Goddess of Revenge escrita por Bárbara Brizola


Capítulo 4
Capítulo 4: Jarvis


Notas iniciais do capítulo

Ola pessoinhas lindas!!!! E outra vez demorei um seculo. Quase coloquei em hiatus... Mas estamos de volta com tudo!

Preciso fazer os agradecimentos de todos os reviews que recebi! Vocês são demais mesmo!

Dedico este capitulo as lindas Bru Blue, McQueen e Julia Martins que fizeram lindas recomendações. Obrigada de verdade por me manterem motivada e por fazerem parte de GOR.

Menção honrosa a linda da Lana Hiden que recomendou GOS. Bruce super aprova, inclusive seu nome! o/ Obrigada mesmo!

Para aqueles que ainda não sabem temos um grupo no face para que vocês se juntem ao lado verde da força: https://www.facebook.com/groups/385064741636249/

Divirtam-se pessoinhas!!



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Os gritos vindos dos aposentos de Odin e Frigga eram muito audíveis, mesmo do nosso quarto. Loki estava sentado em uma poltrona, com Jinggles no colo. O deus permanecia inexpressivo e imóvel, com exceção da mão que acariciava o gato. Ele tentava entender as poucas palavras que chegavam claras até nossos ouvidos.

Quando regressamos, achei que o rei fosse jogar o filho mais velho de cima da Bifrost. Estava simplesmente irado. Aparentemente os pedidos de casamento da família real deveriam ter a permissão dele. Não era uma questão somente de amor. Era política.

Odin amava Frigga sinceramente o que havia sido uma sorte para os negócios do reino. Tudo que se esperava quando Odin assumiu o trono era a renovação. Borr havia estado envolvido em inúmeras guerras e o povo ansiava por paz. Desposar a deusa da maternidade lhes dava a sensação que queriam. Lhes dava confiança no novo rei. Jane não trazia vantagem política e por isso mesmo Thor havia a pedido em noivado em público. Assim o rei ficava de mãos atadas e a notícia se espalharia antes que ele pudesse impedir.

Quando chegamos, Loki mais do que depressa tratou de me tirar das vistas do rei. Enquanto Odin, Thor e Frigga discutiam ainda na cúpula, eu e ele montamos em nossos cavalos que estavam à espera e voltamos ao palácio. A última coisa que vi antes de avançar com meu cavalo, foi Heimdall afastando a morena do meio da discussão. Jane havia ficado a um canto, chorando em silêncio.

Agora eu estava empoleirada no peitoril da enorme janela, ainda com vestido de festa e esperando. Quando a briga entre o rei e a rainha parasse nós sairíamos para ver como os recém-noivos estavam. Frigga os tinha mandado para o quarto enquanto tentava acalmar o marido. Embora, assim que notamos que tinham chegado, eu houvesse tentado ir encontra-los, Loki havia me impedido. Ele não achava prudente que eu estivesse perto de Jane caso a ira de Odin se voltasse contra ela. Nada me isentava da fúria do soberano.

Então apenas me restava esperar em meio a gritos como ‘‘aberração’’, ‘‘mortal’’ e alguns brados sobre a ‘‘linhagem real’’. Eu e Loki trocávamos olhares nos poucos segundos que o silêncio tomava o palácio. Sabíamos que Odin jamais levantaria a mão para a esposa e isso sequer era uma preocupação, já que ele a amava demais para isso. Mas não confiávamos no velho, de forma que não duvidávamos que ele pudesse querer acabar ele mesmo com o problema. Acho que esse era um dos motivos para o moreno estar me mantendo longe dos olhos do rei. Eu não era diferente de Jane em muita coisa. Pelo menos não nesse sentido. Éramos as mortais maculando a família real.

Repentinamente a discussão silenciou. O primeiro dos sóis começava a nascer, quando Jinggles ergueu a cabeça encarando a porta com atenção. Loki fazia o mesmo. A rainha abriu-a, pela primeira vez em quatro anos, sem bater. O deus se pôs de pé, após largar o gato no chão. Eu apenas a encarei. Ela ofereceu um sorriso amarelo.

– Liana, preciso que acompanhe Jane. – A mulher falou. Loki inclinou a cabeça levemente de lado, franzindo as sobrancelhas.

– Para onde? – Ele perguntou antes que eu disesse algo.

