RONY

O tempo passa voando quando menos esperamos.

Estive tão preocupado com Hermione, acompanhando suas evoluções gradativas em nossas visitas semanais á Redoma, que nem notei os dois meses que faltavam para a primeira tarefa passarem.

Hermione parecia igualmente atordoada. Parecia ter levado um agressivo tapa para despertar de suas reflexões e rotinas, saindo da esfera de Wicca para, finalmente, voltar á ser apenas uma campeã do Tribruxo.

O pior foi que, desta vez, não houve nenhum Hagrid para nos dar uma dica sobre o que Hermione enfrentaria.

McGonagall havia dado aulas exaustivas de contenção para Hermione, garantindo que ela não expusesse seus poderes durante o Torneio. Por precaução, também lançou um Feitiço Contentor para ajudá-la, o mesmo que Madelaine e Andrey provavelmente haviam sofrido após tomarem a Poção de Animagia.

Leopold já havia combinado tudo com Oliviene sobre abafar e manter em segredo toda aquela conversa da profecia. Ela concordou em encobrir qualquer vestígio sobre ela durante o decorrer do Torneio.

Na manhã do dia marcado para a primeira tarefa, aguardei Hermione na mesa do café da manhã, preocupado.

Harry estava tão tenso quanto eu, parecendo levemente desanimado. Devia estar aborrecido pelo fato de sua melhor amiga estar prestes á passar pelas mesmas ansiedades que ele passou no quarto ano.

Como sempre, Neville e Luna estavam juntinhos, lado a lado, observando a movimentação – ou a ausência dela – na mesa de Noble. Já Gina, pela primeira vez desde que Hermione fora sorteada, parecia amuada, quase arrependida.

– Vai que uma quimera a engole mais tarde... não devia ter siso tão chata – ela murmurou, respondendo minha pergunta não dita.

Nyree arregalou os olhos para Gina, fazendo Darel rir. Sua barriga já avantajada (segundo Parvati - que com certeza sabia mais dessa coisa assustadora chamada gravidez do que eu - ela já estava de seis meses) já complicava seu conforto na hora de sentar à mesa do Salão Principal.

– Bom dia – ouvi uma voz assustadoramente cansada atrás de mim. Virei-me, deparando-me com o rosto exausto e inchado de Hermione.

– Você está uma droga – cumprimentou-a Gina, com uma expressão solidária – senta aí... coma alguma coisa...

Hermione entrou no espaço entre eu e Luna, bocejando.

– Não estou com fome.. vou só fazer companhia.

– O caçamba – bufei, revirando os olhos para ela – hoje é o grande dia... precisa estar bem alimentada.

Hermione estreitou os olhos para mim – o que foi assustador, já que, como seus olhos já estavam inchados, sua pupila simplesmente desapareceu quando fez isso.

– O Sr. Testosterona tem razão, Mione – Gina me lançou um olhar “seu-animal-seja-mais-delicado” – precisa estar bem para enfrentar a primeira tarefa. Toma – ela empurrou um prato com panquecas para Hermione.

Todos observaram, em silêncio, Hermione comer, completamente muda. Pareciam não saber o que fazer para anima-la... nem eu, diga-se de passagem.

Dojeito que veio, Hermione deixou a mesa, tropegando em direção á saída do Salão. Gina me empurrou com um “vai logo, seu mané” para fora do banco.

Lancei um último olhar para meus atordoados amigos, antes de correr atrás de Hermione.

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– Roupas de banho? – arfei.

Hermione só piscava, enquanto Madelaine contava-lhe a fofoca.

– A primerra tarrefa serrá no lague de Beauxbatons – Madelaine algavariou, ansiosa – descobri com um kelpie que...

Ela se calou, parecendo não querer entrar em detalhes. Mas pela cara de Hermione, Madelaine não era tão comportada quanto parecia ser.

– Nossa... valeu, Madelaine...

– Boa sorte... parra nós duas – Madelaine sorriu, saindo em direção ao Corredor Sul.

Aquilo ainda ia dar em encrenca...

– Puxa... – Hermione arfou, mais tarde, quando já estávamos no dormitório – ainda bem que Madelaine me avisou...

– Com certeza... – disse, sarcástico – Deus me livre de não saber que vou me molhar logo no primeiro dia...

Hermione olhou para mim como quem fala “você não presta” e continuou á revirar sua mala. Enquanto tirava algumas roupas, colocando-as em cima da cama, vi o vislumbre de uma flanela azul que chamou minha atenção.

Puxei-a para fora do amontoado de roupas, reconhecendo, pasmo, o maiô azul-marinho que Hermione usara em Melbourne.

Ao mesmo tempo em que aquilo evocava lembranças maravilhosas de brincadeiras e abraços em meio ao mar, também me trazia cenas desagradáveis de monstros marinhos atacando, sangue brotando na água e desesperos angustiantes.

Hermione pareceu reparar em minha reflexão, puxando o tecido de minhas mãos, assustada.

– Rony... – ela falou baixinho, sem graça.

– Podia colocar este – murmurei. Por que diabos eu queria que ela usasse aquilo?

