Vida em Erebor escrita por Vindalf
Notas iniciais do capítulo
Visita ao Thain
Duelo de Tooks
Visita ao Thain
Darin já estava alimentado e de olho na comida da mãe, enquanto Anna exclamava, maravilhada com o bolo formigueiro de Bilbo:
— Isto está divino! Eu me lembro que você cozinhava bem, mas esse bolo você nunca fez.
— Depois da viagem, eu me afastei dos cozidos e do mingau — admitiu Bilbo. — Mas vamos falar de você. Anna, você sabe o quanto adoro que tenha vindo, mas preciso saber: o que você está fazendo aqui?
Ela suspirou:
— Certo, você merece respostas. Vamos à mais simples. Eu não posso voltar para Erebor. Todos pensam que morremos e estamos mais seguros assim.
— Quero que me diga exatamente o que aconteceu.
Anna recontou sua saga, todas as ameaças contra sua vida, os complôs, o ódio e os xingamentos, culminando na queda no penhasco.
— Thorin e eu sabíamos que seria difícil — comentou ela. — Mas sempre imaginei que eles não encrencariam muito, já que Thorin reconquistou Erebor e é o rei. Caras feias, fofocas maldosas, uns insultos... Foi o pior que imaginei.
Bilbo mencionou:
— Mais ou menos como aconteceu com Dáin, não? Logo depois da Batalha de Erebor. Eu me lembro disso.
Anna assentiu:
— Exato. Mas ser agredida no meu quarto, drogada e quase vendida como escrava? Pior ainda, ver meu filho arremessado por um precipício para morrer? Isso nunca imaginei.
— Isso é mesmo terrível. Mas duvido que Thorin não tenha feito nada quanto a isso.
— Oh, mas ele fez, meu âzyungâl. Eu era vigiada sempre, e só saía sob escolta. Meu agressor foi decapitado na minha frente, em praça pública. É a lei.
A lembrança ainda causava arrepios em Anna, e Bilbo comentou:
— Que horror! Mas por que diz que não pode voltar a Erebor? Thorin certamente a quer de volta... não é?
— Sim, mas eu não posso voltar. Thorin seria obrigado a tomar medidas duras para garantir nossa segurança. Ele se tornaria impopular, odiado até. E a culpa seria minha.
Gandalf observou:
— Você não sabe disso. Está fazendo previsões cegas.
Anna admitiu:
— Pode ter razão. Há o óbvio a considerar. Não me leve a mal, mas não quero que Darin cresça desconfiando de todos que o cercam. Também não quero viver com medo ou cercada de guardas.
Gandalf resmungou:
— Ainda acho que o lugar de uma esposa é ao lado do marido.
— Eu também acho — garantiu Anna. — Mas por meu filho, eu faço qualquer sacrifício. Ademais, voltar faria mais mal que bem à minha reputação.
Bilbo quis saber:
— Que quer dizer?
— Depois de tanto tempo "morta", certamente eu seria acusada de bruxaria. E minhas novas capacidades não ajudam.
— Novas capacidades?
— Nossa Anna expandiu suas habilidades — esclareceu Gandalf, com um sorriso. — Cortesia de Lord Elrond e Lady Galadriel.
— Novos poderes élficos? — indagou Bilbo. — Imagino o que o povo de Thorin diria se soubesse.
Anna completou:
— Por isso eu nunca deixei que ele mencionasse minha verdadeira origem. O que você acha que aconteceria se soubessem que sou considerada kin de Lord Elrond?
O hobbit abanava a cabeça:
— Isso não é bom. Não é bom mesmo.
Anna disse, agora com um suspiro e muitas lágrimas:
— Essa é a minha triste história. Não me escapa o fato de que uma maldição ronda a Linhagem de Durin. Eu tentei quebrar essa maldição e acho que a herdei...! Sem um lar, sem um marido...
— Não diga isso — ralhou Bilbo. — Aqui em casa você é uma Baggins. Família. Você tem um lar. Por isso eu a acolho, Anna. Pode ficar aqui. Seremos nós três, se quiser.
