Damon estacionou o carro e desceu afrouxando a gravata. O dia tinha sido difícil e desde o café não tinha posto nada na barriga. Os boatos e perguntas sobre o seu casamento não fez as coisas melhorarem, e sua paciência já tinha se esgotado.
Pensou em ligar para saber como Elena estava durante o dia, mas como ela mesma havia dito aquilo era um casamento de mentira, e esse tipo de coisa só era feita em casamentos de verdade.
Abriu a porta e sentiu a casa perfumada.

Logo reconheceu que era o cheiro de Elena.
Virou-se para trancar a porta e só então percebeu um vaso de flor. Um vaso que não estava ali antes, e que não era para estar ali.
Flores lembravam enterro, e enterro lembrava seus pais.
Ele bufou sem um pingo de paciência.
– D.? É você? - a voz animada dela vinha da cozinha – Venha, preparei o jantar.
Ele respirou fundo caminhando em direção à cozinha.
Pela primeira vez, depois de muito tempo alguém lhe esperava para jantar.
Elena, com o cabelo preso em um coque, estava vindo em sua direção, com os seus grandes olhos castanhos brilhando de alegria.
– Espero que goste de panqueca. - ela disse pegando sua mão e o puxando para a cozinha
– Queria agradecer por ontem. Foi muito gentil. - ela disse sorrindo – Hoje, aproveitei o dia para me familiarizar com a casa e meio que tentei dar um pouco de vida a ela. Estava tão escura e fria. Espero que não se importe.
O que ela queria dizer com dar vida? - ele se perguntou.
– Onde prefere se sentar? - ela perguntou quando chegaram a cozinha
Damon não respondeu, estava ocupado olhando para a “vida” de Elena.
– O que significa isso? - ele perguntou franzindo o cenho
A cozinha estava repleta de flores.
Uma na janela, outra em cima da geladeira, outra plantinha no chão…
– Isso o que?
– Esse mato todo na minha casa. - ele disse serio sem alterar a voz
Elena puxou a mão como se alguém tivesse lhe dado uma chibatada.
– Oh, a casa estava tão sem cor e eu não tinha nada para fazer. Espero que não se importe e…
– Eu me importo. - ele a cortou
– É quem bom… eu as acho tão bonitas e delicadas, e pensei que... - ele a cortou de novo
– Eu não gosto delas, só servem para atrair bichos.
– Oh, quanto a isso não se preocupe, eu posso cuidar para que isso não aconteça. Eu pensei que você… - ele a cortou mais uma vez
– O que você não pensou é que a casa é minha e que antes de sair mudando as coisas, tem que falar comigo. Não gosto de flores. - ele declarou.
Naquele momento ela teve certeza de que se lhe tivessem arrancado um dedo, não doeria tanto.
Alguns segundos de silencio se passaram até ela se pronunciar:
– Você tem razão. - ela disse olhando para todos os lados menos para os olhos dele - Você esta coberto de razão. Pode apostar que a partir de hoje, vou ficar no meu lugar. - ela disse ressentida – Amanhã mesmo retirarei todas as flores. - ela prometeu – O seu jantar esta servido.
Ela anunciou se retirando da cozinha.
– Escuta Lena… - Damon disse parando na frente dela e a olhando nos olhos, arrependido
– Aproveite seu jantar Damon. - ela disse fazendo a volta nele e saindo quase correndo da cozinha.
Damon soltou um palavrão baixinho.
Agora os lindos olhos castanhos de Elena não brilhavam mais de alegria. Nem se quer brilhavam.
Ele respirou fundo e olhou para mesa posta.
Pratos, copos, talheres, tudo em seu devido lugar e um vaso pequeno e delicado no centro da mesa com três rosas vermelhas dentro.
Um nó na garganta quase lhe enforcou e ele precisou engolir seco.
Ele realmente era um idiota.

