As coisas estavam indo de mal a pior.

Depois de dois dias sem ter nenhuma ideia do porque de Wakamatsu estar a seguindo, Kashima tinha até se acostumado um pouco com sua presença. Tudo bem que ela tivera de acalmar as garotas dizendo que não, não havia nada entre eles e ainda não sabia direito como agir perto de seu kouhai, mas mesmo assim ele não era tão ruim.

E foi assim que ela pensou nisso...

Que o mesmo resolveu fazer algo completamente inesperado e a jogar para fora do eixo novamente.

– Kashima-senpai! Por favor, saia comigo! – O mais novo estava no momento curvado a quase noventa graus para frente, rosto vermelho e tinha acabado de exclamar isso no meio do jardim da escola.

– Ah...! W-wakamatsu, não precisa se curvar assim, uh! – Ela estendeu ambas as mãos em sua direção, olhando em volta para ver se alguém ouvira aquele grito. Depois, voltou-se para ele novamente – que tinha levantado, rosto vermelho e um brilho determinado nos olhos.

– Por favor, Senpai! – Ele insistiu, punhos fechados junto a seu torso e aparentando estar nervoso.

A garota abriu um sorriso sem graça, sentindo uma gota de suor descer pela testa. O que ela poderia fazer...? Ela pensara que Wakamatsu só ficara grato por alguma coisa que ela fizera e começara a seguir por aí, mas agora...

Kashima encarou mais uma vez o escarlate que coloria o rosto de seu kouhai, e sentiu vontade de suspirar. Nunca poderia imaginar que isso poderia ter acontecido – que o garoto que sempre andava com Seo, o que a confundira com um garoto, poderia ter se apaixonado por ela, mas...

Ela não sabia o que fazer num momento como esse. Uma coisa eram garotas encantadas por seus elogios que queriam sair com ela, mas Wakamatsu não era afetado por eles... Então isso queria dizer que ele gostava dela além disso? Como isso sequer acontecera?

É a primeira vez que eu tenho que lidar com isso... A garota engoliu em seco. Será que eu devo rejeitar ele...?

Kashima imaginou brevemente um Wakamatsu chorando rios enquanto corria pela escola, e comprimiu os lábios. Isso não seria legal para ele nem para ela.

Então...

Ele provavelmente estava esperando se declarar para ela no encontro, ela sabia. Wakamatsu parecia bem tradicional nessas coisas pelo que tinha observado esses últimos dias – se bem que, antes, as ações dele tinham a feito acreditar que ele gostava da Seo... Enfim, isso não vem ao caso – então fora fácil perceber o que planejava.

No meio da escola durante as aulas não seria muito bom, mas... Talvez se ela falasse com ele quando estivessem no encontro as coisas tomariam um rumo melhor. E, também, Kashima não queria arriscar ter ele a procurando depois e repetindo seu pedido na frente de um corredor inteiro.

–... Pode ser. - Ela disse enfim, um sorriso sem graça se formando em seu rosto.

– S-sério? - Se antes Wakamatsu parecia corado, isso não se comparava nem um pouco com agora. Além disso, ele definitivamente não estava brilhando desse jeito antes. - S-senpai, muito obrigado!

– Sim, sim... Só me procure depois para combinarmos melhor o horário, ok? - Ela continuou, sentindo mais uma gota de suor descer por seu rosto pelo nervosismo. - Err... De preferência em um lugar sem muita gente.

– Sem problemas! - O mais novo não pareceu ter se incomodado com isso, pois continuou na mesma animação de antes. - Obrigado mesmo, Kashima-senpai! E-eu te vejo depois, então!

E, ainda vermelho e parecendo absurdamente feliz, lá foi ele em direção à entrada do prédio. Kashima suspirou, observando-o ir, e levantou uma das mãos para coçar a cabeça.

Um encontro... Ela realmente não fazia ideia de como agiria em um sem usar seu charme. Mas, também, ela sempre poderia apenas agir normalmente...

– Ah, isso é confuso! - A garota falou para si mesma, bagunçando seu cabelo levemente para abaixar sua mão depois. Ela nem queria ir nesse encontro em primeiro lugar! A única pessoa que vinha à sua cabeça quando ela pensava em ir a um encontro com um garoto era...

– Kashima.

Ela se virou, e arregalou os olhos.

