Autumn

– Eu recomendo a padaria “La Boulange de Pine”, é a melhor em São Francisco, seria bom se você passasse no Acampamento Júpiter para falar com o Octavian, ver se a Rachel está mesmo certa, espero que seja algum surto dela, se não... estamos oficialmente ferradas... você tem certeza que vai ficar bem? – Nina falou de uma vez. – Eu posso ir com você, se quiser, Nico estaria mais que disposto, não é, docinho? – Virou para o garoto com um sorriso malicioso.

– Eu já disse que não gosto desse apelido, - respondeu rispidamente. Nina o deu um empurrão para o lado. – Nossa, que grossa, sua mãe te ensinou isso? – fazendo os dois caírem na gargalhada. – Mas, sim, estou ao seu dispor, senhorita Rose.

Peguei a minha mala e a joguei nas minhas costas, olhando firmemente não para os seus olhos mas sim para o chão, nunca fui boa em encarar pessoas, sempre ficava vesga quando fazia isso, nunca ficava sério.

–Tenho certeza que Rachel está certa, não foi esquisito um terremoto no Acampamento? As barreiras protegem que coisas tipo as que aconteceram acontecerem, então, sim, eu vou sozinha, vocês vão ficar AQUI para salvar a nossa casa! Eu tenho que fazer isso sozinha, se eu tiver alguém, tenho certeza que não sobreviria. Então, é, isso é um adeus, por enquanto.

Nina se levantou do banco, com a cara preocupada, ela me abraçou, e eu a abracei de volta, ela juntou a cabeça próxima do meu ouvido e sussurrou:

– Ache esse desgraçado, Autumn.

Estávamos onde ninguém poderia nos ver, roubamos o Pégaso da Jane, não faria muita falta, só eu iria usá-lo agora, o bom daquela situação era que ele me obedecia, ao contrário do Nico, ele parecia olhá-lo com desgosto. Não sabia que pégasus sentiam desgosto.

Saímos do abraço, apenas assenti com a cabeça com a minha cabeça erguida montei no Pégaso fui em direção da barreira, deixando o que tinha restado de minha casa, da nossa casa para trás, mas absolutamente nada deixaria eu esquecer o que fizeram conosco. Aquele terremoto não podia ter chegado no pior horário, apenas destruiu, o memorial de Bekendorf, de Selena, de Connor... estavam todos destruídos.

O frio que fazia naquele dia parecia perfurar a minha pele para conseguir congelar os meus músculos e eu finalmente não conseguir fazer um movimento. Não era um bom dia para voar.

**

Devia já ser umas duas da manhã, eu sabia que esse horário não traria nada de bom para o que estava em minha mente, eu acabaria adormecendo no pégasus, ou ele pegaria no sono e nos dois cairíamos não seria uma cena muito agradável.... Com a névoa talvez os mortais veriam uma garota morta em um acidente de bicicleta, talvez pensariam que eu era uma moradora de rua morta por um cachorro, mil possibilidades. Mas tirei todas elas da cabeça.

Eis meu plano, mero mortal: eu iria tacar lama ou qualquer coisa na minha cara, pegar uma ou duas coisas da minha mochila, fazer o que eu aprendi em todas aquelas aulas de teatro: ser outra pessoa. Dessa vez, eu era uma crente sem teto procurando abrigo na Igreja.

Eu não tinha mínima ideia do porquê que sempre que eu vou entrar no personagem uma música que combine fica na minha cabeça... Mas, dessa vez, uma música que não era nada gospel estava nela, era mais algo que a Igreja proibiria que os crentes escutassem.... Pior que uma vez já fui mais ligada à Igreja, hoje em dia não sou tanto, mas não chega ao caso.

Não tinha achado nenhuma lama ou algo do gênero, apenas esperei que eu estivesse fedendo a porco, era um desejo esquisito.

Entrei na primeira que vi na vista, batendo com todas as minhas forças. Uma irmã baixinha, veio correndo me receber, ela não parecia ser nem um pouco simpática, ao menos parecia satisfeita em me ver, nem eu em ver ela.

– Summer? – ela falou entre suspiros.

**

Isaac

– Rick! Eu pareço um palhaço com terno! – exclamei enquanto me olhava no espelho com desgosto da minha aparência. – Eu quero usar alguma coisa laranja! Eu posso?

Frank parecia aborrecido, já era por volta das oito da noite e eu estava reclamando desde as seis da manhã.

– Isaac, por que você quer usar laranja?

– Não sei.... Sabe quando uma mulher está grávida e tem desejo de uma comida, eu estou com desejo de laranja, bem chamativo com um logo grande preto! Não seria fabuloso? – falei, fazendo grandes gestos com as mãos, modelizando como seria a camiseta no ar.

Frank jogou uma almofada na minha cara, rindo.

– Você está no Acampamento errado, então amigo! Aqui é romano, não grego. – Frank começou a conta-lo sobre como os gregos eram pessoas sem estratégias, mas boas pessoas e blá, blá.

– É isso Frank! Ela é grega! – eu o abracei e sai correndo procurando por Kathleen. – Kathleen! Eu lembrei! Ka-

Sim, meu amigo, eu cai. Sim, olhe por onde você anda/corre, principalmente quando está prestes a ir em um casamento, você, como eu, pode cair em uma superfície como lama.

**

Autumn

– Emilly? – questionei, a olhando, eu conhecia aqueles olhos, ela tinha vinte e oito anos no máximo, minha irmã mais velhas, a que eu deixei para trás teria vinte e seis anos mas parecia tão abatida que aparentava ter mais.

Ela fechou ainda mais a cara.

– Eu perguntei primeiro, você é Summer Johnson Samuel Claks, ou você quer fazer algum tipo de trote? – Ela cruzou os braços esperando uma resposta.

– Meu Deus, você é a Emilly mesmo! – falei entre um sorriso, me aproximando para abraça-la, Emilly se afastou ainda com a cara horrorizada. – Sim, Ems, eu sou a Summer!

Ela franziu os lábios, parecendo estar pensativa.

– Se você é mesmo a Summer, qual era o livro que lia para você toda noite antes de dormir... nos domingos! – ela hesitou um pouco - E, qual era a sua música favorita?

Eu ri, respondendo com um sorriso sincero, o mais sincero que eu tive em três anos:

– Você lia “O Pequeno Príncipe” todo domingo, dias de semana “Harry Potter”. Sábados a gente não lia nada. Minha música predileta era Summer Nights do musical Grease. Quer mais algum detalhe? Pois, eu sei de todos eles. Ah, eu tenho memória fotográfica.

Os olhos da garota se encheram de lágrimas me puxando para um abraço, o remédio que eu seriamente precisava no momento, mais nenhuma pílula.