Destinazione escrita por Nancy


Capítulo 22
Segunda parada: Cuba




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Nassau. Uma das maiores e mais importantes cidades daquele recanto do mundo e também o maior ponto de encontro de piratas. Uma terra sem lei, mas que sabia respeitar os maiores dos capitães para que continuasse existindo.

 

Certo rapazes, irei lhes dar minha honesta opinião. Vocês me perguntam se esse novo capitão pode lhes oferecer uma vida de prêmios, prazeres e aventuras...

Sim.

Dentre todos os cavalheiros que navegam por essas Índias, ele é um dos mais inteligentes. Houve um tempo em que eu me achava a escória dos mares, mas esse homem... Ele é um cão destemido que se alimenta de problemas e confusões. Eu já o vi limpar o deque de um galeão espanhol como se não fosse nada. Ele luta como o demônio, mas se veste como homem. E não se enganem, ele conhece cada caminho e passagem dessas ilhas.

Então, se é aventura e fortuna que busca, Capitão Kenway é seu homem...

Mas...

Não se meta em seus assuntos, pois há mais mistério sobre ele do que eu me atrevo a perguntar.

 

Das sombras ela ouvia àquele discurso e sorria ironicamente. Apenas quando todos os homens se afastaram de Thatch foi que a figura encapuzada se aproximou, se sentou à mesa de frente para o capitão e roubou sua caneca de rum.

— Eu podia jurar que estava descrevendo outra pessoa. – Provocou, arrancando um riso do homem.

— Não posso evitar em ajudar aqueles que necessitam de certa atenção. – Ele estendeu a mão e roubou de volta a caneca, virando o resto da bebida que escorreu pela barba longa.

Thatch era conhecido por ser um dos homens mais severos das índias ocidentais. As lendas sobre ele diziam que seus prisioneiros podiam ter desde uma morte rápida e indolor, até uma lenta e dolorosa como o envenenamento por enxofre enquanto estavam aprisionados no sótão de seu navio. Mas aquelas eram as lendas sobre ele e não o homem de fato. Percebendo o olhar sério e perdido de Maya, ele se levantou, deu a volta na mesa e estendeu o braço para ela, que prontamente aceitou o convite e caminhou para fora da taverna. Não havia uma só alma consciente que não abrisse caminho para aqueles dois, pois Thatch sabia colocar medo em qualquer um e sempre ao seu lado estava a misteriosa e mortal Sereia, possivelmente a única mulher que as índias ocidentais sabiam respeitar, simplesmente pelo medo que a menção de seu nome causava.

Ancorado nas docas, numa distância segura dos bancos de areia de Nassau estava uma das últimas aquisições de Thatch, agora conhecido e temido como Barba Negra, o Queen Anne’s Revenge. Uma grande fragata que carregava mais canhões que carga.

— Algo lhe preocupa. – Thatch quebrou o silêncio. Agora sentados numa mesa em sua cabine a bordo do navio e sem olhares e ouvidos curiosos ao redor.

A Sereia finalmente retirou o capuz que cobria seu rosto e deixou o manto preto de lado. O corset preto e bordado com fios de ouro chamava ainda mais atenção sob a luz de velas e seus cabelos laranja pareciam ter vida debaixo da ondulação do fogo. Se não a conhecesse, Thatch poderia temê-la mais que o comum. Ela se movia silenciosa como um gato e delicada como uma bailarina real e aquilo era sua maior arma, ele sabia. E não à toa era conhecida como Sereia, pois sua delicadeza encantava o mais poderoso dos homens e depois da sedução, ela o afogava e exibia seu corpo em algum lugar público para desgraçar qualquer feito e substituir por seus crimes. Ela já havia feito aquilo com centenas no tempo em que esteve nas índias ocidentais, mas daquela vez precisava cuidar de um peixe grande e inimigo direto que lhe tirava o sono.

— Muitas coisas me preocupam, Edward. – Tratou o pirata pelo primeiro nome, como costumava fazer quando estavam a sós, o que não era raro. – Nassau e suas doenças, as treze colônias, Torres... – Ela acabou se perdendo no nome, tomada pela raiva que a menção lhe trazia.

— Torres? – Thatch que servia rum em canecas de metal parou e olhou para a ruiva. – O governador?

