— Dimitri Belikov, precisamos ter uma conversa séria.


O Dashkov surpreendeu a todos, inclusive sua própria família. Tatiana, educada como sempre, não perdeu a compostura e tentou remediar as coisas.
— Querido, estamos aqui para aproveitar o dia, certo? Primeiro, vamos curtir o reencontro e esse lugar maravilhoso, e ai, depois, vocês tratam de trabalho. — Ela diplomatizou, Lissa e Nathalie sorriam em concordância.
— Yeah, Tatiana tem razão. E eu adoraria me sentar, esse meu filhote está acabando com meus joelhos. — Intrometi-me parecendo cansada. Eu não sabia se barrigas afetavam joelhos, mas não custa nada tentar.
Victor suspirou derrotado após olhar minha cara. Oh cara, se eu não fosse agente da Interpol, teria tido uma carreira brilhante como atriz em Hollywood. Depois do ar tenso se amenizar um pouco, caminhamos até uma toalha grande listrada com almofadas espalhadas pelo chão. Era tudo muito bonito, e no espaço sobrando da toalha, tinha uma mesa baixinha cheia de comida. Ai cara, acho que isso é o paraíso.
Meus olhos se encheram de desejo por toda aquela comida. Oh cara, eu havia tomado um café sensacional a menos de uma hora atrás, por que é que eu estou sentindo como se tivesse passado a vida sem comer? Porque você está gravida, Rose. Meu subconsciente avisou. Mas cara, se grávidas podem comer tanto assim sempre, eu quero ser grávida pelo resto da minha vida.
— Meu amor, sente-se aqui apoiada em mim, não quero que você fique em uma posição desconfortável. — Dimitri falou dando um ressalte na ultima palavra. O que ele queria dizer com isso? Ah droga, é isso, eu estou com uma barriga saliente, eu não posso me sentar normalmente. Como é que gravidas se sentam nos filmes? Acho que elas ficam com a coluna reta, mas inclinadas para trás.
Dimitri se acomodou em uma grande almofada e colocou outras inclinadas em seu colo. Tentei-me sentar sem parecer normal, fazendo algumas caras de desconforto e me aninhei ao peito do meu Russo. Eu não via a cena do ponto de vista da família Dashkov, mas pelas expressões dele, Dimitri e eu parecíamos genuinamente um casal grávidos.
Tatiana sorriu abertamente depois de alguns minutos em silêncio e engatou em uma conversa sobre quando ela estava gravida. Todos entramos no embalo, todos menos Victor, ele estava prestando atenção em tudo, e participando da conversa com suas histórias de quando a Tatiana tinha desejos estranhos, mas meu instinto de agente sabia que por trás dos olhos dele tem algo errado. Depois de horas de conversa jogadas fora, as garotas tiveram uma ideia brilhante:
— Rose! Que tal darmos um mergulho? A água faz milagres pelas juntas. — Natalie falou animada, sorri sem graça. Oh porra! Eu não sei como nadar com isso, eu nem sabia que era possível uma grávida entrar debaixo da agua. E toda aquela pressão? Isso não mata o bebê não? Inferno, eu não vou arriscar a vida do meu bebê em uma piscina.
— Eu adoraria, mas antes, eu estou morrendo de desejo— Comentei olhando pra cima tentando ver o rosto do Russo e o mesmo criou um brilho repentino no olhar.

— Ora Rose, fale, com desejo não se brinca.— Diz Tatiana rindo junto.

