Rony e Hermione na Terra dos Cangurus escrita por FireboltVioleta


Capítulo 21
A Consulta




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/557826/chapter/21

HERMIONE

Darel chegou em Darwin em tempo recorde.

Olhei três vezes para meu relógio para me convencer que o garoto realmente tinha chegado na ponta do continente em menos de cinco horas. Assim que descemos, fiquei encarando, confusa, o Hilux resplandecente que nos trouxera até ali.

– Esse carro não é um simples automóvel trouxa - resmunguei para Darel, com um olhar questionador.

Darel ficou um pouco vermelho, o que era um milagre de se perceber em sua pele parda.

– Ahn.. não... não é... - ele murmurou, observando Nyree descer com a bagagem - eu o aluguei de um bruxo de Alice Springs que enfeitiça automotivos para que desviem qualquer atenção de sinais, semáforos, medidores de velocidade e lombadas eletrônicas, além de fazer com que eles atinjam uma grande velocidade sem que os passageiros que estão dentro percebam. Então, é, é um carro bruxo.

– Maneiro - Rony sorriu.

Meu estômago parecia latejar cada vez mais enquanto nos aproximávamos do Mandalay Luxury Villas, o hotel que eu havia reservado em Darwin. Daquele ponto em diante, eu iria procurar meus pais por todo o lugar. Eu sentia que eles realmente estavam ali, naquela cidadezinha desconhecida.

Ao mesmo tempo, ficava angustiada em pensar na possibilidade de não conseguir reverter o feitiço... ou na possibilidade de eles estarem tão bem e felizes ali que eu não tivesse coragem de voltar a me intrometer em suas vidas...

Me lembrei de como papai e mamãe sempre foram apaixonados pela Austrália, do como comentavam a vontade de se mudar... de meu pai explicando como nunca poderiam fazer isso, com uma filhinha de sete anos que mal tinha amigos... do como mamãe desistiu de perguntar, falando que não poderia mais pensar nisso quando via a filha tão feliz na nova escola de magia...

Rony pareceu perceber o como eu estava insegura, pois apertou minha mão e só a soltou quando nos instalamos no quarto do hotel.

– Vou ao centro da cidade tentar contatar alguns colegas - Darel disse, dando uma esbarradinha brincalhona em Nyree com o ombro (a garota se divertia como uma criança pulando no colchão inflável) - de repente, vou conseguir puxar informações suficientes para localizar aonde seus pais estão morando em Darwin... se não tiverem se mudado para outro lugar, é claro...

– Deus me livre, Darel - brincou Rony - não fale isso nem brincando... ainda estou me recuperando da viagem pelo deserto como um pangaré... não faz isso comigo...

– Ande, Darel... - Nyree deu uma risadinha - vá ver isso logo... não quero ficar três horas com saudade de você...

Fiquei surpresa ao observar a minha amiga maori balançar o corpo enquanto dizia isso. Por Merlim... se aquilo não era estar doentiamente apaixonada pelo namorado, eu não sabia o que era...

Darel também pareceu achar engraçado, já que balançou a cabeça, revirando os olhos, e saiu do quarto murmurando um "tchau, Nyree".

Fiquei olhando para o ponto onde Darel desapareceu.

– Você ama ele - falei obviamente.

Nyree suspirou.

– Amo, senhorita. Eu.. - ela baixou a cabeça, com um sorriso envergonhado - Darel é o homem da minha vida agora... a senhorita tem alguma ideia de como é isso?

Olhei para Rony, que analisava outra vez os prontuários que Darel trouxera das viagens anteriores. Só de reparar em seu olhar pensativo, meu coração acelerou. Meu corpo e minha mente já respondiam e reagiam à ele como o vento nas folhas de uma árvore - algo imediato e natural.

Lembrei de nossas conversas durante a viagem.. tudo o que Rony me disse... nossas risadas, nossos beijos... nossa quase noite de amor...

Virei a cabeça para Nyree, sorrindo.

