Versos de Orgulho escrita por Lab Girl


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Mais uma vez, obrigada pelos comentários. É muito bom saber que meu desabafo em forma de fanfic corresponde ao que tantos de nós queríamos ver na novela. Apesar de no capítulo anterior a Megan ter dado uma sambadinha no Davi, não posso esquecer que ela ainda é... a Megan. E, como tal, ainda tem seu lado frágil, vulnerável e inseguro. É o que vamos ver no capítulo a seguir. Esperamos que gostem. Boa leitura!



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Estava tarde. E frio. E ela estava cansada. E zonza.

Depois de meia hora rodando com o carro, sem rumo, acabou caindo no já tão conhecido trajeto da Gambiarra. Agora, parada do lado de fora daquela garagem familiar, relutava se devia ou não descer.

De todas as coisas que tinham acontecido naquela noite, passadas algumas horas, só o que havia em sua lembrança eram os olhos magoados de Davi quando ela o deixou parado naquela calçada. Ele tinha ido atrás dela. Pela primeira vez, alguém tinha realmente se importado e ido atrás dela.

Não só isso, ele a tinha defendido daquele estranho com mãos de polvo. Nunca antes Davi demonstrara ciúme… seria ciúme mesmo? Ela não sabia. Sua cabeça estava zonza demais para refletir sobre qualquer coisa. Tudo o que queria era um lugar quente para deitar.

Olhando novamente para o portão daquela garagem, seu coração se apertou. Aquele lugar abrigava tantas lembranças… assim como os braços de Davi já haviam abrigado seu corpo tantas vezes. E ela sabia, agora com toda a certeza, que o peito dele abrigava sua alma.

Megan encostou a testa ao volante. E chorou. As lágrimas descendo, quentes, por seu rosto. Não era a primeira vez que chorava. Mas parecia assim. Ela se sentia desamparada, sem rumo, como nunca antes. Sua vida tinha virado de cabeça para baixo numa única noite. Sua família estava desfeita e até seu único porto seguro, Davi, provavelmente já não tinha mais.

Seu corpo saltou com o susto quando ouviu batidas no vidro da janela. Erguendo o rosto, ela o viu. De pé, do lado de fora. Os olhos ainda doídos, uma expressão cansada no rosto. Mas ele estava ali.

“Vem, vamos entrar” ele fez sinal com a cabeça.

Megan abriu a porta e desceu do carro. Davi passou as mãos por seu rosto, secando as lágrimas. Ela sentiu o interior se aquecer.

Então, ele pegou sua mão e, dessa vez, ela não a puxou de volta. O contato foi tão bem vindo, produzindo uma sensação gostosa de calor e proteção.

Ele se inclinou para dentro do carro e retirou a chave da ignição, fechando as portas e acionando as travas.

Antes que eles andassem para a garagem, Megan apertou a mão dele, precisando que ele a ouvisse.

I´m sorry, Davi… me desculpa.”

Ele não respondeu. Apenas a puxou de leve na direção da entrada.

Mas ela insistiu. Precisava que ele soubesse que estava arrependida por ter dado as costas a ele daquela maneira e mandado ele embora quando ele só queria protegê-la.

“Por favor, me perdoa” ela tocou a gola da camisa dele.

Davi olhou para seus dedos agarrados ao tecido, em seguida, suspirou.

“Vamos entrar, Megan. Você tá gelada” ele passou os braços em torno dela.

Megan sentiu-se instantaneamente aquecida. Recostou a cabeça no ombro dele e deixou-se guiar para dentro do quarto/garagem.

O interior estava, como sempre, acolhedor e impregnado do cheiro de Davi. Ela inspirou, fechando os olhos.

“Senta aqui” a voz suave dele chegou aos seus ouvidos.

Megan abriu os olhos e obedeceu. Assim que seu corpo aterrissou na superfície macia ela viu o mundo rodar. E achou graça. As luzes da luminária colorida dele que imitava um globo de boate pareceram se espalhar em mais mil tons pelas paredes, pelo teto.

