Iocum escrita por Karollin
Notas iniciais do capítulo
Obrigada a quem quer que esteja lendo. Fico muito feliz por darem um chance à história! Prometo tentar assustá-los nem que seja um pouquinho xD
Espero que gostem!
Como todas as péssimas ideias, aquela começou como uma brincadeira.
As três estudantes do ensino médio se encaravam no espelho retangular e um pouco manchado de água nas bordas. Todas tentavam parecer sérias, como se estivessem prestes a fazer algo que mudaria suas vidas, mas duas não estavam conseguindo parar de rir da coisa idiota que estavam para fazer.
– Quem vai fazer? – perguntou Maria.
A garota possuía o cabelo cacheado que ia até sua cintura, pele morena e os olhos castanhos demonstravam a mais pura hesitação. De todas, ela era a que mais acreditava em espíritos. Até agora não sabia como tinha sido convencida a participar daquilo. Assim que se perguntou aquilo, logo sua mente deu-lhe a resposta. A necessidade de se enturmar havia, mais uma vez, falado mais alto que suas superstições.
– Eu faço. Vamos ver se alguma loira vem arrancar nossos olhos. – afirmou Luiza divertindo-se com o pavor da colega.
Ela possuía o cabelo curto, liso e preto preso em um rabo de cavalo feito de modo desleixado após a educação física devido ao calor. Por ter jogado queimada há pouco tempo, estava com o rosto ainda um pouco avermelhado pelo exercício físico. Seus olhos claros encaravam seu reflexo e seus braços estavam cruzados. Nem por um instante acreditou que aquilo realmente daria certo. Milhares de pessoas já fizeram aquilo antes, então era impossível que a Loira do Banheiro aparecesse só para elas. Teria que ser um puto azar.
Luiza apagou a luz, mas graça aos raios solares que entravam pela janela o banheiro não ficou escuro. Fechou a porta branca de madeira lentamente para que as dobradiças, sem a devida camada de óleo, rangessem. Aquele som ecoou pelo pequeno lugar deixando o clima ainda mais tenso.
Até mesmo Isabel, que sempre considerava os filmes e livros de terror uma completa palhaçada, estava sentindo o peso de toda aquela carga de expectativa e ansiedade. Ela enrolava uma mecha de seu cabelo tingido de loiro nos dedos, o que indicava sua clara apreensão. Mas ela sabia que era bobagem, assim que tudo terminasse, elas sairiam dali e ririam como bobas. Era só mais uma lenda urbana, afinal.
Ignorando totalmente o pedido para que se usasse somente duas folhas para ajudar na preservação da natureza, Luiza começou a puxar o papel ecológico para entupir todas as três pias brancas. Mesmo não querendo admitir, aquilo estava fazendo-a ficar tensa. Porém, não iria demonstrar medo por uma bobagem – ainda mais na frente das amigas.
– Pelo que eu saiba, não precisa fazer isso para invocá-la. – afirmou Isabel confusa.
– Ontem eu pesquisei e achei várias maneiras diferentes. É claro que elas não dariam certo, dã. Para invocar um espírito não é preciso falar alguns palavrões e chamá-lo como um cachorro, tem que fazer direito. – retrucou sem paciência – Achei um site que parecia mais apavorante e estou testando a tese dele.
Luiza abriu as torneiras e, enquanto a água saía, deu três descargas no vaso branco. Chutou a porcelana três vezes e fechou a porta de alumínio que continha nome dos meninos que várias garotas da escola gostavam. Voltou sua atenção às pias quando elas estavam quase transbordando e interrompeu o fluxo de água. Retirou do bolso de sua calça de tactel azul marinho um estilete e usou-o para fazer um pequeno corte em seu dedo médio.
– Façam um pequeno corte igual ao meu, tem algo a ver com esse ser o terceiro dedo ou algo do tipo. – mandou.
– Essa mulher tem alguma tara com o número três, só pode. – falou Isabel rindo e pegando a lâmina.
Após limpar o metal, fez o corte e ao ver um pouco de sangue sair do ferimento, passou o objeto para Maria. A garota engoliu em seco, não queria fazer mais aquilo, estava apavorada. Será que ainda dava tempo de desistir de toda aquela loucura e ir comprar seu lanche?
– Não me diga que está com medo, Mari. – disse Isabel – É só uma lenda urbana, o máximo que irá acontecer é você ir mal na prova de matemática que faremos daqui a pouco porque ficou apavorada.
– Vai amarelar agora? – perguntou Luiza – Deveríamos ter chamado a Sofia, pelo menos ela iria até o fim. Vamos logo, Mari marica.
Maria não queria fraquejar e desapontar suas amigas. E, como a maioria dos adolescentes, deixou-se levar na onda das colegas. Pegou o estilete, limpou-o e fez o tão esperado corte. Doeu como o inferno e sentiu seus olhos arderem, mas segurou o choro.
– E agora? – perguntou Isabel.
– Temos que mergulhar nosso dedo que cortamos juntas na água e falar Sanguineum Maria três vezes. – orientou olhando para as duas meninas pelo reflexo no espelho. – Prontas?
As duas confirmaram positivamente com a cabeça sem o costumeiro ar brincalhão. A eletricidade ali parecia estar ainda maior do que há instantes atrás. Maria rezava com toda a sua fé para que alguém abrisse a porta do banheiro querendo usá-lo e interrompesse tudo aquilo.
– Agora! – exclamou Luiza.
As três mergulharam os respectivos dedos na água gelada. O pouco sangue que estava na pele misturou-se à água sem mudar a tonalidade dela.
– Sanguineum Maria, Sanguineum Maria, Sanguineum Maria! – Falaram em uníssono.
O sinal indicando o fim do intervalo soou, estridente, fazendo as três darem um pulo de medo e soltarem gritinhos baixos que logo foram seguidos de risadas nervosas. Isabel acendeu a luz e balançou a mão engolindo em seco.
– Viu? Ninguém apareceu para arrancar nossos olhos. – afirmou Luiza rindo de um modo um pouco tenso – Vamos logo para sala, o professor de geografia sempre corre para entrar primeiro e deixar os lentos do lado de fora.
As três meninas suspiraram aliviadas ao sair daquele lugar. Seus corações outrora acelerados, já voltavam ao ritmo normal a medida que elas caminhavam para sua classe. Aquilo estaria fora das memórias delas em pouco mais de duas horas. Porém, alguém não esqueceria daquilo tão cedo. A mulher aceitou o sacrifício das garotas. Ela gostava de brincar, arrancar os olhos das pessoas era algo ridículo. Entediante. A coisa mais divertida que aprendera ao longo dos séculos de sua história era que não havia nada melhor que uma brincadeira.
O espírito era paciente, ele sabia que a melhor forma de terror era o psicológico.
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