Iocum escrita por Karollin


Capítulo 1
O início


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a quem quer que esteja lendo. Fico muito feliz por darem um chance à história! Prometo tentar assustá-los nem que seja um pouquinho xD

Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/548094/chapter/1

Como todas as péssimas ideias, aquela começou como uma brincadeira.

As três estudantes do ensino médio se encaravam no espelho retangular e um pouco manchado de água nas bordas. Todas tentavam parecer sérias, como se estivessem prestes a fazer algo que mudaria suas vidas, mas duas não estavam conseguindo parar de rir da coisa idiota que estavam para fazer.

– Quem vai fazer? – perguntou Maria.

A garota possuía o cabelo cacheado que ia até sua cintura, pele morena e os olhos castanhos demonstravam a mais pura hesitação. De todas, ela era a que mais acreditava em espíritos. Até agora não sabia como tinha sido convencida a participar daquilo. Assim que se perguntou aquilo, logo sua mente deu-lhe a resposta. A necessidade de se enturmar havia, mais uma vez, falado mais alto que suas superstições.

– Eu faço. Vamos ver se alguma loira vem arrancar nossos olhos. – afirmou Luiza divertindo-se com o pavor da colega.

Ela possuía o cabelo curto, liso e preto preso em um rabo de cavalo feito de modo desleixado após a educação física devido ao calor. Por ter jogado queimada há pouco tempo, estava com o rosto ainda um pouco avermelhado pelo exercício físico. Seus olhos claros encaravam seu reflexo e seus braços estavam cruzados. Nem por um instante acreditou que aquilo realmente daria certo. Milhares de pessoas já fizeram aquilo antes, então era impossível que a Loira do Banheiro aparecesse só para elas. Teria que ser um puto azar.

Luiza apagou a luz, mas graça aos raios solares que entravam pela janela o banheiro não ficou escuro. Fechou a porta branca de madeira lentamente para que as dobradiças, sem a devida camada de óleo, rangessem. Aquele som ecoou pelo pequeno lugar deixando o clima ainda mais tenso.

Até mesmo Isabel, que sempre considerava os filmes e livros de terror uma completa palhaçada, estava sentindo o peso de toda aquela carga de expectativa e ansiedade. Ela enrolava uma mecha de seu cabelo tingido de loiro nos dedos, o que indicava sua clara apreensão. Mas ela sabia que era bobagem, assim que tudo terminasse, elas sairiam dali e ririam como bobas. Era só mais uma lenda urbana, afinal.

Ignorando totalmente o pedido para que se usasse somente duas folhas para ajudar na preservação da natureza, Luiza começou a puxar o papel ecológico para entupir todas as três pias brancas. Mesmo não querendo admitir, aquilo estava fazendo-a ficar tensa. Porém, não iria demonstrar medo por uma bobagem – ainda mais na frente das amigas.

– Pelo que eu saiba, não precisa fazer isso para invocá-la. – afirmou Isabel confusa.

– Ontem eu pesquisei e achei várias maneiras diferentes. É claro que elas não dariam certo, dã. Para invocar um espírito não é preciso falar alguns palavrões e chamá-lo como um cachorro, tem que fazer direito. – retrucou sem paciência – Achei um site que parecia mais apavorante e estou testando a tese dele.

Luiza abriu as torneiras e, enquanto a água saía, deu três descargas no vaso branco. Chutou a porcelana três vezes e fechou a porta de alumínio que continha nome dos meninos que várias garotas da escola gostavam. Voltou sua atenção às pias quando elas estavam quase transbordando e interrompeu o fluxo de água. Retirou do bolso de sua calça de tactel azul marinho um estilete e usou-o para fazer um pequeno corte em seu dedo médio.

– Façam um pequeno corte igual ao meu, tem algo a ver com esse ser o terceiro dedo ou algo do tipo. – mandou.

– Essa mulher tem alguma tara com o número três, só pode. – falou Isabel rindo e pegando a lâmina.

Após limpar o metal, fez o corte e ao ver um pouco de sangue sair do ferimento, passou o objeto para Maria. A garota engoliu em seco, não queria fazer mais aquilo, estava apavorada. Será que ainda dava tempo de desistir de toda aquela loucura e ir comprar seu lanche?

– Não me diga que está com medo, Mari. – disse Isabel – É só uma lenda urbana, o máximo que irá acontecer é você ir mal na prova de matemática que faremos daqui a pouco porque ficou apavorada.

– Vai amarelar agora? – perguntou Luiza – Deveríamos ter chamado a Sofia, pelo menos ela iria até o fim. Vamos logo, Mari marica.

Maria não queria fraquejar e desapontar suas amigas. E, como a maioria dos adolescentes, deixou-se levar na onda das colegas. Pegou o estilete, limpou-o e fez o tão esperado corte. Doeu como o inferno e sentiu seus olhos arderem, mas segurou o choro.

– E agora? – perguntou Isabel.

– Temos que mergulhar nosso dedo que cortamos juntas na água e falar Sanguineum Maria três vezes. – orientou olhando para as duas meninas pelo reflexo no espelho. – Prontas?

As duas confirmaram positivamente com a cabeça sem o costumeiro ar brincalhão. A eletricidade ali parecia estar ainda maior do que há instantes atrás. Maria rezava com toda a sua fé para que alguém abrisse a porta do banheiro querendo usá-lo e interrompesse tudo aquilo.

– Agora! – exclamou Luiza.

As três mergulharam os respectivos dedos na água gelada. O pouco sangue que estava na pele misturou-se à água sem mudar a tonalidade dela.

Sanguineum Maria, Sanguineum Maria, Sanguineum Maria! – Falaram em uníssono.

O sinal indicando o fim do intervalo soou, estridente, fazendo as três darem um pulo de medo e soltarem gritinhos baixos que logo foram seguidos de risadas nervosas. Isabel acendeu a luz e balançou a mão engolindo em seco.

– Viu? Ninguém apareceu para arrancar nossos olhos. – afirmou Luiza rindo de um modo um pouco tenso – Vamos logo para sala, o professor de geografia sempre corre para entrar primeiro e deixar os lentos do lado de fora.

As três meninas suspiraram aliviadas ao sair daquele lugar. Seus corações outrora acelerados, já voltavam ao ritmo normal a medida que elas caminhavam para sua classe. Aquilo estaria fora das memórias delas em pouco mais de duas horas. Porém, alguém não esqueceria daquilo tão cedo. A mulher aceitou o sacrifício das garotas. Ela gostava de brincar, arrancar os olhos das pessoas era algo ridículo. Entediante. A coisa mais divertida que aprendera ao longo dos séculos de sua história era que não havia nada melhor que uma brincadeira.

O espírito era paciente, ele sabia que a melhor forma de terror era o psicológico.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? Mereço comentários? *U*

Comentários não são obrigatórios, mas de fantasma já basta a Loira do Banheiro.