Ela fala me puxando para um abraço de despedida. –Só precisa me olhar desse jeito. –Falou me olhando nos olhos com carinho. –Por favor, traz meu amigo de volta. –Seus olhos brilhavam intensos.

—Vou trazer Fel, prometo. –Eu a abraço novamente agora de verdade, me despedindo da minha tia preferida. Então ela deslizou algo para minha mão.

—Leia quando descobrir algo que você não sabia da existência. –Sussurrou em meu ouvido.

Um a um todos me abraçaram, menos Bruce e Diggle é claro, mas pediram que eu me cuidasse e que me manteasse em segurança. Troquei de roupa em instantes e Sara me acompanhou até a saída da sede, para que pudéssemos nos despedir sozinhos.

—Promete que vai se cuidar Wally. –Disse com os olhos marejados.

—Prometo. –Respondi a puxando para um abraço apertado. –Se cuida também, nada de missões suicidas na minha ausência. –Ela esboça um pequeno sorriso apenas para me agradar.

—Você vai consegui, sabe disso não sabe? -Ela tinha tanta fé em mim que naquele momento eu também passei a ter, balancei a cabeça concordando e ela me deu um sorriso lindo. –Eu te amo.

—Eu te amo. –Respondo a puxando para um beijo de despedida.

FLASHLOOP OFF

Felicity e seus truques. Me sento na cama e começo a ler a carta.

“Querido Wally,

Se está lendo está carta agora, acredito que já saiba sobre Caitlin e Cisco. Sinto muito por não termos lhe contado antes.

Seu pai tinha dois parceiros quando se tornou o Flash, e eles eram como uma família. Barry foi apaixonado por Caitlin sua parceira, tiveram um relacionamento cheio de altos e baixos, mas os dois se amavam. Até que ela se transformou em Nevasca. Não foi por mal, ela tentava salvar a vida de Cisco. Os dois trabalhavam em um mecanismo de auto sustentação termodinâmico ultra condutor, mas foram sabotados e Cisco morreria dentro da capsula em que ele estava se ela não arrancasse os fios do sistema refrigerador do motor, os compostos químicos se misturaram a seu DNA a transformando nessa espécie de vampira que precisa de calor humano para sobreviver.

 Ela matou a todos que estavam na SL naquele dia, Cisco se salvou por estar na capsula, mas ela o modificou também. Barry conseguiu encontra-la e por algum tempo ele a manteve sã, lutou por ela e continua a lutar ainda hoje, Barry não acredita que ela é um caso perdido. Os dois se amavam de verdade Wally, mas um dia eles não aguentaram mais ficar sem se tocar e acabaram se beijando, Barry quase morreu e Caitlin fugiu depois disso por medo de colocá-lo em perigo. Ele ficou devastado e sua mãe o ajudou a se recuperar, foi quando seus pais encontraram novamente. Eu sei que todos pensam que seu pai está atrás de Íris, mas eu acredito que ele está tentando mudar o destino de Caitlin, procure por ele em seu antigo time. Por favor, meu moleque preferido, fique seguro.

Com amor,

Felicity Queen.”

Meu Deus, será que minha vida não poderia ser um pouquinho normal? Nada muito grande, eu me daria por satisfeito em correr por ai e enfrentar um vulcão em erupção, ser capturado pela Vovó Bondade e ir para em Apokolis, jantar na casa dos meus sogros com Sr. Diggle apontando um revolver para mim talvez, será que era pedir de mais uma vida assim normal nesses termos? Mas não, meu pai teve que ter um envolvimento super forte com uma Vampira sugadora de vida. Oh vida, eu daria meu rim por meus dias normais de volta.

Volto a ler a carta, alguma coisa estava errada ali, eu tinha deixado escapar alguma coisa, eu tinha certeza. Se meu tio voltou é claro que ele estaria perto do meu tio. O merda! Que confusão! A Felicity me deu todas as informações, eu só preciso processa-las. Pensa Wally, você foi treinado para isso, treinado pelos melhores. Leio de novo, e de novo. Tem alguma coisa fora dessa equação. E de repente é obvio para mim, simples.

