Eu tentava ver o filme,que era muito bom por sinal,mas aqueles dois não paravam de discutir.

– Você tem é um péssimo gosto pra escolher filme. – João disse,enchendo a boca de pipoca antes que Bianca o fizesse. – E não é só pra filme não.... – sussurrou a ultima parte se referindo a Duca,mas ainda assim ela ouviu.

– É O QUÊ,SEU NERD? – Gritou,jogando pipoca em cima dele. – Eu ouvi isso,tá?

– Que bom,Bianca! Sinal que você tem ouvidos. – Sorriu irônico,e ela bufou voltando a atenção para o filme.

Aproveitei a distração dos dois (lê-se a do João),e fui para a casa ao lado,procurar pelo meu guitarrista.

Toquei a campainha e quando dei por mim,Pedro já me abraçava e me puxava pra dentro da casa.

– Eu sabia que você ia voltar,esquentadinha. – E me beijou,daquele jeito que só ele sabia. – Sentiu saudade,é?

– Quem,eu? – Apontei pra mim,fazendo cara de dúvida. – Ahn,deixa eu pensar.... – Comecei a rir e ele me beijou de novo.

– Não adianta negar,eu sei que você sentiu,vai. – Sorriu de lado,sabia que negar algo que ele me pedisse era impossível.

– Se eu disser que sim...... – aproximei minha boca ao pé de seu ouvido. – o que eu ganho em troca? – sussurrei.

– O que você ganha? - Ele sorriu e eu assenti. – Isso. – Aproximou sua boca da minha,mas desviou quando eu tentei beijá-lo.

Ele aproveitou minha distração e me pegou no colo,nos levando para o andar de cima.

– Você é maluco! – Eu ri mantendo meus braços entrelaçados em sua nuca. Me colocou no chão e pressionou meu corpo contra a parede ao lado do quarto dele. – Meu maluco,só meu....

– Só seu. - Me beijou enquanto me levava pro quarto,fechando a porta atrás de nós e fazendo aquele momento ser só nosso.

– X –

Pedro e Karina chegaram ao Amparo juntos naquela tarde. A loira foi obrigada a aturar mais uma sessão de cantoria do moreno,agumas músicas ela até arriscava algumas notas.

Enquanto ela foi conversar com dona Regina sobre a instituição,ele pegou seu jaleco branco e o vestiu,entrando na grande sala repleta de crianças acompanhado de seu violão.

– Fala galerinha! Tudo beleza? – Cumprimentou Gui e Alice,que vieram abraçá-lo.

– Tio Pedro,cadê a Tia K? Ela não vem hoje? – Uma garotinha que usava maria chiquinhas no cabelo perguntou.

– Ela veio junto com o tio,viu Marina? Foi só resolver umas coisas com a tia Regina e já vem pra cá. O que vocês acham de ouvir uma música enquanto ela não chega?

Todas as crianças concordaram animadas.

– Muito bem! Então vamos todos fazer uma roda com as cadeiras,quem me ajuda?

Ele encostou o violão em um dos cantos da sala e logo a roda estava pronta. Pegou o violão e se sentou em uma das cadeiras,e os primeiros acordes não demoraram a surgir:

– Avião sem asa,fogueira sem brasa,sou eu assim sem você....

– Futebol sem bola,Piu-piu sem Frajola,sou eu assim sem você. – as crianças cantaram de volta,formando um coro que dava para ser ouvido em todos os cantos do Amparo.

Por que é que tem que ser assim

se o meu desejo não tem fim.

Eu te quero a todo instante nem mil auto falantes

vão poder falar por mim.

Amor sem beijinho,

Bochecha sem Claudinho,

sou eu assim sem você.

– Circo sem palhaço,namoro sem amasso,sou eu assim sem você.....

A cada verso que cantava,era inevitável não lembrar de sua esquentadinha. Ele sorria enquanto cantava,chamando a atenção de uma certa loira,que estava escorada na porta e ouvindo seu desafinado cantar.

– Tô louco pra te ver chegar,tô louco pra te ter nas mãos.....

– Deitar no teu abraço,retomar o pedaço que falta no meu coração.... – Pedro ouvia aquela voz doce ecoar pela sala e sorriu,cantando a próxima parte da música.

