Love or not Love? escrita por EuSemideus


Capítulo 24
XXlll


Notas iniciais do capítulo

Gente, desculpa msm. Minhas aulas começaram e pra completar eu estava sem net, mas agr tudo está nos eixos, eu acho... Bem, espero q gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/542898/chapter/24

XXIII

Annabeth


Annabeth não se lembrava de já ter corrido tanto em sua vida. Ela desviava de todos os carros que apareciam em sua frente, pegando atalhos e mais atalhos. Percy ia no banco de trás, ainda abraçado a Mel, que recusava-se a solta-lo.

Percy lhe explicara a história brevemente, colocando ênfase no fato de que Mel não tinha culpa na queda, mas a menina parecia ignora-lo e permaneceu em silêncio por todo o tempo.

Rapaz tentava bravamente disfarçar a dor, para não assustar a filha, mas Annabeth podia vê-la claramente em seus olhos. Aquilo doía ainda mais nela, saber que Percy sofria.

Quando finalmente chegou ao Alfa, viu que as únicas vagas próximas eram as na frente no estabelecimento, tais que eram reservadas para emergências ou/e médicos que lá trabalhassem. Annabeth ponderou por um momento e estacionou o carro em uma delas. Era uma emergência e Percy trabalhava lá, ela tinha dois pontos.

A loira, assim que desligou o motor, olhou para o banco de trás, vendo seu namorado e filha na mesma situação anterior.

– Vou buscar uma cadeira de rodas, não tentem sair daqui - ela pediu, deixando o carro rapidamente.

Adentrou as portas do hospital apressadamente e logo olhava para uma das recepcionistas.

– Dr. Perseu Jackson sofreu um acidente - ela disse, fazendo a mulher arregalar os olhos - Preciso de uma cadeira de rodas para tira-lo do carro, acho que a perna está quebrada. Não sei se ele tem plano de saúde ou...

– Não tem problema, é o Percy - interrompeu a recepcionista, sorrindo - Duvido que o Dr. Hades vá deixa-lo pagar pela despesa de qualquer maneira.

Annabeth sorriu, vendo a mulher dar um telefonema rápido, ao qual a loira não deu atenção. Logo corria para fora com um enfermeiro ao seu lado, levando a cadeira.

Abriu a porta do lado onde Percy estava e estendeu os braços para Melany.

– Filha, vem com a mamãe, agora o papai precisa ir - ela pediu, ignorando o olhar surpreso do enfermeiro ao ouvir tal frase.

Mel assentiu e passou os braços por seu pescoço, sendo levantada por Annabeth. Quando a garota já estava ereta, a menina enlaçou sua cintura com as pernas e apoiou a cabeça em seu ombro. A loira mais velha abraçou o pequeno corpo da bailarina, agradecendo por ela não ter o tamanho correto para a idade. Do contrário, não conseguiria carrega-la.

Quando Annabeth voltou seu olhar para Percy, este já estava na cadeira de rodas, e era empurrado para dentro do hospital. Ela o seguiu o mais rápido que pode. O enfermeiro atravessou a sala de espera e entrou em um dos corredores, onde foi parado por um médico.

– Ei, Percy! Vou ficar com você hoje - disse ele.

Percy sorriu levemente.

– Que bom, cara. Fico mais tranquilo - admitiu o rapaz.

O médico sorriu e fitou o enfermeiro.

– Leve-o, por gentileza, para a sala três - pediu ele - O raio-x já está pronto para funcionar e uma enfermeira já aguarda com a anestesia local.

O enfermeiro assentiu, e estava prestes a continuar, quando Percy disse:

– Espere.

Ele olhou para Melany e chamou:

– Ei, minha princesa - a pequena levantou a cabeça e o fitou - Eu vou ficar bem, ok? Logo logo o papai aqui volta.

Mel sorriu e Annabeth sentiu o corpo da menina relaxar em seus braços.

– Tudo bem, papai.

Percy sorriu e assentiu, deixando-se ser levado.

– Bom, vocês devem ser a família de Percy - disse o médico, se virando para elas - É um prazer conhece-las, sou o Dr. Smith, mas podem me chamar de Apolo.

Annabeth sorriu e assentiu.

– Sou Annabeth e essa é Melany - disse simplesmente - O prazer é nosso.

Antes que o rapaz pudesse voltar a se pronunciar, Melany disse em seu ouvido :

– Ele é o marido da tia Ártemis.

Annabeth fitou o homem e segurou-se para não abrir a boca. Realmente. Lá estava a pele quase dourada, os cabelos loiros, sorriso contagiante e os olhos azuis, tal cor que só fora perceptível com a proximidade.

– Vou leva-las até um dos leitos da emergência, onde Percy vai ficar depois que sair do raio-x - avisou ele, indicando o caminho.

– Você é marido da tia Ártemis, não é? - perguntou Mel, quando já estavam andando.

Apolo a fitou e sorriu.

– Sou sim, você estuda lá na escola? - ele indagou.

A pequena assentiu e voltou a deitar sobre o ombro da mãe.

Apolo levou-os até o leito e indicou onde poderiam ficar. Melany logo sentou-se sobre a cama e Annabeth em uma cadeira. Percy demorou demais a chegar, o que deixou a loira preocupada. Ela estava prestes a pedir informação para alguém, quando ele surgiu, empurrado pelo mesmo enfermeiro. Sua perna esquerda estava engessada de cima do joelho aos pés.

Percy simplesmente sorriu ao ve-las e abraçou Melany, para logo depois receber um beijo rápido da própria Annabeth.

Ela fitou o namorado e suspirou. Ao menos estava tudo sob controle.

–-----------------------------------------

Annabeth recostou-se na pia de mármore da cozinha, segurando sua caneca com duas mãos. Aproximou-a da boca e assoprou o líquido já doce, tentando torna-lo possível de der ingerido.

Fazia uma semana que Percy tinha quebrado a perna. A fratura, graças a Deus, não fora muito grande, de forma que ele só precisaria ficar mais uma semana com o gesso e uma outra usando a bota ortopédica. Ele parara da dar plantões, indo somente ao consultório para atender os pacientes que já estavam agendados - mesmo contra a vontade de Annabeth - e a faculdade.

Seria simples se Percy conseguisse ficar parado por mais de duas horas, mas aquilo era simplesmente impossível para o rapaz. Ele arrumava toda a casa antes que a loira chegasse. Também havia feito uma planilha com todos os gastos mensais e seus horários no hospital.

Annabeth estava levando Melany todos os dias para a escola, coisa que antes era tarefa de Percy, e os dias que ele costumava pega-la passaram a ser responsabilidade de Poseidon, que fizera questão de ajudar o casal.

Com a presença constante de Percy na casa, Mel acabava por passar mais tempo com ele. Annabeth admitia que sentia-se meio deixada de lado pela filha naquela última semana, mas tentava não se importar. Ela convivia mais com o pai, era natural que ficasse mais próxima dele. Porém isso não impedia que a loira mais velha ficasse carente.

