Sangue

Durante semanas era a única coisa que assolava os sonhos de Levi

O ar estava impregnado com cheiro de sangue,morte e carne em putrefação,e até onde a vista alcançava a paisagem estava dominada pelos titãs.

Até que ele viu novamente.Seu pequeno corpo esmagado contra o troco da imponente árvore,e não pôde evitar,mas pensou que o mundo não poderia se tornar mais horrível do que já era.

Ele estava enganado.

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(Silêncio)

Levi em geral gostava do silêncio.Ele achava que ele não precisava ser quebrado com palavras desnecessárias,mas agora o silencio gritava tão alto naquele maldito castelo gigante que chegava à irrita-lo.Tirando o fato de que além de gigante,o castelo estava completamente vazio ( o que fazia o silencio ecoar).

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...

(As vezes Levi soltava um ruído de frustração para quebrar o silencio,mas de nada adiantava)

(O silencio gritava mais alto)

“Bom dia,capitão”

Ele pensou ter ouvido sua voz.

Mas não havia nada.Provavelmente só o silencio brincando com ele.Então ele apenas respondeu

“Bom dia,Petra”

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Sua rotina o estava deixando exausto.

Seu tornozelo protestava a todo momento ( uma lembrança constante de sua falha )

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(A comida e o café tinham gosto de merda)

Ele se lembrava do hábito de Petra de fazer o café e a comida todos os dias.

Agora que ela não estava mais aqui,qualquer coisa que ele colocava na boca tinha gosto de merda.Principalmente o café.

(Ele não teve a oportunidade de aprender a fazê-lo como ela fazia,e agora ele estava pagando o preço)

Levi achava que mesmo que fosse perfeito,ele não gostaria e qualquer maneira.

(Levi não gostaria de nada que não fosse feito pelas mãos dela)

Ele estava sonhando outra vez.

Mas desta vez não havia sangue,titãs nem os cadáveres mutilados de seus companheiros.

Havia um morro.Sobre ele havia uma árvore,grande e imponente.Sob suas folhas havia uma figura pequena, (menor do que ele,ele observou com certa satisfação) e estranhamente familiar

Ele caminhou até lá e sentou-se ao seu lado.Ele podia sentir calor e energias positivas emanando dela.Quase como se fosse real.

“Capitão,você está bem?”

“Não porra!Porque você não está aqui!” ele queria responder

Então,Levi acordou num sobressalto.

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“Capitão,me desculpe a pergunta,mas,o senhor está bem?”

“Eu pareço bem pra você,pirralho?”

Levi levantou o olhos e encarou o garoto do outro lado da mesa.Eren permaneceu em silencio.

Levi se levantou e saiu da cozinha

“Boa noite,senhor”

“...”

(Levi não foi o único que perdeu um esquadrão afinal)

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Levi gostava de espaços abertos.Eles ajudavam a dispersar a tensão do ambiente.

Sentou-se sob uma árvore que havia atrás do HQ.Era outono.O vento soprava frio.

Sentia-se estranhamente solitário naquele lugar.

Olhando para aquele céu noturno tão brilhante,lembrava-se dos momentos que passara com seus companheiros sob as folhas daquela mesma árvore,sob as estrelas desse mesmo céu.

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“Espero que vocês tenham tido um ótimo motivo para terem me arrastado até aqui!” disse Levi em seu tom habitual

“Ora,é claro!Acha mesmo que iríamos correr o risco de sermos punidos por nada?” Disse Auruo

Petra revirou os olhos. “Auruo,por favor...”

“Será que dá pra vocês dois guardarem as declarações românticas de vocês pra outra hora?” Perguntou Ghunter brincando.

Os dois olharam para ele,boquiabertos.

“Hey,fechem a boca vocês dois,vão acabar engolindo uma mosca” Exclamou Erd

Petra se acalmava enquanto Auruo mordia sua língua pela enésima vez.

“Eu só quero saber por que diabos vocês me arrastaram até aqui!”

“Você não ficou sabendo?” perguntou Erd

“Sabendo do que?”

“Chuva de meteoros.Acha mesmo que iríamos deixar você trancado Lá dentro enquanto isso?Jamais!” disse Petra

Sentaram-se sob a árvore e esperaram conversando sobre coisas aleatórias.Logo,o céu começou a ser preenchido com luzes,descendo constantemente em direção ao horizonte.

“Wow,isso é incrível”

Levi olhou de soslaio para a garota ao seu lado.Ela estava sorrindo amplamente e seus olhos brilhavam de uma maneira que daria inveja à todas aquelas estrelas.Ela parecia tão serena.Tão linda.

E a partir daquele momento,cada vez que olhava para a menina,não podia deixar de se apaixonar um pouco mais por ela.

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(Naquela noite,antes de dormir,Levi agradeceu mentalmente à seus companheiros por terem o arrastado para fora. )

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As folhas estavam caindo lentamente.Logo viria o inverno.

Vendo as folhas caírem e serem levadas para longe,Levi não podia deixar de pensar que as pessoas são como as folhas.Elas iam e vinham,caiam e eram levadas para longe pelo vento,como se não fossem nada.

Abaixo daquelas mesmas folhas,Levi teve incríveis momentos junto de seu esquadrão.

Agora eles haviam sido levados como as folhas.

“Petra?”

“Hm?”

“Por que você ainda está aqui?”

Era tudo apenas um sonho.Ele já sabia.

Mas a presença dela era tão calorosa e reconfortante,como se tudo aquilo fosse real e como se ela estivesse viva “Quem dera” pensou.