— Eu preciso falar com a Felicity

FELICITY

‘Como ele está?’  Ouço sua voz preocupada do outro lado do telefone.

—Quem diria, não bastasse o Barry todo paternal, você também Oliver? –Tiro sarro dele pelo telefone.

‘Só uma das minhas muitas facetas.’ Consigo ouvir sua risada, e quase como se ele estivesse aqui, caramba será que eu já estava com saudade dele? Eu tinha o deixado na caverna fazia menos de duas horas, se eu não me controlasse ficaria igual aquelas namoradas pegajosas, e só de pensar nisso me dava náuseas.

—Ele está bem, pelo menos eu acho que está. Não sei Oliver, é muito coisa para um garoto de dezessete anos suportar. – Me jogo no sofá pensado em tudo o que Wally vêm passado, a perda da mãe, a perda do pai, tentar modificar tudo isso, e sabe Deus lá quantas coisas ele está guardando só para ele.

‘Veja só quem está toda maternal agora?!’ Oliver tira sarro e eu não posso evitar de ri. ‘Mas serio Felicity, esse garoto não é um garoto normal, ele é filho do Barry, e por mais que me custe admitir, isso quer dizer alguma coisa, ele não está nessa despreparado, ele foi treinado por um eu melhor que eu mesmo, por uma você ainda melhor, se é que isso é possível, e sabe se lá por quantos de nós. Eu nunca vou falar isso para ele, mas provavelmente ele está mais preparado para enfrentar isso que qualquer um dos nossos times.’

—Você deve ter razão. – Pondero. –Mas isso não impede que eu me preocupe. Me diz como eu conseguirei sobreviver a essa agonia durante os próximos dezesseis anos? –Ouço seu riso, e de novo parece que ele está tão próximo. – Quê que é isso? –Bato na minha cabeça tentando coloca-la no lugar.

‘O que foi?’ Ele me pergunta alarmado.

—Te deixei a tão pouco tempo e parece que você já está me fazendo tanta falta que estou ouvindo a sua risada aqui perto. – Digo de súbito já me arrependendo de ter falado, e ele apenas ri.

‘Achei que erra o único?’ E em sua voz posso ouvir uma risada de culpa.

—Por que você está dizendo isso?

‘Por que faz meia hora que eu estou na sua porta.’ Ele me confessa. Eu corro até a porta e a abro e ainda pelo celular ele diz. ‘Oi’

—Oi. – Oliver entra com uma postura de predador o que faz eu dar vários passos para trás, ele desliga o celular e eu imito o gesto, Oliver me toma em seus braços e me pressiona contra o corpo dele.

—Acho que você tem que me dizer alguma coisa, não? – Ele desamarra o meu cabelo e deixando eles caírem soltos pelas minhas costas.

—Tenho? – Quase engasgo com a palavra. Oliver inclina meu pescoço e roça seus lábios e o nariz na curvatura, me causando arrepios.

—Não me lembro. – Apesar da vontade que estava de beija-lo eu não ia ceder, foi ele que começou ele que aguentasse as consequências.

—Deixa eu te ajudar a lembrar. – Mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa somos interrompidos.

—Desculpe. – Wally nos chama a atenção, e pronto, eu queria que um buraco abrisse no chão para eu entrar nele. – Eu sei que demorou muito para vocês chegarem à onde estão e tudo mais, e acreditem e estou mais sem jeito que vocês, caramba eu estou vendo os meus tios se pegando, vou precisar de anos de terapia para tirar essa imagem da cabeça. –Ele olha para o outro lado tapando os olhos teatralmente. -Mas acho que sei aonde meu tio está, não o de hoje, o do futuro. - Ele fala todo sem jeito tentando não olhar para os nossos rostos.

—E onde seria isso? – Eu olho para Oliver e percebo que ele também ficou constrangido, o que acho graça.

—S.T. A. R. Labs. – E eu não entendo o que ele quer dizer com isso.