– Eu... acho que não... – ela parecia são perdida que me lembrou uma menininha tímida e envergonhada. A comparação quase me fez rir. Era tão antinatural, ver Hermione como uma garotinha indefesa, quando ela era apenas a garota mais forte e durona que eu conhecera... – você gostou dele?

– Claro – brinquei – afinal, algumas partes de você ficam lindas de fora...

Hermione jogou uma blusinha de alças na minha cara, parecendo dividida ente rir e me agredir.

Só para provocá-la, dobrei a blusa e coloquei-a dentro do bolso de minha calça jeans.

– Devolva minha blusa! – Hermione exclamou, com os olhos arregalados.

– Vem pegar – sorri, maldoso.

Hermione saltou em mim como um leopardo, tentando recuperar a blusinha, enquanto eu segurava seus pulsos, impedindo-a de me jogar de costas no chão. Seu corpo se enganchou em minha perna, tentando me imobilizar, mas, em quesito de força física, Hermione era pateticamente fraca.

– Não... – sussurrei, rindo, enquanto imobilizava seus braços contra o piso.

– Seu bruto! – ela arfou, parecendo prender o riso – devolve minha blusa... – Hermione fingiu relaxar no chão, choramingando.

– Qual a palavrinha mágica?

– Avada Kedrava? – ela bufou, estreitando os olhos.

Soltei-a, fingindo me jogar de costas para o chão, com a língua de fora, fazendo-me de morto.

Hermione gargalhou. O som era tão lindo que quase abri os olhos só para observa-la rindo.

– Rony? – ela me cutucou, apalpando levemente a calça jeans, procurando a blusa.

Quando ela se aproximou, porém, agarrei-a pela cintura, fazendo-a cair em cima de meu corpo.

– Ah! Maluco!

Hermione piscou, divertida, antes de plantar um beijo delicado em meu nariz. Fingi desmaiar de novo, sentindo seu corpo sacudir de novo com risos.

Para minha surpresa, porém, Hermione plantou mais um beijo em mim, agora no pescoço. E desceu, beijando a pequena depressão em meu ombro. Cada beijo emitia choques elétricos em meu corpo, fazendo algo no fundo de meu peito se expandir e acelerar minha pulsação.

– Acho... – murmurei, tenso, quando Hermione já estava em meu peito – que você veio aqui só pra se trocar... não foi?

– Por que? – ela parou, olhando para mim com uma expressão entre o desapontamento e a esperança – quer assistir?

– Por mais que o convite seja tentador – sorri, me desvencilhando dela e levantando – não posso... eu também tenho que me arrumar para ver a nova campeã de Hogwarts dar uma de orca lá no lago...

Ela me empurrou, também se erguendo e apanhando a já esquecida blusinha de dentro do meu bolso.

– Cai fora, Ronald – ela balançou a cabeça, sorrindo.

– Sim, senhorita – ri, indo em direção á porta. Hermione revirou os olhos para mim, mas me deu um adeusinho antes que eu sumisse porta afora.

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Hermione retornou ao Salão Principal antes da primeira tarefa começar, parecendo muito mais animada.

– Efeito Ronald Weasley – comentou Gina, me lançando um olhar satisfeito e fazendo todos, até Hermione, rirem.

– Como está o bebê, Nyree? – indagou Hermione.

– Bem – Nyree sorriu, acariciando a barriga. Darel só faltava babar ao lado da esposa, afagando o ventre dela.

– Essa coisa de herdar aparência deixa qualquer um doido – Gina falou; parecia já ter iniciado uma conversa não percebida com Darel – olha só eu... Rony diz que eu tenho a cara de papai. Papai diz que tenho a cara da mamãe. E eu só digo que tenho cara.

– Acho que vai puxar o Darel – Nyree riu – ele é bem agitadinho, não pára quieto aqui dentro...

Senti, de repente, um pensamento inadequado e sonhador se instalar em minha mente. Fiquei imaginando estar feliz como Darel... como devia ser bom saber que seria pai.

A imagem se instalou em minha cabeça antes mesmo que eu me desse conta... Hermione com o corpo mudado, o seu ventre redondo com um bebê... o meu próprio filho, dentro daquela garota maravilhosa que eu amava tanto, um pequenino pedaço de Hermione... uma criança de cabelinhos ruivos e olhos cor de chocolate em meus braços, tocando meu rosto com as mãozinhas minúsculas, balbuciando para mim e rindo...

Sacudi a cabeça, voltando para o presente. “Pára com isso, Ronald! Você nem sabe o que pode acontecer no futuro! Pare de sonhar acordado!”

– Está tudo bem, Rony?- Hermione perguntou, olhando-me preocupada.

– Ah... – arfei, piscando – sim...

Um som altíssimo e repentino de canhão cortou o ar, fazendo todos saltarem nos bancos.

– O que foi isso? – Nyree estava com os olhos arregalados, segurando o ventre.

Todos nos olharam, confusos.

– É o sinal – Hermione me olhou, parecendo indiscutivelmente tensa – a primeira tarefa vai começar...