– S-senpai? - Kashima piscou, sentindo-se corar um pouco. Ela acabara de pensar nele, e Hori tinha surgido do nada! Será que ele tinha a ouvido falar sozinha? Será que ele vira Wakamatsu a chamando para sair? Por algum motivo, esse último pensamento só a fez ficar mais nervosa.

Hori não falou nada, continuando a encarar com um olhar sério no rosto. Ele parecia... Aflito, de algum modo. O nervosismo que antes parecia dominar seu corpo deu lugar à preocupação.

–... O que foi, Senpai? - Ela repetiu, retornando seu olhar.

Ele abriu a boca para falar algo, mas fechou-a em seguida. Depois, fitou-a uma última vez.

–... Nada. Não se atrase para sua aula, o intervalo está quase acabando.

– Eh? - Kashima piscou, sua confusão com a fala dele a impedindo de dizer algo quando o mesmo passou por ela para ir na mesma direção que Wakamatsu tinha ido. Quando ela voltou a si, se virou.

– Espera, Senpai!

Ele não a ouviu - ou pelo menos não pareceu ouvir. Kashima continuou parada, sua preocupação aumentando. O que fora aquilo? Primeiro seu kouhai resolve a chamar para um encontro, e agora até seu Senpai resolvera agir estranho?

A garota estreitou os olhos, voltando-os para o chão. Ela preferia ser jogada pelos ares por um de seus chutes a ter que vê-lo daquele jeito.

Será que eu fiz algo de errado?

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Saltitando – sim, saltitando – alegremente, estava o moreno de olhos turquesa. Ele percorria o corredor despreocupadamente, felicidade enchendo seu peito e condensando-se no vermelho que coloria suas bochechas.

Teria continuado o trajeto todo até sua sala daquele jeito se não tivesse sentido algo agarrá-lo pelo ombro e puxá-lo para trás, fazendo com que o mesmo caísse de bunda no chão.

–Waka!

A voz familiar demorou em ser reconhecida pelo seu cérebro já que o garoto se encontrava preocupado com a dor que sentia no momento. Quando o fez, no entanto, rapidamente subiu o olhar e encontrou a figura de uma jovem de cabelos caramelos presos em um rabo-de-cavalo lateral.

–Seo-senpai!

–Yo. – Ela respondeu, levantando uma mão.

–Ah, ol-! Não, espera! – Wakamatsu rapidamente se levantou e encarou a garota, irritado. – Você não pode jogar as pessoas no chão assim!

–É que eu queria falar com você.

–Você podia ter me chamado!

–Mas eu chamei. – Ela cruzou os braços.

Ele parou.

–Chamou?

–Uhum. Três vezes. – Seo levantou três dedos na frente do garoto.

–A- Ah, puxa, desculpa. – O moreno coçou as costas de sua cabeça, envergonhado. – Eu não devo ter ouvido...

–Pois é. – A garota inclinou a cabeça, curiosidade brilhando levemente em seus olhos. – Você tava todo animado. O que aconteceu?

–OH! – O garoto exclamou, o que fez Seo piscar e voltar sua cabeça para o lugar. – É que aconteceu uma coisa muito boa!

–Eeeh? – A loira abriu um sorriso e descruzou os braços, sua curiosidade aumentando. – O quê? O quê?

Será que era algum parque novo que abriu? Ou um filme novo que estreou? Um com muitas mortes e sangue jorrando para todos os la-

Porém, o que o mais novo falou em seguida fez algo muito desagradável quebrar dentro de seu peito e espalhar uma sensação esquisita de frio que rodeou seu pescoço.

–É que a Kashima-senpai aceitou meu pedido para ir num encontro! – Wakamatsu exclamou, brilhos espiralavam por sua volta, explodindo como fogos de artifícios que contagiariam qualquer um a sua volta.

Mas que não fizeram nem cócegas na garota a sua frente.

–... Quê? – Ela perguntou confusa.

–Sim! – O moreno assentiu, sorrindo animado. – Ah, eu tenho que ir, senão vou me atrasar. Até mais, Seo-senpai!

O garoto não percebeu que Seo não devolvera a despedida e deixou apenas que seus olhos avermelhados seguissem a figura dele.

Encontro?

Waka... Com a Kashima?!

Mas o que raios-?!

A loira arregalou os olhos e logo depois franziu o cenho, suas mãos fecharam-se em punhos.

–Epa, pera aí! Não! Eu sou a única senpai legal que pode dar um apelido pro Waka! – Ela exclamou em pensamento, fazendo bico, e girou nos calcanhares.

