Megan estava concentrada na música que entoava no seu ouvido, os seus fones de ouvido serpenteando ao vento de um outono que logo iria começar.

Então ela sentiu uma pessoa. Depois o desequilíbrio. E por fim, o chão duro de mármore. Ela havia trombado com alguém.

– Me desculpe! – Exclamou Nicolas que tentou ajudar a filha de Atena, mas essa já havia conseguido levantar-se. – Eu estava tão absorto na minha leitura que nem te reparei.

– Não tem problemas, eu também estava distraída com a minha música. – Falou docemente a garota.

– Quem me dera poder ficar distraído com alguma coisa! Só que eu tenho que ler esse livro que o meu pai me deu sobre Os Maiores Líderes da História.

– Talvez isso ajude um pouco.

Então a Selecionada colocou delicadamente um fone de ouvido na orelha do príncipe.

– Obrigado. E a música é bem legal, você tem bom gosto.

– Obrigada! Pode ficar com o meu celular por enquanto. Quando a música acabar, é só colocar na playlist e procurar uma que você goste.

E depois das instruções, a garota foi embora acenando.

– Espera, como eu vou te devolver?

– Ah, eu arrumo uma maneira de te encontrar.

...

Nicolas passeava pelo Olimpo, em um dos seus únicos tempos livres, até avistar sentada em um banco Charlotte, com lágrimas marejando nos olhos.

– Você está bem? – Perguntou preocupado.

– Tudo bem, é só um cisco. – A garota respondeu secando as lágrimas.

– Tem certeza?

– Não, é sério! Eu estava aqui de boa quando o vento sopra bem na minha cara e recebo ainda um cisco no olho.

Nicolas sorriu.

– Então está tudo bem. Se você precisar de alguma ajuda, estou disponível. Na realidade, eu estou quase sempre disponível e muito entediado.

A semideusa arqueou uma sobrancelha.

– Qualquer ajuda mesmo?

– Depende.

– Se eu te pedir para procurar a joia Absent em Lugar Nenhum e me entregar no dia 31 de Fevereiro, ás 25:00h, você faria?

– Claro, do mesmo modo que Zeus ama Hades e Ares é o deus da paz e do amor.

Os dois riram. Então o príncipe sentou no lado da Selecionada e ambos continuaram a conversar, imersos em devaneios, apenas observando o tempo passar e deixando os pensamentos fluírem e irem com o vento cortante da nova estação.

...

– Cadê ela? – Rosemary falava consigo mesmo, impaciente, os pisos ecoando pelo mármore.

– Procurando algo? – Nicolas perguntou ao aproximar-se de Rosemary.

A garota deu de ombros.

– Só uma adaga, coisa que se perde facilmente por aí.

Nicolas deu um sorriso, os seus dentes brancos brilhando.

– Eu te ajudo. Acho que o meu pai não vai se importar se eu atrasar um ou dois minutos para nossa reunião.

– Obrigada. – A garota disse suavemente e ambos foram procurar.

Rosemary foi procurar no espaçoso e populoso “chalé” de Atena, enquanto Nicolas procurou no corredor dos “chalés”, cujo teto era tão alto quanto o céu, iluminado por milhares de pequenas lâmpadas, lembrando estrelas.

– Encontrei! – Rose exclamou após dez minutos de procura, um sorriso vitorioso iluminando a sua face. – Estava embaixo do meu travesseiro, acredita?

O príncipe arqueou a sobrancelha.

– Você dorme em cima de uma lâmina pontiaguda que pode te matar enquanto dorme?

– É... Mais ou menos.

Os dois sorriram.

– Em qualquer caso, estou atrasado! Preciso ir á reunião com o meu pai, a menos que eu queira levar bronca. Tchau!

E após a sua breve fala, o garoto saiu correndo.

Rosemary colocou uma mecha de seu cabelo escuro atrás da orelha e foi andando, o olhar focado na sua adaga brilhante.

...

Estela cavalgava em um cavalo acastanhado, correndo tão rápido quanto a luz.

