Goddess of Revenge escrita por Bárbara Brizola


Capítulo 8
Capítulo 8: Tear


Notas iniciais do capítulo

Oiiie galerinha! Tudo certo?

Capitulo curtinho para vocês, mas feito com muito amor. Dedico a Lana Hiden que fez uma recomendação linda. Obrigada mesmo! Espero que gostem!!!


Boa leitura!

"If you wanna play it like a game
Well come on, come on let's play
Cause I'd rather waste my life pretending"



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Uma semana se passou sem que Thor regressasse. Jane passava a maior parte do tempo fechada em seu laboratório ou então no quarto. Passei muitas horas fazendo companhia a ela. Evitávamos falar sobre o que tinha acontecido e sobre o que viria a seguir, mas às vezes era inevitável deixar nosso olhar se perder, para então com um sorriso constrangido, voltarmos à realidade.

Nenhum ataque novo ocorreu, mas nem por isso a população sentia-se mais tranquila. Alguns construíam porões reforçados e instalavam barreiras protetoras similares a do palácio. Loki vinha se ocupando em direcionar trabalhadores e recursos para reparar os estragos em espaços públicos do reino e auxiliar as famílias mais prejudicadas. Aquelas teriam sido tarefas de Thor, caso estivesse ali. De início sua fama o precedia e o povo o olhou com desconfiança e mesmo rejeição, embora mantivessem o respeito dirigido a família real. Mas a eficiência suplantou todo resto. Não o amavam como ao primeiro príncipe, mas aceitavam sua presença e sua autoridade. Por hora bastava.

Eu tentava manter minha rotina e confiar que nada de anormal aconteceria. Retomei as aulas de arquearia e respirei aliviada ao ver que todos estavam ali como sempre. A pequena Hildy tinha toda aquela energia extra como sempre, me contando que se Volstagg não a tivesse deixado com todos os irmãos e a mãe no palácio, ela tinha certeza de que poderia ter feito muito por Asgard. Não fui capaz de reprimir um sorriso diante de uma confiança daquela. Ela não fazia ideia de como eu era grata por tê-la ali.

Para minha surpresa Sif pareceu legitimamente feliz ao me encontrar em nosso horário de treino. Não trocamos uma única palavra sobre o ataque, mas a mão que colocou sobre meu ombro em um cumprimento pouco usual, enquanto apertava os lábios e assentia, me disseram muito. Repeti o gesto com ela, antes de pegarmos em armas e passarmos as próximas horas em silêncio.

Alguns dias depois me arrisquei a visitar Heimdall. O homem tinha os olhos inchados em olheiras bem marcadas contra a pele escura. Eu sabia que dormia muito pouco, mas aparentemente não tinha dormido absolutamente nada. Pela primeira vez em anos eu o via inquieto, apesar de permanecer em seu posto como sempre. Antes que eu pudesse falar, o homem deixou sua voz grave preencher a cúpula.

– Eu não os vi chegando. Nesse caso, para que serve um guardião?

– Não foi sua culpa. – devolvi como um autômato. Ele manteve os olhos dourados perdidos no universo. – Como acha que...?

– Se eu soubesse já teria calado a boca do Conselho. – afirmou. Heimdall soava amargo como eu quase nunca o tinha ouvido soar. – Esta é a segunda vez que acontece. – Não podia nem imaginar o quanto o estavam pressionando por uma solução. Uma resposta.

– A primeira foi quando?

– Malekith. Frigga morreu na ocasião. – esclareceu com desgosto na voz.

– Ela morreu para ajudar aos filhos. – tentei ponderar. O homem não respondeu. Eu nunca havia tido coragem de questionar, de expor em palavras, o que eu há muito desconfiava. E não seria agora que o pressionaria. Mesmo porque se estivesse certa, ainda assim não poderia ajudar. Ao invés disso sentei no chão, na base onde a espada aguardava para abrir a ponte. – E imagino que também não saiba onde estão as crianças?

– Não. – encerrou. Durante o ataque ele não devia ter tido tempo de observar o que estava acontecendo e agora não tinha um rastro que o levasse a elas. Deviam estar enfiadas em algum subsolo, ou ele já as teria encontrado. Apesar de sua visão, não era capaz de ver qualquer coisa que se escondesse abaixo do solo de planetas, apenas suas superfícies e o que se encontrava nelas. Heimdall se culpava por isso.

Era melhor deixar o guardião perdido em seus próprios pensamentos, já que eu jamais seria capaz de tirá-lo deles. Eu mesma vinha tentando distrair minha mente e afastar a sensação de inquietude que se enroscava em meu estômago. Não éramos boa companhia para ninguém no momento.