– Eu não existo longe de você,e a solidão é o meu pior castigo... – Cantou para ela,e todas as meninas da sala olhavam a cena com um sorriso tão bobo quanto o dele.

– Eu conto as horas pra poder te ver,mas o relógio tá de mal comigo... - Todos cantaram a última parte juntos,e bateram palmas quando a música foi finalizada.

– Mas essa galerinha manda muito bem,né não tia Karina? – Pedro disse,se levantando e deixando o violão de lado para poder seguir com as atividades do Amparo.

Pedro se aproximou de Karina,que agora não tinha a melhor das expressões no rosto.

– Tá tudo bem K? – Perguntou e ela negou,enquanto empilhava alguns brinquedos que estavam no chão.

– Não tá nada bem,Pê. – Ela se afastou das crianças como se elas não pudessem ouvir o que ela tnha para dizer,e Pedro a seguiu. – É o Amparo,estão querendo demolir o lugar para construir um shopping.

Pedro,que agora entendia o semblante triste da sua esquentadinha,tinha a mesma expressão que ela. Em suas mentes,só uma coisa os preocupava.

– Como assim? E as crianças,vão pra onde? – Ele indagou,perplexo.

– É isso que me preocupa,Pê. A Regina disse que se isso acontecer,elas vão para outros abrigos,isso se conseguirem vaga lá. Como se não bastasse passarem por tudo o que passam.

Karina fitouas crianças com atenção,se lembrando da história de cada uma delas. Sentiu seu coração apertar.

Ela contou a Pedro que o Amparo precisava arranjar dinheiro para que pudessem cobrir a proposta da empresa que queria construir o shopping,e quem sabe assim convencer o dono do imóvel a manter o lugar.

– Eu preciso fazer alguma coisa pra impedir.... – Sussurrou para ele,tentando pensar em alguma saída.

– E você não tá sozinha nessa,K. Eu vou te ajudar. – Sorriu cúmplice pra ela,unindo suas mãos. – A gente só precisa pensar em alguma saída.

– Mas qual? Essa é a parte mais complicada.... – Passou os olhos pela grande sala,na esperança de encontrar alguma ideia ali,mas nada lhe veio a mente.

Estava quase desistindo quando ouviu Pedro dizer:

– Eu só queria que as coisas fossem tão fáceis quanto tocar violão.

E então ela veio. Tão simples e perfeita,a ideia surgiu em sua mente,e ela quase se puniu por não ter pensado naquilo antes.

– Moleque,é isso! – Ela podia jurar que seus olhos brilhavam de ansiedade.

Viu Pedro a olhar confusa,e ela logo tratou de explicar.

– Você,seu violão.....Porquê você e a Galera da Ribalta não fazem um show beneficente?

– X –

João estava deitado no sofá. Em sua mão o controle da tv zapeava pelos canais,mas ele não conseguia se concentrar em nenhum deles. Em sua mente,somente uma coisa lhe tirava o sono.

Uma coisa não,uma pessoa. Era linda,chamava a atenção por onde passava,e desde a noite passada havia se tornado um dos que tanto se perdiam quando a viam.

Era só fechar os olhos e via a imagem de Bianca ali,deitada naquele sofá,pertencendo a ele por alguns instantes.

Separaram suas bocas por falta de ar. Quando abriu os olhos,ali estava ela. Sua boca estava vermelha,seu olhar chegou a ele por um instante,e foi ali que ele se perdeu.

Dividia seu olhar entre seus olhos e sua boca quando a ficha caiu. Ele havia a beijado. Tinha sido bom,ele queria aquilo e o fez sem se importra com as consequências ou o que viria a seguir,mas ele tinha beijado a atriz. Não precisava que sua consciência o lembrasse que ele estava errado,mas ainda assim ela o fez.

Se ele agora se sentia culpado,com Bianca não era diferente,e pode ver isso quando ela arregalou os olhos,percebendo que havia acontecido ali.

– Ai,meu Deus. – Ela disse a frase que pairava em sua mente.

Ele saiu de cima dela e se sentou no sofá,atordoado com tudo aquilo. Ao mesmo tempo que a queria,seu consciente tentava negar.