Maya assentiu e respirou fundo. Desde sua ascensão a grão-mestre, Torres havia se tornado uma dor de cabeça sem fim para ela, especialmente pela dificuldade em derrubá-lo. A máscara de bom homem que ele usava em público era extremamente convincente acompanhada de suas boas ações e isso era uma enorme pedra em seu caminho. Sem falar em sua busca incessante pelo Observatório.

— Obrigada. – Agradeceu pela caneca de rum estendida pelo capitão.

— Por que ele a incomoda? – Ergueu a caneca num brinde e bebeu longos goles do álcool.

— Ele está atrás de algo em que não deve meter o nariz.

— Um dos seus templos, não é? – Ele tirou o chapéu e o deixou de lado, encarando os olhos verdes e duros de Maya.

Ela respirou fundo e sorriu para si mesma. Obrigando-se a lembrar que estava na companhia de um dos homens mais confiáveis que conhecera. Aquele bisbilhoteiro que teve a audácia de invadir a cabine de seu navio tantos anos antes e ler seus documentos, o mesmo que para ter certeza de que lera não menos que verdades loucas, meteu-lhe um tiro no peito para garantir que ela de fato não poderia morrer por meras mãos mortais. Edward Thatch, o homem que sabia tanto, mas se recusava a fazer parte de algo como sua ordem. Barba Negra e seu temido navio, nomeado em homenagem a alguém que Maya havia quase esquecido que um dia foi: Rainha Ana.

— Sim. Ele tem informações sobre um dos templos. Os templários têm documentos que remetem a tempos anteriores ao meu, é impossível destruir todos. – Ela passou as mãos pelos cabelos soltos. – Me sinto brincando de gato e rato e eu odeio isso.

— Eu sei. E também sei que isso não vai durar muito. Conheço bem o jeito que lida com situações que te irritam. – Ele sorriu por debaixo da barba.

Maya riu, pois ele não estava errado.

— Vou partir para Cuba pela manhã. Preciso resolver isso. Se ele conseguir entrar no templo, estou morta.

— Ele é como você? – Pela primeira vez Thatch pareceu preocupado.

— Não. – Ela respondeu rapidamente, desviando o olhar para o fogo da vela em cima da mesa. – Mas ele tem cartas na manga e isso me preocupa. – Maya sacudiu a cabeça, como se tentasse afastar os pensamentos sobre aquele assunto. – Como está a República?

Como Ben Hornigold havia dito para Thatch anos antes, a república pirata de fato havia sido ideia de Maya. Eles eram a última linha de resistência contra as leis do rei e a liberdade dos homens, mas aquela não era de fato sua obrigação para com a humanidade, seu trabalho era feito nas sombras e suas obrigações como grã-mestre a impediam de tomar para si a responsabilidade da resistência dos piratas e apesar de ser considerada pelos amigos como uma das líderes da república, Maya mais se ausentava daquele lugar do que estava presente para resolver seus problemas.

— Está ótima. Pelas últimas contas de Kidd já temos cerca de setecentas pessoas e chegam mais simpatizantes todos os dias. Mas a sua preocupação também é a minha. Nassau está doente e eu não acredito que ninguém está disposto a cooperar com a saúde por aqui.

— Não temos a simpatia de nenhum político e nunca teremos. Temos que cuidar dos nossos, Edward. – Maya se levantou, carregando a caneca de rum em mãos e se aproximou das enormes janelas da cabine do capitão, observando o mar calmo da enseada de Nassau.

Ela tinha razão, nenhuma realeza os apoiaria, talvez por medo, talvez por falta de informação. Os idealizadores da República eram como uma família e deveriam fazer de tudo para manter Nassau como uma casa segura. Thatch observou a Assassina caminhar lentamente até a janela e sempre se pegava pensando a mesma coisa quando a encarava: como alguém de aparência tão frágil pode causar tanto estrago? Dali da cabine era possível ver o mastro o gigante Leviatan se erguendo acima das árvores mais altas como um aviso para qualquer inimigo que navegasse aquelas águas e era para lá que o olhar de Maya estava direcionado, mas Thatch podia dizer que não era no navio que ela estava pensando, seu olhar estava apenas perdido. O coração dela já não estava mais ali com eles, sua mente estava sempre distante, talvez de volta ao que viveu nas índias orientais, talvez ainda mais longe, na Itália... O capitão se levantou, deixando a bebida para trás e se aproximou dela. Uma aproximação perigosa que se feita por qualquer outro que não ele, resultaria em um cadáver.