– Midgard. – A rainha esclareceu com uma expressão de quem se desculpa. Eu e Loki nos entreolhamos antes de encara-la de novo. – No máximo uma semana. Talvez nem isso. Ele está muito nervoso e acredito que seria bom que não encontrasse as duas. Pelo menos até que consiga conversar de maneira racional. – Justificou. Eu podia ouvir nas entrelinhas que aquilo envolvia nossa segurança. Me senti alerta como há muito tempo não acontecia.

– Pegue suas coisas. – Loki falou em um alemão apressado sem pensar a respeito. Nem cogitei questionar. Para ele concordar com tanta facilidade, naturalmente aquela era a única opção a se considerar.

Corri pelo quarto pegando uma camisola longa e branca, abri uma gaveta onde as calças que Pepper tinha me dado estavam dobradas e as puxei de qualquer jeito. Joguei tudo dentro de uma mochila antiga e preta. Cogitei pegar a armadura de combate, mas pelo jeito que o príncipe e rainha conversavam em um tom baixo e agitado, não parecia uma boa ideia perder tempo. Invoquei o arco que estava a um canto e peguei o punhal que Haya havia me dado. Jane não tinha o hábito de andar armada, mas quando estávamos prestes a quebrar uma lei explícita de Odin num momento em que ele estava visivelmente irado, achei que seria mais prudente que ela tivesse alguma coisa mais mortal do que livros consigo.

Assim que peguei o pouco que levaria, seguimos os três pelos corredores descendo as dúzias de longas escadarias e cortando caminho pelos corredores serpenteantes. Eu havia levado mais de um ano para decorar todos.

– Vocês vão para sua casa. – Loki me avisou andando um pouco a minha frente. Assenti confirmando que tinha entendido.

– E quando Odin souber? – Perguntei, questionando o óbvio.

– Para todos os efeitos eu as mandei para o palácio de Freya. – A rainha avisou. – Ele jamais põe os pés lá e ela não veria o menor problema em confirmar.

– E onde ele está? – Interpelei fazendo mãe e filho trocarem um olhar entre o alerta e a diversão.

– Um simples feitiço do sono e ganhamos tempo para que eu dome a fera. – Frigga respondeu enfim. Aquilo me pôs um sorriso de lado no rosto. Loki parecia deliciado com a ideia da mãe passando o rei para trás.

– Ele não reagiu muito bem não é? – Comentei numa tentativa indireta que ela me falasse qual o exato motivo para deixarmos o reino antes que terminasse de amanhecer.

– Não muito. – Me disse simplesmente. Preferi não insistir. Eu ficaria sabendo mais cedo ou mais tarde sobre os detalhes.

O casal nos esperava no saguão de entrada. Jane estava calada e encarando o chão, abraçada a Thor que tinha uma expressão dura no rosto bonito. Ele e o irmão trocaram um olhar que dizia mil coisas. Política não podia ser o único problema envolvido, podia?

Um serviçal ainda de roupas de dormir chegou trazendo nossos cavalos. Entreguei a Jane a adaga que havia separado para ela. A garota a guardou sem questionar, enquanto eu montava. Minha montaria era absolutamente bonita. Suas patas eram largas com pelos longos escondendo os cascos, a crina era de um tom muito claro beirando o branco, o focinho e testa cobertos por um protetor de metal com o recorte de longas penas nas bordas, de forma que apenas a boca, as narinas e olhos castanhos fossem visíveis. Uma cela escondia parte do pelo malhado. Eu ainda não sabia se o achava gordinho ou muito forte. Thor colocou Jane sobre o cavalo branco dele e montou atrás, enquanto Loki subia com elegância sobre Natter.

Seguimos para a Bifrost sem que Frigga nos dissesse muito mais do que uma curta despedida. Precisava ficar para distrair o marido quando ele acordasse. Ela enviaria alguém para nos buscar quando as coisas se acalmassem.

Durante o caminho pela cidade Loki trouxe Natter para perto do meu cavalo. Ele apressou um pouco a marcha do animal e eu instintivamente fiz o mesmo, nos distanciando alguns metros do casal que vinha mais atrás. Era engraçado como hoje eu conseguia montar com a mesma tranquilidade dele sendo que há alguns anos mal conseguia subir na cela. Ele era um bom instrutor e me havia feito pegar gosto por cavalgar. Aproximei ainda mais nossos cavalos, a ponto de nossos joelhos se tocarem. Era óbvio que o deus tinha algo a dizer, mas não queria que ninguém além de mim o ouvisse.

