Convergente II escrita por Juliane


Capítulo 31
Ela


Notas iniciais do capítulo

Gente!!! Perdão pela demora!!! Não fiz a correção ainda... por tanto podem haver alguns erros ortográficos e de concordância. Mas vocês esperaram tanto que não poderia deixar de postar ainda hoje.
A partir do dia 19 estarei de férias e poderei me dedicar muito para essa história.
Beijosss



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A semana passou feito um borrão, tudo que fizemos, Enrico e eu foi estudar. Ele trouxe seus polígrafos da época em que era um estudante no curso de pilotagem e também da época do seu treinamento militar.

Hoje é domingo, véspera das minhas provas e ainda estou debruçada sobre o manual de pilotagem, que para mim é a parte mais complicada, pois fala mais especificamente das características técnicas do jato, painel de controle e as funções. São muitas siglas, as quais não consigo ligar aos verdadeiros nomes, minha cabeça está um caos e a todo momento pensamentos inusitados roubam a minha concentração. Tobias, o Presidente, o incidente com Alejandra, não sei porque ainda estou pensando nisso, talvez seja a ameça que ela nos fez, parecia carregada de convicção. Um tipo de convicção que só temos quando realmente somos capazes de realizar tal vingança. Mas que capacidade uma adolescente como ela poderia ter de vingar-se de nós, mais especificamente de mim?!

_ Tris! Tris! Ei, onde está você? - Enrico me trás de volta a realidade do meu quarto e do manual em minhas mãos.

_ Desculpe, eu estava pensando... Você viu a forma como Alejandra nos ameaçou? Parecia que ela estava convicta de que poderia realmente fazer algum mal.

_ Deixa disso Tris, Alejandra é só uma garota enciumada e birrenta que acha que o universo gira em torno do seu umbigo. - Ele responde rindo, fazendo piada da minha preocupação.

_ Você tem razão. Preciso me concentrar.

_ Certo! Então, você está pronta? Vamos as perguntas!

_ Não! Isso definitivamente não entra na minha cabeça.

_Tris, não seja tão autocrítica, deixa esse trabalho para o Capitão Cameron e além do mais você estudou a semana inteira. Corrigindo, nós estudamos! Acho que nem na época em que eu estava cursando eu me dediquei tanto! - Enrico diz rindo. Não sei como ele pode manter esse bom humor depois de passar a semana toda dormindo entre 2 e 4 horas por dia para poder trabalhar e estudar comigo.

_ Enrico, obrigada! Você tem sido um bom amigo! - Eu digo e seu sorriso vai diminuindo e seu olhar divertido dá lugar a um vazio imenso. Desconfio que esse é o efeito da palavra "amigo". Ele não perdeu a esperança e isso é muito ruim.

Ele balança a cabeça como se tentasse afastar o pensamento e assume novamente aquela postura descontraída.

_ Vamos as perguntas! Primeira:

_ O que significa a sigla MFDs e qual a sua função?

Hum, ele pegou pesado! Ai, deixa eu pensar. MFDs, MFDs...

_ São Mostradores Multifuncionais em cores de leitura HUD, eles fornecem informações ao piloto sem que ele tenha que desviar os olhos do alvo a frente da aeronave, esses mostradores se projetam à frente do painel. - Respondo a princípio insegura, mas então a imagem dos MFDs surgem na minha mente e vejo inclusive os MFDs 4ª geração, com os quais os capacetes da base estão equipados.

_ Muito bem Srtª Prior! - Ele diz de forma solene, como se realmente fosse um professor da erudição. Não consigo evitar sorrir por ter acertado, mas principalmente pela postura dele.

_ Continuando: Quais as principais características dos MFDs que utilizamos atualmente? - Ele pergunta.

Agora que as ideias clarearam, a pergunta me parece fácil.

_ Eles são projetados para missões noturnas, temos a possibilidade de utilizar os MFDs no capacete, ele fornece link para dados, sistema de planejamento de Missão, AACMI que significa Instrumentação Autônoma para Simulação e Avaliação de Manobras de Combate e ainda fornece capacidade para treinamento virtual de voo. Faz parte também dos MFDs o radar multi-modo que serve para medição de distância Ar-Ar, Ar-Terra e Ar-Mar, busca, rastreamento, rastreamento com varredura e combate aéreo, proporcionando condições de precisão, eficácia e auto-defesa.