Retornei ao quarto e me deixei divagar durante um banho demorado. Estava começando a sentir fome, mas não tinha vontade de descer para um chá da tarde. Sentei no peitoril da enorme janela ainda com os cabelos molhados, puxando meu violino de sua capa surrada. Deixei algumas notas trêmulas pairarem sobre o silêncio do quarto, enquanto Jinggles se aninhava sobre o tecido roxo do meu vestido. Eu podia ver os campos de sorgo queimados ao longe e distinguia claramente as crateras de bombas espalhadas. O cheiro de fumaça ainda chegava suave dependendo da direção do vento. Me perguntei se Loki estaria tendo muito o que fazer. Os olhos verdes do gato me encararam por alguns segundos antes de se fecharem, relaxando.

Sua tranquilidade se encerrou em questão de trinta segundos. Talvez nem isso. Uma batida ecoou na porta, chamando a atenção do felino, sendo acompanhada pela voz de Jane.

– Lia?

– Entra. – convidei. A garota abriu a porta, espiando pela fresta como se esperasse ver Loki ali. Ao perceber que eu estava sozinha veio a passos curtos e rápidos, sentando-se numa poltrona. Sua expressão me dizia claramente que não havia nenhuma novidade. Por isso preferimos nos entreter com alguma conversa aleatória. No fundo ambas tínhamos esperanças de que as coisas normalizassem e tudo fosse resolvido pelo tempo. Uma alimentava o desejo da outra. Humanos são criaturas tolas.

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O homem estava numa sala de artes vazia e encarava o jardim do palácio, o rosto baixo, as mãos para trás, perdido em pensamentos. O piano tocava sozinho uma melodia lenta. Thor ainda não havia retornado e tudo que conseguia saber sobre as reuniões do Conselho eram informações sussurradas por serviçais que entreouviam aqui e ali. Velhos ultrapassados e pouco inteligentes que se atrapalhavam numa tentativa de manter uma fachada de controle, mas apenas se debatiam em sua falta de informações e conceitos fracos pré-formulados. Informação era poder. E na ausência delas, precaução nunca era o bastante. Pensar um passo a frente era essencial e a perda de tempo dos anciãos era, no mínimo, uma vergonha.

E naquele momento antecipar o que quer que pudesse vir era essencial. Não tanto para si. Para ela. Humanos demandavam trabalho e preocupação constantes. Às vezes se perguntava se o irmão pensaria nisso. Às vezes se admirava que ele sequer pensasse.

Seus próprios pensamentos foram empurrados para longe, quando uma batida na porta se fez ouvir. Sendo seguida pela voz de um guarda.

– Sua alteza, a Knyaginya de Adlerheim, gostaria de ser recebida.

– Entre. – autorizou em voz alta. A porta dupla foi aberta pelo homem que a acompanhara até ali. A harpia estava vestida em sua armadura habitual, o bico sobre o rosto. Seus olhos amarelos se fecharam quando ela o reverenciou. Loki a observou de cima, com imponência.

– Alteza, as notícias demoram a chegar a terras menores. Perdoe minha demora. – justificou em seu tom de voz cantarolado. Loki aprovava sua formalidade. Normalmente era dirigida apenas à Liana, mas naquele momento a oferecia a ele, por estar ali como representante de um povo e não como amiga. O assunto pedia por isso. Pelo acordo firmado com Odin, ela não deveria ter permissão para entrar e sair de Asgard, mas sua posição de nobreza, mesmo que de um reino muito pequeno, garantiam a harpia algumas vantagens diplomáticas que não eram oferecidas aos outros participantes da Batalha de Valhala.

O homem dispensou suas desculpas, indicando uma poltrona onde poderia sentar. Haya encarou as janelas sem nenhuma reserva, observando atentamente a vista externa antes de o fazer. Estava sempre atenta a rotas de fuga. Herança dos tempos passados com Taneleer.

– A senhora Liana está bem? – questionou sem reservas.

– Sim, mas ela não deve saber sobre essa reunião, assim como nenhum dos membros do governo. – Tornou a frisar, embora já o tivesse feito em sua carta. Ao mensageiro havia dito que aquilo era um convite informal, para que Liana e Haya pudessem passar algum tempo juntas enquanto ele se ocupava com suas funções reais. Se o enviado achasse que o príncipe marcava reuniões de estado por baixo dos panos e considerasse aquilo informação relevante ao Conselho, Loki teria problemas sérios. A mulher assentiu.

O deus começou então uma sequência de esclarecimentos sobre a atual situação de Asgard e a própria diante disso. Não havia necessidade de entrar em detalhes profundos. Liana faria isso mais cedo ou mais tarde. Bastava uma visão geral de tudo. A harpia tinha inteligência suficiente para compreender a gravidade que um ataque gratuito com vítimas e desaparecidos envolvia.