Viu a atriz andar em direção a porta,sem olhar para trás. Foi atrás dela e segurou seu braço com a força necessária para fazer ela se virar pra ele.

– Espera! Aonde você vai?

Queria gritar e impedí-la de ir embora para longe dele,mas sua pergunta saiu mais como um sussurro,assim como a resposta dela.

– E-eu vou pra casa,João. Tchau. – Ela aproveitou que ele estava perdido com sua resposta e se soltou dele,indo embora para a casa ao lado.

Não conseguia entender o que a fez ir para longe dele. Ela havia correspondido,queria tanto quanto ele. Estava perdido em seus pensamentos quando ouviu o barulho da porta sendo destrancada,e viu Karina entrar.

– Ué,já chegou do colégio? – Perguntou,se levantando do sofá para vê-la se aproximar dele.

– Erm....a aula de teatro acabou mais cedo hoje.

Por conta do trabalho voluntário no Amparo terminar tarde,ela inventou,com a ajuda de Bianca,uma história para que nem João e nem Gael desconfiassem porque ela voltava tão tarde. Disse que os professores estavam trabalhando muito para que a peça saísse perfeita,e que para isso,as vezes – sempre – seguravam os alunos até depois do horário.

Os dois acreditaram bem na história,mas,agora com Gael trabalhando na academia embaixo da Ribalta,as coisas começaram a ficar mais complicadas. Ela ainda não acreditava que ele ainda não tinha descoberto a mentira,mas agradecia todos os dias por isso.

– Que bom,porque eu tenho que sair e não queria deixar a Tomtom sozinha.

– E aonde você vai? – Ela o fitou com um olhar desconfiado. – Não vai me dizer que vai praquele QG jogar aqueles joguinhos!

– É vídeo game,ok? – Ele a corrigiu,já até perdera as contas de quantas vezes fizera isso,mas ela não aprendia. – E respondendo a sua pergunta,não é pra lá que eu vou.

– Ué,vai pra onde então? – questionou. O anjo certinho mal saía de casa,quando o fazia era a contragosto, para a academia lutar.

Ele nada respondeu,apenas subiu as escadas. Quando a sua ficha caiu,ela saiu correndo escada acima atrás dele.

– JOÃO,VOLTA AQUI AGORA! – Gritou,sem saber se ficava feliz ou brava com ele por não lhe contar. – Eu não acredito que você ia pro céu e nem ia me chamar!

– São ordens do anjo Gael,Karina! – Ele tentou argumentar enquanto ela fazia bico. – Além do mais,vai ser coisa rápida.

– Não interessa se é rápido,veloz ou lento! Eu quero ir e pronto,o anjo Gael que vá pros.....

– Karina!

Ele estava irredutível,mas ela não iria desistir. Estava morrendo de saudades dos amigos. Até de implicar com Fira ela sentia falta.

Ele a fitou por um instante,suas íris azuis imploravam por um voto de confiança,que ele mesmo sabia que podia lhe dar. Resolveu fazer a vontade da amiga ao menos uma vez em todas aquelas semanas e disse:

– Tá bom,Karina! Mas se o Gael descobrir,eu não tenho nada a ver com isso,ouviu bem?

– Aaaaah,João! Muuuito,muito obrigada! – Ela pulou em seu pescoço e o abraçou forte,que correspondeu até ficar sufocado e se afastar.

– Culpa desses olhos azuis que você tem. Não consigo negar nada quando você me olha desse jeito.

– Eu seeei que você sabe que ir pro céu sem mim não teria a menor graça! – Ela sorria abertamente como uma criança que havia ganhado seu presente de natal. – Vou chamar a Tomtom e já vamos,não sai daí!

Quando chegaram ao quarto,João estava quase abrindo o portal para o céu. Uma ideia passou pela mente da pequena loira,e ela não pode deixar de perguntar:

– João,lá no céu eu vou voltar a ter asas,não vou?

– Vai sim,Ka. – Comecou dar pulinhos de felicidade,acompanhada por Tomtom. - Ah,e vê se não esquece que lá no céu o seu nome é outro.

