Passionais escrita por HinaHyuuga09


Capítulo 2
Meu erro


Notas iniciais do capítulo

Se não tivesse atrasado, não seria eu. :P

Boa leitura!



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Shizune ainda estava insatisfeita. Tinha conseguido fazer com que o Inuzuka abrisse o bico e contasse tudo, até mais do que deveria. Ainda assim, alguns problemas a impediam de continuar sentindo-se perto da vitória.

A complicação acontecia desde a abertura do caso, quando o suspeito fora rastreado e apreendido durante uma corrida para o País da Areia, como ele mesmo tinha explicado. A fuga, como qualquer pessoa pode imaginar, não é exatamente a maneira mais inteligente de melhorar uma situação criminal diante da justiça. Depois, a relutância violenta para seguir até a delegacia. Os relatos sobre a atitude estranha do homem poderiam terminar de enroscar a corda no pescoço do Inuzuka, mas, por infelicidade, algo mais ainda poderia piorar a situação dele.

Ao mesmo tempo em que ela devaneava, a olhar para o grande quadro à sua frente, transformado em um esquema de pistas e crimes que se interligavam confusamente, os peritos analisavam o local do crime, procurando por minúcias, resquícios de impressões digitais e fios de cabelo ou pedaços de unha. Fosse como fosse, restasse apenas um fio de cílio na cena toda, eles o encontrariam e o decifrariam. O verdadeiro culpado viria a tona, e isso a preocupava um pouco.

E se, afinal, estivesse errada outra vez? Sua intuição gritava o contrário, mas não era a primeira vez que isso acontecia. Era a mais intensa, mas nem por isso totalmente confiável. Só que ela queria muito acreditar em si mesma daquela vez. Verdadeiramente. Não conseguiu tal vontade intensa. Não ali, sozinha em sua sala, imersa em seus próprios pensamentos, em seu domínio mental e físico. Mas tudo se tornava cada vez mais perigoso, ela sabia e admitia em parte. O casal criminoso não era a principal fonte de perigo; ao contrário, outra grande inimiga poderia estar infiltrada em sua mente e em suas veias naquele mesmo instante: a sensação.

– Senhorita Tsubaki... – Bateram na porta e em seguida a abriram. O policial, por sua expressão, não teria tempo para maior educação. Ela já estava pronta, de qualquer maneira. Precisava mesmo trabalhar. Pensar demais, ultimamente, não estava lhe fazendo muito bem.

Na realidade, muito longe do entendimento da oficial, os verdadeiros fatos que tinham levado tudo a acontecer ocorreram longe dali: Em meio a uma ilha paradisíaca, adornada naturalmente com o melhor que a natureza poderia oferecer, desde flores, frutos e animais até pessoas bonitas. Belíssimas. A localidade em questão era considerada inexistente pela grande maioria dos cidadãos “decentes”. Deslumbramento tropical, garotas afrodisíacas e todos os tipos possíveis de tráfico.

Naquele lugar havia se iniciado o começo do fim daquilo que a tão procurada “Mulher Incógnita” acreditou nunca ter cogitado em começar. Ali, ela seria conhecida como senhora Sato. Seu marido, o senhor Sato, teria com a viagem compromissos mais intensos do que aproveitar as praias de águas e areias certamente divinas, bebendo algo de seu gosto e trocando, ocasionalmente, palavras amorosas com sua linda esposa. E aquele era o justo e maldito problema.

A chegada ao porto, este que fora reservado com exclusividade, acontecera de maneira tranquila. O empregado particular que fora oferecido como cortesia, claro, com exclusividade – Senhor e senhora Sato tinham um prestígio inegável – apossou-se das malas e com agilidade, rapidez e silêncio levou-as logo para dentro da área que o casal ocuparia durante a estadia. Muito detalhistas, ambos os recém-chegados repararam bem no rapaz que já estava longe. Pelo corpo e idade, além das roupas e de algo inato em si, se podia supor que o garoto também estaria à disposição se outros tipos de serviço surgissem.

