Eu não sabia o que acontecia mais a minha volta.

O mundo havia parado pra mim. Um filme chehio de lembranças minhas e de Pedro passava pela minha mente,ao mesmo tempo que meu coração se enchia de um sentimento novo até então. Uma mistura desconhecida e boa de amor,alívio,felicidade,saudade. E principalmente,esperança.

– Isso é......Ai,meu Deus! – Não consegui terminar a frase,me dividia entre perguntar o que estava em minha mente ou chorar detabta felicidade. – João,isso é verdade?

João,que apenas ria de mim,disse com um sorriso terno e um claro olhar de compaixão:

– Veja você mesma.

Ele me entregou um papel,que até então eu não havia reparado que estava com ele. Soltei o ar que a surpresa me fez prender e respirei fundo,pegando o papel com as mãos trêmulas e lendo o que estava escrito.

Ministério dos Anjos e Santos,22 de maio de 2015.

Caros anjos Fira e Gael,

Recebi a carta que mandaram a respeito da possível predestinação do humano Pedro com a anjo Careina. Venho por meio dessa carta informa-lhes que entendo a preocupação de vocês quanto a isso,há muito tempo sabemos que encontros destinados entre estes dois mundos dificilmente dão certo,mas peço que não se preocupem.

Digo isso pois eu nada posso fazer. A predestinação dos dois é verdadeira. Já estava escrito pra ser a muitas vidas.

É um amor verdadeiro,e tanto eu quanto vocês sabemos disso. Um amor que é a maior prova de que,quando anjos roubam nossos corações,não nos resta nada a fazer,apenas aceitar. Tentar afastá-los só retardará um encontro que nasceu pra acontecer.

Quanto a sua preocupação,Gael,digo que compreendo. Sei de tudo que passou se passando pela sua humana e da luta que travou com Lúcifer por ela,e principalmente seu fim trágico. Esse triste final não se repetirá,pois os dois terão a benção e o apoio de todos nós. Nós estaremos aqui para proteger esse amor.

Sem mais delongas,peço que nos tardem mais esse final. O amor na Terra está com os dias contados,e perto do dia dos namorados,será muito prejudicial para nós e para os humanos também.

Atenciosamente,

Alphonsus Boggart (Diretor Chefe do Ministérios dos Anjos e Santos)

Meus olhos se encheram de lágrimas,sorri para João feito boba. A felicidade de ouvir aquelas palavras não cabiam em mim,mas eu as queria,muito. Queria gritar pra todos os anjos de santos que aquele guitarrista maluco era só meu,que eu pertencia a ele e a mais ninguém.

Pedro estava certo. Nada foi capaz de separar o nosso indestino. Todos os obstáculos acabaram nos levando ao mesmo final,que tinha reticências no lugar do ponto final. O nosso infinito de possibilidades,felicidade e amor.

– Mas....como isso aconteceu? – Eu tive que perguntar. Era bom demais pra ser verdade,eu precisava entender como havia chegado até ali.

– Eu sempre soube dessa história de amor entre nós e os humanos,mas nunca acreditei que pudesse ser verdade. Haviam boatose alguns relatos,nada mais. A única vez que isso aconteceu de verdade foi com o anjo Gabriel,como você pode descobrir,antes de Lúcifer te sequestrar. – Eu assenti. – Mas passei a desconfiar,conforme você e Pedro foram se aproximando.

‘’Contei minhas suspeitas a Fira,indo até o céu num dos dias que você estava no Amparo. Disse a ela que estava preocupado no que aquilo podia dar. Se fosse verdade,o anjo Gabriel jamais aceitaria,por medo de que acontecesse o mesmo que houve com ele. ‘’

– A morte dela foi muito cruel... – Fechei os olhos ao imaginar a cena. – Só conseguia pensar no quanto Gael sofreu,quando estava presa naquele lugar.

– Ela disse que também estava desconfiando isso,que até os anjos daqui tinham certeza que vocês tinham nascido um pro outro. – Um sorriso tímido brotou de meus lábios. – Eu e ela passanmos a pesquisar quais eram as possibilidades de isso ser possível,tudo escondido do anjo chefe.

‘’Você me disse que estava apaixonada por Pedro,naquela noite,e eu sabia que ele também.....era só olhar pra ele. Eu sabia que estava certo,e prometi que iria te ajudar. Precisava contar tudo a Fira,o mais rápido possível. Mas tudo piorou quando Lúcifer te ameaçou naquele dia,na floresta. Naquele momento,tive certeza que nossas suspeitas estavam certas. Gael ordenou que você se afastasse,e eu concordei. Não seria bom contraiá-lo naquele momento,e o importante era a sua segurança. Ele,mais do que ninguém,sabia do que Lúcifer era capaz. ‘’

– Então naquele dia vocês já sabiam que eu pertencia a ele?