O vento soprava fortemente contra a Selecionada, os seus cabelos negros bloqueando a sua visão, a probabilidade de chocar-se com uma árvore cada vez maior, mas Estela não desistia e continuava em frente.

O final da tarde chegava. O céu rosado graças ao Sol poente misturando-se com o verde vivo da grama. Os cascos do cavalo pisoteavam fortemente a grama, um som doce, porém emocionante, uma harmoniosa mistura agoniante.

Então a garota decididamente parou o cavalo, arfando com a sua corrida, ajeitando os seus cabelos de um modo que não lhe incomodassem.

– Parabéns! – Um príncipe chamado Nicolas falava entusiasmado enquanto batia palmas. – Vai ter bis?

A Selecionada sorriu ofegante, sendo que logo em seguida desceu do cavalo.

– Quem sabe, amanhã.

– Ah, mas está muito longe! Eu não vou aguentar ficar tanto tempo sem te ver.

Os olhos azuis da Selecionada iluminaram-se.

– Oferta interessante... Mas ainda não mudei a minha opinião. E depois: não quero perder o jantar.

Então Estela guiou o cavalo para o estábulo e foi andando calmamente para o Olimpo, acompanhada de perto por Nicolas, conversando até a hora de cada um ir para a sua mesa.

...

Mary fitava exatamente o nada.

A filha de Melinoe era atacada pelas mais sombrias lembranças, imersa em devaneios. Os olhos castanhos paralisados, as pernas balançando sutilmente.

– Olá. Terra chamando Mary. – Uma voz masculina bastante familiar tirou Mary de seus inúmeros pensamentos.

– Ah, oi. – A garota exclamou, os seus olhos voltando-se para ninguém mais, ninguém menos do que o príncipe sentado ao seu lado, num banco dourado do jardim.

– Atrapalhei alguma coisa?

– O que? Não, não. Eu só estava pensando.

– No que?

– No meu passado. – A Selecionada falou tristemente.

– Deixe-me imaginar: não era muito bom.

Ela apenas assentiu com a cabeça, segurando as lágrimas nos seus olhos chorosos.

– Mas agora está tudo bem. – O príncipe falou num sussurro, logo em seguida envolvendo Mary com o braço, num abraço caloroso.

Passaram-se alguns minutos, até que Mary conseguiu abrir um pequeno sorriso e dizer num tom baixo:

– Obrigada. Você tem razão, agora tudo está bem.

Nicolas terminou, enfim, o abraço. Mary estava melhor e levantou-se, o Sol brilhando e iluminando o seu belo rosto. Ambos despediram-se e cada um seguiu o seu caminho.

...

A ruivinha lia o seu livro.

Gabrielle envolvia-se cada vez mais nas palavras, passando rapidamente as páginas, entrando em mundo literário, enfrentando as mais diversas aventuras.

Ela estava tão envolvida que nem percebeu quando alguém sentou ao seu lado, sendo que tomou um susto ao ouvir um sussurro bem perto de seu ouvido.

– Oi. Como vai?

A garota olhou quase gritando para o lado.

– Oi? Você quase me matou de susto! – Ela exclamou.

– Desculpas, essa não foi a minha intenção. Mesmo assim, foi engraçado. – Nicolas falou com um sorriso divertido apontando nos seus lábios.

A garota sorriu delicadamente.

– Deve ter sido mesmo engraçado. Então... O que está fazendo agora? – Ela falou, apenas tentando iniciar uma conversa.

– Dando um passeio, aproveitando o meu tempo livre. – O príncipe suspirou. – Mas ele provavelmente acaba amanhã, sendo que eu tenho muito sorte por não ter acabado hoje.

A garota olhou solidariamente para o garoto.

– Deve ser uma chatice.

– Você nem imagina! Em qualquer caso, vou deixá-la com seu livro.

– Eu posso ler ele depois. Se quiser, estou aberta a conversas.

