Como pude? Está tão linda... Com seu vestido roxo e dourado, seu cabelo liso, seus olhos cor-de-chocolate... Como pude?

Ela chorava. Chorava naquele canto da parede, onde ficava todo dia. Como pude fazê-la chorar? Eu não queria fazer isso. Eu só não pude evitar.

Por que não percebe? Eu a amo. Mas não vou chegar lá e me declarar... Mas ela me ama. Sabe que eu sei disso. Será que só espera que eu vá lá?

A iniciativa não vinha. Ela levantou a cabeça, e me olhou. Desviei o olhar, fingi estar muito interessado no papo de Lucas sobre o nó da gravata dele, que interessou a par dele...

Par. Ele tem um par. Eu tenho um par, mas... Quero outro par. Par.

Por que despedacei o coração dela? De novo, suponho. Eu acho. O olhar dela todo dia era triste, deprimido. De um coração partido.

Júlia me chamou do meu lado.

– O que foi? - perguntei, irritado.

– O que houve com você? Ai. Poderia pegar um ponche para mim?

Piscou com seus olhos cheios de rímel. Aquele cabelo cheio de produtos... Rosto duro de maquiagem... Era magra, ela não tanto, mas eu não me importava.

Me levantei. Júlia sorriu, esperando que eu fosse pegar o ponche. Mas fui na direção contrária.

Eu sei animá-la. Consigo animá-la. Por que ela não abre aquele sorriso que me encanta? Por que não fica como todo dia quando me repreende e me manda prestar atenção na professora?

Me ajoelhei. Ela ainda chorava, e levantei sua cabeça.

– Vai embora!

– Não. Não vou embora.

– O que você quer, William?

– Dance comigo.

– Não!

– Só uma dança! Uma canção, e eu vou embora. Juro.

– Uma dança - se permitiu.

Aquele meio sorriso disfarçado, de quando revirava os olhos fingindo que me ignorava. Estava linda.

Olhei para ela, que andava devagar até a pista de dança, onde outros casais aproveitavam a comprida lenta.

– William! - gritou Júlia, na mesa.

Ignorei. Comecei a guiá-la, dançando.

No início, ela resistia. Dançava dura, evitava se render. Conforme o tempo passava, e a melodia clássica aliviava seu corpo, ela se deixava ir. Recostou a cabeça em meu ombro.

Eu te amo.

A música continuou, e ela foi ficando mais perto. Suas lágrimas não molhavam mais o meu terno. Ela, tão emotiva, romântica, finalmente sorria.

Eu te amo.

Retirou a cabeça conforme a música ficava mais baixa, acabando.

Seus olhos de chocolate me olharam.

– William...

Eu te amo.

– Eu te amo.

Ela me olhou surpresa. Aquela expressão fofinha, de quando não acredita. Eu te conheço há tanto tempo....

– Eu também te amo.

– Eu também te amo.

Ela se aproximou ainda mais e me beijou.

Ainda bem. Não foi uma última dança.