– Sim,mas o Gael ainda não. Nós contamos a ele quando você me contou sobre a alma gêmea falsa que Pedro tinha arranjado.

‘’Ele não reagiu nada bem a ideia,mas disfarçou. Disse que concordava em voltar ao céu,e assim foi feito. Porém,em uma das tardes que passei lá na Terra,Fira me contou que havia descoberto que Gael estava encontrando meios de separar vocês dois. Na época,eu não me manifestei,mas Fira foi até ele e argumentou,dizendo que tinha provas claras de que você pertencia ao desafinado.’’

– E ele,o que disse?

– Disse que nós não tínhamos provas suficientes,que não podíamos nos basear em fatos abstratos.

‘’Foi então que com a ajuda de Flygia e Tomtom,eu e Fira passamos a correr atrás de algo que pudesse provar que estávamos certos. Enquanto passávamos nossos dias pensando no que poderíamos fazer,Fira enviou uma carta ao Ministério,que chegou até ao alto escalão. Na carta,ela explicou toda essa situação.’’

– A resposta não chegava,e quando menos esperávamos,você foi sequestrada e Gael foi obrigado a voltar. Eu não estava lá,mas Nethorn e Beta disseram que os dois brigaram por isso. Gael nos acusou de sermos incapazes de encontrar a alma gêmea de Pedro,e que a culpa daquilo tudo era nossa. Fira,por sua vez,rebateu,dizendo que se ele enxergasse logo o que estava diante de seus olhos,tudo estaria resolvido a muito tempo.

– Acho que eu devo um pedido de desculpas pra ela... – eu sorri. Na verdade eu nunca havia entendido de onde surgira meus desentendimentos com ela. Talvez por que eu não queria ser um anjo da natureza,e ela era justamente minha chefe.

– E você só percebeu isso agora? – João cruzou os braços. Revirei os olhos e ele riu. – Quando você foi resgatada,achei que ele finalmente cairia em si e te deixaria ser feliz com Pedro,mais eis que ele inventa aquela história de flecha especial...

‘’Quando voltamos para o céu e você se afastou,briguei com Gael. Disse a ele tudo o que estava preso e abafado durante todo aquele tempo,que não aguentava mais ver você sofrer quando a verdade estava ali,só ele que não queria ver.’’

– E então ele me proibiu de ir te ver. – Arregalei os olhos com a revelação. – Foi por isso que não fui te ver,depois que sua prisão celestial foi decretada.

– Então era disso que a Fira estava falando,quando foi te defender. – Me recordei brevemente.

– Eu perguntava de você pra ela,todos os dias. Não suportava não saber como você estava,depois daquilo tudo.

‘’Mas a gota d’água foi sua cartada final. O estado de Pedro estava piorando,ele aos poucos estava voltando a ser como antes e isso não era nada bom. Estava enviando um celegrama para o Ministério,pedindo com urgência o parecer de Alphonsus sobre o seu caso,quando ele resolveu encontrar um meio de inventar uma alma gêmea pro Pedro. Disse que o melhor que tinha a ser feito era projetar tudo o que ele viu em você em outra pessoa,fazendo o Pedro se apaixonar. Ele já havia encontrado a garota,quando recebemos a carta. Estava indo até você te contar,quando Pedro sofreu o acidente. ‘’

– Nem me fala desse acidente..... – Tentei afastar aquelas lembranças.

– Enquanto você tava com ele,chamei Gael para conversar comigo. Percebi que,ali naquele momento,vendo você tão ligada a ele,ele percebeu que vocês se amavam,e que o amor que vocês sentem era maior que tudo.

‘’Nós saímos do quarto e eu conversei com ele,que parecia arrependido por ter perdido tanto tempo negando o que todos nós já sabíamos. Ainda assim,resolveu fazer uma última tentativa,e nós tivemos que encarnar o espírito do Pedro pra poder afastar toda alma gêmea que ele tentava arranjar por aí.’’

– Isso é sério? – Ri ao tentar imaginar a cena.

– É sim,Ka. Você não imagina o trabalhão que deu. As meninas da Ouvidoria também ajudavam,você precisava ver. Cada ideia mais louca que a outra. A Ellyven mandou a primeira virar lésbica,a Mabel mandou a segunda pra Faixa de Gaza......a última você nem queira saber pra onde foi.