Anna estava emocionada:
— Mil vezes obrigada, Bilbo.
— Mas há algumas coisas práticas a considerar primeiro.
— Como o quê?
— Almoço — disse ele. — Perdemos as elevensies. E depois disso vamos falar com o Thain.
Anna indagou:
— O Thain?
Gandalf esclareceu:
— O Thain é a maior figura de autoridade no Shire. Menos que um rei, quase um Lord, o Thain resolve disputas e cuida da comunidade. No caso do atual Thain, ele também é um excelente organizador de festas! E adora meus fogos de artifício.
— Mas por que eu devo me apresentar a ele? — indagou Anna. — O que ele quer comigo?
— Ainda que você venha morar comigo, precisa requerer direito de residência em Hobbiton para o Thain — explicou o hobbit. — Mas é mera formalidade.
O nome do Thain era Gerontius Took, mais conhecido como Velho Took. Dono de um largo sorriso, o velho hobbit abriu os braços para o amigo:
— Ah, Gandalf! Soube que estava em Hobbiton, e fiquei imaginando se viria me ver.
O mago saudou:
— Não perderia essa oportunidade. A família vai bem, espero.
— Sim, e crescendo ainda mais, Eru os abençoe. Vamos nos sentar e apreciar um pouco do Longbottom?
— Talvez mais tarde. Desta vez, a visita é de Bilbo.
— Bilbo? Bilbo Baggins? — Só então o Thain notou Bilbo e Anna (com Darin no colo). — E trouxe convidados! Entrem todos, por favor.
A toca do Thain era tão aconchegante como quanto qualquer outra: uma lareira acesa, poltronas confortáveis e bebidas quentes. O Thain indagou:
— Então, Bilbo, meu rapaz, quem é sua convidada encantadora?
— Thain, esta é Anna, uma grande amiga, e seu filho Darin. Eles vieram saber se podem fixar residência em Hobbiton, pois ambos se viram sem abrigo após um ataque cruel de inimigos.
O Thain pareceu penalizado:
— Oh, então a senhora perdeu seu marido no ataque? Meus pêsames.
Anna trocou Darin de braço, pois ele queria ir para o chão e mexer nas coisas da casa, e corrigiu:
— Não, meu marido está vivo, mas não pode viajar. Ele é Thorin II, de Erebor, Rei Sob a Montanha.
Os olhos do Velho Took se arregalaram, e Bilbo se adiantou:
— Está tudo bem, vovô. Não haverá nenhuma implicação política.
Antes que Anna registrasse a informação "vovô", o Thain continuou:
— Como assim? É claro que haverá implicações políticas! Não é à toa que o chamam de Baggins Biruta! — O velho hobbit parecia horrorizado. — A dama está aqui, o marido dela está lá, e ele é um rei! E se ele resolver mandar seus exércitos para levá-la de volta? E esse bebê... É o herdeiro?! Oh, Senhora Yavanna, estamos condenados!
— Vovô, por fav-
O hobbit ergueu as mãos, desesperado:
— É o fim do Shire! Anões ferozes vão nos invadir e conquistar nossas terras! Destruição e ruína nos esperam! Bilbo, meu rapaz, o que você fez desta vez?
Anna estava assustada, e arrasada. Mas ela se ergueu, garantindo:
— Talvez seja melhor irmos embora. Se acha que nossa presença aqui, minha e de meu filho, é um perigo para todos, é claro que vamos embora. Obrigada por nos receber, Thain. E obrigada por tudo que fez por nós, Bilbo. É melhor irmos, Gandalf.
O hobbit se ergueu:
— O quê? Não! Anna, espere! Thain, por favor. Vovô, entendeu tudo errado. Ela não está fugindo do marido. Thorin sabe onde Anna está. Ele não representa ameaça nenhuma, e não pretende nos conquistar!
— Tem certeza? — quis saber o Velho Took. — Como pode estar tão certo? Preciso tomar conta de meu povo.
Anna ficou tão desanimada que não pôde evitar uma lágrima.