_ Uau! Eu nem esperava tanto! - Enrico responde e percebo que está verdadeiramente impressionado com o meu desempenho, de modo que fico mais confiante, talvez eu realmente tenha uma chance real de passar nos testes do Capitão Cameron.

_ Podemos continuar??? - Eu falo, ansiosa por testar meus conhecimentos.

_ Ok, você está afiada heim, deixa eu pensar em algo difícil... - Enrico pára, põe a mão no queixo enquanto olha para cima tentando encontrar uma questão mais desafiadora.

_Não consigo pensar em nada! - Ele diz, por fim caindo na gargalhada.

_ Você é muito boa! Aposto que vai acertar todas! - Ele completa, ainda rindo.

_ Enrico! Precisamos continuar. - Eu o repreendo, mas não soo como gostaria, não há como evitar rir com ele.

_ Tá bem! Vou me concentrar. - Ele diz segurando o riso.

_ Me fale agora do poder de ataque e defesa do Jato.

_ Ok, vamos lá. - Tomo fôlego e prossigo

_ O Northrop F5 Tiger tem uma boa quantidade de armamentos convencionais e inteligentes compatíveis com mísseis Além de Alcance Visual os chamados BVR, bombas guiadas a laser, mísseis balísticos e sensores para missões diurnas e noturnas sob qualquer tempo. Agora falando em Sistemas de Auto Defesa temos o que chamamos de Contra-medidas eletrônicas representada pela sigla ECM, mais o Receptor de Aviso de Radar R.W.R. estão disponíveis para uso. A Baixa Assinatura ao Radar e assinatura infra-vermelha reduzidas garantem baixa suscetibilidade de detecção do avião.

_ Nem eu sabia disso! Passa esse manual pra cá, quero conferir! - Ele diz com os olhos arregalados.

Eu entrego-lhe o grosso manual de aproximadamente umas 200 páginas e ele folheia nervoso e quando acha a página que contém informações sobre defesa e ataque, que se me lembro bem, deve ser a página 178 ele devora a página toda em poucos segundos.

_ O quê?! Você tem um HD dentro dessa cabeça ou o quê?! - Ele pergunta estupefato.

Eu rio da pergunta, mas ele não ri comigo, de modo que fico um pouco constrangida, ao perceber isso. Então ele fecha o manual e joga na minha direção, com força necessária apenas para me acertar de leve e enfim ele ri comigo.

_ Tris, você decorou o manual! Impossível não passar no teste!

_ Você acha mesmo?

_ Eu não acho, eu tenho certeza!

_ E quanto ao teste sobre o treinamento militar? Temos que repassar as questões mais importantes, certo?

_ Sim, mas agora são o quê, meio dia? Estou com fome! Precisamos almoçar.

Eu confiro o relógio que Enrico me deu de presente na quarta-feira, é um relógio de pulso cuja pulseira é de borracha, o visor digital, ele disse que é a prova d'água, mas nunca tive coragem de tomar banho com ele, Enrico diz que isso só prova minha total falta de fé e confiança nele. Já eu, penso que isso é bobagem.

_ Para ser mais exata, agora são 11:56. Também estou com fome. Devemos pedir comida aqui?

_ Não Tris! Estamos fechados nesse dormitório há tempo demais, as últimas refeições você fez em cima desses polígrafos, precisamos de ar puro! - Ele diz e antes que eu responda ele completa:

_ Não é que eu não goste de ficar trancado com você nesse dormitório por tantas horas seguidas, mas se estivéssemos fazendo outra coisa que não estudar obviamente não poria objeções em fazermos outra refeição aqui. - Ele me encara de uma forma absolutamente constrangedora.

_ Enrico! - Eu o repreendo.

_ O quê?! Só estou sendo sincero. - Ele fala enquanto se levanta e balança as mãos em tom de rendição. Eu permaneço sentada olhando para ele com reprovação, então ele abre a porta e faz uma mesura exagerada como se ele fosse um mordomo ou algo assim e como sempre acabo me rendendo ao riso.