Quando sentiu as mãos quentes e firmes de Davi em seus pés, retirando os saltos, lembrou-se da história que sua mãe lhe contava quando era menina. Mas, no caso em questão, o Príncipe a estava descalçando. O que a fez rir.

“Cócegas? Desculpa” ele murmurou.

No, no” ela balançou a cabeça, ainda rindo. “É só que eu estava me lembrando da história da Cinderella… vocês conhecem por aqui?”

“Cinderela. Claro.”

“Eu estou me sentindo como ela agora. Só que me lembrei que na história da Cindy o príncipe calça o pé dela, não o contrário. That´s so funny, right?

Ele a olhou sem perceber a graça. Mas Megan não se importou. Ela entendia e isso bastava.

Assim que seus pés ficaram livres, ela remexeu os dedos que tinham ficado comprimidos no calçado por horas. Sentiu Davi se afastar por alguns segundos, e, quando retornou, as mãos quentes a tocaram de novo. Dessa vez, puxando seu corpo gentilmente do sofá. Megan arfou, um arrepio bem vindo percorrendo sua pele.

Mal interpretando as intenções dele, ela levou as mãos ao rosto de Davi, buscando a boca dele com a sua.

“Megan…” ele afastou as mãos dela gentilmente e suspirou. “Eu preciso trocar a sua roupa, ok?”

Sentindo-se uma tola, Megan abaixou os braços. Davi tornou a erguê-los, puxando a manga da blusa por um, depois pelo outro. Ela permitiu, cansada demais para se despir sozinha e necessitada do contato.

A forma cuidadosa como Davi a ajudava a livrar-se das peças, por mais que a arrepiasse, era um gesto tão cuidadoso, guardava uma certa pureza. E ela se sentia menina outra vez. Indefesa e frágil.

Por um breve instante, seus olhos arderam, enchendo-se de novas lágrimas que ela não sabia de onde vinham. Fungando para disfarçar, ela abaixou a cabeça, evitando olhar para Davi. Porém, foi inevitável quando ele esbarrou sem querer na base de um de seus seios.

“Desculpa” ele sussurrou, atrapalhado.

Ela fungou e riu ao mesmo tempo. Como ele podia ficar sem graça com isso quando já haviam feito amor tantas vezes e visto o corpo um do outro sem nenhuma barreira?

Silly boy.”

Ele sorriu pela primeira vez desde que ela chegou ali. E isso fez Megan sentir-se um pouco melhor naquela noite caótica.

Assim que Davi começou a vestir uma velha camisa de botões nela, Megan sentiu o cheiro dele na roupa. Aspirou o perfume gostoso e masculino, fechando os olhos e esfregando o rosto no tecido macio.

I like it!” ela murmurou.

“Vem, Megan. Vem pra cama” ele a puxou pelas mãos.

Ela abriu os olhos, sorrindo ao vê-lo. “Você está aqui. Eu sinto seu cheiro no quarto, na roupa… e você está aqui. Comigo.”

“E você não está fazendo sentido. Vem comigo, vem. Cê precisa descansar.”

Ela deixou que ele erguesse seu corpo do sofá, puxando-a pelas mãos. Mas não conseguiu ficar firme nas pernas quando se levantou, e quase caiu, não fosse pelas mãos dele amparando sua cintura e costas.

O movimento fez com que ficassem bem próximos, os rostos a meros centímetros. Ela conseguia sentir o hálito quente dele escapando pelos lábios entreabertos. Sentia a respiração levemente agitada com o peito dele arfando contra o seu. Megan não resistiu… abriu a boca e molhou os próprios lábios, repentinamente secos, com a ponta da língua. Percebeu que os olhos de Davi acompanharam o movimento.

