Tell Me An Other Lie escrita por Assa-chan


Capítulo 1
One-shot




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Olho pela janela a rua lá fora. Está escuro, e ninguém mais ousa sair por causa do frio e da chuva. Deve ser mais de meia-noite. O velório de Tohru foi há algumas horas atrás, e eu ainda estou vestindo as roupas negras que o costume pede. Por mais que eu queira me fazer parecer forte, as lágrimas se recusam a parar de cair. Quando foi que me tornei tão fraco?

Tohru, onde está você?, minha mente indaga sem sossego.

Meus olhos escorrem para dentro da casa, e sem querer acabo imagindo você sorrindo e dizendo "Bom dia, Kyo!", como fazia todas as manhãs. Mas o que seria a morte, se não uma longa ausência? Simples. As coisas que aconteceram dezenas, centenas ou até milhares de vezes... Jamais acontecerão de novo.

A cena permanece fresca em minha mente; O vestido branco, os gritos, o sangue. Eu achei que meu coração iria parar ali mesmo. Yuki caiu de joelhos ao chão e eu permaneci inérte. O cheiro nauseante de sangue já havia invadido a igreja há algum tempo. Meu mundo acabou naquele exato segundo, creio. Apesar das coisas que todos os antigos amaldiçoados me disseram, apesar de Kagura repetir que sempre estará ao meu lado... Ser consolado não vai trazê-la de volta. Absolutamente nada pode conseguir tal proeza.

Se eu pudesse ter morrido contigo, agora estariamos juntos? Deus, me diga que não. Pois se a resposta for afirmativa, eu provavelmente não teria mais motivos para viver. Porém, eu sei muito bem que ela, seja lá onde estiver, nunca iria querer que eu morresse para segui-la. Minha noiva me ensinou que por mais que não sobre mais nada, mesmo que tudo tenha ido embora, ainda temos nossa vida. E cabe a nós mesmos fazer o melhor possivel com esta.

Ei, Yuki, você acha que pode fazer algo assim? Pensa realmente que consegue se apegar à vida depois de ver a mulher de sua vida morrendo?

Eu li aquele caderno. Mas senti como se ele tivesse mais motivos do que eu para ver aquelas palavras escritas com uma grafia incerta, então o deixei de propósito aonde o poderia achar. Imagino que meu primo ainda esteja debaixo da chuva chorando desesperado. Os prantos derramados por ela foram mais do que eu pensava que eram. O modo em que Yuki gritava seu nome quando viu o corpo foi muito mais cheio de sentimento do que eu jamais poderia fazer.

Ah, eu falhei ao ponto de perder para ele mesmo depois de tanto tempo? Aquele rato idiota sempre estragou minha vida, e agora parece ter sido definitivamente, por mais que ele também tenha pago caro pelas consequências assim como eu.

No entanto, eu sempre soube que algo tinha mudado desde o dia em que Yuki colocou os pés pra dentro da nossa casa.

Eu sentia as mentiras sairem obrigadas de dentro daqueles lábios finos que eu tanto amava beijar. Eu notava o cheiro de tabaco quando ela chegava em casa depois de uma noite fora, dizendo que tinha ido trabalhar. Eu ouvia ela chorando quando passava uma semana sem que eu tivesse que dormir fora.

Eu via nosso amor se despedaçando e desaparecendo aos poucos.

A primeira vez em que eu percebi algo de estranho, ainda não tinha certeza que meu primo tivesse a ver. Era a manhã que seguia aquele final de semana em que não estive ao seu lado depois de Yuki vir nos visitar. Ela estava vermelha, olhando para o nada sem um lugar preciso onde direcionar os olhos, como se estivesse sonhando acordada.

- Tohru? - a chamei, adentrando a sala de estar e fazendo-a despertar - Aconteceu alguma coisa?

- N-Não! - exclamou, enrubescendo ainda mais - Bem vindo de volta, Kyo! Como foi seu trabalho?

- Quem se importa. - eu joguei minha jaqueta de lado, sentando-me perto dela - Tohru. Me prometa uma coisa. - segurei seus ombros, fitando-a.

- O que?

- Jure, pela sua mãe, que nunca vai me deixar. - juntei as sobrancelhas, olhando a imensidão daqueles olhos azuis. Estava impaciente. Tinha algo de errado nela.

- Por que assim tão de repente...?

- Apenas me prometa, pelo amor de Deus. - me vi desesperado, sem saber bem o motivo.