Annabeth respirou fundo e bebericou o chá, sentindo o gosto suave da camomila em sua língua e o odor doce entrando por suas narinas. Fechou os olhos, aproveitando a sensação, e o fato de que o dia seguinte seria um sábado. Descanso, finalmente.

– Mamãe - chamou uma voz de criança, fazendo-a sorrir involuntariamente e abrir os olhos.

Melany a fitava da porta da cozinha. Seus cabelos estavam presos em duas tranças, que a própria Annabeth havia feito, e ela vestia um de seus muitos pijamas. Tal, que era composto de uma calça amarela bem clara e blusa de manga curta branca, com o desenho de um girafa.

Assim que a pequena entrara para a família, Sally, Atena e Mary haviam carregado-a para um shopping e comprado um guarda-roupa inteiro para ela. Sem falar que ela herdara muitas roupas que tinham sido de Annabeth quando criança. A última coisa que a menina precisava naqueles momento, era de vestimentas novas.

– Seu pai ainda não te colocou para dormir, meu anjo? - indagou Annabeth, estranhando que ela ainda estivesse acordada.

A pequena negou com a cabeça e se aproximou, abraçando a cintura da mãe. Annabeth deixou a caneca sobre a pia e retribuiu o abraço, acariciando os cabelos na menina.

– Ele disse que eu posso dormir mais tarde hoje porque é sexta-feira - contou a loirinha, levantando a cabeça para olhar nos olhos da mais velha - Mas eu acho que é uma desculpa pra ele poder terminar de ver o jogo.

Annabeth riu, sabendo o quão certa sua filha estava, e mexeu em suas tranças, aproveitando o abraço. Ela estendeu uma das mãos e pegou a caneca pela asa, bebendo mais um gole de seu chá.

– O que é isso? - perguntou Melany, se afastando um pouco, mas sem quebrar o contato.

– Chá de camomila - explicou Annabeth, mostrando a ela o conteúdo amarelado do recipiente.

A pequena respirou fundo e sorriu, fechando os olhos em apreciação. Da mesma maneira que a própria Annabeth fizera momentos antes.

– É bom? - ela perguntou abrindo os olhos.

Annaneth sorriu e lhe estendeu a caneca.

– Prove - sugeriu.

A pequena segurou a caneca, já morna, com as duas mãos, e levou-a aos lábios. Annabeth viu-a tomar o primeiro gole e sorrir, ingerindo mais um pouco de chá.

– É muito bom - concluiu a menina - Faz pra mim?

– Pode ficar - garantiu a mais velha - Tem mais na chaleira.

Melany sorriu e tomou mais um gole. Annabeth serviu-se de chá na caneca de Percy e adoçou-o. Logo já estava assoprando e repetindo todo o processo.

– O que é camomila? - perguntou a menina, depois de quase um minuto de silêncio das duas.

– É uma florzinha - explicou Annabeth - O chá é feito, na maior parte, daquele miolo da flor. As pessoas costumam dizer que camomila dá sono, mas nunca aconteceu comigo.

A pequena assentiu e lhe estendeu a caneca, já vazia.

– Tem mais? - perguntou sapeca.

–----

Uma caneca de chá e algumas conversas depois, as duas já estavam no quarto de Mel. A pequena deitada em sua cama de solteiro, já coberta até a cintura, enquanto sua mãe jazia sentada ao seu lado.

– Você quer que eu conte uma história? - perguntou Annabeth, sabendo que era isso que Percy normalmente fazia, quando colocava a menina na cama.

Melany, porém, mordeu o lábio inferior e negou com a cabeça. Aquela mordida, Percy fazia aquilo, mas era diferente e muito raro. Ele mordia bem o meio, enquanto Mel pegava o canto esquerdo. Só quando sentiu os dentes sobre o canto de seus lábios, notou. A loirinha não pegara aquilo de Perseu, mas sim dela própria!

– Papai sempre conta uma história, não também quanto você, mas conta - revelou ela - Mas ele não sabe cantar, então... Você pode cantar?

Annabeth surpreendeu-se com o pedido, mas acabou concordando. Sua voz não era das melhores, em sua opinião, mas deveria de ser o bastante para agradar uma criança. Cerrou o olhos, tentando lembrar de uma música para aquele momento. E lá estava ela, como um estalo. Levantou as pálpebras e sorriu.

Um pequenino grão de areia
Era um nobre sonhador– começou, com um grande sorriso nos lábios e acariciando as tranças da filha - Olhou pro céu, viu uma estrela
Imaginou coisas de amor.

Annabeth levantou-se da cama e caminhou até a parede, pressionando o interruptor, e desligando a luz. A lua e as estrelas fluorescentes brilharam no teto do quarto da menina, como que ambientalizando a música.

Passaram anos, muitos anos– continuou, voltando a sentar na cama, o olhar de sua filha estava longe - Ela no céu, ele no mar
Dizem que nunca, o pobrezinho
Pode com ela se encontrar.

"Se houve, ou se não ouve
Alguma coisa entre os dois
Ninguém pode até hoje afirmar

"Verdade é que depois
Muito depois!
Apareceu a Estrela do Mar.

Mesmo na escuridão do quarto, Annabeth pode ver os olhos da menina brilharem com o desfecho da história/música, uma reação não muito diferente da que ela tivera ao ouvir seu pai cantando aquela canção quando tinha a idade da pequena. Era, realmente, um modo mágico de ver o surgimento de algo tão diferente e, até, inusitado, quanto uma estrela do mar.

– Boa noite, durma com os anjos - desejou ela, beijando a testa da menina, que se contivera a fechar os olhos, deixando-se levar pelo cansaço.

Minutos depois a própria Annabeth deitava-se em sua cama. Os cabelos loiros presos em uma trança de lado, o camisola roxa indo até pouco acima dos joelhos e o inseparável colar em seu pescoço.

Assim que seu corpo repousou, Percy, que assistia televisão, desligou-a. Com alguma dificuldade, o rapaz escorregou na cama, deixando a perna engessada descoberta. Annabeth pode ver todos os desenhos e assinaturas no gesso branco, boa parte, se não todos, obras de Mel.

Percy puxou-a para seus braços e Annabeth deitou-se sobre ele, com as duas mãos sobre seu peito. O moreno sorriu, de modo que seus olhos verdes brilharam divertidamente. Ele levou uma das mãos ao rosto da namorada e acariciou sua bochecha, fazendo-a sorrir. A loira pode sentir a mão quente de Perseu deslizar, parando em nuca, e puxando-a para junto de si.