Em questão de instantes,o portal estava aberto,ali mesmo na varanda do quarto de João. Os três passaram por uma luz forte e brilhante,que os levou para o andar de cima.

– X –

– Ai,minha cabeça. – Eu disse,massageando as têmporas. Tentei me equilibrar entre as nuvens,mas caí algumas vezes. Não me lembrava ser tão difícil,muito menos que passar pelo portal me deixava meio zonza.

Olhei em volta,e sorri ao constatar que tudo estava como antes. O azul anil preenchia cada canto daquele lugar,vi os anjos mirins pular de nuvem em nuvem pelo céu afora.

– Olha só pra esse lugar! Aaai que saudades que eu estava daqui! - Gritei ,e então me lembrei que,por alguns instantes,teria de volta algo que gostava muito. – As minhas asas! AI MEU DEUS,AS MINHAS ASAS!

Eu gritava feito criança e as balançava,as asas caiam feito cascata pelas minhas costas,se misturando ao meu cabelo. Não pensei duas vezes e comecei a voar pelo céu,cumprimentando todos por onde passava.

– Vem,João! – Gritei,enquanto fazia piruetas no ar.

– Eu já vou Ca,preciso falar com umas pessoas antes a pedido do anjo Gabriel.

Assenti e voei com Tomtom para procurar as minhas amigas.

– X –

A Ouvidoria dos Pedidos estava cheia naquele fim de tarde.

Os desejos e súplicas dos humanos chegavam com uma velocidade fora dos padrões normais. Nada que elas não pudessem esperar,afinal o dia dos namorados estava se aproximando,e elas todo ano eram bem preparadas para dar conta de todos os desejos deles,sejam estes quais forem.

– Olha esse pedido,a mulher quer casar no dia dos namorados. – Gaby disse,como se fizesse piada do que a tal mulher tinha dito.

– E qual é o problema disso,Gabs? – Jany perguntou,sem entender. – Cê sabe que todo ano a maioria dos pedidos e pra conseguir casar,ué.

– Mas essa daqui tá encalhada a mais de não sei quantos anos,tá é difícil de ajudar! Alguém precisa dizer pra ela que aqui é a Ouvidoria dos Pedidos,não das súplicas.

– Ai,só você mesmo! – Niiah riu. – Me passa o pedido que eu transfiro pro Santo Antônio,vai.

– Difícil mesmo é dar conta de tanta gente! Olha só pra isso aqui,tá pior que dia de feira. – Comp reclamou,grudada ao telefone.

– E eu não sei? Meu ouvido tá até doendo.... – Kit se levantou e começou a voar por ali mesmo,para esticar um pouco as pernas.

– Mas pensem pelo lado bom,meninas! Se ganharmos dos meninos esse ano,vamos poder concorrer ao Anjo Do Ano! – Jessy tentou animar as amigas,esperançosa.

– É o mínimo que podem fazer por nós,só acho. – Isy afirou,brincando com a caneta que estava em cima da mesa.

– Olha só esse pedido! Ela quer comer sem engordar! – Sofia gargalhou. – Isso aí já é missão impossível!

– GEEENTE! E a Careina,hein? Alguém tem notícias dela? – Laureen perguntou.

– Não,acho quem ninguém tem. – Dani respondeu,se lembrando de como o céu era mais agitado com ela por perto.

– É,ainda mais agora que o anjo Gabriel e a Tomtom estão com ela e o João lá na Terra. – Carla disse.

– Será que eles vão demorar pra voltar? – Julie perguntou,mas não precisou que nenhuma das amigas respondesse.

– Sentiram minha falta? - Uma certa loira perguntou,chamando a atenção das amigas.

– CAREEEINAAAA! – Laureen gritou,voando até a pequena anjo e a abraçando forte. – QUE SAUDADE QUE EU TAVA DE VOCÊ!

– Aaaah,eu também! – Carla se adiantou,pulando em cima das duas e fazendo um abraço de urso.

Karina foi até cada uma das amigas e logo estavam conversando animadamente,ela contava como era sua vida na Terra.

– Viver na Terra é é perfeito,meninas! Não,mentira,é maaais que perfeito! – Ela gritava toda animada,e as amigas ficaram ainda mais curiosas.