— Anne. – Ele a trouxe de volta chamando por um nome que agora apenas ele sabia que existia, e logo recebeu a atenção da grã-mestre. Por um momento ele experimentou – novamente – do encanto que afogava tantos marujos e assim como eles, não se obrigou a recuar, pelo contrário, decidiu mergulhar naquelas águas.

Aquela não seria a primeira e nem a última vez que o pirata e a Assassina se deitavam juntos, buscando conforto para seus sentimentos.

—x-

Torres já estava em posse do cristal, ela sabia. Sabia também que os templários haviam obtido sucesso em capturar o sábio e tudo o que Maya sabia sobre ele era que as primeiras aparições no mundo datavam de uma época em que o homem sequer sabia velejar. Ele era acarta na manga que Torres tinha e que lhe causava tanta dor de cabeça, mas o motivo dele ter sido arrastado até ali ainda era um mistério para ela, especialmente porque ele não havia resistido em momento algum. Era como se estivesse exatamente onde desejava estar.

Era difícil focar no que devia fazer, sua mente parecia querer dividir-se em mil pedaços para dar conta de tudo o que ela precisava dar atenção. Seguir os passos do impostor de Duncan estava sendo mais fácil do que ela imaginava e isso era preocupante, pois algo assim só poderia ser uma armadilha. Os ouvidos aguçados captaram o som de movimentação ao leste de sua posição e logo ela buscou abrigo no meio de um dos arbustos abundantes por ali e então respirou fundo; Contanto que o Sábio não estivesse envolvido na armadilha, cair nela não seria tanto problema, sairia viva de qualquer forma.

Foi então que ela viu alguém de estatura mediana usando as roupas de Duncan. Pelo porte físico, pôde dizer que se tratava de um homem, um muito desajeitado inclusive, pois suas tentativas de se esconder eram péssimas, mas enganavam os guardas do pavilhão – que não era uma tarefa difícil. Acompanhando-o com o olhar, o viu pular por cima da cerca que separava a área das celas do restante do gramado, então rapidamente seguiu seus passos, misturando-se nas sombras que as grandes estruturas criavam, a noite ajudava na camuflagem, assim como seu robe preto.

Se havia um lugar naquele fim de mundo onde Torres teria aprisionado o Sábio, era naquele anel de celas, mas por que o impostor de Duncan estaria tentando entrar ali sorrateiramente era um mistério a ser resolvido. Os arbustos plantados logo atrás da cerca forneciam a cobertura perfeita e dali ela tinha uma visão privilegiada. Provando sua teoria de que o impostor não era nem um Assassino e nem um Templário, ele sequer percebeu quando ela pulou as estacas de madeira e se enfurnou no mato; Suas habilidades eram péssimas. Ele demorou um pouco para conseguir arrombar a fechadura do portão de madeira que dava acesso às celas e ela estava perdendo a paciência, quase a ponto de perguntar se ele precisava de ajuda.

Como se tudo tivesse sido sincronizado, no exato momento em que o impostor conseguiu abrir o portão, alguém pulou sobre ele, derrubando-o no chão e correndo para longe. Maya só teve tempo de reconhecer o indivíduo, pois no segundo seguinte ele já havia desaparecido de vista: O sábio.

Quanto mais longe de mim, melhor. Pensou, voltando a atenção para o sujeito caído, que agora sem o capuz e para seu espanto ela reconheceu como sendo o antigo primeiro imediato de Thatch: Edward Kenway. A vontade de cravar uma flecha em sua perna e o arrastar para um interrogatório era grande, mas ela não teve muito tempo para agir, já que percebeu a movimentação pesada dos guardas que marchavam desorganizadamente para o anel de celas. E as surpresas não paravam de aparecer naquela noite: Torres estava junto com aqueles homens e Kenway estava com problemas.

Maya não hesitou em pensar antes em si mesma que no homem que havia criado toda aquela situação. Kenway teria que se virar sozinho. Aproveitando que todos os olhos estavam focados no inglês, ela fez o caminho de volta para longe das celas e logo encontrou a mansão de Torres, guarnecida por homens que estavam mais interessados na fofoca sobre a fuga do sábio, que de fato fazer seu trabalho. Dando a volta por trás da casa, ela escalou as janelas e a parede de madeira sem fazer ruído. Usou a lâmina do pulso para abrir a janela que deveria ser a dos aposentos do governador e pulou para dentro com a destreza de um felino.