Assim que seus lábios se tocaram, todo o cansaço daquela semana sumiu, seguido dos problemas do dia a dia. Segundos depois, só sentia suas mãos entre os cabelos negros do rapaz e as dele apertando sua cintura. Annabeth tinha consciência de que sua camisola havia subido alguns centímetros, mas pouco se importava. Nada aconteceria, como nunca havia acontecido.

Percy afastou-se delicadamente e beijou sua bochecha e a ponta de seu nariz. Annabeth estava prestes a deitar-se ao seu lado, tirando o peso de cima do rapaz, mas este a impediu, abraçando seu corpo. O rosto dele estava junto da base de sua trança e as mãos acariciavam suas costas. A loira acabou por desistir e deitar-se sobre seu peito.

– Como foi seu dia? - perguntou Percy.

– Comum - contou ela - Você esqueceu de colocar sua filha para dormir.

Annabeth sentiu o peito de Percy estremecer enquanto ele ria.

– Foi intencional - segredou o rapaz - Você estava com saudades dela, não é?

Annabeth levantou a cabeça e olhou-o nos olhos, completamente incrédula, e um tanto agradecida.

– Quer dizer que isso nada teve haver com o jogo que estava passando agora há pouco? - indagou ela, em tom irônico.

Percy a apertou mais um pouco contra seu corpo e sorriu.

– É sempre bom unir o útil ao agradável - comentou ele.

Foi a vez de Annabeth rir, sabendo que ele falava a mais pura verdade. Ela tentou usar da distração do rapaz para voltar ao colchão, mas esse a impediu novamente.

– Percy, eu sou pesada, deixe-me descer - ela pediu, olhando em seus olhos.

O rapaz passou a acariciar sua cintura com os polegares e negou com a cabeça.

– Já estou me sentindo culpado o suficiente por não poder abraça-la todas essas noites - segredou ele - Preciso do seu corpo junto ao meu hoje. Além do mais, você é pesada como uma pena, Annie.

Annabeth fitou-o, levando uma das mãos a seus cabelos e acariciando-os. Percy fechou os olhos por um momento, para logo depois voltar a abri-los. Seus rostos estavam muito próximos e Annabeth podia ver as íris namorado brilharem. Naquele verde sem igual. Aquilo era golpe baixo.

– Por favor - ele sussurrou.

Annabeth sentiu todo seu corpo se arrepiar e seu coração derreter com o pedido.

– Tudo bem - ela disse, por sim - Mas se ficar pesado, por favor, prometa-me que vai me colocar na ca...

Ela foi interrompida pelos lábios de Perseu, que juntaram-se aos seus de surpresa. Podia te-lo empurrado para terminar sua frase, mas acabou por suspirar de prazer assim que o beijo se iniciou. As mãos do rapaz apertaram seu corpo levemente, e Annabeth pode senti-lo desfalecer, deixando-se completamente a mercê do namorado.

Percy se afastou sorrindo, provavelmente feliz pela sensação que causara.

– Eu prometo - ele garantiu.

Annabeth sorriu e deu-lhe um último selinho demorado.

– Boa noite - desejou, deitado-se sobre seu ombro e escondendo o rosto na curva de seu pescoço, colocando os braços envolta dele.

Só quando suas pernas se entrelaçaram, Annabeth notou que sua camisola estava na altura da cintura. Seu rosto corou violentamente e ela estava prestes a abaixa-la, quando sentiu as mãos de Percy sobre o pano. O coração de Annabeth foi a mil, enquanto os dedos de Perseu brincavam com a barra de deu pijama. Então ele lhe deu um beijo na testa.

– Boa noite - respondeu, abaixando a camisola, de modo que voltasse a seu comprimento costumeiro.

Annabeth suspirou aliviada, tendo ainda mais certeza de que poderia confiar em Percy. Este simplesmente deitou a cabeça sobre o travesseiro e fechou os olhos, deixando-se ser levado pelo sono. A loira seguiu seu exemplo, e logo estava dormindo.

–-----------------------------------------

– Eu quero ir lá! - disse uma voz de criança, despertando Annabeth de seu sono.

– Mas você vai acorda-la! Ela precisa descansar! - reclamou outra voz, essa claramente feminina.

Annabeth abriu os olhos, levemente pedida, mas aquela sensação não durou muito. Logo sentiu um movimento dentro de seu ventre e sorriu. Era mais um de seus lindos sonhos. Aqueles quais ela torcia, em silêncio, que se tornassem realidade.

Olhou para o lado e encontrou Percy. Ele dormia tranquilamente, com uma das mãos sobre a barriga dela, como se quisesse proteger o filho que ali jazia.

– Eu vou chamar o papai, não a mamãe - justificou-se a criança, tal voz que Annabeth, então, reconheceu como de seu filho mais velho.

Ele, e a outra pessoa que o acompanhava, estava do lado de fora do quarto, provavelmente no corredor que dava para todos os cômodos.

– Você sabe que o sono da mamãe está mais leve - retrucou a garota que conversava com o menino - Ela vai acordar só de você abrir a porta.

Annabeth franziu as sobrancelhas. A voz lhe era familiar, mas ela tinha certeza de que nunca a ouvira num sonhos. Além disso, ela lhe chamara de mamãe. Seria...

– Você é muito chata, Mel - reclamou o pequeno.

Melany. Pela primeira vez ela estava em seu sonho. Ela fazia parte de sua família perfeita. Era sua filha mais velha.

Os olhos de Annabeth encheram-se de lágrimas, mas ela tratou de conte-las.

– Vamos, eu posso te colocar para dormir - insistiu a garota.

Annabeth tirou a mão de Percy de sua barriga e sentou-se na cama. O pequeno em seu ventre não pareceu gostar da movimentação repentina, pois chutou razoavelmente forte.

– Shiii, querido, mamãe precisa levantar agora - ela sussurrou passando as mãos pela barriga.

O menino deu um último chute, já mais fraco, e pareceu se acalmar. Annabeth levantou-se com bastante dificuldade. Sua barriga estava realmente grande e pesada, se tivesse que apostar, diria que podia entrar em trabalho de parto a qualquer momento.

– Você não ta entendendo - reclamou o pequeno, enquanto Annabeth dirigia-se vagarosamente a porta de seu quarto - Eu quero o papai ou a mamãe.

– Pois aqui estou eu - disse ela, atravessando o batente e fechando a porta.

– Mamãe - os dois disseram surpresos.

Annabeth sorriu e abriu os braços, logo recebendo um abraço apertado do pequeno. Ela acariciou os cabelos negros do filho e fitou Melany. A menina devia estar na pré-adolescência. Os cabelos estavam presos em uma única trança e ela usava um pijama de composto de short e blusa, assim como o irmão. A mulher sorriu. Como estava crescida sua princesa.

– Desculpa, mamãe - ela disse se aproximando e juntando-se ao abraço - Não queria te acordar.

– Deculpa - sussurrou o pequeno.

Annabeth apertou-os um pouco mais e sorriu.