– Tenho ideia, sim, Nyree. Pode ter certeza disso.

– Espero que Darel volte logo - Rony se aproximou de nós sentou ao nosso lado - andei comparando os prontuários e percebi uma coisa bem curiosa...

Ele me mostrou uma folha que eu não havia reparado antes. Um papel de registro de empresa em cartório feito em Alice Springs, com a descrição da transferência da empresa para Darwin logo em seguida. O nome fez meu estômago gelar de choque.

– Otter Dental Clinic - leu Nyree, confusa - não entendi...

– "Otter", Nyree... - Rony explicou, olhando para mim - é uma palavra inglesa para "lontra".

Levei as mãos a boca. O oxigênio do quarto pareceu desaparecer de repente.

– Já ouviu falar em dementadores?

– Já, já ouvi..

Não prestei atenção na explicação que Rony dava a Nyree. Ainda estava anestesiada.

Meus pais haviam esquecido de mim. mas parecia que uma ou outra coisa escapara... por que mais eles teriam lembrado do meu patrono?

Era coincidência demais para que eles tivessem escolhido um animal como nome da nova clínica por pura conveniência - até por que não existiam lontras na Austrália. Eu tinha a leve impressão que meus pais tivessem sentido alguma ligação aparentemente perdida com a figura de uma lontra.

A transferência já havia sido feita para Darwin... então eles realmente estavam ali.

– Rony... - murmurei, quando percebi que ele parara de falar - assim que Darel chegar...

– Eu já sei... - Rony parecia ainda mais animado do que eu - ele pode tentar puxar o endereço da clínica, em vez da residência.

– Mas que desculpa vamos dar para entrar na "crinica"? - indagou Nyree, que ainda não adotara palavras da vida urbana em seu vocabulário. Doeu meu rim ouvi-la assassinar o inglês, mas fingi não notar.

– Nyree tem razão - Rony disfarçou uma careta também - como vamos entrar lá, se provavelmente seus pais provavelmente vão ter pacientes, ou seja, testemunhas, por toda a clínica? Nós teríamos que ficar a sós com eles...

– Pacientes... - repeti a palavra, erguendo a cabeça.

Uma ideia brilhante me ocorreu - o que não me animou muito. Da última vez que eu tivera ideia igual, quase morri tostada por um dragão.

Olhei para Rony, que se boquiabriu um pouquinho. Parecia que a mesma coisa ocorrera a ele.

– Ah, não... - ele gemeu.

– O que foi, senhor? - Nyree perguntou.

– Não está vendo, Nyree? Ela está tendo uma ideia...

– Estou mesmo - brinquei.

– Manda brasa, garota - ele gesticulou com a mão, arregalando os olhos.

– Não é óbvio, Rony? - dei um sorriso no qual eu esperava, ironicamente, aparecerem todos os meus dentes - vamos ter que marcar uma consulta...

___________________________O__________________________

Darel só piscava para mim quando terminei de lhe contar meu plano.

– Granger... não sei como te dizer isso... - ele sacudiu o novo prontuário em suas mãos - mas você pirou.

– Ela já era pirada, Darel - Rony riu - isso só reforça um pouquinho a piração dela.

Darel olhou para o teto e me entregou o novo prontuário. Na primeira folha, já podia se ver o endereço e o telefone da Otter Dental Clinic.

– Anota aí, Rony - Número Duzentos e Sessenta e Seis, da Trower Road.

– Anotado... - Rony murmurou - e o telefone?

– 61 8 8945 4022... - Darel já havia pegado o telefone do quarto - quer discar?

Apanhei o fone, ficando ligeiramente insegura. Se eu ligasse, ia ouvir a voz dos meus pais pela primeira vez desde que saí de casa. Como eu faria quilo sem parecer desesperada e ansiosa?

– OK - arfei ligeiramente, discando os números no telefone.

Ouvi a linha tocar, indicando que estava chamando no telefone da clínica. Eu tinha a impressão que minhas entranhas estavam dando um nó de ansiedade.