Ela ouvia atentamente, sua expressão não se alterava da constante seriedade. Fez poucas perguntas todas muito específicas. Era não somente a líder de um povo, mas uma líder militar de visão apurada.

– Qual sua opinião a respeito disso? – questionou finalmente.

– A demora de Thor é mau sinal. Ele pode não ter nada na cabeça, mas é perfeitamente capaz de fazer meia dúzia de perguntas. – declarou sem rodeios.

– Foi o que pensei. – concordou segura. Loki se aproximou, como se fosse puxar uma cadeira e finalmente sentar. Mas ao invés disso, fez um movimento rápido com a mão, na direção do rosto de Haya. Os olhos amarelos da harpia se arregalaram de surpresa e então desfocaram. Ele inclinou a cabeça lentamente, olhando para a mulher com uma expressão aguçada.

Estava apenas se certificando, mas se soubesse, aquilo faria Liana pular de raiva por todo o recinto.

– Harpia, qual seu nome? – perguntou. A resposta verdadeira garantiria que tinha seu domínio. Era a certeza de tocar o livre arbítrio em sua mente e o manejar para que a vontade dela fosse a dele.

– Haya. – sua voz soava oca, enquanto ela encarava o moreno.

– Seu reino?

– Adlerheim não é um reino. É uma cidade-estado. – Corrigiu. Ele ergueu uma sobrancelha com a resposta.

– Quem a governa? – permaneceu em perguntas absolutamente óbvias.

– Eu.

– E a quem você serve?

– A senhora Liana. – afirmou convicta. Ele apertou os lábios em aprovação. No estado mental em que estava nenhuma mentira seria possível. Embora a harpia já tivesse provado sua lealdade em mais de uma ocasião, precisava certificar-se mais uma vez. O peso de ter um povo que dependia de suas decisões para manter-se seguro, talvez fizesse a lealdade de alguém moralmente mais fraco oscilar. Principalmente quando Asgard poderia se tornar uma oposição. Por isso precisava extrair as palavras certas.

– Por quê?

– Tenho uma dívida de vida com ela. – concluiu.

– Então você morreria por ela?

– Sim, nisso estaria minha honra. – encerrou numa voz débil. Harpias tinham um duro código de conduta pautado no dever e na honra. Mesmo sendo a líder de seu povo, seria uma pária se não o cumprisse. Loki deu um sorriso de canto, os olhos estreitos em aprovação, antes de fazer novo floreio. Haya piscou algumas vezes antes de seu olhar entrar em foco novamente.

– Então preciso que mantenha seu povo a postos caso Asgard precise de apoio. – afirmou num tom cheio de subentendidos. A mulher demorou a responder, como se seu cérebro estivesse entrando em ordem novamente.

– Ele sempre estará. – garantiu, sem notar nada do interrogatório anterior.

– Ficamos muito agradecidos. – informou formal. Ela assentiu, colocando o bico afiado novamente sobre o rosto bonito, sentindo que a conversa estava encerrada. Levantou e o reverenciou uma ultima vez antes de se retirar. Loki ainda vislumbrou um vulto com um segundo par de asas a seguirem antes que a porta se fechasse definitivamente. Provavelmente da escolta pessoal da harpia, o próprio irmão, Pharos. Agora eles deveriam gastar algum tempo na companhia de Liana, para garantir que nenhuma suspeita fosse levantada, por estarem circulando por ali sem um motivo aparente.

Loki guardou papeis e mapas antigos de Asgard, além de registros militares. Precisaria de mais tempo para avaliar aquilo com calma. Por hora bastava mover-se lentamente pelas sombras, enquanto os outros se debatiam sem rumo. O piano parou e ele caminhou para o corredor.

Não restava muito o que fazer no momento. Tudo que poderia ser antecipado, já o havia sido. Agora restava aguardar pacientemente e ver como aquilo iria se desenrolar. Seu tear estava sendo tecido e os pontos deviam estar bem presos, para que não houvessem incidentes. O menor deslize seria uma perda irreparável, que já amargara enganosamente antes. Mas não havia ninguém melhor do que ele para tecer aquela trama. No entanto, por hora, seu tempo estava livre.

Loki pensou assim por alguns minutos enquanto avançava pelos corredores com passos largos e firmes. No entanto ao dobrar um corredor deparou-se com Sigyn que tinha uma mão ao corrimão da escadaria, como se fosse subir os degraus, mas acabou desistindo no instante em que o viu.

Ela trajava a roupa de curandeira. Hoje usava uma maquiagem suave e tinha uma pulseira em um dos pulsos finos. Sinal de que as coisas na enfermaria estavam voltando ao normal, permitindo o retorno da vaidade. A mulher foi até ele, mal contendo um sorriso que a fazia parecer tola. O reverenciou antes de falar.