Eu gargalhei alto com a revelação.

– Não foi pro.....foi? – Fiz uma careta. Não precisava terminar a frase,ele sabia de que lugar eu falava.

– Não Ka,pode ficar tranquila. Mas eu quase mandei o Gael pra lá....

– Então foi por isso que você tava sumido durante esses meses? – Ele assentiu. – Você é o melhor amigo do mundo! – Eu o abraçei.

– Rá,como se eu não soubesse disso. – Fiz cara de indignação e bati em seu braço. – Ai! O guitarrista tem razão,cê é esquentadinha mesmo.

– Ai João,eu tô com tanta saudade dele.... – Meu olhar de apaixonada dizia tudo,e a cada segundo longe dele,meu coração apertava,ao mesmo tempo que pulava de felicidade pela possibilidade de vê-lo.

– E o Gael,como tá agora?

– Tá conformado,mas não perde a oportunidade de dizer que somos todos uns loucos e que pode dar algo errado. – Revirou os olhos. Estava mais que cansado dos mandamentos e do jeito teimoso do chefe. – Mas eu fiz questão de deixar claro que vocês vão fazer questão de provar que isso não vai acontecer.

– Será que um dia eu vou poder agradecer tudo o que você fez por mim,esse tempo todo?

– Ah,deixa eu ver..... – Fingiu pensar. – Acho que você pode começar atravessando esse portal logo,né? Ou você quer perder o show da sua alma gêmea?

Eu ri em resposta e andei em direção ao portal,só então percebendo que ele me acompanhava.

– Ué,desde quando cê gosta de ouvir o Pedro tocar? – Joguei verde,entendendo logo porque ele queria ir comigo.

– Ué,desde....cinco minutos atrás. – Coçou a cabeça,sem graça. – Eu fiquei com saudade da Terra,foi isso.

– Tô é achando que essa sua saudade tem nome e mesmo sobrenome que o do Pedro,isso sim.

– Tem razão,eu tô morrendo de saudade do Simba. – Gargalhei com sua cara de pau. – Que foi? Aquele cachorro é maneiro.

– Deixa a Bianca ouvir isso....Mas me conta,que fim teve a última alma gêmea falsa?

– Foi morar num iglu com os pinguins e os esquimós,com passagem só de ida....

Enquanto João me conta,atravessamos o portal.prontos para mudar nossas vidas por completo.

– X –

O grande dia havia chegado.

Pedro e a Galera da Ribalta se apresentariam na batalha musical naquela noite. A apresentação seria na Ribalta,um lugar tão conhecido como a palma da mão,por todos eles.

Depois de muita discussão para decidirem qual música usariam na competição,escolheram uma do grande Chorão,da banda Charlie Brown Jr. Pedro particularmente amava as músicas,sentia muita verdade em cada letra.

E uma certa música lhe lembrava muito uma certa esquentadinha,que ele sentia tanta falta.

Ele tentou,Deus fora testemunha que ele tentou esquecê-la. Mas,por mais que seu cérebro insistisse em lhe mostrar a razão,seu coração sempre dizia para nunca deixar de amá-la,batendo forte contra seu peito. E no fim,acabava vencendo.

Nunca deixara de sentir falta dela. Mas naquela manhã,acordara com uma saudade absurda dela. Talvez porque ele a queria ali para vê-lo tocar,talvez porque a música escolhida lembrava muito a história deles. Ou o conjunto dos dois. Pedro ficava com a segunda opção.

Pedro se arrumou e desceu pra tomar café,encontrando Bianca,Delma,Marcelo na mesa,enquanto Duca brincava com Simba,lhe jogando uma bolinha.

– Bom dia,família!

– Bom dia filhão! E aí,animado pro grande dia? – Pedro assentiu,e o pai percebeu que faltava um pouco de animação ali.

– Que cara é essa,meu filho? – Delma se preocupou.

– Não é nada não mãe,relaxa. – Disfarçou,pegando um copo de suco e bebendo.

Mas Delma não se deu por vencida. Continuou insistindo no assunto,sem que o filho lhe desse muita atenção. Bianca resolveu ajudar e disse:

– É por causa da Karina,mãe.... – sussurrou,mas a reação da mãe não foi nada silenciosa.

– Ah,não! De novo essa menina? – Reclamou,repreendendo o guitarrista. – Vem cá,ela não se mudou daqui?

– Sim,mãe. E pra um lugar bem distante..... – Sussurrou a última parte,num tom quase inaudível.

– Mais um motivo pra você esquecer essa garota. – Delma foi categórica. – E pode desfazer essa carranca,que eu não criei filho pra ser mimizento não.