Levaram a atenção para outros pontos ao redor depois de pouco tempo. O garoto não seria útil por enquanto. Por enquanto.

De braços entrelaçados e conversas discretas, o casal avançou para dentro da casa decorada a caráter. Era bela, assim como toda a ilha. A senhora, especialmente, havia gostado muito. Livrou-se de suas roupas de viagem e entrou no clima tropical com uma peça de biquíni superior e uma saia longa e leve que abraçava seu quadril e pernas. Ela estava bonita, e sabia disso, não apenas por ver no olhar do marido algo admirado.

– Você não vai se trocar? – Ela perguntou, respondendo o olhar dele com um outro, quase superior.

Sem nada dizer, ele resolveu obedecer. Passou por ela, o mais próximo que pôde e quando parou às costas femininas, fez menção de alcançar o rosto levemente maquiado. Não o fez, desviando o nariz e a boca para a curva do pescoço, livre dos cabelos claros, presos de uma maneira que ele não se importou em decifrar. Só pousou naquela pele e se afastou com um roçar mínimo de seus lábios. Viu que ela tinha se arrepiado, apesar de manter-se como se nada acontecesse.

– Gosto do seu perfume. – Ele disse, sorriu consigo mesmo e saiu.

Pouco tempo depois o casal já passeava pela trilha de pedras, rodeadas e adornadas por pedaços chamativos de flora. Os braços dados já estavam entediando o jovem empresário. Fez os braços deslizarem e as mãos se encontrarem, a dele quase engolindo a dela entre seus dedos fortes.

– O que foi? – Ela perguntou, sem desviar o olhar do arranjo natural de flores que adornavam o seu lado da estrada.

– Assim é mais natural.

A senhora Sato divertiu-se com o comentário.

– Não somos naturais. – Ela ainda tinha um resquício de riso no canto dos lábios.

– Não?! Então me permita uma demonstração, senhora Sato.

Antes da próxima respiração ela já estava presa entre os braços dele e a árvore mais próxima. Quando ela piscou, a sua boca, entreaberta de surpresa, já fora tomada pela dele. Antes de fechar os olhos e entrar naquele jogo perigoso, ela seguiu o exemplo das mãos dele e percorreu com as suas o corpo prensado ao seu.

E acabou sem que ela esperasse – ou desejasse, segredo escondido bem ao fundo de seus olhos, sob as lentes falsas e azuladas.

– Por que fez isso? – Ela perguntou, quando já conseguia respirar de novo, quando ele já se afastara apenas o suficiente para cercá-la com seus braços, sem tocá-la.

– Porque somos casados. E naturais.

– Uau! – Uma voz desconhecida, feminina e aguda. Em resposta, o casal se virou com urgência para a estrada, segurando instintivamente as pequenas facas escondidas pelas roupas. – Nossa! Me desculpem! Não quis atrapalhar. Só me admirei... quer dizer, não é comum uma cena dessas por aqui. – Colocou uma das mãos em concha ao lado dos lábios pintados e inclinou-se para frente, em tom de segredo. – Geralmente, os velhinhos não tem tanto vigor.

Sem que a senhora Sato esperasse, novamente, foi surpreendida. É claro que ela não demostrou ou admitiu, seus olhos continuavam frios como sempre. Apenas os olhos, que observavam o seu “marido” enquanto ele gargalhava da piada mal contada e se aproximava da loira de cabelos quase brancos, apresentando-se.

– É um prazer, senhor Sato. Um enorme prazer. – Ela disse, com sua voz arrastada e seu olhar abusado.

– O prazer é todo meu, senhorita Yamanaka. – Ele respondeu, sem deixar o contato visual se desfazer, mesmo enquanto beijou longamente a mãos de unhas longas e vermelhas.

– Suponho que você seja a senhora Sato. – A mulher, ainda menos vestida do que o adequado para uma ilha, acenou timidamente.