- Eu juro. - ela sorriu como fazia sempre, e eu a abracei, como se aquela expressão tivesse acabado com todos os meus medos.

Isto também foi um dos motivos pelos quais ela fugiu naquele dia. Se sentiu na obrigação de me amar, mesmo tendo o coração totalmente inclinado para o lado de Yuki. Se eu pudesse voltar atrás ou se você tivesse dito não naquela hora, teria se torturado menos? Estaria viva agora, mesmo se nos braços de outro? Suposições, nada mais do que isso. Perguntas sem respostas, mero vazio diante de mim e sobre o meu futuro.

Um futuro solitário e ameaçador. Um futuro que eu não sei perseguir sozinho, depois de ter tido por nove anos carinho, calor e amor. Me acostumei mal, afinal. Dei por descontado que estaria aqui quando eu precisasse, pra sempre. Entretanto, "pra sempre" é um tempo distante demais. E na maioria das vezes as pessoas não conseguem chegar tão longe. E foi exatamente o que aconteceu com aquela brincadeira que nós estavamos jogando, por mais que eu tenha ficado para o lado de fora simplesmente assistindo, incapaz de deixá-la ir.

Porém, naquela madrugada em que ela chegou chorando depois de ter dito que iria para a casa de uma amiga, eu achei que nunca mais me trairia. Eu tive uma falsa certeza de que Tohru iria voltar a ser mesma de antes. Pensei que todo aquele tempo que tive que fingir ser cego tinha sido somente uma fase.

- Te amo, Kyo! - ela exclamava, afagando-se em meu peito - Por favor, acelere o casamento. Eu te imploro, não me faça esperar mais.

Estava tremendo. Yuki lhe tinha feito algo de horrivel, e ela simplesmente não queria mais ferir a si mesma e aos outros. Ou ao menos foi isso que pensei, antes de saber que ela quis simplesmente cumprir minha promessa. Tohru amava tanto o outro Sohma que se continuasse vendo-o iria acabar por me deixar para ir com ele.

Como fui burro. Eu a estava deixando escapar por entre meus dedos sem dizer sequer uma palavra para impedi-la, confiando no fato que mesmo que eu tivesse que dividi-la com Yuki, depois do casamento aquilo acabaria.

Eu sabia que se por um acaso tocássemos no assunto, aquela convivência acabaria de vez, pois eu seria obrigado a aceitar a derrota. Ela não conseguiria mentir diretamente. Seria incapaz de dizer "eu não o amo" se eu lhe pedisse com todas as palavras, e este era meu maior temor.

Mas eu estava tão cego pelo medo que acabei me esquecendo o que mais queria ver; o sorriso sincero de Tohru. O qual tinha desaparecido de sua face desde que aquilo tudo começou. Ela insistiu tanto em dizer que me amava que talvez, por um certo tempo, tenha acreditado na própria inveção.

Eu tentei não culpar Yuki, eu ainda insisto em não culpar o destino e olhar para frente. Mas, Tohru, sem ti... Como poderei continuar a viver?

Perdão se fui tão egoista ao ponto de te querer somente pra mim, ignorando seus sentimentos e quem te faria feliz realmente. Mas eu esqueci que amar não é acorrentar uma alma. Porém, isto é tudo o que eu sei fazer.

Eu aceitei suas mentiras calado, simplesmente esperando em vão o dia em que me amaria sem pensar em mais ninguém. Tohru... Por favor, não me odeie. Pois se fosse assim, nada mais haveria sentido. E eu, volúvel como sou, acabaria me afogando em minhas próprias lágrimas.

Porém, se realmente estiver me ouvindo... Quero que escute uma frase que eu deixei guardada por mais tempo que o esperado. Aquela que eu queria ter te dito desde o principio, uma simples sentença que me fazia prosseguir com aquele jogo sem fim. Algumas palavras que viviam em minha mente quando a via sair sem avisar ou com desculpas esfarrapadas e um sorriso sobre a face.

"Por favor, Tohru. Diga-me mais uma mentira."

Pois se tivesse me dito a verdade, nossa história teria acabado antes mesmo de começar.

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Notas finais do capítulo

Pronto. Fim da série. XD
Eu gostei de fazer um Kyo mais sério, também porque ele no caso é mais maduro e tal. Se bem que ficou realmente curta.
Arigatou, minna!
Reviews pra essa pobre ficwriter?