Precisava encontrar uma certa garota de cabelos azuis escuros.

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Lá estava ela, parada no meio do corredor e parecendo se dirigir na direção de seu armário.

–Ei, Kashima!

Mas no exato segundo que ouvira seu nome com aquela intensidade, paralisou e teve seu corpo jogado para trás – pelo nada...? –, depois se virou para trás rapidamente e pôs os braços a sua frente com as mãos esticadas e os dedos colados. Provavelmente, uma posição de defesa ridícula da qual Seo teria caído na gargalhada em uma situação normal.

O que não era o caso.

A mais alta piscou por alguns segundos e ao perceber quem era, relaxou e suspirou.

–Sim, Seo-sama? – Ela sorriu. Ah, sim, aquele apelido.

–Como você conseguiu?

–Consegui o quê? – Kashima piscou inocentemente.

–Fazer o Waka sair com você! Quer dizer, eu tive de tentar convencer ele durante dois dias inteiros pra ele ir comigo ver a partida de luta livre! – A loira bufou com as mãos na cintura.

Com “convencer”, Yuzuki quis dizer, fora ficar importunando seu kouhai constantemente e ameaçando levar algum dos amigos dele para que o mesmo concordasse.

Se você tivesse uma ideia melhor de encontro, talvez ele aceitasse mais rápido. A garota de cabelos escuros e curtos pensou, uma gota de suor descendo por sua testa.

–Hein?! – A outra se aproximou, impaciente. Kashima levantou as mãos.

–E- Eu sei lá! Ele só veio me perguntar! E Seo-sama, você sabe o que tá havendo? – Talvez a sua professora de canto soubesse o que se passava com ele. – Por que ele anda me seguindo por aí e dizendo olá toda vez que me vê?

Seo baixou os braços e inclinou a cabeça levemente para o lado.

–Ué, mas ele não faz isso sempre? – Ela perguntou e a mais alta a encarou.

... Esses dois são bem próximos, né? E trouxe uma mão perto do queixo. Mas então por que ele me chamou para sair? Por que ele começou a gostar de mim? Ele não devia gostar dela? ... Argh! Eu não tô entendendo nada!

Ah, tinha outra coisa.

–Uh, mas, bom... Você não tem problema em eu sair com ele? – Ela perguntou e terminou em pensamento. Por que agora que eu disse sim, não acho que seria legal voltar atrás...

–Eh? Por que eu teria? – Seo levantou uma sobrancelha e Kashima a encarou.

–Ok. Se você diz, eu vou, mas... Seo-sama...

–Hm?

–Eu... Acho que o Waka me chamou para sair não só para passar um tempo comigo. Talvez ele queira me dizer algo lá, também. Você tem certeza que tá tudo bem de eu ir?

Não houve resposta, a loira continuou apenas parada.

A mais alta suspirou.

– Bom, eu tenho que ir agora. Mas pense nisso!

E rápido. Sentiu vontade de acrescentar, mas limitou-se em apenas acenar para a amiga e virou-se, voltando para o caminho que trilhava antes de ser chamada.

Yuzuki a observou partir e olhou para cima, pensativa.

–Dizer algo...? – Ela murmurou. – Ah! Será que ela tava falando do apelido?!

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Chiyo suspirou, levantando o pincel da página recém-pintada e pousando-o no pote de tinta na mesinha. Ela normalmente ficaria feliz de passar um tempo sozinha com Nozaki em sua casa, mas a tensão quase constante em que estavam desde alguns dias atrás tinham tirado toda sua animação.

Primeiramente, Wakamatsu não parecera ouvir o conselho que eles o deram - pois continuava seguindo Kashima por aí, ainda mais brilhante que o usual por um motivo estranho. Até a “Príncipe” da escola parecia estar começando a ser afetada por isso, pois parecia levemente aflita das vezes que Chiyo a vira. Yuzuki também parecia mais desligada que o normal, como se estivesse pensando em algo em particular...

Mas o mais estranho não eram eles, e sim a cena que ela vira se desenrolar a algumas horas atrás.

Ela estava andando pelo corredor, no caminho de se encontrar com Nozaki, quando vira Kashima e Wakamatsu parados conversando. Tinha decidido ir falar com ambos, ver se conseguia distrair seu kouhai pelo menos por um momento, e aí...

Hori-senpai tinha surgido do nada, o rosto raivoso usual já a meio caminho de dar uma bronca em Kashima por ela estar atrasada para o ensaio...