– Não se preocupem, meus amores, estou bem - garantiu ela - Agora, acho melhor irmos para a cama, não é?

Os dois assentiram e se afastaram. Melany segurou uma de suas mãos, na ideia de ajuda-la a andar, e o menino, vendo aquilo, acabou fazendo o mesmo. Logo já estavam dentro de um quarto. O pequeno estava deitado em sua cama e Annabeth de pé ao lado dela.

– Durma com os anjos, Oli - Melany disse para o irmão, beijado sua testa. Então voltou-se para a mãe e sorriu, abaixando-se na altura de sua barriga - Boa noite, pequeno. Deixa a mamãe dormir, ok?

Annabeth sorriu e beijou sua testa.

– Boa noite, querida.

Mel sorriu e virou-se para sair do quarto, mas parou quando o pequeno disse:

– Dorme comigo?

A menina se virou e apontou para si, como se perguntando "Está falando comigo?". O moreninho assentiu e sorriu envergonhado. Mel se aproximou e deitou-se por trás dele na cama, com as costas contra a parede, e abraçando-o.

– Mãe, canta a do Grão de Areia? - pediu ela.

A Annabeth daquela realidade sabia que a menina amava a música desde a primeira vez que a ouvira, com seus cinco anos de idade. Mas a que estava ali em sonho, levou aquilo como ato involuntário de seu subconsciente.

Entoou a canção com graça, sentindo o pequeno em seu ventre, que havia voltado a se mexer, descansar juntos aos irmãos. Caminhou pelo quarto, olhando cada detalhe, sem saber se um dia voltaria ali. Toda a decoração era do fundo do mar. Papéis de parede com ondas, peixes coloridos por todos os lados e até alguns barcos e submarinos.

Encontrou uma caneca em cima da cômoda. Pegou-a para ver melhor, notando que havia um menino desenhado na frente junto de um nome, Oliver. Fitou o pequeno, abraçado pela irmã, imediatamente. Então aquele era o nome dele. Cheirou-a, notando o odor de camomila. Se aquilo fosse o futuro, quantos anos não teria perdurado aquela tradição que Annabeth criara mais cedo, com a Melany de cinco anos?

Finalizou a canção com a última frase, notando que, por conta do cansaço, os dois já dormiam.

A loira sentiu duas mãos acariciarem seus braços e se virou, encontrando um Percy entre sorridente e preocupado.

– Não deveria estar de pé - brigou ele, acariciando sua barriga - Esse pequeno pode nascer a qualquer momento.

Annabeth sorriu e voltou a olhar os filhos adormecidos.

– Mas aqueles dois ali também precisam de mim - rebateu ela, sentindo o moreno abraça-la por trás.

– Tenho que admitir, é uma bela visão - sussurrou ele em seu ouvido - Mas agora, meu amor, vamos dormir. Vocês precisam descansar.

Aquele "meu amor", fez Annabeth suspirar e fechar os olhos, desejando ouvir aquilo todos os dias. E ela poderia, se não tivesse tanto medo. Sabia que Percy a amava, mas dizer a ele que sentia o mesmo... Como poderia? E se estivesse enganada sobre tal sentimento? E se ele não fosse quem aparentava ser? A última vez que dissera "eu te amo", acabara com um experiência não muito boa. Mas Perseu não era Luke. Ela precisava entender isso. Eles não eram a mesma pessoa.

Quando finalmente se viu livre de tais pensamentos, já estava deitada novamente na cama. Percy jazia ao seu lado, na mesma situação, olhando-a nos olhos. Com aquele Perseu, não haveria problema. Há quanto tempo não estariam casados? Já estavam indo para o terceiro filho, sendo o segundo biológico. Se ele não fosse quem parecia, já teria mostrado sua verdadeira face.

Terminou por sorrir, espantando seus medos. Estava num sonho, afinal, que consequências aquilo traria para sua vida real? Era somente um treino para quando aquelas palavras finalmente fossem ditas por seu "eu" em um momento consciente.

– Eu te amo - declarou, sentindo seu rosto esquentar ao dizer tal coisa.

Percy pareceu surpreso por um momento, mas logo depois sorriu abertamente e beijou-lhe os lábios.

– Eu também te amo, minha rainha - disse em seu ouvido, antes de tudo escurecer.

–-----------------------------------------

Percy

Percy apertou uma sequência de botões no controle, ouvindo em seguida o som que denunciava sua vitória. O laptop aberto ao seu lado no sofá e o telefone sobre a mesa de centro da sala, sob total alcance, mostravam com clareza o que o rapaz estava fazendo naqueles dias de licença. Absolutamente nada.

Seus dias eram normalmente corridos. Divididos entre hospital, estudos, família... Depois de Annabeth e Mel, então! Não reclamava, pois não lhe faltava carinho e atenção, assim como sabia que aquele esforço renderia um maior bem estar para os três.

Porém, aquela perna quebrada mudara tudo.

Com excessão dos dias em que tinha algum paciente de consultório, passava 24 hs em casa. Não se lembrava da última vez que havia jogado tanto video-game e atualizado-se em suas redes sociais. Estava, forçadamente, tirando as féria que nunca reivindicara.

Um barulho de notificação ecoou pelo cômodo, mas Percy ignorou. Deveria ser só mais alguma atualização em seu Facebook. Porém o aviso sonoro continuou, como um toque de telefone. O moreno pausou o jogo e fitou o computador, notando, surpreso, o que era. Uma chamada por Skype.

Colocou o computador sobre as pernas e atendeu a ligação, curioso para saber de quem se tratava. A surpresa foi maior ainda quanto o semblante acolhedor de sua avó surgiu na tela.

– Meu filho, isto está ligado? - ela indagou, olhando para o lado.

– Está sim - garantiu a voz de um homem, que Percy não podia ver.

– Vó - ele chamou, tentando atrair para si a atenção dela.

Elise olhou para a tela e sorriu abertamente.

– Oh, meu neto! - ela exclamou - Que saudades eu estava de você! Está tudo bem? E como vai Annabeth?

– Estamos bem, vovó. Também já estava com saudades - garantiu ele - Mas não sabia que a senhora tinha Skype!

Vovó Lise franziu as sobrancelhas e depois fez seu típico gesto com a mão.

– Eu não tenho esse tal de Stype - disse ela sem se importar com a pronuncia errada - Foi seu primo quem ligou para mim. Ele está morando aqui comigo, não é ótimo? Finalmente vou ter alguma companhia!

Foi a vez de Percy franzir as sobrancelhas. Que primo?

– Olá, Percy - disse um rapaz loiro, sentando-se ao lado da senhora e entrando campo de visão da câmera.

Will Solace. Percy não pode acreditar. Seu primo festeiro e pegador havia decidido ir morar com a avó conservadora? O que tinha acontecido naqueles meses que ele não estava sabendo?