Assim que fechou a porta atrás de si e passou a chave, Elena se jogou na cama sentindo as lagrimas lhe queimarem o rosto.
Sabia que estava se comportando igual a uma adolescente mimada, mas dane-se. Que fosse uma adolescente mimada então.
Tudo o que ela tentou fazer foi ajudar, não pensou que por miseras flores ele faria tudo aquilo. Afinal eram apenas flores.
Enterrou a cabeça no travesseiro fazendo assim com que os soluços saíssem abafados e baixos.
Como ele havia conseguido mudar tanto de uma noite para outra?
Na noite passada, era gentil, engraçado e alegre, porém hoje estava mais para idiota, idiota e idiota.
Mas ela tinha entendido. A casa era dele. Quem mandava era ele, e ela não se metia nos assuntos dele.
Era tudo culpa de Caroline. Como ela conviveria com ele durante seis meses se logo no primeiro dia já haviam brigado?
Um “toc – toc” - foi ouvido na direção da porta e ela rapidamente secou os lagrimas.
–Elena, venha vamos jantar.
Aquilo não era um pedido, e sim uma ordem.
– Eu já jantei Damon. Obrigado pela sua preocupação. - ela disse irônica
– Não minta você não jantou.
– Jantei sim. - ela rebateu orgulhosa
– Escute, - ele disse sem paciência – se você não descer em dois minutos, não te esperarei para comer.
– Ótimo, não espere. - ela disse brava
Ele pronunciou um palavrão alto.
– Tudo bem deixe as flores. - ele disse por fim com voz baixa
– O que você disse? - ela perguntou se sentando na cama
– Disse para deixar a droga das flores.
– Serio? - perguntou já de pé junto a porta
– É, deixe as flores. A casa também é sua agora, só me de um tempo para me acostumar com isso. - ele suspirou – Eu vou tomar um banho. Assim você tem tempo para descer e jantar lá em baixo, depois eu como alguma coisa.
Barulhos de passos sumindo no corredor foram ouvidos e finalmente o barulho de uma porta batendo soou.
Elena ainda estava atônica. Tinha ouvido mesmo aquilo?
Deus, que homem bipolar!
Ela se jogou na cama pensando.
Por um lado ele tinha razão por ter ficado bravo. Ela não havia pedido para ele. E se ele fosse alérgico? Oh era isso, claro, era alérgico.
Como ela não tinha pensado nisso.
Ela gemeu com a consciência pesada.
Talvez se jantassem juntos, o clima poderia ficar melhor.. ou pior, tanto faz. Pior do que estava não iria ficar mesmo.
Era apenas o primeiro de muitos dias que teria que passar na companhia dele. Tinha que se acostumar com o maldito frio na barriga.
Afinal, era apenas Damon. Um outro homem rico qualquer...

Para a surpresa de Damon, quando ele desceu as escadas, Elena o estava esperando sentada na mesa com seus grandes olhos brilhante.
– Olha, - ela começou falando – isso tudo é novo tanto para mim quanto pra você. Por isso vamos facilitar.
– Cadê as flores ? - ele perguntou se sentando à mesa em frente a ela
– Eu as coloquei lá fora. Acho que posso cultivá-las em uma parte afastada do pátio se não se importar.
– Um jardim?
– É, lá fora, longe da piscina para quando você for usá-la não ter crises alérgicas.
– Eu não sou alérgico a flores. - ele disse erguendo as sobrancelhas
– Não? - ela perguntou confusa - Não, apenas não gosto delas. - ele esclareceu e logo acrescentou – Mas faça como quiser essa casa também é sua agora. Se quiser fazer um jardim, então faça um jardim. - lhe encorajou
Elena sorriu alegre.
– Obrigado. Prometo que não terá problema com os bichos.
– Tudo bem, agora podemos jantar? Estou morrendo de fome.
– Oh sim claro. - ela se levantou e pegou o prato dele, servindo uma boa quantia de cada alimento.
Ele a olhava surpreso.
Estaria ela incorporando a “boa” esposa?
– Espero que goste. - ela disse quando lhe devolveu o prato e pegou o seu para começar a servir-se.
– Então, o tal evento de sexta ainda esta de pé? - ela perguntou o distraindo
– Sim. - ele disse assim que engoliu a comida - Ah, e quanto ao seu vestido, pode ficar despreocupada, o encomendei hoje à tarde. Chegará sexta pela manhã.
– Oh, sim o vestido, já havia esquecido.
Um minuto de silencio se fez e Elena logo tratou de quebrá-lo:
– Car me disse que estamos na primeira pagina. Isso é bom não é? Era isso que queria...
– Sim é bom. - ele respondeu tomando o suco – mas também é irritante. Você sabe quantos repórteres me ligaram hoje? - ele suspirou – Pelo menos os acionistas acham que agora eu vou ter mais responsabilidades. E antes que eu esqueça, Bonnie mandou lembranças.
Elena sorriu. Bonnie se lembrava dela, isso era maravilhoso.
– Quem esta no meu lugar agora? - ela perguntou curiosa
– No momento ninguém. Bon esta me dando uma mão passando as ligações importantes e buscando candidatas para ocupar sua vaga.
Elena ficou em silencio, e de repente a palavra maldosa daquele tal de Sr. Matt lhe passaram pela cabeça...
“Não é a toa que ele contratou uma moça tão bonita assim, sem ter segundas intenções. A ultima secretária dormiu com ele e foi despedida depois que ele se cansou dela. Se cuide. - o homem lhe alertou deixando-a chocada”
– Elena? - Damon disse estralando os dedos em frente os seu rosto
– O que? - ela disse saindo de seus pensamentos
– Não escutou nada do que eu falei? - ele disse sorrindo
– Desculpe! - ela disse encabulada – Estava pensando em.. meus pais.
– Como eles estão? – Damon perguntou interessado
– Bem obrigado. Falando nisso, esta na hora do bebê deles aqui, ligar para falar com eles. - ela disse levantando – Boa noite D. - ela disse saindo da cozinha.
– Boa Noite Lena. – ele respondeu sabendo que ela não ouviria.
Era tão bom quando ela lhe chamava de D.
Elena era mesmo uma caixinha de surpresa. Uma linda caixinha de surpresa.
Ele riu comendo mais panqueca.
Se ela ao menos tivesse escutado o seu elogio e o seu pedido de desculpas...