– Odin queria exilar Jane. – Me informou sem rodeios. Por um segundo achei que fosse cair da montaria. Ou quebrar o pescoço pela velocidade com que virei a cabeça para o encarar. Ele continuou olhando em frente para as ruas que aos poucos despertavam.

– Tudo isso por um casamento? – Perguntei de maneira retórica, simplesmente exasperada pelo absurdo que aquilo era. Eu não queria sequer perguntar para onde o velho queria enviar a cientista, já que conhecendo o rei eu seria incluída no pacote.

– Odin pouco se importaria com quem Thor casasse se não fosse uma mortal. – Falou com frieza.

– Ele gostaria que fosse Sif...

– Depois da insurreição, você esperava que ela continuasse entre as favoritas dele? – Debochou me encarando. – Ele prefere que Thor escolha qualquer outra, mas entre uma mortal e ela? Sif sempre seria a melhor opção. – Aquilo me fez desviar o olhar para a ponte que começávamos a atravessar. – Decidir casar com ela faz de Jane a futura rainha de Asgard. Mesmo que a mortal não viva para assumir o trono, qualquer filho gerado pelos dois seria o sucessor. – Explicou. Sua voz soava amarga e viperina. O assunto me incomodava quase tanto quanto a ele. Loki ainda desejava o trono e a ideia de que um novo sucessor pudesse surgir para o colocar ainda mais distante do seu objetivo o irritava. Meu problema era quanto ao tempo. Eu e Jane compartilhávamos os mesmos problemas naquele reino. Se ela não viveria para ser rainha, meu futuro não era diferente. – A questão para Odin é a descendência dos dois.

– Por quê? Ele nem vai estar mais aqui. – Falei com um tom maldoso, saboreando a ideia. Loki me deu um olhar de aviso pelo canto dos olhos. Não pelo que eu havia dito, mas pelo conteúdo da resposta.

– Um híbrido viveria quanto tempo? Teria as fraquezas de um mortal? – Iniciou as perguntas retóricas. Não havia como saber. Nunca haviam existido híbridos. Ou se haviam não se tinha registros que nos dessem as respostas. E por isso eu podia entender as questões. Mais de uma vez me perguntara sobre que tipo de aberração seríamos capazes de gerar. Mas naturalmente a preocupação de Odin não era quanto à saúde do neto. – Se for tão fraco quanto um humano, a queda de Asgard seria questão de tempo diante de outros reinos. – Concluiu. Aquilo me fez franzir as sobrancelhas. Eu entendia. Não podia fingir que não. – Ou diante de um golpe de estado. – Concluiu, me olhando pelo canto dos olhos. Aquilo me fez estreitar o olhar para ele reprimindo um sorriso. Loki via muito à frente.

– E ele acha que exilando Jane evitaria isso? – Perguntei sem me ater aquele detalhe de veneno em nossa conversa.

– Odin não se importa que ela fique. A questão para ele é a ver se tornar oficialmente esposa e Thor não vai abrir mão disso. – Explicou. – Enquanto ela não o for, qualquer filho seria um bastardo. Como você bem sabe um bastardo não pode chegar ao trono. – Falou com certa ironia. Eu sabia bem. Conhecia dois casos que serviam como exemplo.

– E por isso Frigga nos quer afastadas até contornar tudo. – Entendi enfim. Não precisávamos citar que para o rei me incluir no pacote de exiladas, não precisava de muito e que provavelmente eu estava indo junto para que não sobrasse para mim.

– Exato. Não sei quem vai ser enviado para as buscar, mas não seja ingênua. – Alertou. Certamente o velho não deixaria que os príncipes deixassem Asgard. Em especial Loki. E aparentemente ele temia que pudéssemos confiar em qualquer um que chegasse alegando estar ali para isso. Eu não era tola a ponto de confiar em qualquer um. Ainda mais sabendo que Odin acordaria minimamente mal humorado com nossa deserção. Dessa forma apenas ofereci um sorriso em resposta ao moreno, enquanto desmontávamos diante da cúpula de Heimdall.

O guardião trocou meia dúzia de palavras rápidas com Thor e disse algo que fez Jane arriscar um sorriso apagado. Loki e eu aguardávamos afastados deles em silêncio. Não foram precisos mais do que cinco minutos para que o negro nos mandasse assumir posição, pois abriria a ponte. O loiro encheu a noiva de beijos. O moreno e eu apenas trocamos um olhar breve, antes da cientista e eu tomarmos posição e enfim deixamos Asgard.