Essa é uma das coisas que admiro nele, a capacidade de me fazer rir sempre, embora a atual situação seja tensa e desesperadora, embora meu coração esteja partido por estar longe de Tobias e de todos aqueles que eu gosto ele torna isso tudo mais leve.

Entramos no restaurante e então um rapaz que estava junto a um grupinho de pé no fundo do salão, corre em nossa direção.

_ Enrico! Por onde você andou? Não vejo você há dias, com exceção dos turnos que fizemos juntos! - Disse o rapaz.

_ Estive com a Tris, ela vai prestar provas para entrar para o curso de pilotagem e para o treinamento militar amanhã e estou ajudando ela a estudar.

_ Rááá´, você ajudando alguém a estudar? - O rapaz diz obviamente num tom de escárnio. O que me surpreende, pois Enrico me pareceu muito inteligente e compenetrado.

_ Cala a boca José! - Enrico diz enquanto dá um soco de leve no braço do amigo.

_ José?! O José da torre de controle? - Eu pergunto olhando de um para outro.

_ Desculpe! o Enrico aqui tem o péssimo hábito de não apresentar as pessoas, principalmente se esta é a sua garota. - Ele diz estendendo a mão para me cumprimentar.

_ Não sou a garota dele! - Eu digo um tanto irritada pela menção de Enrico e eu estejamos de fato juntos.

_ É melhor você contar isso pra ele! - José diz ainda se divertindo com a situação.

_ Pára com isso José! Você fala demais! Não tem nada entre a gente, somos amigos. - Ele diz olhando nos meus olhos, buscando a minha aprovação e o meu contentamento.

_ Certo! Esclarecido as coisas! Meu nome é Tris! Prazer em conhecê-lo José! - Eu falo estendendo a mão para enfim cumprimentá-lo.

_ Muito prazer Tris! Na verdade eu já conheço você, todos conhecem.

_ Legal! Já percebi que a minha desvantagem é grande aqui! - Respondo amargamente.

_ Relaxa, aqui você é meio que uma heroína! Todos te admiram e tal. - José argumenta e do contrário do que ele presumia seus argumentos só aumentam o meu desconforto.

_ Vem Tris, vamos almoçar. Tchau José! - Enrico me conduz a uma mesa, ele parece ter percebido que essa conversa toda me deixou aborrecida.

_ Já entendi Enrico! Monopolizando a atenção da gata! Tá bom! Tchau Tris. - José responde enquanto nos afastamos dele.

Apenas aceno com a cabeça. Sei que deveria ter agido friamente, usando essa imagem que eles têm de mim a meu favor, mas simplesmente não consigo. José parece ser um cara legal, enganá-lo, induzi-lo não me parece justo, embora isso tenha me passado pela cabeça no exato momento em que percebi que ele era o cara da torre de controle, de fato uma posição que será necessária para a concretização dos meus objetivos.

Já estamos sentados junto a mesa, eu estou com as mãos cruzadas embaixo do queixo, apoiando os cotovelos no moguino elegante da mesa grande demais para duas pessoas.

_ Não fica chateada Tris, as pessoas aqui são muito impressionadas. A maioria nunca esteve em combate numa guerra de verdade, então eles romantizam tudo. - Enrico diz, numa tentativa frustrada de me animar.

_Sei, entendo, mas não posso evitar de me chatear. Não esquenta, vai passar, logo eu me acostumo e passo a usar isso a meu favor. - Digo ainda um pouco apática.

Enrico levanta as sobrancelhas e abre um sorriso.

_ Você é maquiavélica! Estou começando a ficar com medo!

Mais uma vez ele me arranca um sorriso e fico aliviada por afastar essa nuvem de constrangimento e desconforto.

_ Tá bom! Estamos com fome, vamos comer! - Eu digo já de pé me dirigindo ao buffet, Enrico me segue sem protestar.

Eu não tinha me dado conta da presença dela até que alguém obstrui a minha passagem. Ela está parada bloqueando o fluxo da fila do buffet que só cresce atrás de Enrico.

_ Careta?! Não era assim que te chamavam? - Alejandra diz num tom evidente de escarnio.