— Estou com um desejo terrível de suco de repolho roxo.— Falei sorrindo sem graça, no fundo eu estava desesperada por uma solução para fugir da piscina, esperar pelo suco me daria um tempo para pensar em algo melhor. Dimitri me encarou franzindo o cenho, dei-lhe um olhar desesperado gritando “faça”. Ele assentiu levemente e abriu um sorriso deslumbrante.
— Tudo pelos amores da minha vida. — Ele disse sinceramente acariciando minha falsa barriga e depois depositando um beijo casto em minha testa. Cara, se ele também não fosse agente da Interpol, poderia ter tido uma carreira brilhante em Hollywood ao meu lado. Todos foram um pouco pegos de surpresa pelo meu desejo repentino, mas Tatiana entendeu a parada de isso ser algo de grávida e aceitou numa boa a retirada de Dimitri.
— Hey, Dimitri. Espere-me, eu irei com você, assim podemos conversar e resolver os assuntos de trabalho de uma vez. — Victor falou um pouco tenso se levantando, oh merda! Que diabos, agora, mesmo que eu quisesse, nunca saberia o que eles conversaram até chegar em casa. Tentei não demonstrar minha dor por deixar o Russo partir com o Dashkov sem mim.
Mais de uma hora se passou até que Dimitri voltou com uma garrafinha com um liquido roxo estranho. Aquilo com certeza tinha bastante nutrientes, mas eu garanto que é duas vezes mais nojento do que nutritivo. Reprimi minha repulsa pelo suco porque fui dominada pela apreensão de não saber ler a mente do Dimitri. Ele estava com uma expressão neutra, quase agradável, como se ele só tivesse saído para realizar o desejo de sua esposa. E isso me apavorou. Cara, nós temos que ir para casa imediatamente.
— Ah meu amor! Que ótimo, assim o bebê não vai nascer com cara de repolho. — Eu falei radiante fazendo uma careta logo depois. Dimitri deu um sorriso orgulhoso e voltou a se sentar me aninhando em seu peito.

Natalie me ajudou a levantar com Dimitri em meu encalço rumamos a piscina. Sentei-me em uma das espreguiçadeiras com Dimitri ao lado e comecei a beber o liquido. O gosto não era tão ruim, mas a textura, repulsiva! Eu já tinha um plano para ir para casa, meu corpo só precisava me ajudar. Comecei a beber o suco cada vez mais rápido, agora eu só tinha que colocar tudo para fora. Vamos lá, corpo! Eu sei que vomitar é horrível, mas você precisa expulsar esse suco. Comecei a pensar em coisas cada vez mais nojentas, comecei a imaginar tudo de mais horrível que poderia existir, tipo baratas gigantes derrubando meleca pelas ruas. Ou ser engolida por uma mosca gigante, ou servir de casa para abelhas carnívoras pegajosas. Comecei a sentir meu estomago se revirar, está chegando. Mas que droga, são ossos do ofício.
— Rose, você está b... — Virei pra ele sabendo que eu já deveria estar basicamente verde. Dimitri não conseguiu terminar a frase, a única coisa que ele fez foi segurar meus cabelos fora do rosto. Tudo saiu pela minha boca direto no deck da piscina, tudo virou uma gosma misturada, o suco, algo como pedaços de bolinho e coisas nojentas que eu não reconheci.
— Ai meu Deus! Rose, você está bem?! Oh querida, me deixe te ajudar. — Tatiana disse disparando ao meu encontro. Parei-a com a mão acenando a cabeça, agora que tudo estava fora de mim, eu conseguia falar, um pouco.
— Não Tatiana, não quero ser um incômodo, eu sinto muito por ter estragado o dia. Eu não sei o que deu em mim, mas esses hormônios e estomago, eu não sei o que houve. Eu estou tão envergonhada, eu realmente não sei como me redimir. Eu só preciso ir pra casa... — Clamei soando o mais sincera possível. E francamente, eu estava mesmo envergonhada, vomitar na frente de uma família cujo o pai é um criminoso que você quer prender, não é uma situação muito confortável de se passar.
Depois de muito tempo se desculpando e se lamentando, os Dashkov nos deixaram partir garantindo que estava tudo bem. Nathalie e Lissa foram muito simpáticas e compreensivas por eu ter estragado o dia da piscina delas, graças à Deus!
Quando estávamos no carro, nada foi dito, Dimitri sabia porque eu tinha feito aquilo, e eu sabia que a conversa aconteceria em casa, junto com o Hans e o resto da equipe. Por isso esperei pacientemente até chegarmos em casa.

P.O.V. HANS

Olho a extensa sala de computadores, todos os agentes concentrados em seus respectivos serviços. Mexo compulsivamente na aliança que se encontra no meu dedo anelar. Começo a andar de um lado para o outro, até que escuto um baque.

— Hans, eles estão voltando. Vamos começar a emboscada?— Pergunta Mia com um certo brilho nos olhos. Essa guria é louca por trabalho em campo. Aceno em concordância e a mesma se levanta procurando as chaves do almoxarifado.

— Agentes!— Chamo a atenção de todos aqueles soldadinhos que me obedecem.— Preparem as armas. É hoje que a cobra vai fumar...— Digo soando divertido.