Chegar a Midgard com a pressão que a Bifrost exercia, em um salto alto, vestido longo, na areia macia da praia, não podia ter um efeito diferente do que nos fazer cair estateladas no chão. Por sorte não fomos uma por cima da outra.

Paramos por um segundo nos encarando, ouvindo o som do mar e de carros que passavam na estrada que corria ali perto, sentindo a brisa suave que cheirava à sal e o toque do sol matinal sobre a pele. Era uma mudança brusca de realidade. Levantamos em silêncio, arrancamos as sandálias e seguimos a passos lentos para a casa. Assim que pisamos no quintal, a voz de Jarvis ecoou.

– Você está invadindo propriedade particular de Liana Schroeder Stark. Identifique-se ou as autoridades serão acionadas. – Alertou. Com autoridades eu imaginava que ele queria dizer Tony. Jane parou de andar e me encarou em dúvida.

– Sou eu, Jarvis. – Avisei. A resposta demorou alguns segundos, provavelmente enquanto ele cruzava os dados do meu timbre de voz com o que constava no sistema.

– Seja bem-vinda de volta senhorita Stark. Quem a acompanha? – Questionou.

– Jane Foster. – Respondi, empurrando a porta de entrada enquanto ele a cumprimentava. As persianas subiram sozinhas permitindo a passagem de luz e nós entramos. Ela nunca tinha estado ali. Ficou parada à porta um pouco desnorteada. Fui até a mulher e tirei a bolsa que a morena trazia nas mãos. Jane me seguiu até um dos quartos. Em outra ocasião Clint Barton o tinha ocupado e agora eu cedia a ela. Agi como se a lembrança fosse de algum filme visto em outra vida. Dei a cientista alguns minutos para trocar o vestido enquanto eu mesma me livrava do meu o trocando por um velho pijama de algodão laranja que cheirava levemente a mofo. Usar aquele pijama, mesmo depois de tanto tempo, ainda me dava à impressão de parecer estar em chamas.

Fui para a sala e me sentei no sofá. Olhei ao redor, encarando os móveis. Uma casa que eu praticamente não tinha usado e agora era um esconderijo repleto de lembranças. E elas me trouxeram a mente algumas coisas que precisavam ser feitas.

– Jarvis, avise Tony e Pepper que estamos aqui. – Instrui em alemão. Não queria que Jane entendesse as ordens que eu dava caso conseguisse me ouvir. – Diga a eles que estamos bem, mas perguntas são desnecessárias por hoje. E que o resto do mundo não saiba que chegamos.

– Sim, senhorita. – O software respondeu no mesmo idioma, no momento em que a morena chegava ao recinto. Ela se sentou ao meu lado em silêncio. Liguei a televisão e fui direto para a MTV. Deixei os clipes passando no fundo num volume baixo. Ficamos em silêncio por um bom tempo, vendo uma cantora em roupas mínimas rebolar na tela. Surreal. Tanto o rebolado quanto as roupas, quanto estar sentada ali assistindo aquilo.

– Então vocês vão casar? – Perguntei retórica quebrando o silêncio. Jane assentiu com um sorriso dividido entre a timidez, a alegria e a mais profunda dúvida. Se ela estava certa daquilo há algumas horas, nada mais era garantido. Silenciamos novamente. Minha mente apenas pensava em que tipo de lugar Odin estava disposto a nos jogar. Loki havia dito que existiam centenas de lugares não pertencentes aos Nove Reinos principais. Eu conhecia apenas minha casa em Lugar Nenhum. O velho certamente nos mandaria para um desses lugares de onde fosse praticamente impossível sair.

– É por sermos humanas não é? – Jane questionou interrompendo meus pensamentos. Dei um sorriso amarelo para ela.

Duvidava que Thor já tivesse uma visão tão política da situação, quanto Loki. Devia achar que era apenas isso, sem considerar outros fatores. Uma implicância simples com a duração de um ser humano. Talvez achasse até que o pai estava exageradamente preocupado com a possibilidade de o filho sofrer pela brevidade da vida de sua noiva. Quando o irmão lhe fizesse ver a verdade, podia imaginar que com o comportamento explosivo que o loiro às vezes apresentava a conversa entre o rei e o príncipe herdeiro não seria muito amigável. Mas no momento Jane tinha apenas a mim para lhe fazer ver as coisas pelo ângulo que Odin as encarava. Suspirei pesadamente e comecei a repetir o que Loki havia me explicado.