— Seu Thain tem razão, Bilbo. Ele tem que proteger seu povo. Darin e eu vamos para um outro lugar.
— Não! — O hobbit estava se avermelhando, as narinas se inflamando, a voz ficando mais aguda. — Você vai se mudar comigo para Bag End, e todo o Shire continuará na mais total e absoluta segurança! Eu não vou despejar você e seu bebê na rua e no frio! E se o Thain do Shire não tem nem vergonha de sequer sugerir isso, então meu avô devia ter, porque não foi isso que ele ensinou minha mãe!
Por um minuto a voz alta de Bilbo reverberou na toca, mas a gritaria assustou Darin, que prontamente se pôs a chorar. Bilbo tentou se desculpar com o bebê, Anna tentou acalmar os dois, enquanto Gandalf e o Velho Took observavam a cena. Do lado de dentro da casa, uma voz feminina severa soou, e uma hobbit idosa, de cachos dourados, pôs as mãos nas cadeiras, ameaçadora:
— Bilbo Baggins, o que acha que está fazendo assustando essa pobre criança? Devia se envergonhar!
Bilbo parecia constrangido ao responder:
— Desculpe, vovó Took. Eu não devia ter feito isso.
— E não devia ter mesmo! — Ela se aproximou de Anna, sorrindo e tentando brincar com Darin. — Eu sou Adamanta Took, née Chubb, avó de Bilbo. Que bebê lindo você tem, minha querida. Qual é o nome dele?
— Darin.
— Ah, que lindos olhos... E seu nome é Anna?
— Isso mesmo.
Adamanta sorriu, ainda mais porque Darin parara de chorar e encarava a desconhecida de olhos doces com curiosidade:
— Oh, minha querida, acredito que o Thain também queira dizer algumas palavras.
Gerontius suspirou antes de dizer, parecendo arrependido:
— Sim, preciso me desculpar. Meu neto e minha mulher têm razão. Não é muito hobbit de minha parte, especialmente se vocês garantem não haver risco de uma invasão de um exército anão…
Anna ainda acalmava Darin, e assegurou:
— Não estou aqui escondida ou fugindo de meu marido. Claro que preferíamos estar juntos, mas desde que tentaram nos matar, a mim e meu filho, decidi que seria mais seguro sair de Erebor e deixá-los acreditarem que estávamos mortos. Meu marido sabe que estou viva, e ele sabe que não podemos voltar para a Montanha Solitária. Como rei, porém, ele não pode deixar seu povo.
Adamanta pegou o braço de Anna, comentando:
— Oh, pobrezinha...
O Thain assentiu, garantindo:
— Amigos, fiquem tranquilos que tudo o que me contarem será em estritamente confidencial e jamais sairá desta sala. Já que vão morar juntos, digam: por acaso vocês dois não estão... Er, digo, este rei... er, poderia ele ter razão para ter um acesso de ciúmes?
Anna e Bilbo se olharam e soltaram risos. Bilbo respondeu:
— Fique sossegado, vovô. Anna e Thorin foram feitos um para o outro. A única razão para Anna ir morar em Bag End é porque é grande demais para um solteirão como eu. Só isso.
Anna tentou brincar:
— E terei muita sorte de conseguir que ele me dê a receita do bolo formigueiro.
Adamanta exclamou:
— A receita é minha, eu ensinei para minha Belladonna, a mãe de Bilbo! Terei muito prazer em ensiná-la.
— Oh, obrigada.
— Por que vocês todos não ficam para o lanche da tarde? — convidou Adamanta. — Gostaria muito de conhecer melhor nossos vizinhos.
Calado até o momento, Gandalf respondeu, entusiasmado:
— Excelente ideia! Meu amigo Gerontius, Bilbo e eu teremos oportunidade de apreciar um ótimo fumo enquanto as senhoras trocam receitas e ideias interessantes.
A sugestão foi aceita de imediato, e essa foi a apresentação de Anna ao modo de vida dos hobbits e suas famílias.
Era apenas o começo.
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