– Sou sim.

– Que sorte você tem!

Aquele fora o fim da conversa com Ino Yamanaka, aquela com quem o senhor Sato passaria a grande parte de seu dia e noite, com a desculpa de que a senhora Sato se sentira indisposta e preferira repousar.

– E talvez ele diga que eu ainda recomendei a companhia dela... – Ela murmurava sozinha, em casa, enquanto tentava preparar um peixe. – Talvez ele diga que eu adorei conhecê-la e que ele também, principalmente ele... – A faca perfurou a metade do peixe e foi manipulada até que o rasgasse de ponta a ponta.

No fim, o peixe estava em frangalhos. Ela espetou a faca na madeira, apoiou-se e jogou a cabeça para baixo, tentando não pensar naquilo. Logo levantou a cabeça, que com infelicidade seguiu a direção do relógio mais próximo. Três horas da madrugada. A senhora Sato recolheu a faca espetada e jogou-a para longe, em uma fúria contida no silêncio dos seus gestos e expressões. A arma afundou-se na parede artesanal da entrada da casa, por onde o motivo da raiva passou alguns longos minutos depois.

A casa toda estava escura e ele até quis acender as luzes, mas não se lembrava do local do interruptor, então continuou se arrastando até o corredor que levaria aos quartos. Também errou o seu, mas continuou procurando até achar o maior deles, no qual alguém já repousava. Mesmo no escuro quase total, se não fosse pela fraca luz que passava pela janela entreaberta, ele não conseguia deixar de desvendar aquele corpo perfeito, no momento deitado sobre a cama, quase encolhido.

Deu a volta na cama, cambaleante, e sentou-se pra tirar a camisa.

– O que está fazendo neste quarto? – Ouviu a pergunta firme e clara, quase ameaçadora.

– Por que eu não estaria aqui? – Conseguiu retrucar, mesmo que as sílabas tenham se enrolado.

Você diz não saber
O que houve de errado
E o meu erro foi crer
Que estar ao seu lado
Bastaria!
Ah! Meu Deus!
Era tudo o que eu queria
Eu dizia o seu nome
Não me abandone jamais...

Poucos instantes depois a luz já estava acesa e a discussão explodiu, acalorando-se a cada nova frase.

– Mas que droga, Hinata! Já esqueceu o que viemos fazer aqui? – Ele elevou o tom de voz para respondê-la a altura.

– Cala a boca, idiota! Não diga esse nome! – Ela respondeu ainda mais alto.

– O que quer que eu diga então? – Ele estendeu os braços.

– Quero não ter que ouvir mais a sua voz. Cai fora do meu quarto!

Ele gargalhou e manteve o sarcasmo em cada movimento.

– Não vai dar, senhora Sato. Sou seu marido, lembra?

A mulher mostrou a arma de fogo que dormia consigo e a apontou com determinação para o bêbado. Ele suspirou profundo e revirou os olhos.

– Você não vai atirar.

– Não?! Tem certeza? – Ela preparou a primeira bala. – Eu não teria. E se eu fosse você, me deixaria em paz e voltaria para os braços daquela vagabunda.

– Ah! Qual é, Hin...

A explosão foi silenciada pelo equipamento específico, mas a bala passou silvando pelo ouvido esquerdo dele e sumiu pela fresta da janela. Os olhos arregalados se mantiveram assim até que os sentidos temporariamente perturbados lhe permitissem respirar.

– Fora! – Ela praticamente soletrou a palavra, ainda empunhando a arma com ambas as mãos.

E ele, enfim, saiu. Sem dizer nada. Só a olhou uma última vez, repreensivo, e sumiu pelo corredor. Ela abaixou lentamente os braços, os olhos ainda fixos onde ele esteve pela última vez. Tentou ignorar o seu corpo trêmulo e não quis acreditar nas lágrimas finas que se formaram na base dos olhos, mas não caíram. Ela se livrou delas de imediato, com determinação. Já sabia o que ia fazer, foi por isso que pegou as suas coisas e a sua parte do dinheiro – se recusou a levar o dele também, não queria nada que viesse daquele homem – e saiu pela janela com a mesma facilidade que sairia pela porta.