A cada frase a expressão dela se tornava mais dura e, contudo mais frágil. Ela assentia e às vezes resmungava num tom baixo, como se contestasse, mas rapidamente se calava. Quando concluí a linha de raciocínio, ela me ofereceu o mesmo tipo de sorriso constrangido que eu havia lhe oferecido.

– Tudo se resume ao tipo de filho que humanos e deuses podem gerar então? – Falou numa voz resignada.

– Na verdade ao tipo de filho que vocês podem gerar. Loki não tem direito ao trono e de toda forma não somos casados. – Afirmei. Ela assentiu entendendo. Sua expressão era estranha. Uma ideia me veio quase como um soco. – Você não está grávida, está?

– Não! – Se apressou a negar. – Ainda não...

– Estavam tentando? – Questionei curiosa. Ela riu sem jeito.

– Planejando. – Respondeu simplesmente. Jane parecia decepcionada.– Mas agora... – Concluiu, deixando a voz sumir. O silêncio veio por mais alguns segundos.

– Veja o lado bom. Se tiverem um filho ao menos tem a certeza de que ele não vai ser azul. – Afirmei rindo. Aquilo a fez rir também. Thor certamente tinha contado a esposa sobre a real natureza de Loki. Depois de tudo que ele tinha feito não era como se fosse exatamente um segredo em Asgard. Mas para alguns parecia soar apenas como especulação. Mais de uma vez eu tinha ouvido perguntas veladas sobre o assunto.

Levantei e fui à cozinha. Abri a geladeira e descobri que não havia nada para um café da manhã. Apenas alguns ovos velhos, umas poucas garrafas de cerveja, uma jarra de água e um pote de geleia. Jane me olhou na expectativa. Fiz uma careta para ela.

– Podemos dormir um pouco e mais tarde compramos algo. – Sugeri. Faria bem a nós duas um pouco de descanso. E a essa altura nossas mentes estressadas não teriam mais tanto poder sobre os corpos cansados para impedi-los de descansar. – Jarvis, diga a Pepper para trazer comida, por favor.

– Sim senhorita. – Confirmou. Como eu gostava de tê-lo a mão. Muito prático.

Voltamos para nossos quartos e dormimos em meio a sonos embalados por preocupação e incerteza. Mas ainda assim eu acreditava que Frigga contornaria a situação da melhor maneira possível. Confiar nela nunca havia dado errado antes. E eu tinha certeza de que não daria agora.

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Três dias se passaram com calmaria após nossa chegada. Mas aquela manhã acordei com Tony e Pepper discutindo sobre a armadura. Quando expliquei a eles tudo que estava acontecendo em detalhes, para minha surpresa não fez nenhuma piada sobre o casamento ou algo assim. Anthony sabia reagir com seriedade quando a situação pedia. Meu irmão havia decidido que a melhor coisa que poderia fazer por hora era manter Mark por perto. Ele temia que Odin obrigasse Heimdall a nos entregar e viesse atrás. Concordamos com tranquilidade, até entender que ter a armadura por perto significava mais do que ela num canto à disposição. No momento ela estava sentada no sofá da sala, pernas cruzadas e transmitindo as notícias da rádio, enquanto Tony preparava um sanduíche na bancada da cozinha, dançando e cantando um jazz suave.

Assim que abri a porta do quarto, vi Jane espiando do outro lado do corredor. Fomos para a zona de batalha, ainda de pijamas. Pepper e Tony pareciam bem irritados.

– ...objeto de decoração! – Ele afirmava.

– Decoração? Como o coelho gigante? – A ruiva rebateu.

– Mas algum dia você vai esquecer esse coelho?! – Devolveu

exasperado. Eu mesma não tinha esquecido o coelho gigante de pelúcia que ele tinha dado a ela de natal há alguns anos. – E qual o problema afinal?

– Essa coisa fica ocupando espaço, nos seguindo para todo lado! Deixe num canto! – Pepper insistiu.

– Está fazendo a segurança!

– Acho que ele consegue fazer a segurança no canto... – Arrisquei num tom baixo. Pepper apontou para mim com uma expressão vitoriosa que apenas fez meu irmão revirar os olhos.

– Você ouviu. – Ele disse à armadura. Mark se afastou ficando ao lado da porta da varanda de braços cruzados. Anthony levantou as mãos num gesto de desistência, bufando. – Satisfeitas? – Ironizou. Nos entreolhamos.

– Muitíssimo. – Pepper concluiu, pegando a metade do sanduíche dele e indo para a varanda, ignorando a cara afetadamente indignada do homem diante do furto. Eu e Jane demos uma risada, enquanto fomos nos servir de alguma coisa para comer.