O cristal tinha que estar ali em algum lugar. Ela correu os olhos pelo ambiente pouco iluminado, procurando qualquer coisa que refletisse a luz das velas, mas sem sucesso. Ele devia ter escondido muito bem, sabendo do valor daquele objeto.

Torres não era idiota, nem nenhum iniciante naquele assunto de guerra fria entre Assassinos e Templários. Ele sabia que apunhalar a grã-mestre de seus inimigos era cavar a própria cova, a menos que ele a matasse antes. Foi então que Maya se arrependeu de ter ido com tanta sede ao pote e não checado a sala de cabo a rabo antes de procurar pelo cristal, pois da penumbra surgiu uma figura imensa, trajando uma armadura completa e tão pesada que fazia seus passos soarem como uma manada. Imediatamente ela deu um passo para trás e levou a mão ao cabo da espada, se preparando para uma investida.

— Olá boneca. – O homem falou com a voz abafada por debaixo do capacete.

— Ora, olá Rufus. – Respondeu com um sorriso provocativo. – Eu diria que estava com saudades, mas eu não minto com frequência.

Aquele imenso homem era o guarda costas de Torres, com quem Maya já havia tido o azar de lutar algumas vezes. Suas armas eram tão efetivas contra ela como qualquer outra, mas seus golpes podiam causar grandes estragos e acabar fazendo com que ela fosse capturada. A Assassina sabia que a melhor opção era recuar imediatamente quando encontrasse com ele, mas naquele momento a necessidade de encontrar o cristal com seu sangue falou mais alto e ela permaneceu estática, esperando que ele fizesse o primeiro movimento. Ela tinha vantagem por pesar cerca de cem quilos a menos que o homem, seus movimentos eram mais leves e rápidos, porém acertá-lo não teria utilidade, não quando usava uma armadura tão pesada.

— Eu adoraria conversar. – Ela provocou, percebendo que ele também aguardava que ela desse o primeiro passo. – Mas não tenho novidades para lhe contar, então por que não me dá licença?

— Seu senso de humor é uma pérola. – Retrucou sem o menor humor.

— Obrigada.

A tensão continuou no ar e qualquer movimento que um dos dois fazia, o outro acompanhava sem deixar a guarda aberta por nem um segundo. Até que do lado de fora um tiro disparado através da janela a acertou no ombro e tirou sua concentração. Rufus avançou como um touro e a dor que a atordoou foi suficiente para que seus reflexos não fossem rápidos o bastante. Ele a atingiu com força esmagadora, mas o passo para o lado impediu que ele caísse sobre ela, atirando a Assassina pela janela que quebrou em mil pedaços e se espatifou no chão abaixo dela. De um segundo para o outro, pegar o cristal não era mais uma opção e ela deveria decidir entre se deixar capturar e tentar resgatar o cristal com uma fuga bem sucedida, ou fugir agora e evitar a dolorosa seção de tortura.

Maya ergueu-se e sacudiu a cabeça, fazendo voar os cacos de vidro ainda presos nos cabelos. Respirou fundo e encarou cada um dos oito homens que a cercavam apontando as baionetas para seu rosto. Com indiferença ela bateu as mãos nas vestes para espantar a poeira e olhou para cima, para a janela do terceiro andar da mansão, de onde havia sido atirada.

— Não é assim que se trata uma dama, Rufus! - Berrou lá de baixo, vendo a silhueta do gigante na janela.