– E como é conviver com o Pedro? – Dani perguntou.

Todas lá já sabiam que Pedro era o protegido de Karina na Terra,não perdiam um só relato de Tomtom sobre o que acontecia com a cupido atrapalhada. Já até faziam parte do Team Perina.

– Ah,é uma looonga história.... – Karina tentou desviar do assunto. – Eu e o Pedro já passamos por tantas coisas.

– Mas ele é legal,né? – Isy perguntou,e todas as amigas a fitaram sem entender a perguntar. – Qual é,meninas? Querendo ou não,ele é um humano. Não sabemos se podemos confiar nele.

– Mas a Ca sabe,né? – Gaby perguntou para a loira,ainda que entendesse a preocupação de Isy com Karina.

– Podem ficar tranquilas! O Pedro é um humano muito especial,nunca me faria mal.

– Só especial,né? Sei... – Niiah brincou,e viu as bochechas de Karina adiquirirem um vermelho vivo.

– Tá,ele não é só isso,não. – As amigas estavam atentas ao que Karina ia falar,ansiosas. – Ele é lindo,perfeito,gato....Me olha daquele jeito que só ele sabe....E as vezes em que ele me beija,eu...

– AI MEU DEUS! PARA TUDO! – Jany gritou. – Ele te beijou? Mais de uma vez?

– Fala mais baixo,Jany! Já pensou se a Fira ouve? – Sofia sussurrou,e Jany se desculpou.

– Tá,desculpa. Mas agora cooonta!

– Hum,digamos que nós já nos beijamos algumas.... – Karina olhou para os lados,para ter certeza que não tinha ninguém ali além delas. – Tá legal,muuitas vezes!

– AI MEU DEUS DO CÉU! – Kit gritou,sem se importar com o trovão que recebera do cara lá de cima. – É MUITO AMOR NESSA TERRA!

– Eu não vou chorar! Eu prometi que não ia chorar! – Jessy tentou secar as lágrimas,sorrindo pela felicidade da amiga.

– Então fale por você Jess,porque eu já tô chorando! – Julie disse,indo abraçar a loira. – Quero que você saiba que nós nunca vamos deixar de apoiar Perina!

– É isso aí! Ninguém aqui liga pras chatices da Fira e do anjo Gabriel,a gente shippa e pronto! – Laureen afirmou.

– Vocês são perfeitos juntos! Só não vê quem não quer. – Foi a vez de Comp dizer.

– Ai meu santinho! Vocês são umas lindas mesmo!

O abraço de urso entre elas não demorou a ser formado. Ainda que gostasse de ver as amigas torcendo por ela,sabia que sua história com Pedro estava com os dias contados,e não pode deixar de se entristecer um pouquinho.

– Posso saber o motivo da comemoração,meninas?

Uma ruiva apareceu e se aproximou das meninas. Elas se soltaram ao ouvir aquela voz,vinda de alguém que não deveria estar ali.

– Henya?

– X –

João estava a espera de Fira. Ainda que Karina não a suportasse – ele nunca havia entendido esse ódio mútuo das duas -,ela era sua amiga,e tinha que reconhecer que precisava de sua ajuda.

– João,é você mesmo? – Uma anjo gordinha,de pele clara e cabelos pretos e amarrados num rabo de cavalo o chamou. – Oh,meu menino,quanto tempo!

E o abraçou forte,João chegou a achar que não conseguiria sair dali.

– Eu também estava com saudades de você,Fira. – Respondeu verdadeiro. Não tinha muitas amizades no céu,e a anjo chefe de Karina com certeza era uma delas.

– O que o trouxe até aqui?

– É a missão,Fira. Nós não conseguimos termina-la,e nosso prazo está acabando.

– Qual é o problema,meu menino? – perguntou,atenta a resposta dele.

– É alma gêmea do Pedro! Por mais que eu,a Ca e o Gael tentemos procurar,nada de ela aparecer!

– Mas e o Pedro? Já está cem por cento recuperado daquele vício horrível?

– Isso eu ainda não sei. E também tivemos que afastar ele da Careina,antes que fosse tarde demais.

