POV. SCOTT.

Eu estava em um porão, escuro e frio, escutei passos descendo pela escada. Então eu vi as botas de meu pai, e a cinta em sua mão, e com um olhar cruel em seu rosto, percebi que tudo ia se repedir novamente. Ele parou na minha frente e ergueu a cinta, com uma fivela cheia de detalhes dolorosos.

–Você sabe que merece, você a matou e agora precisa aprender! –e com isso a cinta desceu rapidamente pelas minhas costas. E com um grito, eu acordei.

A paisagem passava rapidamente pela janela do trem, minha garganta doía, e a mulher que estava no banco ao meu lado, me encarou como se eu fosse um assassino, eu havia gritado feito um lunático novamente...

–Desculpe por isso. –disse eu com a voz rouca para ela, que me deu um sorriso, mas dava para ver em seus olhos o desconforto. O trem parou e eu desci rapidamente com a minha mala nas costas. Vi o meu clone (mais velho e de olhos) verdes me esperando com um sorriso no rosto.

–O que você está fazendo aqui? –perguntei eu espantado para ele, fazia tanto tempo que eu não o via, quase um ano, e agora ele estava ali, na minha frente, com um sorriso no rosto, como se nada houvesse acontecido.

–Buscando meu irmãozinho que está de férias... O que mais eu estaria fazendo aqui? –disse ele ironicamente com um sorriso no rosto.

–Mas eu vou passar as férias na casa do nosso primo... –disse eu tentando me livrar dele, mas ele me segurou pelo braço.

–Não vai mais. –ele disse e eu o encarei com raiva. –Qual é.... Já faz tanto tempo... Me dê uma segunda chance...

–Agora é fácil de falar... Você não disse isso quanto ficou do lado dele em vez do meu! –Não, eu não estava exagerando, ele achava que as marcas nas minhas costas e minhas diversas cicatrizes eram... Como ele dizia? “Travessuras de um garoto rebelde”.

–Eu sei cara... Me desculpe... Mas, você vai comigo ou não? –ele sorriu e por mais que eu não quisesse, ele era meu irmão, e tudo isso, havia acontecido a muito tempo atrás... As pessoas mudam não é? E as vezes merecem uma segunda chance...

***

Quando nós chegamos na casa do Jake eu subi as escadas rapidamente, pulando a cada dois degraus, para ir ao meu antigo quarto, porém tive que parar no meio do caminho. Ali, estava uma pessoa, a última pessoa que eu queria ver na minha frente, uma pessoa que não podia ser chamada de pessoa, um monstro com quem eu havia acabado de sonhar.

–Filho... –Michael disse, meu ‘pai’ disse.

–O que você... –eu disse e comecei a andar para trás, me afastando o máximo que conseguia dele, até que não havia mais chão sobre mim.

***

Dez Dias Depois.

Meu coração batia forte, minha respiração estava irregular, eu tinha que abrir os olhos, mas eu tinha medo do que encontrar se o fizesse. “Controle-se! ” Pensei comigo mesmo, e abri os olhos lentamente, e a claridade me invadiu.

–Scott? –escutei uma voz conhecida, e então vi o rosto de Jake na minha frente, eu sorri, mas acho que saiu mais parecido com uma careta de dor, ele me abraçou lentamente, já que eu estava todo quebrado... Eu me sentia como se tivesse dormido demais, mas ao mesmo tempo, como se não tivesse dormido nada.

Jake se afastou e ficou ao lado de uma garota, ela tinha o cabelo meio ruivo e os olhos verdes me olhando animadamente, um sorriso no seu rosto mostrava que ela estava feliz em me ver, mas eu não fazia a mínima ideia de quem era ela.

–Pensei que tivesse perdido você! –disse a garota e se aproximou de mim, passando as mãos pelo me rosto e cabelo, eu fiquei paralisado, eu havia acabado de conhece-la e ela estava já agindo assim comigo? Olá?

–Quem é você? –minha voz saiu rouca, como se eu não falasse a anos, senti a garota ficar rígida, ela se afastou lentamente de mim, passo após passo, e me encarou, a cor havia sumido de seu rosto e eu pensei que ela iria cair dura ali no chão.

–O... O Q-Que-e? –ela gaguejou e começou a respirar rapidamente, eu olhei para Jake e ele também estava me encarando... O que eu havia feito? Era para eu reconhecer essa garota?

–Scott? Qual é a última coisa que você lembra? –perguntou Jake devagar, abraçando a garota para ela não cair no chão, lagrimas escorriam pelo rosto dela, e eu me senti culpado por isso... Mas não é minha culpa eu não conhece-la. Certo?

–Hãã... Eu saindo de casa, pegando um trem, acho que eu estava indo para alguma espécie de colégio interno... –disse eu e a cor que restava sumiu do rosto do meu irmão e ele saiu gritando pelo corredor:

–Doutor!!

***

Oito Dias Depois

Jake me deixou na frente de uma escola enorme, na qual eu, aparentemente, já estudava a quase um ano. Eu entrei no prédio e segui para o quarto que havia me falado ser o meu, que eu dividia com mais três garotas! Sortudo eu, hem...

Entrei no meu quarto, no qual não havia ninguém e eu me joguei na minha cama, ouvi barulho de água correndo no banheiro e vi que a minha colega de quarto estava tomando banho... Eu fiquei deitado na cama encarando o teto por vários minutos até que a porta do banheiro se abriu.

–Scott? –disse a garota quando saiu do banheiro, e eu congelei... Era ela! Era a garota que estava no hospital quando eu acordei! Era a garota que havia saído correndo e chorando quando o medido disse que eu havia perdido a memória... Era ela...

–Oi... –disse eu devagar, e ela tentou sorrir, mas dava para ver nos seus olhos a tristeza... –Olha se você quiser, eu posso pedir para trocar de quarto.

–Não... –ela respondeu rapidamente... –Por que nós não começamos de novo? –vi o quanto foi difícil ela dizer isso.

–Claro. –sorri. –Eu sou Scott, e você?

–A azarada que vai ter que dividir o quarto com um idiota convencido. –disse ela sorrindo, e eu encarei ela, como assim? Quem ela pensa que é para dizer isso de mim? Ela viu a minha expressão, e seu sorriso sumiu. –Alice. –disse ela e saiu do quarto.

O que foi aquilo?