One Shot - Incansável Euforia escrita por Asami


Capítulo 1
Capítulo Único




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Cansada dos mesmos lugares e das mesmas pessoas, eu ainda queria manter a tradição dos covers de sexta-feira. Todos os fins de semana, desde que ganhei liberdade para por o pé fora de casa a partir das 9 da noite, visito um café, ou uma casa de shows, ou a residência de um conhecido para ouvir bandas amadoras tocando minhas músicas preferidas. Não importa que sejam todos eventos parecidos, para mim, são os melhores do mundo. Poucas pessoas em relação a esses estrondosos shows de axé e sertanejo, porque não gosto de bagunça. O nível de civilização e massa encefálica também cresce de maneira assombrosa. Além disso, não cheira a cerveja e suor, o que leva à ruína qualquer noite para mim. Nessa sexta, visitei um bar que se encontra em uma cidade vizinha, acompanhada de uma amiga. Meu desejo era ir a um lugar novo e diferente, mas nem tanto.

Chegamos às 11 da noite. O lugar era escuro, se chamava "Public House" e a fumaça estava um pouco exagerada, mas conseguia ver o palco onde os músicos tocavam com clareza. Mais underground, impossível. Comecei a prestar atenção na música. Arctic Monkeys, I Wanna Be Yours, minha segunda preferida deles. Entrei em êxtase, pois soava exatamente como meus ouvidos se agradam. Comecei a dançar sem perceber no meio das pessoas que estavam na pista, de maneira lenta, curtindo a música. Assim que ela acabou, começaram a tocar Foster. A voz do homem que cantava me envolvia, e arrancava-me calafrios. Era doce e forte ao mesmo tempo, e eu percebi que estava me conduzindo ao delírio. Quando finalmente abri os olhos e olhei em direção à banda, eu o vi. Cantava enquanto tocava sua guitarra preta, com os cabelos castanho-claros completamente molhados de suor, vestindo uma camisa surrada de The Strokes olhando fixamente em minha direção enquanto cantava. Eu não percebia o tempo passar. Quando dei por mim, já estava quase sem forças nas pernas, embebida por aquela voz ardente e suave, em hipnose profunda por aquele olhar escandescente.

Sentei-me um pouco num banco preto próximo à parede do bar. Não via nem sinal da amiga que havia me acompanhado até ali. A barra da minha saia floral estava suja de algo que não consegui identificar. Senti que meus pés doíam, apertados pelo sapato novo, com o qual eu ainda precisaria me acostumar. "Oi" escutei. Não consegui distinguir de onde vinha essa voz, mas reconheci-a na hora. Olhei para todos os lados procurando o dono da voz flamejante, até que colocou-se exatamente em minha frente acenando com uma das mãos. "Oi" respondi, confusa."Gostei muito das músicas, você e seus amigos tocam muito bem."Conversamos um pouco antes de nos apresentarmos, até que finalmente descobri seu nome. "Carlos". "Sara". "Adoro esse nome. Minha avó se chamava Sara". "Não acha estranho falar sobre sua avó falecida para uma estranha logo na primeira conversa?" Falei rindo. "Sim" Ele riu, olhando no fundo dos meu olhos. "Mas você não é tão estranha, e nossa primeira conversa não precisa necessariamente ser a única. A não ser que não seja legal." "Está sendo. Você só me fez rir até agora" respondi, olhando para seus lábios. Foi quando senti sua mão quente em meu pescoço e seu beijo caloroso. Senti-me arrebatada, em insano entusiasmo. Foi diferente de qualquer outro momento. Outra vez, não vi o tempo passar. Ele era um tipo de mágico, horas pareciam segundos. Quando dei por mim, já estava entregue. Não havia escapatória, o lobo já capturara sua ingênua presa. Nunca fui de me empolgar facilmente, mas Carlos, em especial, me fizera ir contra alguns costumes. Me sentia envolvida pelos seus braços e protegida pelo seu calor. Sua voz próxima aos meus ouvidos ainda arrancava-me calafrios e me conduzia à sentimentos inefáveis de prazer. Quanto mais parecia que me levaria à falência, mais agradável era para mim. A noite se foi como relâmpago, e eu não recordo-me sobre como tudo isso chegou ao fim.

Acordei confusa, e não me recordava onde eu estava. Olhei para os lados até que encontrei Clara, minha amiga que havia ido ao bar comigo. Ela me disse que estávamos em um hotel bem próximo daquele lugar. Minha cabeça latejava, enquanto me explicava sobre o que havia ocorrido na noite anterior. Com certeza não havia gastado tanta energia quanto eu, pois estava perceptivelmente bem menos cansada. “Aquele cara que estava com você foi embora. Ele não é daqui, veio apenas para tocar com a banda dele em uma série de casas de shows em São Paulo. Para sua tristeza, ontem foi o ultimo dia e com certeza eles já estão no avião de volta a Floripa. Mas ele deixou a camisa que ele estava vestindo para você. Aqui, pega" ela disse, friamente, enquanto me entregava a camisa. "Floripa?" eu não estava entendendo. "Isso aí. Ele me disse ser catarinense. Ele não queria te incomodar dormindo, por isso também me pediu para te entregar um número de telefone. Deve ser o dele", jogou em minha cama um pedaço de guardanapo amassado. Tentei ver o número, mas além de amassado, também estava rasgado. Os três últimos números estavam faltando. Senti um enorme aperto no peito. O que eu faria? Nunca havia me sentido tão persuadida por alguém. Tudo o que eu queria é que nossa primeira conversa não fosse a única.

Já se passaram três meses. Todos os dias ligo para os possíveis números de Carlos. Combino os 7 algarismos do papel com mais outros três, formando o máximo de sequências possíveis. Dia após dia imagino que finalmente escutarei aquela voz inconfundível. Sua camisa de The Strokes é uma das minhas preferidas, e eu adoro usá-la, mesmo que fique grande para mim. Já é o 67 dia em que tento acertar seu número. "Alô?" diversas pessoas atendem. Homens, mulheres, crianças, mas nunca ele. Cada vez que tento e erro, a esperança de ouvir sua voz novamente diminui um pouco.

Liguei para mais um número. "Alô?" "Oi, é a Sara" falei a mesma coisa pela milionésima vez. "Sara...? Do Public House? Por que demorou tanto para ligar?"

Só digo uma palavra: euforia.


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