Pedro forçou um sorriso e terminou seu café. Enquanto Bianca conversava com os pais – eles lhe contavam sobre como se conheceram,ela nunca se cansava dessa história -,Pedro se levantou e pegou a coleira de Simba,indo até ele e Duca.

– E aí Simbão,bora dar um rolé no Flamengo? – O cachorro abanou o rabo e latiu em aprovação.

– Aaah,moleque! Vambora. – Duca concordou. Pedro pegou seu skate,mas antes que chegassem até a porta,ouviram Bianca pedir para esperar.

– Peraí um minutinho,vou me arrumar e já desço.

Pedro e Duca se sentaram novamente no sofá pra esperar a menina. Eles a conheciam muito bem para saber que ela não voltaria em um minuto. Jogaram conversa fora e o guitarrista contou ao lutador sobre suas expectativas para a noite.

Alguns – consideráveis – minutos depois,os dois ouviram Bianca descer. Pedro fingiu que estava babando de tanto dormir no sofá e Duca fez cara de tédio,fingindo um bocejo.

– Cinquenta anos depois.... – Duca disse sonolento,e Bianca revirou os olhos,lhe tacando uma almofada.

– Há há,muito engraçado vocês dois.

– Fala sério Bianca,precisava demorar tanto? Até o coitado do Simba dormiu. – Pedro reclamou,mas parou quando viu a menina pegar a outra almofada. - Mas falaí,pra onde tu vai agora?

– Vou pra casa da Ruiva,tarde das garotas.

– E vocês vão conversar sobre o quê,direitos das mulheres? – Duca zombou na cara dura,e Pedro riu. – Ah não,pera.....vai ser sobre os direitos dos pinguins de andarem de terno?

– Eu acho que vai ser sobre os direitos de uma mulher bater num homem pra ver se ele cala a boca,isso sim. – Ela rebateu,enquanto Pedro gargalhava. – Mas respondendo a sua pergunta,nem um,nem outro. Como você já deve tá sabendo,ela tá namorando o Lírio,então....

– Peraí,peraí.....com o Lírio?! – Duca se espantou. – Quantos anos eu dormi,pra não saber disso?

– Na Ribalta não se fala em outra coisa. Isso que dá ficar esmurrando um saco de areia e não prestar atenção nas coisas.

– Dormir? Eu tô achando é que você levou porrada nessas aulas de Muay Thai,isso sim.

– Vai te catar,Pedro!

Juntos e rindo,saíram de casa.

– X –

Pedro estava com os amigos no camarim,esperando sua vez para entrarem no palco.

Assim que chegaram,encontraram alguns amigos que estavam concorrendo. Entre eles,Pedro se surpreendeu ao ver Vicki ali. Conversaram um pouco,enquanto os amigos não chegavam. Ele sabia que ela cantava,pois já a a ouvira tocar para as crianças no Amparo,mas não fazia ideia que ela tinha uma banda. Ela lhe contou que o nome era Vicki e as Vingativas. Ela ia explicar o porquê de terem escolhido esse quando Duca chegou:

– E aí,Vickizinha? Não sabia que cê cantava,não. – Ela assentiu,sorrindo. – Mas falaí,tu vai cantar o quê? Canção de ninar? Ou parabéns pra você?

Marcão e Zé,que estavam ali perto,riram com o lutador,enquanto Pedro levava a mão a testa em sinal de rendição e Vicki revelava os olhos para a piada sem graça.

– Ah,desculpa. É atirei o pau no gato,né?

– Não,mas eu vou fazer questão de atirar o meu prêmio bem nos teus olhos quando eu ganhar. – Respondeu,direta. – Tchau cabeludinho,boa sorte!

Depois disso,Sol o chamou para que todos ficassem reunidos para nada dar errado quando o nome da banda fosse anunciado. E quando isso aconteceu,nas vozes de Edgar e Lucrécia – Nando estava de jurado do concurso,acompanhado de Dandara -,todos entraram no palco sob uma chuva de aplausos e assovios:

Os primeiros acordes da música começaram a tocar,chamando a atenção de todos:

– Como se o silêncio dissesse tudo,um sentimento bom que me leva pra outro mundo.....

A vontade de te ver já é maior que tudo

Não existem distâncias no meu novo mundo

Enquanto tocava sua guitarra,Pedro não pode deixar de pensar em como essa letra definia sua história com Karina. A sensação de vê-la sorrir e de tê-la tão próximo era realmente de ‘’outro mundo’’. Um mundo que ele conhecia bem,agora. Sempre fora assim,e nunca deixaria de ser.