Incapaz de ficar imune a ele, ela fechou a distância entre suas bocas. Um beijo simples. Carinhoso. Ele aceitou e até retribuiu. Mas não durou mais do que meros segundos. Logo as mãos dele estavam afastando seu corpo e ele suspirou.

“Megan, vem se deitar. Vem, eu ajudo.”

Ela queria insistir em continuar a beijá-lo. Mas seu corpo estava ficando cada vez mais fraco para obedecer seus comandos. De modo que não lhe restou muita alternativa além de ser levada por Davi até a escada que dava acesso à cama.

Virando-a de costas, ele a empurrou devagar para cima. “Segura, segura.”

Ela fez conforme o comando. E uma onda de risos a atacou ao lembrar-se de que já haviam estado ali antes, só que em situações diferentes.

“Megan, por favor, segura firme.”

A voz dele não serviu de muito estímulo, sua mão direita escorregou na madeira e ela quase caiu para trás, não fossem novamente as mãos habilidosas de Davi mantendo-a firme no lugar.

Estava cansada demais para lutar com a escada. Reclinando a cabeça para trás, acabou encontrando um ombro amigo. Riu do próprio pensamento. Escutou o suspiro dele contra seu ouvido.

“Megan, eu desisto. Vem pro sofá mesmo.”

Ela foi praticamente arrastada de volta para onde estava antes. Fez muxoxo.

“Pra que me fez levantar, então?”

Ele a colocou sentada e se afastou.

Don´t goooo” Megan choramingou, esticando os braços para ele.

“Eu não vou embora.”

Ele jogou o velho colchão no chão, armando aquela espécie de cama que fazia sempre que dormiam juntos. Ela sorriu. Quando ele se reaproximou, ajeitando-a de forma que ficasse deitada com a cabeça nas almofadas e esticando suas pernas sobre o colchão macio, Megan piscou, observando-o como se o estivesse vendo pela primeira vez.

Davi abriu um cobertor e colocou por cima dela, ajeitando-o em torno de seu corpo. Ela tocou o rosto dele com as duas mãos. Ele parou o que fazia e a encarou.

Megan deixou os polegares roçarem a barba que ele usava sempre por fazer. Sexy e madura. Como ele era.

“Você é o nerd mais lindo que eu já vi” ela murmurou.

Sem jeito, Davi abaixou os olhos e continuou a ajeitar a coberta. “Descansa. Você precisa.”

Antes que ele pudesse se afastar, ela o segurou por um braço. “Você vai me deixar?”

A preocupação, de repente, passou por sua cabeça e a angustiou. Ele estava cuidando dela, mas ainda estava distante. Depois do que havia dito a ele do lado de fora da boate e do que ele havia respondido, não duvidava que ele tivesse realmente decidido deixá-la em paz e seguir em frente. E ela não conseguia suportar a ideia agora que a raiva havia baixado.

Sem responder, Davi suspirou e tocou a mão dela que lhe segurava o braço, afastando-a com carinho. “Amanhã a gente conversa. Agora, dorme.”

Não era o que ela queria ouvir. Seus olhos tornaram a arder e ela piscou, tentando afastar as lágrimas.

“Davi, please, não me odeie.”

Ele balançou a cabeça. “Eu não te odeio. Nunca poderia te odiar.”

“Então, please… don´t go. Não vai.”

Davi ficou parado alguns segundos, olhando para ela. Quando Megan já estava certa de que ele lhe daria as costas e sairia do ambiente, viu ele subir na cama improvisada. Com um suspiro, ele sentou-se ao seu lado.

Megan piscou, sentindo a vontade de chorar voltar, mas por uma razão diferente. Davi esticou um braço e ela prontamente se aninhou contra o peito dele. Fechou os olhos, inspirando fundo. O perfume dele - da pele e da camisa que ela usava - invadiram suas narinas.

Ela se deixou confortar pelo cheiro e pela presença de Davi. Sólida e tão certa. Não havia nada no mundo que a fizesse sentir mais protegida. Estava, finalmente, em casa.


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