A cientista havia se animado um pouco nos últimos dias. Ver televisão, tomar banho num chuveiro quente, comer pipoca de microondas e ler o jornal do dia ajudavam a animar um pouco, mas o que havia injetado bom humor nela havia sido falar com a mãe. Pepper foi a principal responsável por conseguir convencê-la a ligar.

Naturalmente as duas inicialmente mais choravam do que falavam. Eu podia entender. O que não entendia era o motivo de Jane, sendo inofensiva como era, ser obrigada a se manter longe de Midgard, e consequentemente da família, pelos caprichos de Odin. Sua mãe compreendia muito pouco de nossas loucuras, mas o suficiente para entender que aquilo fazia a filha feliz e por isso aceitar. Mas era óbvio que sentiam saudades. Apesar disso Jane, conseguiu uma desculpa para que ela não viesse visitar. Eu sabia que a morena tinha medo que algo pudesse dar errado enquanto a Senhora Foster estivesse ali. Contudo aquilo bastou para melhorar seu ânimo.

Depois disso ligar para Selvig, Darcy e Ian foi muito mais simples. Não sabíamos se ficaríamos apenas mais algumas horas ou mais algumas semanas de forma que depois da primeira ligação, Jane havia falado com eles ao menos uma vez por dia para aproveitar a oportunidade. Eu andava atrás de Pepper quase como uma sombra e quando não fazia isso me perdia por horas conversando com Tony. Saudade era um conceito que eu entendia bem.

E havia mais duas pessoas das quais eu sentia bastante falta. Bruce Banner era o amigo mais querido que eu tinha em Midgard e saber que ele agora tinha uma namorada me deixou extremamente feliz. Se havia um homem que merecia a felicidade, aquele era Bruce. E hoje eles viriam para um almoço e trariam Anong. Eu estava louca para saber como a menina estava. Embora Tony sempre me mostrasse fotos e vídeos, não era como a encontrar pessoalmente.

Passamos o resto da manhã conversando bobagens na varanda. Pepper estava nos atualizando sobre as notícias mais importantes dos últimos quatro anos. Tudo aquilo que as revistas que eu ganhava não informavam. Aparentemente a S.H.I.E.L.D. vinha enfrentando a maior crise da história, mas lentamente se reerguia. Não pude negar que me senti levemente vingada por saber que a organização tinha afundado. Eu tinha vaga consciência de que minha fuga para Asgard tinha ajudado em seu descrédito diante do governo. Mas as novidades foram interrompidas quando a voz de Jarvis anunciou a chegada das visitas. Naturalmente eu corri enlouquecida para a porta que dava para a estrada em frente à casa sem dar tempo de qualquer um mandar o software a abrir.

A escancarei e me deparei com Bruce, sua namorada tão magra quanto eu e tão loira quanto eu jamais seria. Mas o que me faz soltar um grito agudo de puro êxtase foi o par de olhos puxados e escuros que me encaravam do alto de pouco mais que 1,55 de altura. Anong Banner soltou um guincho quase tão agudo quanto o meu enquanto pulava no meu pescoço. Ou tentava. Era muito baixinha e para mim a adolescente mais linda do universo. Seu corpo ainda estava assumindo as curvas de uma mulher e era notável que teria o porte típico de qualquer asiática. Os cabelos estavam ondulados e caiam por cima da blusa de babados branca, mal escondendo a orelha direita que tinha um piercing de argola na parte superior. Eu não sei como consegui reparar em tantas coisas em tão pouco tempo e com lágrimas deturpando a visão. Bruce e a loira riram, mas não disseram nada. Segurei a garota abraçada a minha cintura, enquanto voltava a atenção a eles, ainda limpando os olhos.

– Oi... – Resmunguei com a voz chorosa. Ambos sorriram.

– Tudo bem, agora pode vir abraçar o padrinho mais lindo do mundo. – Ouvimos a voz de Tony vindo de algum ponto atrás de mim.

– Agora não posso! – Anong rebateu alto.

– Vai me trocar por essa ruiva desertora? – Meu irmão, perguntou chegando ao nosso lado.

– Que dúvida. – Bruce simplesmente comentou, enquanto eu fazia um gesto para que entrassem na casa.

Pepper e Jane nos esperavam na sala. Antes de nos sentarmos, me desvencilhei de Anong para dar um abraço em Bruce. Acho que o peguei de surpresa, porque ele riu daquele jeito tímido de sempre antes de retribuir. Me virei para a loira em seguida, enquanto Bruce abraçava Jane.

