Wicked Game

O mundo estava em chamas e

ninguém podia me salvar, a não ser você

É estranho o que o desejo faz as pessoas tolas fazerem

Eu nunca sonhei que conheceria alguém como você

eu nunca sonhei que perderia alguém como você

Andou tentando se livrar dos esbarrões que recebia a cada passo que dava. O ar era pesado e carregado com cheiros de perfume barato e fumaça de cigarro. Sua pele transpirava por causa do calor e sua respiração já estava ofegante devido a dificuldade de se mover ali. A boate estava em sua capacidade máxima, e ele não sabia como é que as autoridades deixaram aquele lugar funcionar por tanto tempo. Logo que saísse daquela confusão faria uma denúncia ao ministério público sobre o funcionamento ilegal daquele estabelecimento.

Em cantos fracamente iluminados ele conseguia ver pessoas praticamente se engolindo em beijos. A que nível a sociedade havia chegado? Não que ele fosse tradicional extremista, mas achava que demonstrações de amor daquele nível deviam ficar dentro de quatro paredes. A cada passo que dava se convencia de sua sanidade mental. Esperava que nenhum de seus clientes o visse ali ou sua reputação estaria arruinada.

Onde será que ela estava com a cabeça para se enfiar em um lugar como aquele? Sakura havia perdido o juízo. E ele estava mais louco ainda quando decidira às três da manhã, sair à procura dela, depois que recebera o telefone de uma Sakura bêbada que o acusava de ser o responsável por todos os problemas que ela tinha. Ele não pensou duas vezes, pegou uma roupa qualquer e foi a procura daquela garota que estava atormentando seus pensamentos e seu coração.

Não, eu não quero me apaixonar

(essa garota vai quebrar seu coração)

Não, eu não quero me apaixonar

(essa garota vai quebrar seu coração)

Por você

Foi ali que começara a saga dele em busca daquela maluca que insistia em fazê-lo ficar confuso. Em seus vinte e cinco anos nunca encontrara alguém que fazia com que ele tomasse atitudes como aquela. Em outra situação ele teria continuado dormindo, tranquilamente, mas não podia simplesmente abandoná-la a própria sorte. Ele devia admitir também que se sentia um pouco culpado, talvez se ele não a tivesse mandando embora dizendo que um romance não estava dentro de seus planos. E o fato de terem acabado de fazer amor pela primeira vez só agravou a situação.

Finalmente conseguiu vê-la no emaranhado de corpos que estavam próximos ao minúsculo bar do local. Sakura estava com a cabeça apoiada no balcão. Algumas latas de cerveja perto dos cabelos delas que estavam bagunçados. Um cara de sorriso estranho olhava para ela , o que fez com que Sasuke se apressasse mais ainda.

— Não se atreva a tocar nela. — Sua voz saiu como um rugido sobre o barulho da música eletrônica que preenchia todo o ambiente. O tom de voz somado aos olhos nada feliz de Sasuke fizeram o homem recuar como um animalzinho acuado diante do predador.

Sakura continuava alheia a tudo que acontecia ao seu redor. Ele se aproximou e tentou tirá-la dali, mas ela parecia não querer colaborar.

— O que está fazendo? — A voz dela , arrasada devido ao álcool, era baixa e trêmula.

— Tirando você daqui.

— Eu não vou para nenhum lugar com você. — Tentou sair do abraço apertado dele. A última coisa que queria naquela noite era ver o rosto de Sasuke.

É claro que conseguiria tirá-la dali. Tinha a força necessária para isso e a cara de poucos amigos que fizeram todos se afastarem quando ele começou a percorrer o caminho até a saída com Sakura em seus braços. Apesar das dificuldades em pouco tempo estavam no carro. Ela entrara num estado de torpor e olhava para um ponto do nada pela janela.

Sasuke em silêncio dirigia. Ele sabia que não adiantava discutir, nem brigar, Sakura não ouviria e nem aceitaria nada com a quantidade de álcool que tinha no sangue. O que restava era a fazer tomar um banho e dormir, para no dia seguinte conversarem. Aquele plano deu certo até o momento em que ela viu que Sasuke a tinha levado para o apartamento dele. Ai pareceu que um pequeno “click” aconteceu na mente dela, fazendo com que ela se sentasse no chão, como uma criança emburrada e não quisesse sair de forma alguma dali.

—Eu não vou ficar aqui com você, Sasuke-kun.

— Então me diga para onde você vai às quatro horas da manhã, bêbada do jeito que está? — Porque ele não conseguia ser um pouco mais delicado quando estava com ela?

— Eu não quero ficar com você. — E começou a chorar. Estava tão confusa. O álcool confundia seus pensamentos, não deixando que pensasse com coerência. A presença de Sasuke lhe incomodava e fazia com que ela se lembrasse de toda dor que sentiu quando foi rejeitada.

Sasuke respirou de forma pausada e calma. Não podia falar qualquer coisa que pudesse piorar o estado dela. Então, usando uma delicadeza que não pensou existir em sua personalidade, sentou-se ao lado dela e permitiu que ela abraçasse seu corpo e chorasse em seu ombro.

— Porque você tem que ser assim? — Ela perguntou em soluços.

— Não sei...

Ele queria ser o tipo de cara que manda flores e cartões de amor. Que faz serenata e que diz eu te amo toda hora, mas ele não era. Ele era o tipo de cara que abraçava nos momentos que ela menos esperava, que beijava o pescoço dela quando ela estava dormindo apenas para ver os pelos da nuca dela se arrepiarem. Era o tipo de cara que não declararia seu amor eterno, mas que faria o amor ser eterno.

— Eu só quero ficar com você, eu te amo... — Sakura disse em meio a soluços do choro.

Que jogo malvado de se jogar

que me faz sentir desta forma

Que coisa malvada de se fazer

deixar-me sonhar com você

Que coisa malvada pra se dizer

você nunca se sentiu assim

Que coisa malvada de se fazer

fazer-me sonhar com você

Sakura era um conjunto de contradições. Doce e forte, sensível e mandona, delicada e desastrada e por mais que fosse difícil admitir ele gostava de toda aquela mistura. E nos últimos meses apenas ela povoou seus pensamentos e seu coração. Os dois naquele jogo de amor, onde um perderia. Ele sabia que iria perder.

No momento em que fez com que ela tomasse e banho e aceitasse dormir na cama dele, soube que já estava entregue. A forma com que ela se aconchegava ao corpo dele era delicada e suave, fazia o coração de Sasuke falhar em um compasso, a respiração ser suspensa e um suspiro escapar dos seus lábios. Não havia jeito. O amor teria que estar em seus planos, porque já estava em seu coração.

Apertou mais os braços na cintura dela, e aspirou o perfume dos cabelos ainda úmidos do banho. No dia seguinte provavelmente ela estaria de mal humor e dor de cabeça, mas estaria ali, com ele, pra sempre.

Game over