– Alteza, eu estava indo lhe procurar. – afirmou. Isso ele notara. – Se não for incômodo, podemos trocar algumas palavras? – pediu. Era sempre muito formal e educada. Como se esperava de uma dama bem nascida da elite.

– Claro. – concordou breve, fazendo um gesto com a mão para que ela o acompanhasse, pelo corredor.

– Alteza, os pacientes que me mandou estão se recuperando bem. – informou, com um leve quê de orgulho na voz. - Aqueles que precisam de mais de uma sessão na Forja de Almas, estão sendo devidamente assistidos, mas estamos sentindo falta de alguns suprimentos para mantê-los adequadamente durante o tratamento. – avisou. O deus a olhou de lado. Sigyn tinha os olhos verdes voltados a ele com grande expectativa e algo que sentia beirar a devoção. Loki gostava do que via.

– Tem uma lista para mim? – pediu num tom arrastado e bem pronunciado. A garota prontamente puxou um pergaminho perfeitamente dobrado de dentro do bolso do avental. O deus vislumbrou a letra rebuscada e fina que ela usara para escrever seus títulos e nome no verso. Desdobrou e viu uma lista com alguns itens de primeira necessidade fáceis de conseguir, mas alguns precisariam ser buscados em outros reinos. – Terão tudo amanhã pela manhã.

– Obrigada. – concluiu. Continuaram a atravessar corredores lado a lado, em silêncio. Às vezes paravam para que ele pudesse fazer uma ou outra pergunta a algum soldado de prontidão e então seguiam o caminho. Era como ter um bichinho de estimação. – Acha que aconteceu algo com o príncipe Thor? – tornou a falar.

– Não. – garantiu no habitual tom distante. – Eu não teria tanta sorte. – ironizou mordaz. A garota riu e o silêncio momentâneo tornou a surgir, mas foi rapidamente quebrado.

– Nem posso imaginar sua preocupação com ele.

– Não pode mesmo. – concordou, sem notar que a garota o levava a sério. A preocupação do príncipe era com outra pessoa, muito menos resistente.

– Se eu puder ajuda-lo em qualquer coisa, basta pedir. Sabe disso, alteza. – Sigyn afirmou num tom penalizado e solícito. Praticamente implorava para ser útil.

– Eu sei. – garantiu. Então algo lhe ocorreu. Uma ideia que precisava ser amadurecida, mas que certamente tinha grande valia. – Mas o momento não é esse. Quando chegar, você será a primeira a saber. – concluiu, parando diante da escada que o levava ao andar de seu quarto. A garota parou ao lado dele, parecendo um pouco frustrada.

– Obrigada pela confiança, alteza. – ele apenas assentiu em resposta.

– Mande lembranças minhas a Wigord. – Pediu subindo as escadas. Ainda se admirava que o mais feio dos conselheiros pudesse ter tido uma filha tão bonita. Certamente ela devia gratidão à mãe. A mulher assentiu e virou-se para se retirar. – Sigyn? – Ele tornou a chama-la, dispensando o tratamento formal de lady, fazendo-a virar-se bruscamente ao ouvir seu nome na boca dele com tanta informalidade. – Eu seria muito grato se puder manter essa conversa apenas entre nós. – pediu. A garota abriu um sorriso amplo, que ele retribuiu, antes de fazer uma última reverencia e sumir no fim do corredor.

O sorriso dele desapareceu instantaneamente e o homem tornou a subir as escadas. Os lábios finos contraídos, enquanto seu cérebro trabalhava rapidamente. Seu tear ganhava mais um ponto. Um que ele não esperava ter, mas que seria útil. Embora esperasse não precisar de nenhum deles. Desejava que Thor regressasse com boas notícias, mas com a demora do loiro não era tolo de ainda acreditar que isso era possível. E nem idiota o bastante para não estar preparado para o que viesse.

O som de um violino desafinado chegou aos seus ouvidos, trazendo-o de volta a realidade. Um sorriso de lado surgiu involuntário, ao ouvir a risada estridente dela invadir o corredor, pela porta aberta do quarto. Ao surgir no batente, os olhos castanhos da garota deixaram o rosto das harpias e de Jane que a acompanhavam e pousaram nele, seu sorriso se ampliando daquele jeito que o agradava.

Largou os papeis e mapas sobre uma mesa, fazendo algum comentário sobre não ser avisado da chegada das visitas e aproximou-se sentando ao lado da ruiva. Uma trama sem pontas soltas e tudo ficaria bem. E ela não precisaria se envolver. Ele a protegeria. Era nisso que Loki acreditava.


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