– Eu sou a Liana. – Me apresentei, vendo que a agitação da sala impedia que alguém lembrasse de fazer isso por nós.

– Eu sei, escuto sobre você há uns dois anos pelo menos! – Comentou com um sorriso gentil. – Eu sou a Lana. – Se apresentou. Sorri achando graça na semelhança dos nomes. Ela tinha uma elegância natural e uma delicadeza que fluía em cada movimento. Muito diferente de mim que tinha consciência de ser brusca e desajeitada. Loki adorava me lembrar disso quando eu esbarrava em algo ou derrubava alguma coisa.

Nos sentamos durante alguns minutos na sala conversando em um tom alto e animado. O assunto corria em tantas direções que parecia que não nos víamos há décadas. Quando Anong me contou que estava no time iniciante de arquearia da empresa todos riram da minha expressão completamente chocada. Era uma pena não termos um arco que ela conseguisse segurar para que eu pudesse ensinar um truque ou dois. Mas talvez fosse melhor assim. Da última vez que uma aula de arquearia tinha acontecido naquela casa, o professor não tinha se dado muito bem nas mãos da aluna alguns meses depois.

Aos poucos o cheiro de peixe assado invadia a sala nos obrigando a interromper a conversa e ceder à fome. Comemos ainda conversando trivialidades. Assim como eu, Jane estava extremamente feliz a ponto de parecer verdadeiramente relaxada por algumas horas. Me alegrava ouvir Bruce contado sobre como foi conhecer os pais de Lana que eram donos de uma pequena propriedade no Alabama. Aparentemente o pai dela havia reagido de maneira ciumenta e queria saber exatamente com o que ele trabalhava. Agora gostava de se exibir para os vizinhos dizendo que a filha namorava um rapaz muito bom que trabalha como cientista para o Iron Man. Eram pessoas de uma realidade distante e nem lhes passara pela cabeça quem ele realmente era. O que na verdade era muito bom. Ele parecia feliz e tranquilo como eu pouco me lembrava. Ria abertamente quando Anong dizia algo engraçado e era muito gentil com Lana. Eu simplesmente amava aquela família. De certa forma eu era um pouco parte dela. Trazer uma pessoa de volta da morte e lutar em Valhala contra um exército de espíritos bélicos tem esse tipo de efeito nos relacionamentos pessoais.

Passamos o resto da tarde jogando cartas, conversando e comendo as dúzias de cupcakes que eu havia feito. Tony parecia uma criança quando viu que eu os decorei com pasta americana formando o capacete da armadura. As horas passaram num piscar de olhos e a noite chegou, trazendo o cheiro de maresia embalado pelo vento suave que entrava pela porta da varanda.

Bruce me contou sobre como Tony e Pepper tinham tentado conseguir uma namorada para ele e como Anong tinha se aliado na missão. Eu simplesmente gargalhava com os comentários ácidos de Lana sobre as pretendentes anteriores do homem. Acabaram me contando também que Steve estava fora do país em uma missão da S.H.I.E.L.D. para desarticular a H.Y.D.R.A. que havia se reerguido de maneira assustadora. Aparentemente ele era gerido pela atual namorada, Maria Hill, que mantinha um emprego de fachada na Stark Industries. Anong ainda insinuou que ele havia tentado se envolver com algumas garotas antes de se firmar com a agente Hill.

– Alemães fazendo estragos irreparáveis em americanos desde a Segunda Guerra. – Complementou irônica. Eu fiquei vermelha como um pimentão, mas todos riram. Tony a cumprimentou aos risos com um soquinho na mão.

– Levando a menina para o mau caminho, Tony? – Jane alfinetou aos risos.

– Ele é uma má compan... – Pepper dizia, antes de ser interrompida por um blecaute geral da casa. A televisão que estava mostrando um show qualquer que nos servia de som ambiente, foi a primeira a desligar, sendo seguida pelas luzes gerais. Nos entreolhamos estranhando por alguns segundos sem conseguir realmente ver uns aos outros.

– Jarvis, acenda as luzes. – Pepper mandou. – Por que apagou? – Questionou num tom de estranheza. Nenhuma resposta.

– Jarvis? – Tony tornou a chamar. Nada.