Ele se sentia mal por ela.Porque ela era uma pessoa incrível e não merecia viver em um mundo tão feio e sangrento como esse,e mesmo assim não merecia morrer da forma que fez.Porque sentia que havia a levado para a morte,assim como Auruo,Erd e Ghunter.Sentia-se horrível porque em um espaço de pouco tempo,ela havia se tornado parte dele.Ela estava sempre lá para ele,mas ele a abandonou a mercê desse mundo cruel e injusto.

Muito distraído em seus pensamentos,ele não prestou atenção ao sussuro em resposta à sua pergunta.

“Hm?O que?”

“Eu nunca te deixei.” Ela apoiou a cabeça em seu ombro e deu um leve suspiro ”E eu sei o que está pensando.Não seja duro consigo mesmo,Levi,nossas mortes não foram sua culpa.Nós sabíamos dos riscos que existem lá fora,e mesmo assim nós nos juntamos à legião.Nós oferecemos nossos corações para a humanidade,e nós não temos nenhum arrependimento.” Ela soluçou

“Eu sempre te amei” sussurrou bem baixinho.

Ele sabia.Seus sinais eram evidentes,algumas vezes óbvios.

Mas o que diabos ela via nele que a fazia ama-lo?Como poderia amar alguém como ele,que manchou as mãos de sangue por toda a vida.Ela era muito diferente dele,era pura e inocente,sem manchas de sangue em seu passado.Ela era perfeita demais para ele e ele não a merecia.

E ele não podia fazer nada,mas ama-la,mesmo sabendo que agora ela não passava de um sonho,uma lembrança.Um vagalume que apagou a sua luz para nunca mais acende-la.

Levi se sentia repugnante.

“Eu sinto muito que eu não pude retribuir seus sentimentos em vida.Eu...”

Ela riu “Hey tudo bem.Eu também não queria comprometer a sua posição.Afinal essas são as regras”

E antes que ele pudesse dizer qualquer coisa,seus lábios desceram contra os dele.

Eles eram quentes e suaves.Tinham gosto de felicidade,promessas não quebradas e das coisas boas e simples da vida.

Como essa seria sua única oportunidade,ele a beijou de volta,com a mesma intensidade.Sentia seu coração aquecer e bater cada vez mais forte contra seu peito,que chegava a doer.

E quando eles se separaram,seus olhos grudaram nela.Em seus olhos de âmbar brilhantes como as estrelas,grandes,expressivos e gentis.Seu cabelo,cor de cobre macio e brilhante.Seus sorriso,puro,sincero,caloroso e contagiante.Tentou memorizar cada mínimo detalhe,porque por mais doloroso que fosse viver com o fato de que ela se fora,que a visão de seu corpo esmagado contra uma árvore mergulhado numa poça de seu próprio sangue o assombravam cada dia e cada noite,ele não queria esquece-la.Porque ela fora sua felicidade no meio de toda aquela desgraça,sua luz no meio da escuridão e a única beleza que havia naquele mundo podre e insensível,e esquece-la seria como desistir de tudo pela qual ele lutara até agora.

Seus olhos brilhavam intensamente,como uma pequena chama que se recusava a se apagar.Levi desejava que pudesse ficar perdido naquele olhar pra sempre.

Então,o mundo desabou.

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Levi nunca acreditou na existência de céu ou inferno.

Mas no momento em que ele acordou sobressaltado,com o rosto molhado, ( sem saber se aquilo era suor ou lágrimas) olhou para o lado e so viu um espaço vazio na cama,ele sabia que estava no inferno.

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Levi nunca soube o significado da palavra “saudade”.

Afinal,seu coração,com o passar dos anos e com a visão de tantos cadáveres,havia endurecido cada vez mais,como uma pedra.Alguns ainda diriam que o soldado mais forte da humanidade não tinha coração.

Petra sabia melhor do que ninguém que aquilo não passava de uma mentira deslavada.

Ela sempre estaria lá para conforta-lo após mais uma missão fracassada,trazendo-lhe uma xícara de café,ou simplesmente o acalmando apenas com a sua presença.Porque de alguma maneira,a presença dela o mantinha a salvo de qualquer dor.Levi nunca pode imaginar como seria o mundo sem ela.Ele não queria saber de qualquer maneira.Mas agora ela estava morta,e não havia mais ninguém lá para conforta-lo.

Levi podia senti-la em todos os lugares:no fogão de manha,nos árduos treino à tarde e ao su lado na cama a noite.Mas não havia nada,apenas o silencio brincando com ele denovo.

“Eu nunca te deixei”

Mesmo que ela tenha dito essas palavras,Levi se sentia estranhamente solitário,como uma arvore sem folhas,um céu sem estrelas.Sentia-se incompleto,como um quebra-cabeça cuja ultima peça se perdera pra sempre.

Era constantemente assombrado pela visão dos corpos de seus companheiros mortos.Seus olhos uma vez cheios de alegria e vida,agora eram pálidos e vazios,desprovidos de qualquer emoção.

A solidão pesava em seus ombros como uma pedra de peso inestimável.Seus olhos eram cada vez mais frios,cheios de olheiras sob eles.Sentia um enorme vazio dentro de si,os dias passavam como anos,mas não havia primavera ou verão.

Quando acordava,olhava para o lado e via o espaço vazio na cama,sentia o coração apertar,gritar e apodrecer ainda mais dentro de seu peito.

Levi parecia nunca dormir o suficiente quando era com ela que ele estava sonhando.

Levi não sabia a definição de saudade,mas se ele tivesse que chutar,ele diria que é algo como isso.

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“Eu te amo.”

“...”

Petra não estava lá para ouvir