– Will - disse ainda em choque - Olá, como vai? Que história é essa de estar morando com a vovó?

Will sorriu e colocou uma das mãos sobre a nuca, um pouco envergonhado.

– Resolvi tocar minha vida, cara - explicou - Destranquei minha faculdade de música aqui em Londres e a vovó me ofereceu abrigo. Preciso conseguir me manter, não sou mais um adolescente.

Se fosse possível, o queixo de Percy teria ido ao chão. Nunca em sua vida ouvira uma frase madura vinda da boca de seu primo. Então lá estava ele, dizendo-lhe que queria terminar os estudos, ter um emprego, sustentar-se.

Só nesse momento Percy notou. No braço levantado de Will, havia uma pulseira dourada, com uma letra pendurada. O moreno sorriu, vendo tudo se encaixar.

– Qual é o nome dela? - perguntou, sem deixar de sorrir.

Will corou levemente.

– Reyna - admitiu (N/a: mas gente, da onde eu tirei isso?!!!!!).

– Espero que ela te faça bem - desejou Percy.

– Ela faz - garantiu Will - Mas, mudando de assunto, eu pensei que você nem fosse atender. Não era para estar trabalhando?

Percy passou uma das mãos pelos cabelos.

– Bem, até deveria, mas estou de licença - contou ele - Quebrei a perna.

Sua avó arregalou os olhos.

– Meu Deus! Mas quando foi isso?! Por que não me avisou? Não está sozinho, não é? Quem está cuidando de você? Meu filho, você precisa tomar mais cuidado! - ela bombardeou-o.

Percy riu pelo nariz.

– Tem pouco mais de uma semana. Eu não disse porque não foi nada sério e não queria preocupa-la - começou ele - Não, eu não estou sozinho, e Annabeth está cuidado de mim. Estou bem, vó, acredite. Depois eu explico tudo direitinho para a senhora como foi.

Vovó Lise respirou fundo e fitou-o, ainda irritada. Percy viu Will lançar-lhe um olhar solidário, sabendo que a avó não abriria um sorriso tão cedo depois daquilo.

– Parece que você não tem me contado nada, não é mesmo, Perseu? - ela indagou brava - Fiquei sabendo por seu pai que agora tenho uma bisneta!

Percy teve vontade de se bater, talvez quebrar a outra perna. Como tinha esquecido de avisa-la sobre Mel? Logo vovó Lise, que tanto queria bisnetos? Abaixou a cabeça envergonhado e murmurou um "Desculpe-me" em resposta, para logo depois explicar toda a situação a sua avó. Tanto ela, quanto Will, pareceram um tantos surpresos ao entender os motivos e situação da adoção de última hora da menina.

Quando já tinha quase que finalizado sua narrativa dos últimos meses, ouviu passos rápido e um grito.

– Papai!

Percy levantou a cabeça e viu a filha chegar a sala em disparada, refreando-se para parar ao lado do sofá.

– Tia Mary vem aqui hoje? - ela perguntou, levemente ofegante.

Os cabelos loiros estavam soltos e bagunçados, mas mesmo assim a deixavam bela. A pequena usava um conjunto de short e blusa próprios para ficar em casa, e tinha Blackjack ao seu lado, como de costume. Percy sorriu, ela tinha um timer fantástico.

– Não, mas tem algumas pessoas aqui que estão loucas para te conhecer - ele disse batendo no lugar ao seu lado no sofá.

Melany sorriu e sentou-se, mas ela não aparecia na câmera. Percy tirou o laptop de seu colo e sentou-a ali, colocando o computador sobre as pernas da menina.

– Mel, esses são sua bisa Elise e meu primo, William - ele apresentou - Vó, Will, essa é minha filha, Melany.

A loirinha fitou o pai, insegura, mas Percy se limitou a sorrir e assentir. Mel virou-se para a câmera, sorrindo, e acenou.

– Oi, bisa Elise. Oi, tio Will - ela disse.

Os olhos de sua avó encheram-se de lágrimas e ela sorriu abertamente. Percy alegrou-se com aquilo, pensara realmente que iria terminar aquela chamada com avó irritada.

– Oh, minha filha, pode me chamar de Lise, tudo bem? - Melany assentiu, concordando - Quantos anos você tem?

– Eu tenho cinco, mas faço seis daqui a... - a pequena abaixou a cabeça e contou nos dedos, concentrada, para depois voltar a fitar a tela do computador - 3 meses!

Percy arregalou os olhos. Aquilo também era novidade para ele.

– Humm... Talvez eu vá te visitar, então. Se seu pai não te trouxer até aqui antes - ela disse com um meio sorriso.

– Nós não podemos viajar por enquanto - contou Percy - Ao menos não enquanto tudo não estiver definitivo.

O rapaz não falou abertamente, mas tinha certeza de que a avó havia entendido. Eles só tinham parte da guarda provisória da menina. Até que Melany fosse oficialmente filha dos dois, Percy não sabia nem se podiam deixar o estado, muito menos o país.

– A senhora fala engraçado, igual o vovô Poseidon - observou Mel.

– É porque eu moro em Londres, na Inglaterra - explicou Elise - E como seu avô é meu filho, ele morou por muito tempo aqui comigo.

A boca da pequena formou um perfeito "O".

– A senhora é de outro país?! - perguntou a menina, incrédula - Tem que pegar avião pra chegar aí?

Vovó Lise riu, mas foi Will que respondeu.

– Não só tem que pegar avião, como ele também atravessa TODO o Oceano Atlântico - disse o loiro.

Mel fitou Percy, com os olhos arregalados, e depois voltou-se para a tela.

– A senhora vai vir de longe assim só pra me ver? - perguntou a menina, parecendo não acreditar no que ouvia.

– Claro! - disse vovó Lise - Você é minha bisneta, não é?

A expressão de Melany era completamente cômica, porém Percy entendia o porquê dela. A menina passara toda a vida sendo mais uma entre muitas crianças. As pessoas que cuidavam dela faziam isso por obrigação, solidariedade e, às vezes, pena. Ela não era realmente importante para a vida de ninguém. Então, de repente, ela ganhava pais que a amavam, uma família inteira que tratava-a como parte dela e pessoas capazes de cruzar oceanos, somente para abraça-la. Aquilo era demais para a cabeça da menina.

Antes que um dos quatro pudesse se pronunciar, Percy ouviu o barulho da fechadura da porta, vendo-a se abrir. Retirou o laptop da pernas de Melany, antes mesmo que a porta voltasse a se fechar, já sabendo a próximo movimento da menina.

Mel pulou de seu colo e correu em direção a loira, que mal conseguira deixar a bolsa em cima do sofá quando a pequena a abraçou. Annabeth a acariciou os cabelos da filha, sorrindo, e beijou-os.