_ Alejandra! Deixa ela em paz. - Enrico me defende e isso me deixa irritada, não preciso que ninguém me proteja!

_ Deixa Enrico! Eu sei me cuidar sozinha. - Eu digo e soa mais rude do que eu gostaria, mas não tenho tempo de me desculpar.

_ Hum, vejo que as coisas inverteram aqui! Como é se sentir como o cachorrinho de alguém Enrico? - Alejandra dispara e desta vez contra ele.

_ Alejandra vejo que o seu problema é comigo! Porque não resolvemos lá fora! - Eu digo largando a bandeja em minhas mãos na mesa de apoio do buffet.

_ O quê? Você está me chamando para lutar? - Ela diz completamente descrente.

_ Por quê? Você acha que não dá conta? - Eu digo num tom propositalmente irônico.

_ Você definitivamente não me conhece! Não sabe quem eu sou! - Ela rebate com a intenção de me amedrontar.

_ Vamos lá e me mostra quem você é! -Eu continuo provocando.

Ela gira os calcanhares em direção a saída e eu a sigo. Enrico segura meu braço.

_ Tris, não faz isso. Você pode ser presa por deserção e perder o seu teste e aí já era!

_ Enrico, agora não dá mais pra voltar atrás! Me solta.- Eu livro meu braço e continuo

Quando atravesso as portas de vidro sinto o vento fresco da primeva soprando forte e insistente como um alerta velado de que esta não foi a melhor escolha. E nesse momento começo a pensar nas consequências, mas como eu disse, agora não dá para voltar atrás. Alejandra pára bem no meio da clareira e eu imito o seu movimento. Estamos há uns dois metros de distância e quando olho em torno por reflexo vejo que temos uma grande platéia se formando, as pessoas que estavam no restaurante agora estão há poucos metros de nós aguardando o show que está por vir.

_ Então careta, como é que vai ser? - Ela diz sarcasticamente.

_ Me diga você, estou no seu habitat. - Respondo entredentes com os punhos cerrados em frente ao rosto.

Nesse momento lembro das instruções de Tobias, concentro a tensão no meu abdome e afasto as pernas, estou preparada para o combate.

_ Aqui não temos regras! - Alejandra late enquanto se aproxima rapidamente.

Eu antecipo seu movimento e desvio do golpe que ela pretendia desferir contra meu queixo. Alejandra perde o equilíbrio e eu acerto uma cotovelada nas sua costa, então ela desaba de bruços no chão. Estou cogitando a possibilidade de parar a luta para não me complicar ainda mais quando ela agarra meus pés e me puxa em direção ao solo. Meu corpo se choca com a grama macia, se não fosse pelo mau jeito com que caí não estaria sentindo nada, mas a dor pulsante no ombro que outrora fora alvejado num combate de verdade me dá indícios de que talvez eu o tenha tirado fora do lugar.

Estamos engalfinhadas no chão e pude constatar que realmente não há regras por aqui, pois Alejandra está agarrada aos meus cabelos tentando bater a minha cabeça contra o chão macio, o que no mínimo meio ilógico, tendo em vista que se trata de terra e grama. Resolvo por um fim na cena ridícula pois ao redor ouço a voz de Enrico reprovando nosso comportamento, mas ouço também gritos de incentivo da multidão a nossa volta. Tento me concentrar no som, eles estão entoando meu nome em uníssono. Alejandra continua como louca agarrada aos meus cabelos,deixando minhas mãos completamente livres, o que me faz pensar que ela não tem a mínima noção do que está fazendo. Cerro o punho e desfiro um "jab" no seu nariz e imediatamente o sangue espirra no meu rosto. Instintivamente ela solta meus cabelos e põe as mãos no nariz.

_ Você quebrou o meu nariz sua ordinária! - Ela grita de joelhos enquanto tenta estancar todo aquele sangue.

Enrico tira a sua camiseta e joga na direção dela.

_ Coloca isso aí na frente do rosto! - Ele ordena.

_ O show acabou! Alguém aí pode chamar um médico? - Enrico diz irritado enquanto vem em minha direção.