Deu a volta na casa em silêncio físico e mental. Enquanto seguia para o porto, viu o rapaz de mais cedo, sentado com as costas para uma árvore, olhando para o alto, quase retornando ao sono que mantivera até segundos antes. Imediatamente mudou o ritmo e a direção dos passos, surpreendendo o garoto de belos traços e corpo. Ao ser indagada sobre algo formal, ela deixou suas coisas no chão e terminou de caminhar até o rapaz, empurrando-o pelo peito até fazê-lo alcançar a árvore. Olhou-o bem, em silêncio, sem se preocupar em responder o que quer que fosse. Sentiu o coração absurdamente acelerado contra a palma de sua mão e levou os olhos para os dele, legitimamente claros. As pupilas estariam dilatadas mesmo que fosse dia. O garotinho tinha gostado dela.

Ela riu e infiltrou suas mãos para dentro da camisa dele, alisando o peitoral definido, uma surpresa extremamente agradável. Depois deleitou os olhos com a visão proporcionada por sua próxima ação. Além de sarado, era bronzeado. Fez as mãos trilharem o mesmo caminho outra vez, mas levou-as até os ombros largos daquela vez. De repente, aproximou-se total e perigosamente dele, batendo os corpos sem fazer ruído. Ouviu quando um gemido escapou dele e riu de novo, dessa vez pela facilidade com que o rapaz começara a despertar.

Estava disposta a mais, bem mais. Desferiu beijos pelo pescoço e quando começou com as mordidas leves, subiu para o queixo. Naquela altura ele já parara de falar, o que não significava que estivesse quieto. Ainda assim, as mãos fortes continuavam a segurar o tronco da árvore, e pareciam capazes de arrancar um pedaço dela. Ela sutilmente as trouxe para a sua cintura, e uma vez em seu corpo, aqueles dedos não hesitaram em explorar a pele perfumada. Com um pouco de tempo as mãos já apertavam os corpos um contra o outro. Os próximos passos não tardaram tanto. O rapaz começaria por agarrá-la e trocar as posições, encurralando-a na árvore, assim, tomaria o pescoço alvo e se deliciaria ali. Mas a senhora Sato já tinha recordado de tudo que viera antes daquele momento, e por mais que se esforçasse, não conseguiria ficar mais. Não queria, não com aquele garoto.

Mesmo querendo
Eu não vou me enganar
Eu conheço os seus passos
Eu vejo os seus erros
Não há nada de novo
Ainda somos iguais
Então não me chame
Não olhe prá trás...

Afastou-o, deixando-o confuso e frustrado. Ajeitou sua roupa e recuperou suas coisas. Só então olhou para o rapaz de novo. Olhou-o bem, como fizera no início e quase sentiu pena ao abaixar os olhos e ver a expectativa juvenil tão visível.

– Desculpe-me, querido, mas vou ter que ir agora, está bem? Você é ótimo. – Ele continuou no mesmo lugar, o que a levou à próxima pergunta. – Quer algum dinheiro por isso?

– Não. – Ele respondeu, finalmente se mexendo um pouco. Os olhos se abaixaram, mas voltaram logo, de uma maneira quase infantil. – Quero que você fique.

Ela suspirou, desviou os olhos para casa e resignou-se em silêncio amargo, voltando o olhar para o rapaz.

– Eu também queria ficar, querido. – Perdeu-se naquelas memórias uma última vez. – Eu também queria.

Mas ela não podia ficar. Não tinha por que ficar. E não ficou. Aconteceu enquanto o senhor Sato dormia no sofá, última legítima vez que descansaria até encontrá-la de novo.


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Notas finais do capítulo

Que tal?

Comente aí!

Beijos, até o próximo!



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