Homens ignorados cedem facilmente ao instinto de se provarem dignos de atenção, especialmente quando se trata de uma mulher. Sendo assim, os soldados armados rangiam os dentes de ódio e um deles engatilhou a arma e disparou, mas não rápido o suficiente. Ao ouvir o engatilhar da arma, Maya se abaixou, girou num semicírculo, acertou um chute no meio das pernas do soldado e tomou a espingarda de sua mão, enquanto o tiro direcionado à ela acertava o soldado de trás. Com o punhal da baioneta cortou o pescoço do que vinha logo atrás quebrando a formação em círculo e logo se abaixou novamente, desviando do ataque covarde do último soldado às suas costas que tentou acertá-la com a espada e acabou decapitando o colega, ela engatilhou a arma em mãos e disparou no peito do homem a frente. Dois dos soldados remanescentes correram na direção da prisão e ao acompanhá-los com o olhar, ela se perguntou se Kenway estaria vivo, mas não teve tempo de pensar demais, pois seus segundos de distração eram oportunidade para que os outros dois investissem contra ela com a ponta da baioneta. Um deles acertou a lateral de seu corpo, cortando a roupa e pegando de raspão o corset preto por debaixo do manto. Seu olhar de fúria para o soldado o fez recuar alguns passos, como se ele estivesse com medo de ser queimado vivo. Como um animal selvagem em fúria, Maya saltou sobre ele, derrubando o homem e cravou a lâmina oculta do pulso entre seus olhos, removendo-a para dentro do bracelete em seguida. Foi então que sentiu a dor no estômago e percebeu que o punhal da baioneta havia trespassado seu corpo. Ainda atenta ao último soldado vivo, ela arrancou a arma do próprio corpo e, sem se preocupar com a hemorragia que deveria derrubar imediatamente qualquer humano, sacou uma faca de arremesso da bainha atada à perna e atirou no pescoço dele, derrubando-o.

Maya bufou e olhou para o ferimento, abrindo o manto. A espada atravessou todas as camadas de roupa e perfurou fundo sua carne até o órgão, mas apesar da dor, aquilo não era nada comparado ao ferimento causado por Césare séculos antes. Esfregou o rosto, pensando na quantidade de pólvora e fogo que teria que dedicar àquele corte. Com um tiro no ombro, uma hemorragia e sem seu cristal, Maya reuniu toda aquela irritação e partiu dali, pulando o muro alto da casa e correndo pelas ruas até a parte mais afastada e alta do campo onde uma fragata a aguardava.

Um navio tão grande como o Leviatan não era nada prático. Por seu tamanho colossal e todos os armamentos extremamente pesados que carregava, se tornava um navio lento e que chamava muito a atenção de qualquer um à qualquer distância e às vezes ela não podia se dar ao luxo de avisar que estava chegando. A fragata estava ancorada na parte mais alta da ilha, longe do cais. O penhasco se alinhava com o mastro e foi por ali que ela desceu para chegar ao convés. Os marujos só não ficaram mais alarmados, pois a roupa preta disfarçava a quantidade de sangue que saía de seu ferimento. Ela deu a ordem para que levantassem âncora e sem dizer mais nada, entrou na cabine do capitão pouco iluminada.

Maya não demorou a arrancar as roupas empapadas de sangue. Sabia que não morreria por qualquer tipo de ferimento causado por um mortal, mas não gostava de dar chance ao azar.

— O que aconteceu? - Uma voz perguntou vinda das sombras, até que um rapaz magro andou para a luz e ajudou Maya a desafivelar o corset e tirar a camisa branca, em seguida desenrolar as bandagens. Ele não parecia surpreso com seu estado.

— Um contratempo.

— E o Sábio? - Perguntou enquanto caminhava até a mesa para pegar uma caixinha de madeira.

— Fugiu. - Respondeu entredentes.

— Foi um grande contratempo então. - Voltou com a caixinha e esperou Maya se deitar para derramar a pólvora sob a perfuração ensanguentada. Pegou a vela sobre a mesa e ateou fogo, observando a pirotecnia até que tudo fosse consumido. A hemorragia estancou no mesmo instante e a Assassina não soltou mais que um gemido incômodo.

— Obrigada. - Se levantou alguns minutos depois, indo até um baú debaixo da janela para pegar mais ataduras e as enrolar com força sob o ferimento recém-cauterizado.

— Não foi nada. - O rapaz tirou a própria camisa que estava suja com o sangue de Maya e a jogou em cima da mesa. Por debaixo do pano havia ataduras como as da Assassina, afinal precisava esconder os seios. Soltou a bandana dos cabelos e sorriu para Maya, percebendo que ela a encarava fixamente. - Mas você poderia parar com as missões suicidas… Seria um alívio.

— Gosto de te ver preocupada comigo.

A mulher agora seminua se aproximou de Maya e passou a mão por seus cabelos ainda cheios de cacos de vidro.

— Você gosta é de rir na cara do perigo. – Colou os lábios nos de Maya.


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