Ele põe as duas mãos em concha nas minhas bochechas e mantém o meu rosto imóvel e seus olhos fixos nos meus, ele está próximo demais e sem camisa, e eu muito desconfortável, sinto o sangue todo subindo, devo estar corada.

_ Tris, você está bem? Está machucada? Eu devia ter parado essa luta idiota.

_ Você não tinha que ter parado nada! Ela pediu por isso! E estou bem, só desconfio que desloquei o ombro na queda. - Eu digo tentando desviar a sua atenção do meu rosto para o ombro e funciona, sinto o alívio tomando conta do meu corpo.

_ Ela quebra o meu nariz e você quer saber se ela está bem? Francamente Enrico! - Alejandra resmunga com a camiseta de Enrico que era branca e agora está completamente carmim.

_ Alejandra, você procurou por isso! Quantas vezes vou ter que repetir! Nosso lance acabou muito antes dela chegar!

_ Acabou porque você ficou vidrado nela através daqueles monitores. Eu sempre disse que ela é uma selvagem impostora!

_ Selvagem eu?! Hum até pode ser, sabe uma vez ouvi alguém dizendo, acho até que deve ter sido o Eric, não tenho certeza, mas a frase era mais ou menos assim: "tudo aquilo que não te mata te fortalece", então relaxa, você vai ficar bem e da próxima vez vai aprender a proteger melhor o seu rosto. - Eu digo ironicamente.

_ Sua maldita! Você vai pagar por cada gosta de sangue que estou perdendo.

_ O que é isso Srtª Gonzalez? - Um homem baixo, com uma barriga protuberante que ostenta um grosso bigode negro e muitas medalhas presas na altura do peito em sua farda militar impecavelmente engomada, brada com sua voz grave e assustadora.

_ Foi ela! Ela me atacou! - Alejandra que ainda está no chão agora encena uma postura frágil enquanto me acusa.

_ Não é verdade General Sparks. - Enrico sai em minha defesa.

Então esse é o General Sparks?!

_ O que aconteceu aqui Srtª Prior? - Agora ele está se dirigindo a mim, e nesse momento sinto a bile subindo à minha garganta.

_ Há algum tempo a Alejandra vem procurando por isso, e hoje não tive como evitar. - As palavras saem secas e ríspidas, mais do que eu gostaria. Estou cavando minha própria sepultura, eu sei, mas agora não há o que fazer tenho que manter a postura fria que adotei, de modo que mantenho os ombros eretos e sustento aquele olhar desafiador.

_ Do que ela está falando Srtª Gonzalez? - Ele insiste em saber e quer a versão dela.

_ Ela é mentirosa e dissimulada! - Alejandra grita e percebo que ela não tem na voz o mesmo respeito e reverência que o Enrico tem. Isso é no mínimo estranho.

_ Srtª Prior, detenção! Srtª Gonzalez vai para enfermaria e depois será detida. As duas terão direito a uma testemunha de defesa durante o interrogatório!

_ O que está acontecendo aqui! - Uma voz conhecida surge em meio a multidão. Wes vem se desviando das pessoas e ao meu encontro.

_ A Srtª Prior esteve envolvida em uma briga e como o doutor pode ver a Srtª Gonzales precisa de atendimento médico.

Wes não tira os olhos preocupados de cima de mim e não olha na direção de Alejandra ou do General Sparks nem por um breve momento, o que me faz concluir que me meti numa enrascada feia.

_ Não se preocupe os enfermeiros já estão chegando. - Ele responde ao General sem lhe dar a devida atenção.

_ Doutor Paul Wes Sheifild, cumpra com o seu dever! - Ele fala pelo menos duas oitavas mais alto do que o normal.

Sua preocupação excessiva com Alejandra me deixa intrigada.

_ General Sparks, com todo o respeito, Alejandra teve uma fratura no nariz, não preciso de exame para chegar a essa conclusão, os enfermeiros estão chegando e a doutora Gail já está aguardando por ela no ambulatório.

Os olhos do General Sparks me lembram olhos de uma serpente pequenos, escuros, frios e perigosos.

_ Olha eles aí! - Wes indica dois enfermeiros vestidos de verde claro dos pés a cabeça que carregam uma maca branca nas mãos.