– Tipo coisas da sétima arte,aconteceu sem que eu imaginasse....

– Sonho de consumo, cantar na sua festa,vem dançar comigo,aproveita e me sequestra... – Pedro continuou.

Amor vagabundo, intenso ou muita pressa

Não sei como termina, mas sei como começa

Foi inevitável não lembrar do dia da festa na Ribalta. Quando cantaram juntos,quando ele a sequestrando e a levando para o parque de diversões. Como terminaram a noite contando as estrelas. Aquele sentimento caiu ‘’de asa delta’’,sem que ele esperasse. Mas,agora que estava ali,ele queria o manter vivo,sempre com ele.

– Fiz essa canção pra dizer algumas coisas,cuidado com o destino,ele brinca com as pessoas

Tipo uma foto com sorriso inocente

Mas a vida tinha um plano e separou a gente

A imagem de Karina no hospital com ele,a alguns meses atrás,voltara com tudo. Suas palavras vieram como um insight,uma lembrança boa. ‘’Nada nem ninguém vai separar o nosso indestino’’. A vida nunca fizera tanta questão de lhe mostrar que ele estava errado.

– Mas se quem eu amo tem amor por mim....Se quem eu amo tem amor por mim,eu sei que ainda estamos muito longe do fim – Pedro continuou,partindo para o refrão,reforçando aquela parte da música em sua mente.

Se dependesse dele,sua história com o seu anjo nunca teria um fim.

– A vontade de te ver já é maior que tudo,e não existem distâncias no meu novo mundo.....

Quando a música acabou,foram aplaudidos de pé. Pedro se sentia feliz,mas a letra que acabara de cantar o deixara um tanto quanto abalado. Em sua mente só vinha a imagem de Karina,lembranças de seus momentos com ela.

Olhou para o palco. Num ímpeto de insanidade completa,jurou ter visto a presença dela ali. Fechou os olhos,uma,duas,três vezes. Já podia sentir o cheiro de seu perfume adocicado....

Não,ele só podia estar ficando louco,não tinha outra explicação. Sacudiu a cabeça em negação,recobrando seus pensamentos. Demorou um pouco para voltar a realidade,mas quando o fez,ouviu Sol anunciar seu nome,afirmando que ele cantaria uma música que havia feito para uma pessoa especial. Vários murmúrios foram ouvidos do palco,mas ele não sabia mais se conseguia fazer isso.

Sem conseguir encarar todas aquelas pessoas e com um nó se formando em sua garganta,tirou sua guitarra e entregou a Rominho,saindo do palco. Sol o olhou sem entender e tentou ir atrás dele,mas os amigos a impediram. Os garotos afirmaram que ele precisava de um tempo sozinho,e que daqui a alguns minutos iriam chama-lo de volta.

Enquanto Nando contornava a situação,contando alguns casos de suas aventuras pela estrada do rock,Pedro caminhou até o camarim da Ribalta novamente,fechando a porta.

Se sentou em uma das cadeiras,que tinham um enorme espelho apoiado sobre uma bancada e apoiou seus cotovelos nela,suas mãos bagunçando seus cabelos. Fechou os olhos e respirou fundo,soltando o ar lentamente.

A próxima música que cantaria ele tinha composto pra Karina,em uma das noites que passara em claro a pensar nela. Traduzia tudo o que sentira desde o momento que a encontrou. Mas sem ela ali para ouvir,sentia que as palavras não tinham mais o mesmo efeito. A verdade é que ele não iria conseguir voltar aquele palco sem ela.

Foi quando ouviu passos,vindo em sua direção. Acreditando ser de Rominho e Luca,ou quem sabe de Sol,tratou logo de amenizar a situação:

– Pode deixar,gente. E-eu já tô voltando pro palco,me dá só mais uns minutos...

– Eu acho bom mesmo. Não vim pra Ribalta pra não te ver tocar,Pê.

Ao ouvir aquela voz,ele teve mesmo certeza que estava louco. Mas,ainda que estivesse,não pode deixar de sorrir,por dentro e por fora. A dona daquela voz conseguia lhe provocar os mais diversos sentimentos,e ele nunca se cansaria disso.

Ao voltar seu olhar para o espelho,confirmou o que a letra da música dizia. O destino brincava mesmo com as pessoas. Provocava idas e vindas,encontros e desencontros. Inícios e desfechos,bons ou ruins. Mas o amor sempre vencia no final da guerra.

Porque ali,atrás dele,estava ela.

– Karina?