E foi então que eu me pus em alerta. O Reator Arc da armadura que deveria estar sempre brilhando no peito, agora permanecia apagado. Ela apenas não havia despencado no chão por estar escorada à parede. Levantei nos escuro invocando meu arco que estava no quarto. A aljava se enroscou com perfeição em meu corpo, mas o arco em si me atingiu em cheio no rosto, me fazendo soltar um grunhido, antes de puxar a corda de luz que brilhou azulada se tornando nossa única fonte de luminosidade. Tony também estava de pé e olhava ao redor parecendo agitado. Jane levou a mão ao punhal do suporte que carregava na cintura. Suas mãos tremiam antecipando algo que não sabíamos o que era. Anong me encarava com os olhos finos o mais arregalados que conseguia.

– Bruce... – Lana chamou num tom muito baixo. Parecia se preocupar que por algum motivo qualquer ele se transformasse no meio da sala. Ainda não parecia haver motivo para isso, embora eu me sentisse estranhamente tensa. Era bom que ele estivesse ali.

– Estão ouvindo alguma coisa? – Perguntei num tom muito baixo. Meu irmão gesticulou agitado para que eu calasse a boca. Eu não ouvia nada além do mar e do meu coração que batia ansioso enquanto a adrenalina corria nas veias a espera do motivo daquilo. Mas o motivo não veio.

As luzes tornaram a se acender, assim como a televisão e o Reator Arc no peito da amadura. Ninguém se mexia. Nos entreolhamos confusos.

– Jarvis? – Jane chamou baixo.

– Sim, senhorita Foster? – O sistema respondeu solícito.

– O que aconteceu agora? – O criador do software tomou à dianteira nas perguntas.

– Receio que a rede elétrica tenha sofrido uma queda em seu fornecimento, senhor.

– Você não está ligado à rede elétrica da cidade. – Afirmou. Ele parecia muito tenso. - Por que a armadura foi desativada?

– Recebi instruções para a desativar em caso de blecaute. – Aquilo fez o moreno franzir as sobrancelhas encarando a todos lentamente. – Para proteção do sistema.

– Jarvis, você é o sistema. Uma queda de luz não danificaria nada. – Afirmei exasperada. Eu entendia muito pouco do trabalho de Anthony, mas aquilo me parecia óbvio. – Quem deu a ordem?

– Anthony Edward Stark. – Respondeu. Silêncio. Sabíamos que era impossível.

– Quando e onde a ordem foi dada? – Bruce perguntou.

– Cerca de quinze minutos atrás. A ordem partiu da Stark Tower. – Informou. Não havia ninguém lá.

– Jarvis notifique invasões e tentativas de invasão do sistema nos últimos quinze dias. – O empresário pediu.

– Não existem registros de invasões e foram diagnosticadas cerca de 15.444 tentativas até o presente momento, senhor. – Levantei as sobrancelhas surpresa com o número. A fama dele devia chamar a atenção de desocupados que amariam roubar as configurações do software e o vender a alguma empresa grande para ser comercializado.

– As contas do banco, arquivos da empresa e arquivos pessoais? – Ele questionou.

– Exatamente como o senhor os encontrou hoje pela manhã. – O software afirmou.

– Tudo normal. – Concluiu pasmo. – Vou precisar verificar de casa. Jarvis Operação Ordem de Despejo no sistema. – Ordenou, tomando a única decisão possível por hora.

– Sim, senhor. – Encerrou. Tornamos a sentar, ainda com expressões estranhas. Lentamente começamos a conversar sobre o que tinha acontecido. Anong era dona das teorias mais mirabolantes e aos poucos rumamos novamente para assuntos mais corriqueiros. Aparentemente algum erro que poderia ser resolvido mais tarde tinha acontecido, sem grandes prejuízos. Mesmo assim eu podia notar uma pontinha de preocupação no rosto de Tony. Ele era egocêntrico e isso o fazia gostar de ter total controle sobre suas coisas. Nada podia sair de controle nunca e quando algo assim acontecia e ele não era capaz de entender imediatamente o motivo, era inevitável que ficasse inquieto.

O clima alegre da conversa retornou naturalmente e acabamos encomendando comida tailandesa para o jantar, atendendo a um pedido de Anong. Nossas mentes vagaram animadas pela diversão e risadas, embaladas pelo álcool das bebidas e pelo sono que chegava aos poucos. Apenas Loki faltava para que minha alegria fosse completa, mas aquilo era o melhor que eu poderia ter em Midgard e devia aproveitar enquanto não pudéssemos retornar a Asgard. Devia aproveitar antes que aquele fragmento de felicidade me fosse tirado.


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