_ Doutor Wes, da próxima vez é melhor o senhor disfarçar a sua preferência por essa daí. - Alejandra diz enquanto um dos enfermeiros a coloca na maca.

_ Beatrice Prior é minha paciente e não teve alta. Você deveria ser mais hospitaleira com nossos convidados e não hostilizá-los dessa forma. Lembre-se que um dia você também chegou aqui sozinha, sem família e sem ninguém e nós a acolhemos. - Wes responde a provocação enquanto os enfermeiros se afastam carregando Alejandra que agora está deitada na maca.

_ Os guardas chegarão a qualquer momento para conduzi-la a detenção Srtª Prior. - O General Sparks sentencia enquanto gira os calcanhares para voltar, seja lá para o que estava fazendo ou para verificar se Alejandra está bem. Esse último pensamento é intrigante.

_ Desculpe General Sparks, a Beatrice ainda não teve alta, de modo que não poderá ser detida. - Wes fala e o General continua andando de constas para nós enquanto responde.

_ Ela não me pareceu doente. Pessoas debilitadas não entram em brigas e também não quebram o nariz do seu oponente. - Sua voz se cala e ele desaparece entre a multidão.

_ Beatrice, olha só o que você aprontou?! Eu viro as costas por um minuto e você sai por aí quebrando o nariz das pessoas! - Wes está me repreendendo! Eu apenas me defendi!

_ Ela estava apenas se defendendo! - Enrico verbaliza o meu pensamento.

_ Você! Se afaste dela! Ela não pode se meter em confusão! - Wes fala em tom reprovativo e firme para Enrico.

_ Ele não tem culpa! Há dias Alejandra vem procurando por isso e hoje não pude evitar.

_ Beatrice, você não entende! Vem vamos, vou levar você para o dormitório e te examinar melhor. - Wes põe as mãos no meu ombro e uma dor lancinante atravessa meus ossos.

A dor é tão evidente no meu rosto que ele fica assustado.

_ O que houve com o seu ombro?

_ Ela deslocou na queda. - Enrico responde.

_ Rapaz, faça uma coisa útil, disperse essas pessoas enquanto levo a Beatrice para o dormitório e cuido do seu ombro.

Enrico asente com a cabeça e vai em direção aos grupos de pessoas que continuam a nos observar e com as mãos e frases tipo: Deem o fora daqui, ele afasta as pessoas enquanto Wes me conduz de volta ao dormitório.

******

_ Está muito ruim para movimentar? - Wes quis saber.

_ Sim, na verdade agora que o sangue esfriou está doendo até para respirar. - Respondo.

_ Esse tombo deve ter sido muito feio mesmo. Vamos ter que fazer um raio x.

_ Wes, amanhã deveria ser o dia dos meus exames para eu poder ingressar no curso de piloto e no treinamento militar. Será que você consegue me livrar da detenção?

_ Não vou te liberar para fazer esses exames, quanto mais para detenção. - Wes fala num tom de reprimenda.

_ Wes, por favor, eu trabalhei duro durante toda semana, eu mereço pelo menos a chance de prestar os exames. - Eu suplico.

_ Beatrice, se eu liberar você para os exames, o General Sparks vai concluir que você está em condições de ser detida. - Ele argumenta.

_ Não tem problema, desde que eu seja detida após o exame. Você acha que pode arranjar para que isso aconteça?

_ Beatrice, você não tem jeito mesmo!

_ Por favor! Prometo que se eu reprovar nos exames eu desisto da ideia de ser piloto e de fazer o treinamento militar. - Eu tento usar o meu olhar mais doce e suplicante.

_ Tudo bem! Mas eu serei a sua testemunha e não aquele garoto impertinente.

_ Maravilha! - Eu digo agarrando seu pescoço com o braço do lado bom, mas mesmo assim sinto uma ferroada de dor me atinge furiosamente, mas eu a ignoro deliberadamente.

Quando me afasto vejo que Wes está sorrindo.

_ Vem vamos, vou te ajudar a sentar na cadeira de rodas.

Quando já estamos indo em direção a porta eu resolvo aproveitar a oportunidade antes que cheguemos ao corredor.

_ Wes, você é o melhor tio que eu poderia ter. Obrigada


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