Quando atendeu, eu não sabia se ficava feliz ou triste.

– Clínica Dental Otter, bom dia...

Meus olhos se encheram de lágrimas. Era meu pai.

– Bom dia... - me forcei a dizer, cobrindo meus olhos - seria o Doutor Wendell... Wilkins? - quase esqueci de dizer o novo sobrenome dele.

– Ele mesmo... gostaria de marcar consulta?

– S-sim - gaguejei ligeiramente, me apoiando no criado-mudo - meu nome é... Hermione Williams - Darel deu um ganidinho quando surrupiei seu sobrenome - gostaria de marcar um exame periódico... para o primeiro horário disponível...

Ouvi o folhear de uma pasta pelo fone. Quando papai voltou à falar, parecia preocupado, provavelmente notando minha instabilidade do outro lado da linha. Notar o como ele ainda percebia a angústia das pessoas não ajudou em nada para me fazer parar de chorar.

– Senhorita Williams, tenho um horário disponível para hoje, às três horas da tarde. Pode ser?

Meu coração deu um salto. A consulta ia acontecer naquele mesmo dia. Não acreditei em minha sorte.

– Sim. Pode ser... - arfei, secando o rosto com a mão.

– Manterei esse horário reservado então. O preço será combinado depois da consulta, está bem?

– OK... - segurei um soluço - obrigada, Doutor Wilkins.

– Ficarei no aguardo, senhorita Williams. Até mais.

– Até mais... - desliguei o fone, tremendo.

Finalmente deixei meu corpo cair na cama. Rony segurou minhas costas, afagando meu ombro.

– Hoje, às três da tarde - ele murmurou - vamos nos preparar, então.

Sequei as lágrimas que haviam sobrado em meu rosto.

– Ele parece... bem - solucei - eu... nem pude perguntar sobre mamãe..

– Mas você vai vê-la, Hermione - Rony sorriu - anime-se! Vamos levar seus pais para casa logo, logo...

– Tem razão - suspirei - tem razão...

– Ainda é uma hora da tarde - Darel disse - podemos ir a pé...Trower Road não é longe daqui... dá mais ou menos uma hora de caminhada... vamos chegar cedo. Quer que a gente já vá indo?

– Sim - assenti, me levantando.

Enquanto pegávamos nossas coisas, Rony me deu um inesperado beijo na testa.

– Pare de se martirizar, Hermione. Eles estão e vão continuar bem. Vocês vão ficar bem.

Abracei-o, sorrindo. Quis dizer que não havia como não ficar bem com ele por perto. mas não ia dar o braço a torcer e dar uma de namoradinha melosa, então permaneci em um silêncio pensativo até chegarmos à clínica.

_______________________O______________________

O letreiro da clínica deixou até mesmo Darel surpreso.

As palavras "Otter Dental Clinic" surgiam, prateadas, em uma placa preta que se estendia por toda a fachada. No lugar do C de Clínica, havia o desenho de uma lontra prateada curvada para a direita.

Abaixo do nome, estava escrito o nome dos meus pais com seus sobrenomes falsos, o que indicava que mamãe e papai ainda trabalhavam em conjunto.

A clínica em si era bem menor do que as que costumávamos ter na Inglaterra, mas era aparentemente tão refinada e organizada quanto as antigas.

Bati na porta de vidro, receosa. Esperei na soleira com Rony e Darel (Nyree havia ficado no hotel, tentando aprender como fuçar no ar-condicionado da suíte e assistindo televisão).

Quando a porta se abriu, tive que disfarçar minha expressão insegura quando o homem de meia-idade e jaleco branco apareceu.

Ele abriu aquele sorriso simpático que eu conhecia tão bem, dando aquela piscadela que virara um cacoete durante toda a sua vida.

– Doutor Wilkins.. - eu disse, apertando a mão de Rony.

– Senhorita Williams, senhores - papai sorriu - sejam bem vindos. Podem entrar...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rony e Hermione na Terra dos Cangurus" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.