Percy não pode deixar de sorrir com a cena. Sabia que a namorada era carinhosa e atenciosa, mas aquele instinto materno era algo novo, que nem mesmo Connor havia sido capaz de despertar. Annabeth cuidava de Melany com tal dedicação e carinho, que ele chegava a ficar impressionado. Mas também não podia reclamar. A loira sempre estava lá quando ele precisava de um beijo, um abraço, atenção, ás vezes até mesmo um colo. Ela era incrível, sem dúvida alguma.

– Mamãe, vem falar com bisa Lise e com o tio Will - chamou a pequena, puxando Annabeth pela mão.

– Mas onde? - perguntou a garota, confusa.

Melany a fitou e revirou os olhos.

– No computador, né mamãe - ela disse como se fosse óbvio,

Percy riu e Annabeth rolou os olhos da mesma maneira que a filha. As duas ficavam a cada dia mais parecidas.

Logo Annabeth já estava sentada ao seu lado, com Melany sobre suas pernas. Ela lhe deu um selinho como comprimento e lançou-lhe um olhar de "Tudo bem?". Percy simplesmente sorriu, tranquilizando-a.

Annabeth soltou seus cabelos do coque, prendendo-os em um rabo de cavalo. Com aquele movimento, o pingente em seu pescoço se mexeu. Ele sempre estava ali, todo dia, o dia todo. A loira parecia entender o que ele significava, pois recusava-se a tira-lo do pescoço. Aquilo só servia para alegrar ainda mais o coração do rapaz.

– Vovó Lise! Will! Como estão? - perguntou Annabeth, abrindo um grande sorriso.

– Muito bem - garantiu Elise - E você? Gostando da vida nova?

Percy viu sua namorada fita-lo e depois a menina em seu colo. Um sorriso sincero e genuíno surgiu em seu rosto.

– Você nem imagina o quanto - respondeu ela.

Melany fitou a mãe e mordeu o lábio inferior, pensativa. Então apoiou as mãos no sofá, fazendo impulso para se levantar. Porém, antes que o fizesse, Annabeth olhou-a de uma forma que deixou Percy perdido, porém a pequena pareceu entender, corando levemente em resposta.

– Licença - ela disse antes de se levantar e correr em direção aos quartos.

Annabeth voltou a sorrir e fitou a tela do computador.

– Ela tem problemas com a palavra "licença" - explicou a loira.

– Mesmo assim é muito educada, estão fazendo um ótimo trabalho - disse vovó Lise - Sem falar que ela é naturalmente adorável.

O casal sorriu e agradeceu. Percy aproveitou para enlaçar a cintura da loira, trazendo-a para mais perto de si. Annabeth relaxou, recostando a cabeça em seu ombro e aninhando-se junto a seu corpo.

– Não quis falar na frente dela, mas... Tem certeza que ela não é filha de vocês? - perguntou Will - Vai ver que cinco anos atrás vocês ficaram numa festa e nem sabiam.

Percy se limitou a rir da teoria maluca de seu primo, porém Annabeth corou fortemente, quase escondendo o rosto na curva de seu pescoço.

– Impossível - declarou ela, ainda envergonhada - Eu estava na Grécia, estudando arquitetura, cinco anos atrás.

Foi a vez de Will arregalar os olhos.

– Na Grécia?! - ele indagou surpreso.

Percy riu abertamente da expressão do loiro, então viu a imagem tremular e travar.

– Eu acho que a internet está caindo - disse o moreno, notando que o problema não era com seu sinal.

– Sim, vamos cair em poucos segundos - disse Will, sem que a imagem se mexesse, o que deixou tudo um tanto estranho - Tchau, Percy. Tchau, Annie. Digam para a pequena que mandei um beijo.

– Até, meus netos - a voz de vovó Lise foi ouvida - Diga a Mel que outro dia ligo para conversarmos mais! Um beijo! Fiquem com Deus!

– Até! - disseram os dois ao mesmo tempo, antes de verem a ligação cair.

Percy colocou o laptop ao seu lado e sentiu Annabeth se aconchegar um pouco mais. Ela passou os braços por seu pescoço e o abraçou. Percy retribuiu desajeitadamente, acariciando suas costas.

– Você está bem? Sentiu alguma dor? - perguntou ela baixinho, ao pé de sua orelha - Melany deu muito trabalho?

Percy sorriu, apertando-a um pouco mais. Sempre preocupada.

– Eu estou bem. Não senti nenhuma dor. E Mel parece estar solidária comigo esses dias - segredou ele - Todas as brincadeiras agora são essencialmente sentadas e na sala. Ela também tem se virado sozinha consigo mesma.

– Essa é a minha menina - ela disse em seu ouvido.

Percy, por algum motivo obscuro, lembrou-se do sonho que tivera dias antes. O som da melodiosa voz de Annabeth dizendo "eu te amo", pareceu-lhe a mais linda sinfonia já criada. Entristecia-lhe o fato de que ela não era real, só mais um fruto de sua imaginação. Mas dava-lhe esperanças de que em breve ouviria o mesmo daquela que no momento o abraçava.

Annabeth retirou cuidadosamente os braços de seu pescoço e beijou-lhe o bochecha, sentando-se direito no sofá. Assim que ela se ajeitou, Melany entrou na sala em disparada. Percy estava tão distraído em seus pensamentos que nem mesmo ouvira a filha se aproximar.

A pequena estendeu algo para Annabeth, que Perseu logo reconheceu como uma xuxinha, e assim que a mais velha a pegou, virou-se costas. O moreno não entendeu de início, mas assim que viu a mais sua namorada segurar os cabelos de Melany com delicadeza e destreza, formando um rabo de cavalo com as mãos, tudo fez sentido.

Mel fazia de tudo para se parecer com a mãe, e copiar seus penteados eram a primeira coisa. O objetivo da pequena parecia querer ser uma segunda Annabeth, o que era um tanto fofo e bonito de se ver.

– Cadê eles? - perguntou Melany, com os cabelos já presos, procurando o computador.

– A internet caiu, mas o tio Will te mandou um beijo e sua bisa disse que vai ligar outro dia para vocês conversarem mais - explicou Percy.

A pequena suspirou tristemente mais depois deu de ombros.

– Tudo bem - ela disse subindo no colo do pai se sentando-se - Posso ficar aqui?

Percy sorriu e assentiu. Annabeth fitou-o, de modo reprovador, mas ele ignorou. Aquela maldita perna quebrada não iria impedi-lo de dar colo a sua filha.

Melany fechou os olhos e recostou-se em seu peito. Percy segurou-a delicadamente e sentiu Annabeth voltar a esconder o rosto na curva de seu pescoço. E, por um momento, ele sentiu como se nada pudesse dar errado em sua vida.

–-----------------------------------------

Percy estava jogado no sofá, como tinha feito nas duas semanas anteriores. Assistia um filme qualquer na companhia de Blackjack, que tinha a cabeça sobre sua perna, a qual o rapaz acariciava com uma das mãos.