– E por que,em nome de Jesus,vocês fizeram isso? – Fira perguntou,perplexa. – Eu sei que cumprir missões na Terra é difícil,mas nunca vi uma em que precisássemos afastar os anjos de seus protegidos.

– É,eu sei,mas não teve outro jeito. Se eles continuassem tão próximos,essa missão iria falhar,com toda a certeza.

João percebeu que Fira ficou calada por um instante,alheia a sua presença.

– O que houve,Fira?

– É que isso é tão estranho.... – Respondeu com a mão no queixo,pensativa. – Pelos meus cálculos,essa missão não deveria demorar tanto. Vocês já deveriam estar aqui!

– O anjo Gabriel disse a mesma coisa. – Agora João,assim com Fira,estava preocupado. – O que acha que deu errado?

– Eu não sei....preciso verificar algumas coisas no sistema. Tenho uma suspeita,mas não sei ainda se estou certa.

– Pode me dizer o que é? – João perguntou,ainda mais preocupado. O que quer que estivesse acontecendo,precisava informar Karina,Tomtom e Gael o quanto antes.

– Ainda não! Eu vou ver o que posso fazer por vocês,e mando notícias,está bem?

Ele assentiu,e rumou para procurar Karina.

– X –

– Não vão me responder,anjinhas? – Henya ironizou,com um sorriso nada casto no rosto.

– Não é da sua conta,Henya! – Gritei,pronta para avançar nela se precisasse. – O que faz aqui?

– Eu acho que essa pergunta é minha. Afinal de contas,quem estava na Terra cumprindo missão com o Joãozinho era você.

– Estava não,estou! E pra você é João Spinelli,ouviu?

– Careina,ainda bem que te encontrei! – João me chamou,se aproximando de nós. – Nós prec.....o que ela tá fazendo aqui?!

Agora João tinha uma expressão de raiva no rosto. Tudo o que ele não queria era encontrar a ruiva que perturbou suas noites de sono,mas ainda assim,ela estava ali.

– Sentiu minha falta,amor?

A voz nasalada da ruiva ardilosa foi o estopim para que as lembranças voltassem num rompante. Não precisou fechar os olhos para relembrar o porquê de não querê-la mais em sua vida.

Henya e ele namoravam,se gostavam....ou pelo menos ele gostava. Ela fingia ter algum sentimento,enquanto ele se desdobrava para fazê-la feliz. João achava que estavam bem,mas tudo não passava de mais de uma das mentiras da ruiva.

Na primeira oportunidade que teve,ela o traiu. Ele não se lembrava bem com quem,somente da dor que sentiu ao vê-la nos braços de outro,das lágrimas que derramou após manda-la embora da vida dele.

A única pessoa que conseguia trazer um sorriso em seu rosto,desde então,era Karina,com aquele jeito leve e solto de levar a vida,ainda que fosse um pouco inconsequente. Não importava. A amizade da loira foi fundamental para que ele pudesse enquecê-la,ou pelo menos tentar.

Estava tão perdido em seus devaneios que não notou que ela se aproximou lentamente dele,apoiando seus braços em sua nuca e deixando sua boca perigosamente próxima da dela.

– Não precisa responder,eu sei que você sentiu minha falta.

– Fica longe de mim,Henya. – Disse firme,a levando para longe dele.

– Ah,não faz assim. Você ficou estranho depois que foi pra Terra,eu hein.

Ele quase riu com a afirmação da ruiva,mas se conteve. Quando menos esperava,já dizia:

– Você tem razão,eu mudei,e pra melhor. E tudo graças a uma pessoa.

Viu Henya franzir o cenho,sem acreditar no que ouvia. ‘’Ponto pra mim!’’’,ele ria internamente.

– É O QUÊ? – Gritou,avançando sobre João e marcando seu peito com tapas. – E QUEM É ESSA ZINHA,EU POSSO SABER?

E então ele emudeceu com a pergunta. O que ele diria? Precisava manter a mentira,ou ela pensaria que ainda tinha poder sobre ele. O que não era bem uma mentira,mas também não era verdade. Com o primeiro nome que lhe veio a mente,ele segurou seus pulsos e disse:

– O nome dela é Bianca.