– Então tá... - O príncipe disse duvidoso, mas não demorou muito para que desatasse a conversar animadamente com a garota.

...

Nicolas andava pelo jardim, aproveitando o ar puro, até ver um vulto em uma lagoa.

– Ei, Pequena Sereia! – Nicolas gritou brincalhão para Caterine, que alisava as suas mechas azuis em cima de uma pedra.

A garota arregalou os olhos, até avistar o príncipe e acender um largo sorriso no rosto.

– Nicolas! – Exclamou a Selecionada, que saiu correndo para perto do semideus.

Ela chegou entusiasmada perto dele, tirou o excesso da água e falou suavemente:

– Há quanto tempo não nos falamos! Pensei que a Seleção nos aproximaria, mas parece que estamos cada vez mais ocupados.

O garoto assentiu com a cabeça. Algumas pessoas não acreditavam, mas ambos eram amigos antes da Seleção.

– Então está mais do que na hora de uma conversa, Cate. Que tal agora?

A garota sorriu.

– É claro.

E logo ambos saíram a passear pelo jardim florido, admirando os mais coloridos pássaros a voarem e o vento passeando entre eles.

– Como vai? – O príncipe grego perguntou, observando as nuvens brancas e fofas como algodão caminharem lentamente pelo céu azul vivo.

– Bem. – Caterine falou, também olhando para o céu.

...

O som do martelo ecoava pelo “chalé” de Hefesto.

– Está tudo bem aqui? Tem alguém sendo torturado? – Uma voz falou de fora do “chalé”.

Carolina franziu a testa. Provavelmente era uma harpia reclamona, mas harpias não tinham aquela voz. Após alguns segundos, ela apenas deu de ombros e foi abrir a porta.

– Desculpa incomodar, mas você está passando bem? – Nicolas perguntou, do lado de fora.

– É claro! Por que você duvidaria disso? – Carolina perguntou com os olhos interrogativos.

– Talvez porque você esteja fazendo um som capaz de fazer todo o Olimpo tremer.

A Selecionada riu e negou com a cabeça.

– Não, eu só estava fazendo construindo uma escrivaninha e usava o martelo para pregar os pregos.

– Interessante. Desculpe-me pela minha curiosidade, mas eu poderia dar uma olhadela?

– É claro!

A Selecionada falou e guiou o príncipe pelo “chalé”. O lugar era consideravelmente espaçoso, uma cama posicionada em um canto do chalé ao lado de um armário, enquanto no centro continha uma pequena montanha de invenções, a parte inferior esquerda com uma área para construção e a parte direita com os materiais necessários.

Nicolas observava algumas invenções enquanto Carolina explicava entusiasmada sobre elas, em uma harmoniosa e longa tarde para ambos.

...

O príncipe andava ansiosamente pelo jardim, em direção ao Olimpo, quando viu uma sombra na Estufa.

Movido pela curiosidade, ele abriu silenciosamente a porta de vidro e espiou através das inúmeras plantas.

– Oi. – Ele falou com um sorriso ao detectar a suave face de Bianca.

– Quem está aqui? – A semideusa falou assustada, até reconhecer Nicolas. – Ah, olá Alteza. – A Selecionada fez uma reverência.

– Acho que não precisa de reverências...

A garota arqueou uma sobrancelha, mas depois deu de ombros e sorriu.

– Você não irá á apresentação das ninfas? Dizem que vão encenar a lenda de Perseus, a minha favorita! – O príncipe acrescentou.

– Provavelmente vai ser legal, mas as flores precisam de mim. – A filha de Deméter falou docemente, fitando algumas margaridas.

O príncipe deu um sorriso divertido, achava graça da situação, mas também respeito e admiração.

– Então desejo-lhe diversão, cara Bianca.

– O mesmo príncipe. Quem sabe eu não vá para a próxima encenação?

– Eu estarei esperando.

E com sorrisos amigáveis, ambos saudaram-se e foram fazer as suas atividades, com muito bom-humor em uma das últimas tardes de verão.