Aquele estava previsto para ser o último dia do moreno com o gesso, e ele estava louco para que o amanhã chegasse. A última vez que quebrara um membro, antes da mais recente, fora quando tinha 8 anos, e, sinceramente, não lembrava-se do quanto era ruim.

O gesso fazia sua perna coçar e suar constantemente. Os banhos haviam se tornado uma espécie de equilibrismo e as noites de sono bem dormidas, raridades. Além de que sua locomoção só era possível através de muletas, o que dificultava tudo duas vezes mais.

Blackjack levantou a cabeça de repente e duas orelhas subiram. Percy o fitou confuso, para em seguida ouvir o barulho da campainha. Automaticamente checou as horas. Ainda tinha alguns minutos até Annabeth chegar com Melany. Além do mais, elas possuíam a chave da porta e o labrador não estaria parado, e sim pulando a frente da porta, esperando que sua amiga entrasse.

Percy levantou-se com alguma dificuldade e foi em direção a porta com ajuda das muletas. Assim que a abriu, deu de cara com uma visita que seria ótima, se não estivesse com uma expressão tão ruim. Nico.

– Cara, o que aconteceu? - perguntou Percy, deixando que o amigo passasse.

O Di Ângelo entrou em disparada e olhou em volta, como se procurando algo.

– Você está sozinho? - indagou ele e Percy assentiu, voltando a seu lugar de costume do sofá.

Nico deixou-se cair em uma das poltronas e enterrou as mãos nos cabelos. Estava óbvio que ele saíra em disparada do hospital. Ainda vestia o jaleco, coisa que nunca fazia fora de seu ambiente de trabalho, sem falar do estetoscópio no pescoço.

– Tinha alguma esperança de que ela estivesse aqui - disse ele em voz baixa.

Percy se aproximou, preocupado.

– O que aconteceu? - ele perguntou novamente.

Nico suspirou e levantou a cabeça, passando uma das mãos pelos cabelos.

– Thalia sumiu - ele soltou - Ela viu uma cena, interpretou do jeito que quis, e sumiu. Não voltou para casa, nem para seu antigo apartamento. Ninguém do trabalho sabe dela. Minha última esperança era que ela tivesse vindo para cá.

Nico se levantou e começou a andar pela sala, claramente impaciente.

– Por Deus, ela está com quase 7 meses de gestação, não pode ficar andando por aí sozinha! - ele exclamou nervoso - E se algo acontecer a ela? Ou ao nosso filho? E se algo acontecer ao dois, Percy?! Eu não sei se vou conseguir sobreviver.

Nico novamente despencou sobre a poltrona. Com a cabeça entre as mãos. Ele levantou os olhos brevemente, e Percy pode ver, pela primeira vez em sua vida, que o melhor amigo estava prestes a chorar.

– Calma, nós vamos encontra-la - garantiu o moreno de olhos verdes - Vou ligar para Annabeth, talvez ela tenha alguma notícia de Thalia.

Nico assentiu, recostando-se na poltrona e respirando fundo, claramente tentando se controlar.

Assim que Percy segurou o telefone, ele tocou. Quando olhou quem ligava teve certeza, aquilo só podia ser transmissão de pensamento.

Perseu, vou demorar um pouco para chegar– anunciou Annabeth rapidamente - Depois que peguei Mel na escola recebi uma ligação de Thalia. Estou aqui no apartamento de Nico.

Percy respirou fundo e sorriu levemente, aliviado.

– Ela está bem? Onde ela estava? Nico está louco atrás dela - contou Percy, vendo o amigo arregalar os olhos, prestando mais atenção a conversa.

Peguei-a no Central Park– contou Annabeth - Fisicamente ela está bem, mas só sabe chorar. Você está com Nico? Pergunte a ele o que aconteceu, porque a Thalia só murmura alguma coisa sobre "quebrar a promessa" e xinga-o de nomes nada bonitos. Tive que colocar Melany para dentro do quarto.

– Tudo bem, só um minuto - ele pediu, afastando momentaneamente o telefone do ouvido e voltando-se para Nico - Ela está bem e o bebê também. Estava no Central Park, de acordo com Annabeth, agora já estão em casa. Annabeth está lá com ela e pediu para você explicar o que aconteceu, tudo bem?

Nico soltou todo o ar que segurava e Percy viu duas lágrimas descerem por seu rosto, de puro alívio.

– Tudo bem - ele declarou.

Percy assentiu e colocou o telefone no viva-voz.

– Annie, você está no viva-voz - avisou ele - Nico vai nos explicar o que aconteceu.

O rapaz respirou fundo e passou novamente uma das mãos pelos cabelos.

– Eu estava no fim dos consultas, atualizando a ficha de alguns paciente - contou ele - Então chegou a Drew e deu em cima de mim como sempre, e eu a ignorei, como sempre.

"Mas Thalia, que chegou nesse momento em minha sala, viu tudo de maneira diferente. Ela me acusou de traição. Disse que eu demorei a chegar ontem porque estava com a Drew e depois foi embora chorando, sem me deixar explicar.

Percy pode ouvir Annabeth bufar. Ele já havia contado sobre Drew a ela, uma das enfermeiras do hospital, e como ela dava em cima todos os médicos bem sucedidos. A partir de então, a loira tomara raiva da mulher que nunca se quer vira.

– Mas, afinal, por que você demorou a chegar ontem? - indagou Percy. Havia algo ali, ele sabia.

– Eu estava preparando uma surpresa para ela - respondeu o Di Ângelo por alto.

Nico, se você quer que eu te ajude, preciso saber de tudo– declarou Annabeth - Que surpresa é essa?

Nico abaixou a cabeça e, ineditamente, corou.

– Eu ia pedi-la em casamento, Annie - revelou ele.

Annabeth soltou um "ohh" do outro lado da linha, e Percy precisou de alguns segundos para absorver a notícia. Quando Nico dissera no churrasco que pretendia se casar com Thalia, o rapaz não achara que fosse algo tão imediato.

Eu vou dar um jeito, não se preocupe– garantiu Annabeth - Quando você puder voltar, te ligo. Enquanto isso, tome conta de meu namorado, ok? Estou sentindo que ele vai acabar quebrando a outra perna.

E assim ela desligou, sem mais satisfações.

–-----------------------------------------

Nico

Nico respirou fundo e abriu a porta de casa, sem saber muito bem o que o esperava. Annabeth havia ligado meia hora antes, liberando sua entrada no próprio apartamento, e deixado o local pouco minutos antes da chegada de Nico.

O rapaz não sabia o que pensar, como agir. Seu coração estava apertado e o estômago se revirava. Queria brigar com Thalia por ter desaparecido sem dar notícias, por não ouvi-lo, por não confiar nele... Estava com tanta raiva!