Quando ela respondera para ele, com o rosto confuso, que não tinham marcado um ensaio para aquele dia porque a turma de uma parte dos atores teria uma prova no dia seguinte, e foi você que decidiu isso, Senpai, lembra? E Hori piscara, encarando-a por um momento antes de levar seus olhos ao chão, murmurando algo como um ‘Ah...’ antes de se despedir rapidamente.

E Chiyo o vira passar por ela, nem notando sua presença, vermelho e parecendo frustrado. Vira também o olhar preocupado que Kashima lançara em sua direção, que não desaparecera por completo até quando a mesma tinha vindo falar com ela, depois.

Algo tinha acontecido para Wakamatsu ficar tão feliz e aqueles dois, tão alterados. Aquilo estava tomando dimensões muito maiores do que ela poderia imaginar...

E o pior é que, depois disso, Hori-senpai disse que não poderia vir ajudar hoje... A ruiva direcionou seus olhos para Nozaki, que continuava a rabiscar algo à sua frente. Ele parecia estar com problemas em uma página, pois sua testa estava levemente franzida.

– Nozaki-kun? - Ela começou, enfim, observando-o levantar seus olhos a ela. - O Hori-senpai disse se amanhã ele poderia vir?

– Ele disse que talvez sim. - O garoto respondeu, parecendo também preocupado. - Mas ele não parecia muito bem, então eu realmente não sei...

Chiyo fitou o rosto dele por um momento, e bufou. Até Nozaki estava sendo afetado por isso!

– Arrrgh! Nós temos que resolver isso logo! - Ela exclamou enfim, batendo as mãos levemente na mesa em frustração. Não aguentava esse clima pesado, queria tudo de volta ao normal! - Para o Hori-senpai também ser afetado por isso...! E eu também estou ficando cada vez mais preocupada com a Yuzuki...

– Sakura... - O mais velho pousou a lapiseira no papel. - Eu agradeço por me ajudar, mas se você estiver preocupada com a Seo, pode sair com ela ao invés de me ajudar se quiser.

Chiyo levantou seus olhos para ele, piscando.

– Mesmo que eu quisesse, Nozaki-kun, ela provavelmente recusaria... - Ela comentou em seguida, suspirando. - E, também, você ficaria sobrecarregado demais com o mangá e acabaria atrasando a data de entrega! Isso seria horrível!

– Você realmente se importa com Let’s Fall in Love, não é. - O garoto observou, parecendo mais feliz que antes - por orgulho de sua obra ao invés de outro motivo, para sua infelicidade– e ela abriu um sorriso com isso.

– É claro que sim, Nozaki-kun!- A garota falou como se fosse óbvio. - Esse mangá é precioso para você, então é claro que eu me importaria com ele.

Chiyo desviou seus olhos para a mesinha em seguida, sorriso diminuindo um pouco. Por que, afinal, você é a pessoa mais preciosa para mim... Como se eu fosse conseguir dizer isso em voz alta.

Ela não conseguiria falar aquelas palavras, não depois do último fracasso no festival. Tinha convencido a si mesma a esperar, mas... Ainda assim, se encontrava triste por não ter coragem de terminar aquela frase. Era engraçado.

– Ah, mas bom, eu acho que terminei por hoje! - A garota comentou em seguida, levantando os dois braços para se espreguiçar, ainda não dirigindo seus olhos a ele. - Tudo bem se eu for agora, Nozaki-kun? Consegui adiantar todos os betas para as páginas terminadas...

– Ah, claro...

Ela suspirou de alívio internamente ao ouvir isso. Apesar de querer ajudar o máximo que podia, já estava ficando tarde e ela não achava que conseguiria olhá-lo de frente depois de sua declaração inacabada.

– Bom, então até amanhã! - Chiyo apanhou sua maleta, direcionando um último sorriso a ele antes de caminhar até a porta, não esperando até que ele fosse fechá-la.

No final, até ela mesma estava ficando afetada com aquela situação toda. Não podia deixar isso acontecer!

Força, Chiyo! Você não pode se desanimar por isso! Foi o que disse a si mesma, mãos fechando-se em punhos assim que fechara a porta.

Em sua recém-encontrada determinação e covardia de momentos antes, Chiyo mal notara o garoto ainda sentado no mesmo lugar em frente à mesinha, encarando a porta com o olhar surpreso e rosto levemente corado.

Talvez, sem perceber, ela acabara sendo direta o suficiente.