E se...? escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 8
Capítulo 7




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O primeiro eu te amo, a gente nunca esquece. Mesmo que venha acompanhado de um “acho”. Mesmo 9 anos depois, eu ainda consigo sentir aquela sensação esquisita, mas boa de escutar isso, vindo de alguém que não é seu parente ou amigo. Pego o metrô que graças ao horário não está totalmente lotado, e consigo lugar para sentar. As pessoas, começam a me encarar, e eu vejo que elas me reconhecem. As mulheres, principalmente. É muito boa essa sensação de reconhecimento. De saber que várias pessoas, não só em Londres, mas em todo o mundo, te conhecem, por algo que você faz. Não chego a ser famosa, como uma atriz de Hollywood, mas as pessoas sabem quem eu sou. Sabem que eu sou a designer mais bem-sucedida, e famosa da atualidade. Enquanto o metrô se move rapidamente, volto a me concentrar no passado. Sempre afasto essas lembranças, mas eu preciso delas agora. Não sei ao certo porque, mas eu quero me lembrar. Depois daquela noite, onde eu mais uma vez rejeitei Jack, ele se tornou uma pessoa totalmente insistente. Todo o domingo ele aparecia em casa. Meus pais faziam uma tremenda festa para ele. Fazia tempo que eu não via minha casa tão alegre. Jack parecia trazer um rastro de alegria por onde quer que passasse. No começo, eu ficava apenas observando, enquanto Jack mexia no jardim com minha mãe, ou enquanto conversava sobre esportes ou música com meu pai. Era incrível o quanto ele podia ser cativante. Jéssica sempre ia em casa aos sábados, e eu logo subia com ela para o quarto, com medo de que meus pais contassem sobre nosso visitante de domingo. É claro que ela estranhou o fato de eu sempre inventar uma desculpa para ela ir em casa sábado, e não domingo. Mas o que eu podia fazer? Eu não queria perder nenhum dos dois. Hoje, eu vejo como fui egoísta.

Enquanto eu mantinha esse segredo, algo que foi o ponto alto, para eu decidir o que eu realmente queria, começou a acontecer. Jéssica começou mentir descaradamente para mim. No começo eu não sabia em quem acreditar. Jéssica todo sábado, chegava em casa radiante por ter ficado a noite de sexta-feira, acompanhada por Jack. Eu morria de ódio por não poder ir aos pubs, mas mesmo que eu pudesse, não iria, pois era certo que meu segredo iria ser descoberto. Um dia, confrontei Jack, e ele a desmentiu. Aos poucos, mesmo sem saber quem estava falando a verdade, fui me afastando de Jéssica. Até que em uma segunda – feira chuvosa, ela me disse que havia passado o domingo assistindo filmes com Jack, em seu quarto. Aquilo foi demais para mim. Jack passou sim o domingo assistindo a filmes, mas foi na minha casa, comigo e com meus pais. Eu queria gritar com ela. Bater nela. Eu estava fazendo de tudo para não me aproximar (ainda mais) daquele garoto, por ela. E o que ela faz em troca? Mente. Por mais que eu estivesse mentindo há meses para ela, isso não justificava o que ela fez. Esse foi o ponta pé inicial, para o início da minha intimidade com Jack. Aos poucos fui cedendo, e quando percebi já não estava fugindo dele. Fui descobrindo coisas sobre sua vida, como por exemplo, o fato de seu pai ter morrido há anos, e sua mãe desde então levar homens e mais homens para dentro da casa deles. Como aquele lugar em que ele me levou significava para ele, e como a música o salvou de ter um futuro nada promissor. Cada coisa que eu descobria, aumentava minha admiração por ele, e minha apatia por Jéssica. A situação estava ficando insuportável. Eu precisava sentir os lábios de Jack de novo. Eu precisava sentir seu corpo, eu precisava dele. Eu me lembro como se fosse ontem, o dia que eu tomei minha decisão. Era setembro. Mais especificamente 10 de setembro. Já faziam três meses que Jack insistentemente tentava me conquistar. Ele apareceu em casa sábado, ao invés de domingo. Disse que não aguentou esperar. Eu sabia que Jéssica iria em casa, mas não me importei. Eu estava com Jack na cozinha preparando o almoço, enquanto meus pais foram na locadora, alugar nossa diversão de fim de tarde, quando Jéssica apareceu. Naquele momento que a vi, parada, com uma expressão de fúria no rosto, eu soube que havia rompido qualquer laço que ainda nos ligasse. Qualquer resquício de amizade que eu ainda tentava manter. Ela ficou furiosa. Fez um escândalo maior do que eu imaginava, e se foi. Pela expressão de Jack, percebi que ele havia entendido tudo. O porquê de eu dizer para ele não contar sobre nossa “amizade” a ninguém. O porquê de eu pedir para ele vir só aos domingos. Ele começou a sorrir. Seu sorriso esbanjava satisfação. Lembro dele dizer, como se acabasse de ganhar uma batalha:
– Bom, você já sabe tudo sobre mim. E sua amiga mentirosa acabou de se tornar sua ex-amiga mentirosa. Acho que você não tem mais motivos que te impeçam namorar comigo.
Eu estava triste, sim. Mas não tanto quanto achei que ficaria. Lembro de ter sorrido de volta para ele, e responde-lo com um beijo. Começamos a namorar aquele dia, e meus pais ficaram muito felizes com a notícia, embora eles jurassem que já suspeitavam desse namoro. Jack teimou em considerar a data oficial como dia 10 de junho, já que foi nesse dia, que ele pediu oficialmente. Eu não protestei pois ele tinha alguma razão nisso.
Chego ao meu destino, na Trafalgar Square, e pego meu celular. Estou realmente muito atrasada. Rachel deve estar furiosa com isso. Mas ela devia se acostumar, pois eu sempre me atraso. Fico olhando pro visor de meu celular aceso, por mais tempo que o normal. Olho a foto na tela, Eric e eu abraçados em frente a torre Eiffel. Mas não é isso que prende minha atenção. Hoje é um dia muito especial mesmo. No visor, a data de hoje, parece brilhar mais que tudo na tela. Hoje é dia 10 de junho. Hoje faz 4 anos que estou com Eric. Coincidentemente, se eu estivesse com Jack, hoje fariam 9 anos. É difícil não pensar nele nessa data. Mais difícil do que em todos os outros dias. Ando apressada em direção ao restaurante em que Rachel me espera. Esbarro em algumas pessoas, que quando me olham, seus olhares de raiva, se dissipam em admiração. É por essas e outras coisas, que eu não me arrependo da escolha que fiz. Quando entro no restaurante, Rachel acena, aparentemente nervosa, mas assim que me sento, ela sorri e diz:
– Hoje é um dia muito especial.
– E como – digo.
Não sei porque o dia também é especial para Rachel. Não sei porque depois de 6 anos, sem qualquer notícia de Jack, sinto uma vontade enorme de saber como ele está.
– Você não sabe o que aconteceu hoje Emy – Rachel me diz animadamente.
– Ah, Rachel. Existem tantas coisas que eu não sei.
Suspiro, decidida a afastar pelo menos por enquanto, essas lembranças, que secretamente, nunca me deixaram em paz.


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