Manteve a postura firme, decidido a não baixar a guarda.

Assim que fechou a porta, virou-se e encontrou-a de pé, também voltando-se para ele. Os cabelos negros caindo por seus ombros e indo até as costas. O mesmo vestido azul cobrindo seu corpo, já não tão esbelto por conta da gravidez avançada, e o rosto, assim como os olhos, vermelho e inchado, demonstrando que chorara. Além de que, ineditamente, não havia nenhum indício de maquiagem. Sem falar das mãos, ambas pousadas sobre a barriga.

Então tudo foi por água a baixo.

Toda a raiva sumiu, dando lugar a profunda preocupação que o assolara mais cedo naquele mesmo dia. Ele precisava ter certeza de que ela estava bem, de que seu filho estava bem. Só então poderia descarregar o sentimento detido dentro de si.

Nico caminhou calmamente em direção a morena, que o fitou confusa.

– Nico... - ela sussurrou, mas o rapaz nada disse, somente a abraçou.

Seus braços envolviam a cintura de Thalia e a cabeça acomodava-se no ombro da garota. Seus corpos estavam colados. Podia sentir as batidas do coração da namorada, a respiração contra seu pescoço, os pelos se arrepiando com o contato... Mas foi só quando seu filho deu um chute tão forte que pode ser notado por ele, que Nico desabou.

As lágrimas passaram a cair desenfreadas, irrefreáveis. Todas as que tinha contido durante o estressante dia, molhavam seu rosto sem pudor. Imediatamente sentiu duas mãos, pequenas e delicadas, em sua nuca, indo até seus cabelos e voltando, acariciando-o levemente. Porém, aquele conforto, só serviu para aumentar ainda mais o choro do rapaz. O que faria se nunca mais pudesse sentir aquele toque em seu corpo? O que seria dele se a tivesse perdido para sempre? Afastou rapidamente aquela possibilidade. O importante era que Thalia estava bem. Nada havia acontecido.

Nico se afastou um pouco. A morena o fitava preocupada, ainda o abraçando. Ele percorreu o corpo dela, tão conhecido, com as mãos, como que certificando-se de que nada faltava. Quando acariciou sua barriga, sentiu um chute do pequeno, que o fez rir entre as lágrimas. Segurou o rosto dela e sorriu, venda cada mínimo traço.

– Você está bem - sussurou ele, encostando a testa na dela e fechando os olhos, as lágrimas ainda caindo - Muito obrigado. Obrigado.

Naquelas horas de aflição, sem notícia alguma, quanta vezes avia pedido para pudesse vê-la mais uma vez? Para que ela não estivesse ferida ou perdida?

– Nunca mais faça isso - pediu afastando seus rostos e abrindo os olhos - Se estiver brava comigo, xingue-me, grite, faça um escândalo que todas as pessoas em um raio de cem metros irão ouvir. Mas, por favor, não suma sem dar notícias.

"Eu pensei tantas coisas... Eu só conseguia imaginar você sendo assaltada, sequestrada, ferida, morta... Não sei se aguentaria uma segunda vez.

Thalia segurou uma de suas mãos, que ainda estavam no rosto dela, e fechou os olhos.

– Desculpe-me. Desculpe por sumir, por não confiar em você, mas é que... - a morena abriu os olhos, deixando algumas lágrimas rolarem - Ela era tão bonita e atraente, e eu estou assim - Thalia apontou para si mesma - Gorda, inchada, sensível, bipolar... Ela parecia uma opção bem melhor.

A garota abaixou a cabeça, mas Nico não soube dizer se fora por vergonha ou tristeza. Ele segurou o queixo da namorada, fazendo-a olhar em seus olhos.

– Nunca mais repita isso - disse sério - Nem em mil anos existirá alguém que seja uma "opção melhor" que você.

"E sabe porquê? Porque eu te amo. Sou incapaz de achar qualquer outra mulher mais atraente do que você. Além de que, Lia, você não está gorda, está carregando o nosso filho, e, aos meus olhos, isso te faz cem vezes mais bela.

Thalia sorriu, enquanto algumas lágrimas escapavam de seus olhos.

– Eu não me importo se está sensível ou bipolar - disse Nico sorrindo - Posso, e sei, lidar com isso. E, sendo por você, faria muito mais. Então, por favor, nunca mais pense que eu te trocaria por qualquer coisa nesse mundo. Temos uma promessa, lembra?

Thalia assentiu e o abraçou fortemente. Nico retribuiu o gesto, suspirando aliviado.

– Nico - chamou ela minutos depois, afastando-se o bastante para olha-lo nos olhos - É verdade que você ia me pedir em casamento?

Thalia estava corada e parecia um tanto envergonhada. Nico soltou-a delicadamente, sentindo seu rosto esquentar, e colocou uma das mãos sobre a nuca.

– Bem, é sim - admitiu ele, fitando-a - Foi por isso que demorei ontem, desculpe-me, mas precisava comprar isto.

Nico colocou a mão no bolso do jaleco, só então notando que ainda usava-o, e tirou de lá uma bolsinha de veludo preta. Estendeu-a para Thalia, que pegou hesitante. A morena abriu a boca da bolsa com os dedos e, com o polegar e o indicador, puxou o colar de lá de dentro estava.

Nico escolhera-o a dedo na joalheria, mesmo que a vendedora tivesse feito uma cara engraçada quando ele disse que seria usado para um pedido de casamento. A corrente era um intercalado de duas bolinhas de turquesa, para duas de ouro, separadas, menos de um centímetro de distância, por hastes do mesmo metal. E o pingente tratavasse de um sapatinho de bebê em ouro, com um pequeno laço turquesa.

– Eu não quis comprar um anel - contou ele, enquanto Thalia admirava, surpresa, o colar - Pois sabia que seus dedos estavam inchados, então não poderia usa-lo. Aí resolvi apelar para algo que refletisse nosso estado atual.

– É... Perfeito - disse a garota, saindo do transe.

Nico sorriu e pegou o colar cuidadosamente, posicionando-se atrás da namorada.

– Então, você aceita? - ele perguntou, abrindo o fecho e afastando os cabelos dela - Casar-se comigo, ser minha para sempre? - continuou, passando o cordão por seu pescoço - Ficar ao meu lado até que a morte nos separe?

Nico prendeu o cordão e ajeitou os cabelos de Thalia. Essa virou-se para ele, com uma das mãos sobre o pingente e olhando-o encantada. A morena levantou os olhos e fito-o, com um grande sorriso nos lábios.

– Como se houvesse uma resposta que não fosse "sim" - ela disse, fazendo com que a alegria de Nico fosse as alturas e ele a beijasse, marcando o início de uma nova fase.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, como está? Espero q bom... Quero agradecer a Nana Valdez pela comendação! Acabei de lê-la, fofa!
N esqueçam de dizer o q acharam!
Bjs, até!
EuSemieus