Sempre soube que escrever essa carta seria difícil, e os motivos não poderiam ser mais óbvios: há uma necessidade quase inumana de encontrar as melhores palavras para descrever a pessoa amada. Eu podia simplesmente dizer que te amo, mas, outra vez eu me pergunto, seria o suficiente? E tudo o que você fez por mim, isso também não merecia ser registrado? Foi na minha insustentável dúvida que acabei decidindo que, assim como o nosso relacionamento, essa carta seria dividida em três pilares. Nada muito longo (quase posso ouvir o seu suspiro de alívio); não é pela quantidade de caracteres que se deve medir o amor, e, sim, pela intensidade.

Mas, afinal, o que essa intensidade representa?

Para mim, tudo; no sentido mais banal da palavra. É a entrega, o desejo, a vontade de oferecer o mundo ao outro, sem exigir nada em troca.

Isso me faz pensar naquele fim de festa, na Estrada do Arraial, quando eu, enciumada com tudo ao meu redor, pedi para ir embora. Você não gostou da ideia, e disse que estava cedo demais. Mas eu, interpretando aquilo como uma confirmação para os meus receios, apontei para uma loura no outro lado da calçada, te acusando de estar olhando para ela (a acusação valia para toda e qualquer mulher atraente que cruzasse o nosso caminho!). E mesmo com a paciência extrapolando os limites, você simplesmente me encarava, enquanto eu, mais uma vez envergonhada pelo meu comportamento absurdo, me preparava para o pior: é agora que ele vai embora e me deixa para sempre!

Mas, em vez disso, você me abraçou, segurou minha mão e, numa voz mais suave que o normal, pediu que eu tivesse paciência. Foi só então que eu finalmente entendi o que há muito eu tinha perdido: confiança. Não em você, mas na minha própria capacidade de ser amada. As falhas nesse aspecto da minha vida eram imensas, e eu não podia esperar que você as corrigisse, quando o trabalho deveria partir de mim. E vendo que não restava outra saída, eu decidi que era hora de deixar para trás todas as recordações que causavam dor. Palavras maldosas, vazias, que não significavam absolutamente nada diante do que eu sentia por você.

Acolhida por teus braços, sendo tranquilizada por tua respiração, a única grande certeza que eu tinha era de que se tratava de amor. Eu seria capaz de tudo, do mundo, para que aqueles nossos segundos juntos jamais terminassem. Eu já não odiava o meu reflexo, nem mesmo as vozes do passado, que tanto me disseram que meu rosto não seria capaz de atrair olhares. Nada disso era importante, não ali, perto de você; onde eu me sentia amada e segura pela primeira vez na vida.